Gilbert Grissom

— Cheguei princesa. – Disse exausto. Havia trabalhado o dia inteiro.

— Papai. – Alicia veio correndo até mim me beijando a bochecha, e neste momento parecia que todo o cansaço havia ido embora.

— Cadê o príncipe, minha princesa? – Fitei-a.

— Dormiu. A Tia Milena foi embora faz pouco tempo, e ele estava dormindo.

Tudo havia ficado mais difícil após a morte de Judy. Antes da morte de Judy nós erámos pobres, mas nunca havia nos faltado o que comer, e sempre havíamos podido manter tudo em ordem na nossa casa. Depois que ela se foi, nada tinha sido igual. Por muitas vezes nos faltava o que comer, e isso me dava muito medo.  Tia Milena como Alicia chamava, era uma amável senhora, nossa vizinha, ela cuidava de Arthur quando eu estava fora, era a única maneira de eu conseguir ir trabalhar.

Arthur era um menino de dez meses, ele não podia passar fome. Alicia também era jovem, tinha apenas seis anos. E era difícil manter a família, colocar a cabeça no travesseiro e dormir era raro. Sempre rondavam os pensamentos se iria conseguir o que comer no outro dia. Porém hoje havia conseguido um bom dinheiro.

— Parece feliz papai. – Disse minha pequena sentando-se no sofá quebrado.

— Sim, consegui dinheiro e trouxe comida.

Os olhos de Alicia brilharam. Ela era pequena, mas entendia muito bem a situação que nós passávamos. Ela sabia que o fato de eu ter trazido comida era uma ótima notícia, tão boa quanto imaginar que isso também ocorreria no outro dia.

Larguei as sacolas sobre a mesa. Havia pão, mortadela, e algumas outras coisas para cozinhar no outro dia para Arthur.

— Quero que coma e vá dormir. Amanhã você tem escola cedo.

— Papai. – Ela me fitou com seu olhar curioso.

— Sim, princesa.

— Meu coleguinha saiu da escola, ele está ajudando o papai dele a pedir dinheiro na rua. Eu podia ajudar você, assim sempre teríamos comida.

— Nunca meu anjo, você irá estudar. Você e Arthur terão de estudar nem que eu tenha fazer algo errado para isso. Vocês dois nunca vão ser que nem o papai.

— Eu não me importaria de ser igual a você papai.

— Mas eu sim princesa. – Depositei um beijo sobre sua cabeça. Alicia era uma menina doce e obediente, um presente que Deus havia me dado. Arthur também, porém Alicia tinha algo cativante dentro dela. – Me prometa que sempre estudará muito.

— Eu prometo papai. – Ela então começou a montar o sanduíche. Ela olhava aquele pão com tanta fome, que chegou a apertar meu coração.