Wish escrita por Dylan


Capítulo 1
Capítulo Único




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O silêncio reinava a medida que se perguntava o que iria fazer sem o irmão por pelo menos um ano fora da cidade. A última coisa que aguentava era o orfanato católico e seus únicos momentos de alegria era quando sabia que Sam estaria lá para anima-lo ou busca-lo para dar uma volta em uma fuga super perigosa. Mas e agora que sabia que nada disso aconteceria? que ficaria la no orfanato, com as malditas freiras dando-lhe inúmeros sermões e os colegas o importunando?

Como se ouvisse seus pensamentos, Sam se desencostou da moto — a qual ele havia comprado há muito pouco tempo. Estava tão limpa e brilhosa que parecia que quebraria ao simples toque — e aproximou-se, dando-lhe um leve empurrão. Assim que se virou para reclamar, percebeu o grande sorriso estampado em sua face. Então, calou-se. 

 

— Eu juro, Nate. — Ele agarrou seus ombros, encarando-o fundo nos olhos. — Vai ser pouco tempo, beleza? você não vai nem perceber. Lembre-se que eu estou-

— Fazendo isso por nós dois, eu sei. — Sorriu sem mostrar os dentes, fazendo o mais velho fazer o mesmo. Por fim, ele voltou a se aproximar da moto e, com um último suspiro, subiu. — Vem, vou te levar de volta. 

Com um susto, sentou-se na cama. Novamente aquele sonho tão simples, que parecia que havia acontecido tanto tempo atrás. Era até engraçado pensar que naquela época tinha medo de ficar longe de Sam apenas por um ano, mas já haviam se passado quinze anos desde que havia o perdido. Quinze anos que sabia que ele não existia mais no mundo, que não poderia enviar-lhe cartas e nem mensagens de texto. Era estranho, irreal, até. 

Tomou um susto quando sentiu as mãos de Elena atrás de si, mas logo soltou um suspiro. As vezes até esquecia-se que dizia a cama. Novamente deitado, passou a mão pelos cabelos, virando o olhar para a loira a seu lado. 

— Tudo bem? — ouviu-a perguntar, ainda com a voz meio sonolenta. Encarou-a mesmo no escuro, podendo ver pouco de seus traços. 

— Tudo, foi só um pesadelo. — disse, dando um breve suspiro. Ainda não tinha certeza por que não havia contado nada de Sam para ela. Eram casados e normalmente os segredos e traumas eram revelados em situações como aquela, mas simplesmente não conseguia. Era como se sentisse ciúme das memorias do irmão mais velho. Queria mante-las somente para si e mais ninguém. Os últimos momentos que tiveram juntos na infância e os últimos momentos que tiveram juntos antes da morte do mais velho. Não conseguia nem pensar naquilo por muito tempo. — Vou tomar um copo d'água. 

— Certo. — ouviu-a dizer, bocejando. Aproximou-se dela. Achou sua bochecha e deu um beijo rápido antes de se levantar e dirigir-se até o primeiro andar. Conhecia muito bem a casa então não era um problema andar no escuro. Na cozinha, encheu um grande copo de água. Deu mais uma repassada no sonho, como se fosse esquecer de suas melhores lembranças e tomou a água em pequenos goles. 

Então, ouviu um barulho. Foi quase inaudível, mas não passou despercebido por seus ouvidos aguçados. Deixou o copo quase vazio em cima da pia e se virou, olhando em volta, para a completa escuridão da cozinha e sala. Talvez acender a luz tivesse sido uma boa ideia. 

Não deu nem um passo e já estava sendo agarrado por trás. Colocou as mãos nos braços que percorriam seu pescoço e puxou-os firmemente, tentando trazer a pessoa para baixo. Impossível. Ela era muito forte. Com uma rasteira e um empurrão, já se via no chão, completamente imobilizado pela silhueta estranha acima de si. Tentou gritar, mas a boca foi tampada. 

— Shh. — Ouviu. Era uma voz familiar. Extremamente rouca e grave, mas conhecida. Só não conseguia se lembrar com clareza da onde. Um carro passou pela rua, refletindo um breve flashe de luz dentro da casa, iluminando o rosto do estranho. Apesar de imobilizado, congelou completamente, como se tivesse visto um fantasma. — Parece que está fora de forma, irmãozinho. 

