The Seven Laws of Demons escrita por Lady Lightwood


Capítulo 3
Sangue Ruim




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As escalas estavam sendo tocadas na ordem errada de novo.

Elliot franziu a sobrancelha, desapontado, e abriu os olhos para encarar novamente as teclas do piano. Já era um modelo antigo e bem desafinado, mas sabia que aqueles erros não eram culpa do piano. Cada vez que Emily ia até o piano conseguia fazer coisas magnificas, seja tocando ou até mesmo cantando, como todos na casa assim diziam " As canções de Emily são tão belas quanto ela" Dissera uma vez a tutora de quando eram ainda crianças á Senhora Van Dorst. "Ela tem mãos tão bonitas e delicadas, seria realmente uma pena desperdiça-las" Quando a Senhora Van Dorst lhe perguntou sobre Elliot, a tutora fungou " Elliot tem as mãos de um ferreiro"

Elliot se levantou e atravessou a sala com um olhar furtivo, com receio de que suas raivas antigas ameaçassem de alguma forma faze-lo ter receio da irmã por algo que obviamente não tinha culpa. Nem todos nasceram para serem bons em tudo, mas Elliot queria isso mais do que qualquer coisa, por orgulho próprio, para ter algo do que se vangloriar e que os outros pudessem de alguma forma respeita-lo, tal como respeitavam Ethan Cormac ou mesmo o Senhor seu pai.

Duas leves batidas na porta encostada, Elliot deu meia volta e se sentou novamente ao piano.

—Entre- Disse ele.

A figura sorridente de Emily estava a porta.

—Como vão os estudos?- Perguntou Emily com doçura, ainda em pé ao lado da porta.

—Terríveis. Era mais facil eu ter aprendido a ferrar as patas de um cavalo- Resmungou Elliot. Sem se importar, pousou ambos os cotovelos sobre as teclas do piano com uma grande frustração; quando o fez, o piano emitiu o som desafinado das varias teclas sendo apertadas simultaneamente

Emily se moveu sobre o antigo escritório e se sentou ao lado do irmão, o encarando com uma expressão de pena mas ainda sim confiante.

—Você estava indo bem até pouco tempo- Disse ela- Mamãe passou por aqui mais cedo, disse ela que você progrediu muito.

—As vezes eu consigo e as vezes não. É um mistério- Elliot deu de ombros- Mas acho que o problema sou eu.

—Anda frustado com alguma coisa ultimamente?- Emily perguntou, não sem desinteresse.

—Não só...-Elliot exitou antes de continuar- Ainda não suporto a ideia de você se casar tão nova.

—Não é só você- Ela suspirou. Emily tinha apenas quinze anos, mas nada impediu os argumentos de sua mãe a favor do noivado e também não havia motivos para que pudesse recusar.

"Lembrasse de quando brincávamos aqui?" A voz dela agora estava repleta de nostalgia, como se estivesse tentando se animar com a lembrança " Eu, você, Will e Victor; ficávamos aqui por horas, claro menos quando Tio Ethan tinha alguma reunião, mas ele não se importava."

—Diferente da Senhora governanta- Disse Elliot em um tom zombeteiro.

Emily riu.

—Sim...Mas as coisas mudaram muito rápido- A voz dela derrepente ficou densa como uma tempestade-Tio Ethan morreu e Will e Victor ficaram com raiva...De tudo. Depois começaram o treinamento, as caçadas e agora nem sorriem mais. Me prometa que não vai mudar quando fizer isso.

—Talvez eu tenha- Disse ele- Só mais um ano e talvez possamos voltar para casa, quando eu for maior de idade.

—Por favor- Ela pediu- Prefiro continuar tendo um irmão do que um Senhor ou Caçador. Eu gosto de você assim.

—Eu prometo- Garantiu ele.- Pelo menos, vou tentar não...Mudar muito

—Bom, pelo menos é algo que me deixe mais tranquila.

Elliot agora, brincava com as teclas do piano entre os dedos. A curiosidade era difícil de controlar, ainda mais quando Emily estava tão perto e não acompanhada pela mãe ou mesmo a dama de companhia.

—Você o ama?- Ele disparou.

—Como disse?- Ela franziu a testa, como se não estivesse acreditando ou ouvindo oque o irmão dizia.

—É uma pergunta simples: Você o ama?

Ele se lembrava de quando tinha feito essa mesma pergunta a Victor. A reação de ambos foi a mesma, embora não estivesse convencido apenas pela resposta de Victor, algo ainda o incomodava e muito, não apenas o fato de sua irmã se casar. Era algo próximo a raiva, que ia sendo aos poucos espalhadas sobre ele, e bem ali no fim, havia a tristeza.

