Califónia Arizona Califórnia escrita por Sereia de Água Doce


Capítulo 3
Quer um lanchinho?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/692310/chapter/3

Já era segunda pessoa que xingava mentalmente, quando viu o motociclista dar meia volta e parar a sua frente.

— Sobrado, 40696. Siga em frente e vire a esquerda, é a última casa da rua. Não sou egoísta como você. Entendeu?

—EU ME CUIDO!

—Ah, como você tivesse se cuidado desde a manhã... – dando partida na moto e falhando miseravelmente, indo arrastando o veículo (com ele sentado) pela rua até ele pegar.

***

Um pouco sentida por Scorpius tê-la chamado de egoísta, andava distraidamente pela rua até avistar um grupo de meninos depenar uma lambreta estacionada em frente a um casarão.

—O que está acontecendo aqui? –perguntou horrorizada ao dono da mansão.

—Um sem noção parou na frente da minha casa. Aqui é a lei, se não obedece-la, já era seu carro.

—Moça, só queríamos jogar futebol, mas aquele tio parou no meio do campinho.- respondeu de uma forma mais gentil um dos garotos.

—Ah...

***

Decepção. Era isso que sentia quando descia as escadas do sobrado da última casa na rua. De fato a havia encontrado sem muitas dificuldades, mas ao chegar lá se deparou com o portão trancado, com direito a corrente e cadeado.

Pensou em talvez perguntar na casa debaixo mas tinha medo da resposta.

Resolveu tentar e tocar a campainha.

—Pois não? – uma mulher loira, com seus quarenta e poucos anos surgiu na porta.

—Com licença. Poderia-me dizer onde estão as pessoas do segundo andar?

—Não faço a menor ideia, não estamos mais falando com ele. Brigamos mês passado. Passar bem. - e entrou sem pestanejar na casa.

Já era a segunda vez no dia que era deixada para trás e isto a estava magoando. Tina acabado de se virar para ir embora quando uma vozinha de criança surge da sacada da casa.

—TIA! ESPERE!

Olhou apavorada para cima em busca da voz.

—Você é do Arizona, tia?

—Sim...? – estava visivelmente desconfiada.

A menininha, dona da voz fez um sinal para  a mais velha se aproximar. Pulou da sacada, que não era muito alta e correu ao seu encontro.

—Oi moça. Minha tia me disse que você ia aparecer por aqui ainda esta semana.

—Tia?

—Sim, minha tia. A mãe de Hyperion.

Ah...

—Ela teve que sair por um tempinho, mas me pediu para te dar o número do telefone de Hyperion, caso você chegasse.

—Ah, você é tão fofa! – Rose tentara controlar o agudo de raiva na sua voz, porém falhou.

—Vamos, vamos. Anote rápido antes que minha mãe me descubra e brigue comigo!

—Um segun...

—9015

—Esp...

—9599

—Menin...

—Hyperion é o meu primo, sabia?

—Jura? Que legal...

—Nossa família está meio brigada ultimamente, mas tudo já vai estar resolvido até o casamento. Hyperion disse que posso ser a dama de honra!

Olhou bem para a prima do dito cujo: devia ter uns sete ou oito anos de idade, baixinha, loiríssima de olhos tão verdes como a grama. Possuía uma janelinha em seu sorriso e desde que a avistara cinco minutos antes, não parara de sorrir.

Daria uma bela daminha caso tivesse um casamento de verdade.

—Certo. Pode repetir o número? – desta vez havia puxado seu caderninho a tempo.

—Claro. 90...

—DAPHINE!

—Ai meu Deus! Tchau tia!- e saiu correndo.

—O NÚMERO!

***

—Qual era mesmo o número?

De fato, aquele não era seu dia. Andava pela rua falando sozinha, tentando a todo custo lembrar o maldito número.

—90..55000... não. 901559599. É, é isso.

E para não haver o risco de esquecer novamente, este se tornou o seu novo mantra. A cada passo, repetia o telefone três vezes.

***

Scorpius havia ido consertar sua moto após a pequena discussão com a ruiva esquentada. Até agora não entendia como podia ser tão desleixada ao ponto de esquecer seu telefone no táxi e sair mandando nos moradores locais.

Quando terminou de recolocar o silenciador com dor no coração e ajeitar sua lanterna, acaba secando o suor daquele dia quente, passando um de seus braços pela testa, se abanando com a camisa. E, ao olhar para a frente se depara com Rose caminhando lentamente, recitando um número estranho.

Ele jura até hoje que o sorriso que deu quando a viu foi inevitável. Olhar com cara de bobão para uma garota estava totalmente fora de cogitação, mas não conseguiu se conter.

Desatou a rir imediatamente, achando graça de seu mantra. Ela se aproximou, olhou com uma cara feia. Ele tentou disfarçar. Ainda tomado pela risada começa a segui-la quando a mesma parece mais irritada do que nunca.

—HEY, por acaso perdeu sua cabeça, ruiva? – parecia querer tirar uma com sua cara.

—CALADO!

—Então porque está falando sozinha como uma lunática?

—EU DISSE PARA FICAR QUIETO!