— S-Sam? — Disse após a boca ser destampada. Ele riu, levantando-se. Sentiu sua mão puxa-lo para cima também e, finalmente, estava ali em pé na frente da sombra de seu irmão. Inacreditável.  — Eu nem acredito.

Sem se importar com a estranheza da situação que foi colocado, aproximou-se mais, passando os braços ao redor dos ombros do maior. Puxou-o para mais perto, dando-lhe um abraço longo e apertado. Tudo ficou em silêncio por alguns segundos, que tornou a situação um pouco constrangedora. Para não deixar mais estranho do que parecia, deu-lhe pequenos tapinhas nas costas do outro antes de se afastar. 

— Pois é. — primeiramente, não entendeu. Havia ficado tão desnorteado com o abraço familiar que havia se esquecido de tudo, mas logo se tocou que ele respondia a seus dizeres passados. Com uma risada ainda cética, aproximou-se para acender as luzes, mas foi interrompido por um sussurro um pouco desesperado. — Deixa desligado!

— Por quê? — franziu o cenho, apesar de ter certeza que o mais velho não iria ver de qualquer jeito. Não ouviu-o dizer nada e no minuto seguinte já estava sendo puxado pelo que descobriu ser uma janela pelo que o irmão havia passado. Nem perguntou como havia sido achado, sabia que Sam tinha seus jeitos. Deixou-se ser levado sem maiores preocupações, pois sabia que Elena já estava dormindo. Após ser solto do lado de fora, finalmente pode observar o irmão com todas as cores. Ele estava um pouco mais velho do que se lembrava, obviamente, mas definitivamente aquele era seu irmão. Com um breve sorriso sapeca que conhecia tanto, observou-o se afastar e pular de um jeito tão familiar. Ele estava escalando para chegar ao telhado. Sem quaisquer perguntas, o seguiu, tal como fazia quando era mais novo. 

Não demorou muito tempo para que chegassem no topo, que era mais plano, devido ao sótão. Observou o mais velho se sentar e fez o mesmo. Cruzou as pernas, encarando-o ainda sem acreditar que o via ali, ao seu lado, tão rapidamente após quinze anos. Foi realmente um encontro meio estranho, mas não podia reclamar. 

— Não precisa ficar me encarando por tanto tempo, sabe. — Ouviu-o rir, tirando um cigarro do bolso. Deu um pequeno sorriso, erguendo o olhar para o céu, que naquela noite em particular estava estrelado. Deitou-se ali, colocando as duas mãos atrás da cabeça. 

— Então... — Começou, mas foi cortado logo após. 

— Como estou aqui? como eu te encontrei? 

— Basicamente. — Ouviu um suspiro vindo do mais velho e já percebeu que aquele não seria um momento para perguntas. Invés disso, ele apenas apagou o cigarro e deitou-se ao seu lado, também olhando para as estrelas. Ficou naquele silêncio calmo e acolhedor por longos minutos. Percebeu luzes de um avião piscando enquanto passava pelo grande céu. Estava tão calmo que poderia dormir ali mesmo, mas a maneira que o irmão se levantou de supetão o assustou, fazendo-o levantar-se junto. Encarou-o, sem entender. 

Antes que pudesse ter qualquer reação, sentiu uma das mãos de Sam tocando-lhe a bochecha. Ele se aproximou e, por fim, juntou os lábios. Como se tudo estivesse congelado, ficou naquela cena ali por alguns longos segundos. 

Com um susto, sentou-se na cama. Elena não estava acordada, então se levantou sorrateiramente. Saiu do quarto, foi ao primeiro andar, tomou um copo d'água. Ao olhar pela janela, percebeu o que parecia ser um avião piscando enquanto atravessava o grande céu. Desejou por um momento que aquilo fosse uma estrela cadente. 

Voltou para o quarto. 

 


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Notas finais do capítulo

O decorrer rápido do capítulo é devido ao fato de ser tudo um sonho e tal. Espero que tenham gostado de uma one-shot tão simples.



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