—Não...-Ela admitiu em uma voz baixa- Eu gosto dele, mas eu sei bem qual a diferença. Victor é muito inteligente, interessante, bonito e será um bom marido mas...Crescemos juntos e ainda é tudo muito estranho pra mim; para nós dois eu acho.

—Somos familia- Disse Elliot- É normal sentir isso. Ele fala com você sobre isso?

—Basicamente, nesse ponto nós concordamos- Ela respondeu- Ele também diz que não precisamos nos apressar, que não vai fazer nada que eu não queira. Mamãe diz que podemos aprender a nos gostar com o tempo, mas essa não é a questão.

—Entendo.

—Senhor Van Dorst- A voz de uma das empregadas chamou a porta, mas seu rosto ainda era de alguma forma estranho. Os irmãos viraram a cabeça e ela prosseguiu- O Senhor Whitehill chegou a visita...E sem aviso, ele estava na Capital, mas veio até aqui e me pediu para chama-lo.

O pensamento fez Elliot estremecer; Reginald Whitehill era um antigo amigo de seu pai e quem controlava grande parte das terras dos Van Dorst mais ao sul da Capital. Haviam se encontrado uma uníca vez, durante o enterro de seu pai, porém Ethan Cormac o afastou de imediato, o advertindo que Reginald Whitehill não era um bom aliado, tampouco alguém de confiança, além do que era um dos principais suspeitos de Ethan sobre quem havia mandado os ladrões e encomendado o assassinato de seu pai.

—Victor ou William não podem ir? Eles são maiores de idade e são nossos mentores- Argumentou Emily.

—Lamento senhora- Respondeu a empregada- Ele disse que só falaria com o Senhor Van Dorst; Senhora Edith está na sala tentando acalma-lo, mas não sei ao certo sobre oque ele tanto quer discutir.

—Diga a ele que eu estou indo- Disse Elliot- Emily, você pode vir?

—Sim, eu acho- Respondeu ela- Se a mamãe não disse nada contra, não vejo porque não.

A empregada parecia até mesmo um pouco assustada; fez um ligeiro aceno de reverencia com a cabeça e saiu apressada pelos corredores.

***********************************

Ao chegarem a sala, Emily se pós ao lado da mãe e de sua dama de companhia; antes de seguir, encarou Elliot com um olhar preocupante, como se o fizesse se lembrar da promessa "Eu posso resolver, eu vou conseguir. Ninguém é mais capaz do que eu" Ele pensou. Puxou o ar o mais fundo que pode e seguiu até onde a comitiva de visitantes estava.

Eram 3 homens ao todo, mas o Senhor Whitehill estava a frente de todos e se erguia como um líder. Era um homem de aparência já velha e descarnado, não era muito mais alto do que Elliot mas seus olhos de ônix eram estreitos como os de uma cobra. Elliot não havia visto muito do mundo além das caçadas dos gêmeos Cormac, mas nunca havia visto nada que o assustasse mais do que aquele homem.

Ele parou de conversar com Edith quando o viu se aproximando; seus olhos seguiam os passos de Elliot muito atentos como se procura-se alguma falha.

—Senhor Van Dorst, eu presumo- Disse ele. Quando Elliot finalmente se pós a frente dele, Senhor Whitehill o encarou de cima para baixo- Se me permite a pergunta, quantos anos o senhor tem?

—Dezessete- Respondeu Elliot.

—Sim, o tempo realmente voa- Comentou ele- Meus pêsames pelas suas perdas.

Ele estendeu a mão em um comprimento que parecia ser amigável. Elliot não sentiu o perigo, mas quando retribuiu o aperto de mão, sentiu os ossos da mesma quase serem esmagados.

—É uma pena que não tenham sido mais cedo- Ele manteve a voz baixa, mas era possível ouvir a furia na entoação da voz cortante.

—Oque..O trás até aqui?- Questionou Elliot por fim, antes que o medo o abatesse primeiro- Pensei que havia se mudado para a Capital.

—Sim, sim...-Ele prosseguiu, dando passos longos em volta da sala- Dadas as circunstancias; mesmo que não seja o melhor dos momentos, devo lhe lembrar que eu e seu pai tínhamos um acordo, estou aqui apenas para pegar a minha parte.

—Mas você já a tem- Disse rispidamente a Senhora Van Dorst- Meu marido lhe deixou metade da fortuna da família, que você mesmo cuidou por anos. Agora as terras são de Elliot, ele tem o direito de fazer oque bem entender com elas.