—O QUÊ? O QUE VOCÊ FALOU?

—95... DÁ PRA CALAR ABOCA?- Exaltada, tentava usar o telefone público, já errando o número.

—SABIA QUE EU POSSO FALAR MUITO MAIS? NÃO VOU FICAR QUIETO SÓ PORQUE VOCÊ MANDOU! EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ, RUIVA!

—Merda... – ela havia esquecido o telefone.

—Você não pode falar essas coisas, é uma menina. Que palavreado é esse?- um pouco irritadiço, ele admitia.

—IDIOTA! Qual é o seu problema? Por sua culpa eu esqueci o maldito número!

—Ah, quer dizer então que estava memorizando um número? – o sorriso divertido voltara as seus lábios. - não se memoriza um número assim. Eu consigo memorizar no instante que a pessoa fala. Aiai, essas meninas do Arizona precisam de suplementos nutritivos para que possam começar a pensar um pouco mais rápido... Tadinhas, pensam pouco e acabam se envolvendo em confusão. –Scorpius aproveitou para debochar um pouco da garota, que o fuzilava com o olhar.

Rose já havia se irritado e magoado demais quando não aguentou mais e deu um soco no belo rosto de Scorpius, o fazendo voar longe e cair numa barraquinha a poucos metros atrás de si.

—O que está pensando, ruiva?- havia sido apenas um breve delírio de sua mente. Ele continuava parado em sua frente. – Está sonhando acordada?

—Seria melhor se alguns sonhos fossem realizados... –disse baixinho, pensando no belo soco que havia dado.

—Hã? Isso não importa... Você quer o número, não quer? Anote: 9015595.

Percebe-se que até a pequena Daphine havia errado o número.

—Como você sabe?- estava até certa em ficar desconfiada.

—Ah, isso é só uma parte. Toma.- estendeu seu telefone para ela. –pode verificar se quiser.

—A mensagem...

—Eu não a excluí. Se quiser, pode telefonar do meu celular. Coloquei crédito, não é problema. Aqui costumamos ser muito caridosos e generosos, sabia? Anda, não tenho vergonha, já fez isso antes. Ou vai acabar esquecendo o número de novo. –completou com um belo sorriso recheado de humor.

Relutante, Rose pega o telefone, recebendo como resposta u:

—Você sempre vai se lembrar da cara dívida que você tem.

Scorpius se divertia enquanto via a aflição da garota ao ligar, ligar e ligar e só dar ocupado.

—Pode tentar quantas vezes quiser, ruivinha.

—Atende, seu idiota... – Rose cochichava com o telefone.

—Esquece isso, deixa esse perdedor pra lá! Você ia dizer não de qualquer jeito mesmo.

Intrigada, virou-se para o rapaz e falou em um tom muito sério:

—Como você sabe que vou dizer não? –como se questionando sua decisão final.

—Qual é! A cidade inteira ouviu quando começou a gritar com sua mãe no telefone!

De fato, quando havia ligado para casa pedindo o endereço do rapaz, sua mãe havia gritado muito. E ela retrucou de forma igualitária transformando uma simples ligação em muitos gritos.

—POE ACASO ESTVA OUVINDO MINHA CONVERS, SCORPIUS?

—E QUEM NÃO OUVIU, RUIVA?

Furiosa, Rose não tinha mais palavras para retrucar visto que ela era quem estava errada.

—Você não se cansa de me atazanar não? – perguntou soltando o ar pela boca.

—Ah, é o estilo da Califórnia, sabe? – disso com um sorriso de canto, provocador.

Após respirar fundo e se acalmar para não voar no pescoço do loiro, rose conseguiu voltar a falar.

—Escuta... Eu saí de casa muito cedo e não comi nada, então por favor não me estresse ainda mais.

—ISSO! Por sua culpa eu acabei não comendo nada. Vamos, vamos ruiva! Suba na moto! – Scorpius já havia montado no veículo e o arrastava tentando fazê-la pegar.

—O quê?! Não sou qualquer uma pra você tomar decisões sobre mim!

—Hã?

—Por que eu deveria ir com você, Scorpius?

—Tudo bem então, não vá comigo! Siga em frente e dobre na última curva, depois à esquerda, ande mais um pouco e vire mais duas direitas. Só ia te poupar o esforço, mas já que não quer vir...

A Weasley pareceu ponderar a gentileza.

—Sabe, não é como se estivesse em falta meninas aqui na Califórnia. Eu não vou correr atrás de você, juro por Deus.  Não sei porque se preocupa tanto com isso.

—TA BOM, TA BOM. Vamos logo com isso.- de fato, seu pequeno discurso a havia convencido.

Quando rose senta um sua moto, o pequeno problema volta a tona e por mais que o rapaz tentasse, a motocicleta não pegava de jeito nenhum. Apenas precisou olhar para a ruiva com um sorriso sem graça, com um olhar pidão que a mesma, bufando de raiva, levantou-se e foi empurrar a moto. De novo.

—Coloque um pouco mais de força! Acelera, vai!- o mais velho gritava as instruções para a garota, ainda arrastando a moto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Califónia Arizona Califórnia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.