A Última Mordida escrita por FinnBlackwell


Capítulo 6
Que a vida não separe...


Notas iniciais do capítulo

Gente, demorei a postar um pouco. Por favor, desconsiderem alguns erros grotescos que eu possa ter deixado passar.
Dividir os capítulos entre o ponto de vista de Charles e Valerie fazia com que nenhum dos dois se desenvolvessem de uma forma mais profunda, resolvi isolar em dois capítulos pra ter um aproveitamento das histórias de ambos.
Sim, essa frase é de Penny dreadful ♥



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Valerie Westerna

 

Amanheceu. Acordo, desta vez, em minha própria cama. O frio das manhãs deixam o clima mais confortável e me fazem ter um imenso prazer de ficar deitada em meu leito por mais tempo. Sinto-me estranha, não consigo me recordar o que exatamente ocorreu na noite de ontem, lembro-me que segui Lucy pela floresta e depois minhas memórias se enredam em um enorme borrão negro que me faz ter uma dor de cabeça.

Sigo até meu quarto de banho. As velas que eu deixei acesas ontem à noite já haviam se apagado. Ao entrar, olho-me no espelho e começo a observar como estive mudada, tenho algumas olheiras devido as noites que passei caminhando pelo bosque e pela floresta, tenho pequenas rugas, e meu rosto parece um pouco mais magro e pálido. Retiro minhas vestes e vejo que há algumas manchas púrpuras espalhadas pelo meu corpo, que eu poderia palpitar que fossem mordidas, algum animal havia me mordido?

Consciente de minha perda de peso e cor, sigo até a sala de jantar e observo meu pai fazendo suas refeições, mamãe está doente, então sua comida é levada diretamente até seu próprio quarto.

Sento-me e noto que Lucy nunca está a mesa, papai nunca pergunta sobre ela e nenhum empregado me responde sobre ela, ficam desnorteados sobre meus questionamentos e escuta-se burburinhos quando me retiro do local sem respostas.

—Como mamãe está? —Pergunto-o sem encarar nos olhos, papai é muito intimidador e temo encará-lo

—Sua mãe está mal, deve ter ficado doente com alguma praga qualquer. O médico deste local está bastante ocupado devidos a recentes epidemias que estão acontecendo trazendo uma enorme onda de morte para as senhoras.

—Hm... Então... Existem muitos casos parecidos na cidade? —Paro de comer e tento fixar meus olhos nos dele, mas desvio.

—Há diversos registros de moças mortas. Algumas encontradas em seu próprio leito, outras encontradas em bosques e florestas. Há dois dias, cinco garotas foram encontradas dentro de um lago, desmembradas e já em estado de decomposição.

Engulo seco ao me recordar do lago em que nadei com Lucy. Preocupo-me com o estado de Lucy, ela anda desaparecida. Largo meus talheres e me levanto. Já de saída da sala de jantar para meu quarto, escuto meu pai com uma voz rouca e penetrante.

—Valerie... Tome cuidado.

Sinto um calafrio percorrer minha espinha. Não me viro, apenas sigo para meu quarto.

***

Sentada em minha cama, deparo-me com Lucy, despida e lânguida.

—Aonde estiveste? —Indaguei com um ar de irritação e alívio — Não vê que estive preocupada com a sua ausência?

—Desculpe-me te preocupar assim, Valerie. Achei que tivesse dito para onde eu estava indo.

 — Não é suficiente. — Digo zangada — Há um epidemia matando diversas garotas. O lago... — Respiro, procurando forças para continuar a falar — O lago estava com cinco garotas desmembradas, despedaçadas.

—Interessante. — Lucy dá de ombros e sorri para mim —Isso não parece vestígios de uma epidemia e, sim, de um assassinato.

—Cruzes, Lucy —Faço o sinal da cruz e beijo meus dedos — Nunca vi alguém com um senso tão mórbido como você.

—Ah, Valerie. A morte nos cerca, a tragédia nos cerca. O verdadeiro amor chega ao fim tracejado sobre tragédia. O que é amor sem tragédia?

Um breve silêncio paira no ar. Viro-me e vou até a janela. Vagarosamente uma cinza pousa sobre o dorso de minha mão. Charles ecoa em minha cabeça e me faz lembrar que sua volta deve estar próxima. Parei de escrever e queimar cartas para ele, pois sei que jamais o vento as levaria até ele.