—Ainda não- Respondeu o Senhor Whitehill, em triunfo- Creio que ele ainda seja menor de idade. De modo que as terras não poderão ser passadas para o seu nome. Lamento garoto, mas regras são regras, e até que essa idade seja alcançada e como seu guardião, Ethan Cormac, teve o fim que mereceu. Agora essas terras me pertencem.

—De modo algum!- Retrucou Elliot- Os papeis do testamento são claros, eu mesmo os revisei por mais tempo do que o senhor imagina. As terras do meu pai, assim como a casa e as fazendas para além da colina são minhas, adulto ou não.

O Senhor Whitehill fechou o rosto como se tivesse mordido um limão, contra gosto.

—Mas eu ofereci meu serviços a vocês por anos!- Ele retrucou- Malditos vinte anos, antes mesmo de você chegar até aqui! Que tipo de familia é essa...

—O tipo de familia com senhores honrados e sem duvida de palavras mais fieis que a sua, Whitehill- Disse Victor, adentrando a sala.

Movia-se com uma calma surpreendente para uma figura tão alta com tamanha seriedade. Sob vestimentas soltas cor de fogo que oscilavam enquanto ele andava. Era a figura do pai em pessoa, se não estivesse os cabelos castanhos puxados para trás e os olhos cinzentos com uma aparência exausta, o fazendo ter mais do que seus dezenove anos.

—Eu me lembro bem de suas palavras- Continuou Victor- Disse ao meu pai que não tinha mais nada a pedir para os Van Dorst, que suas dividas tinham sido pagas. Meu primo não tem culpa se o senhor abusou dos lucros em excesso, bem sabem todos aqui que não lhe deixaram pouco pelo seus vinte anos de serviço.

—Com todo respeito Mestre Cormac- Disse ele com a raiva na voz só a custo reprimida- Não quero passar uma má imagem. Longe de mim estar me aproveitando, Eric e eu eramos bons amigos, apenas quero deixa-lo descansar em paz, cuidando de seus bens como eu prometi faze-lo.

—Então se considere atrasado- Disse Elliot- Quando o senhor se mudou para a capital, Ethan Cormac foi quem cuidou daquelas terras, com o meu consentimento e certamente com o da minha mãe, já que grande parte delas a pertencia. Agora passamos essa mesma tarefa para meus primos que estão fazendo um excelente trabalho. Lamento não poder ajuda-lo, mas também não lamento pelos seus gastos, sabia que risco da queda quando resolveu subir alto demais.

O rosto do Senhor Whitehill mudou de cor, de vermelho para roxo e em seguida ficou palido e cinzento, da cor de mingau de avei velho.

—Como...Você- Ele parou, certamente uma ameaça viria a seguir, mas ele se conteve ao se aproximar de Elliot de forma ameaçadora- Você não sabe com que acaba de brincar. Tenho amigos mais poderosos, a lei e a corte estão do meu lado, tal como o banco também estará quando eu lhes disser sobre essa injustiça! Eu apenas estou exigindo oque por direito é meu. Essa conversa ainda não acabou!

—Sim, ela acabou- Disse Elliot, reforçando cada palavra.

—Elliot é o herdeiro agora- Disse a Senhora Van Dorst- Se ele disser que acabou, acabou. Lamento caso queira acabar isso de forma rude, essa é uma casa de respeito de uma familia nobre. Se puder por favor seguir o seu caminho, sabe onde é a porta.

O Senhor Whitehill não estava mais com raiva, pelo contrario, agora ele gargalhava como se todos estivessem fazendo parte de uma brincadeira. Mas foi assim que ele se dirigiu a porta, mas antes de sair, a um passo, ele deu meia volta.

—Bem, devo admitir- Disse ele, recuperando o folego- É um senhor corajoso, tal como seu pai era.

—Obrigado...-Disse Elliot lentamente "Esse homem por acaso é louco?"

—Mas é uma pena, porque a ultima coisa de que eu preciso é de um senhor corajoso.

—Elliot!- Ouviu Victor exclamar.

Uma dor lancinante lhe atravessou o ombro esquerdo, já próximo a clavícula. A dor era o pior, mas depois veio o sangue; muito dele. Elliot não conseguiu se manter em pé por mais do que alguns segundo e atingiu o chão.

—Chamem ajuda! Agora!- Dizia a voz de Edith em um misto de lagrimas e desespero- Ah meu Deus, meu filho não...

Uma faca lhe havia atravessado por completo. Por um momento ficou cego. Conseguia ouvir Emily chorando ao longe, e os gritos de sua mãe completamente apavorada. Só conseguia pensar na dor e no sangue que agora o sufocavam tentando sair pela garganta, nem mesmo conseguia respirar.

Tudo ficou escuro, ele não conseguia sentir mais nada além de frio.


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