Ordinária consequência do ser escrita por Humberto Cotrim


Capítulo 3
A ínfima frase que deixar de ser verbalizada


Notas iniciais do capítulo

Eu pensei que não iria postar de novo, porém, aqui estamos XD Vou tentar demorar menos com capítulos futuros rs Ah, esse daqui não está betado, por isso me avisem sobre qualquer coisa fora de ordem, tá bem?

Boa leitura :3



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Ser sociável é algo que não faz parte da minha constituição. Não me entenda mal. Posso conviver normalmente em sociedade, falar e respeitar todos. Porém, ser demasiado simpático nas mais diversas ocasiões do dia a dia não é para mim. Meu pai diz que sou cara de pau, embora eu ache que ele queira dizer cara fechada. Esse termo pode servir para algumas situações, mas eu juro, não sou rude por nada. Conheço pessoas assim, que tratam todos com certo desprezo ou arrogância sem motivo. Acho uma idiotice.

O fato é: se não conheço a pessoa não consigo manter uma conversa após uma cortês saudação. Por exemplo, um amigo de longa data dos meus pais nos encontra em algum lugar. Eles dizem “Quanto tempo!” e coisas do tipo. Sou apresentado. Dou um sorriso e digo olá. A pessoa tenta puxar um assunto, mas eu não consigo prosseguir nesse assunto, não porque acho a história deles desinteressante, somente não tenho a capacidade de prosseguir a conversa. Isso ocorre até mesmo com conhecidos. Não tenho sobre o que falar, um vazio se abre e muitas vezes esse espaço é tão grande que dá fim a conversa. Sinto-me muito envergonhado quando isso acontece.

O embaraço pode ser pior se ao invés de ficar calado você diz algo extremamente estúpido e sem qualquer relação ao tópico abordado anteriormente. Ou ainda, você pensa em dizer uma coisa e na hora de transformar o pensamento em palavra dita, ela se transforma. Na verdade, fazer isso é muito a minha cara. Uma vez, duas amigas estavam falando sobre um filme e como o protagonista era lindo. A minha ideia era dizer: “Se aquele cara é bonito, eu sou um príncipe”, mas o que escapuliu da minha boca foi: “Bonito sou EU!”. Naquele momento minha cara rachou de vergonha, mas minha amiga conseguiu salvar minha dignidade, dizendo: “Bem, você é bonitinho...”. Dei o sorriso mais sem graça de todos e me senti corando. Só para esclarecer, eu não me acho bonito.  Enfim, isso foi há um tempo, eu deveria estar no primeiro ano do ensino médio e naquele tempo falava mais idiotices do que uma pessoa é capaz de escutar e manter uma amizade.

Entrar para a universidade ou morar longe dos progenitores me fizeram uma pessoa mais sociável.  Meu pai sempre diz, é uma máxima dele: “Quem tem boca vai à Roma e quem não tem vai à puta que pariu”. E foi basicamente isso que fui forçado a fazer, falar para poder não me foder. Nessa fase da vida – pronto, lá vou eu dar uma de jovem maduro –, ou fazemos por nós mesmos ou ninguém faz. Nunca fui extremamente mimado, não é isso, mas quando a gente vive com o responsável, como a própria palavra diz, ele é o responsável. Não é necessário você resolver todos os imprevistos do cotidiano.

Para esclarecer, não moro sozinho. No começo da minha vida na capital paraense, estava dividindo o teto com uma prima e minha irmã e nos últimos meses só com a minha irmã mesmo. Ela também faz faculdade. Bem, conviver com os irmãos é meio problemático, porém nós brigávamos muito mais quando não vivíamos sozinhos. Adaptando uma frase da consagrada série de livros – As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin – a esta situação, posso dizer “Quando a neve cai e os ventos brancos sopram, o lobo solitário morre, mas a matilha sobrevive”, ou seja, as opções são se juntar ou se ferrar.

Apesar de tudo, por mais que eu tenha problemas para interagir com as pessoas, não sou um caso perdido, conforme sou submetido a dialogar e socializar, tendo a melhorar. Meus amigos são a prova disto. No total eles são oito mais chegados e outros que estão numa categoria um pouco abaixo de amigo e muito mais que simples colegas, talvez porque não tenhamos mais tanto contato. Todos eles têm mais ou menos a minha idade. Nós nos conhecemos no colégio – a única exceção é o meu primo que conheço desde sempre – e em algum momento também compartilhamos a mesma sala de aula.

Seguindo esse mesmo padrão eu estou criando novas amizades com o povo da minha turma, na universidade. Isto deve sempre ocorrer comigo porque não costumo sair para muitos lugares ou ir para festas e coisas do tipo, dessa maneira, a possibilidade de se conhecer alguém fica presa a este universo acadêmico. É claro que existem aquelas pessoas que você conhece através de alguém do seu convívio, porém comigo essas pessoas nunca chegaram a se tornar grandes amigos.

Quando o assunto é romance sou muito parado, tanto que depois do meu primeiro beijo eu não fiquei com mais ninguém, acho até que desaprendi a beijar, será que é possível? Isso é deprimente, eu sei, mas é a minha realidade. Não pense que eu não queira ter um relacionamento, pois eu até imagino, vez ou outra, estar em um. É só que... bem, eu não sei a razão da minha total inércia no quesito relações amorosas. Certo, que eu não sou nenhum galã de novela, mas até os feios namoram, não é mesmo? O mais próximo que eu cheguei foi uma friend zone mal sucedida. Mais isto vou deixar para depois.

 Ah, espera! Agora que lembrei, houve uma vez que uma menina da minha aula de inglês estava flertando comigo. A gente conversava bastante e ela me convidou para ir ver o ensaio dela de teatro – acabei não indo, maior mancada – e em uma aula em que a gente se dividiu em pequenos grupos de quatro e formamos vários círculos a garota ficou na minha frente e colocou as coxas delas entre as minhas. Isso foi o sinal claro, não?

Bem, só sei que isto também não vingou, foi na mesma época que pretendia transformar a friend zone em um namoro. Mais tarde descobri que havia outra ligação entre eu e a garota do inglês, ela era filha de uma amiga da família de um amigo do meu pai. Deu para entender? Soube disso quando ela estava em uma mesma festa de aniversário que eu. Daí, você pode pensar “Festa é uma ótima oportunidade”. E de fato é, porém não se aplicar a um aniversário de criança, onde existem crianças em todos os cantos, de forma que não há privacidade e de que seus pais estão presentes na festa. Recentemente, eu reencontrei esta garota, a gente só se cumprimentou polidamente, não que eu estivesse ainda com interesse, mas confirmei que dali não acontece mais nada.

Essa minha vasta experiência deixa fácil à compreensão de que eu tenho graves problemas de relacionamento. Portanto, eu necessito, acima de tudo, deixar de lado todos os meus bloqueios de interação e me lançar em relações com o sexo oposto com o objetivo de conseguir uma namorada. Desejem-me sorte e se não for pedir muito, mandem energias positivas para esta pobre criatura solitária.


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Notas finais do capítulo

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