— Lucy, vista-se. Precisarei de sua ajuda — Não me viro, mas imagino que ela se retorce de raiva por ser levemente ignorada enquanto falava sobre amor e tragédia.

Lucy volta de seu quarto vestida de preto, enquanto eu, visto me de branco e me encaro de frente ao espelho colocado ao centro de meu quarto.

—O que houve, Valerie? Por que vestes branco? —Ela pergunta e um breve sorriso se forma no canto de sua boca.

— Quero que me ajude com esse vestido. — Observo para ver se todas as pérolas ainda estão bem posicionadas nele. Lucy se encosta sobre meu ombro e começa a sussurrar.

— Branco é tão límpido, imaculado, inocente. Contrasta perfeitamente com sua personalidade e seu coração livre de qualquer malícia.

Sinto-a beijar meu pescoço mas, ao olhar para ela, no reflexo do espelho, ela me encara de volta com seus olhos provocantes. Talvez fosse algo que minha mente estivesse projetando devido à ausência de Charles.

—Casar-me-ei logo com Charles, precisarei de sua ajuda para finalizar alguns ajustes. Não achas este belo vestido apropriado, pertenceu à minha avó.

Ela desfez seu pequeno sorriso e eu senti uma pequena onda de raiva subindo sobre meu ombro, onde ela estava.

—Claro. Ajudar-te-ei, se assim desejar.

Calei-me e nos prestamos a ajustar as costuras do longo vestido. Lucy não deixou sequer uma breve palavra escapar, havia se tornado uma sombra, silenciosa e quieta, rastejando e esquivando de meu olhar. Nossas palavras haviam cessado a ponto de escutar os próprios palpitação de meu coração.

— Ai! — Sinto uma pontada de agulha em minhas costas. — Lucy, você me feriu?

—Desculpe-me, Valerie. Você estava inquieta demais, não me culpe.

Viro-me para o espelho e vejo sangue em minhas costas. Encaro-me no espelho de perfil e resolvo ver a área que Lucy havia me ferido e, por mais estranho que pareça, a marca era maior que a de uma agulha, poderia jurar que até seria uma unha.

— Lucy, preciso tomar um banho. Você me feriu profundamente. —Saio apenas e tento não escutar algo que ela diz.

***

Sento-me em minha banheira esperando-a encher. Verifico que ela está quente, temperatura ideal para mim. Entro, apoio minha cabeça e fecho meus olhos. Estou divagando em meus pensamentos enquanto eu escuto o soar da voz de Lucy.

— Valerie... — Encaro-a assustada e a vejo deitada do outro lado da banheira, com suas pernas cruzadas com as minhas.

—Lucy... Como veio... Eu não... —Perco-me em minhas próprias palavras sem saber o que exatamente dizer para ela.

— Eu preciso te revelar algo. Algo muito grave.

Sinto medo, medo percorrendo minhas veias. Aceno com a cabeça para que ela prossiga.

— Alguns anos atrás, eu andava por algumas ruas vazias de Lisboa. A noite era densa, negra, embaçada. Eu estava desprotegida, solitária. Dois homens começaram a me seguir, me seguraram, se apossaram de mim. Eu era apenas uma jovem moça, pura, desprotegida nesse mundo maldito mundo. Desde então, prometi jamais cair nos braços de um outro homem.

Parei e fiquei olhando para o vazio, enquanto torpor crescia em minha alma. Minha alma chorou, meu coração feriu porque o dela estava ferido.

— Eu só queria sentir o amor. A dor me preencheu, ao invés disso.

Estávamos próximas, nos tocando, nos sentindo. Senti seus lábios nos meus lábios, sua boca na minha boca, seu corpo no meu. Seus lábios tocando a rosa entre minhas pernas, seus dedos em meu íntimo. Nos abraçamos, nos beijamos. Meu corpo a sentia como uma amante, minha alma a sentia como uma serpente prestes a quebrar meus ossos.

Senti-a em meu pescoço. Ouvi seus sussurros e disse:

— Eu sou sua.


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Notas finais do capítulo

Observem que Lucy aparece no espelho. Será Lucy, de fato, uma vampira?
Espero que tenham gostado.



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