Pisquei devagar. Meus olhos doíam, e eu duvidava que fosse conseguir me mexer.
A última coisa que lembro, era de Jason. Mas eu sentia como se tivesse passado muito tempo que eu estava desacordada.
— Em? - Senti uma mão acariciando minhas bochechas levemente.
Forcei meus olhos abrirem, e dei de cara com seu rosto embaçado. Pisquei algumas vezes, tentando recobrar a visão.
— Emily, você consegue me ver? - Pisquei novamente.
— N-Não... Onde.. Onde...?
— Na cela. Só eu e você, numa cela. - Consegui ver seu sorriso. Minha visão estava voltando.
— Eu morri?
— Não. - ele riu. - Você está vivinha, meu anjo.
Tentei sorrir.
Já conseguia ve-lo melhor, e
sentia as coisas a minha volta. Estava frio, e eu estava com minha roupa de antes.
— E-Eu... O que aconteceu no... No tanque...?
Ele suspirou.
— Sinto muito que tenha passado por isso. - Jason abaixou o olhar. Ergui minha mão trêmula pra seu rosto, e o acariciei devagar, sentindo sua pele sobre meus dedos. Ele fechou os olhos, e tocou minha mão pequena com a sua mão grande.
— Me ajuda a mexer. - Pedi, e ele me colocou sentada escorada na parede. Fiz uma careta de dor, com a fisgada no ombro.
Um pedaço de pano azul um pouco insanguentado envolvia a mordida da coisa.
— Você se sente bem?
— Eu não tenho forças pra me mexer. Meu braço dói, minha cabeça dói, eu achei que estava morta...
Ele ergueu as sobrancelhas.
— E tô com fome. - ele deu de ombros.
— Eu também. Mas, fazer o que? - ele sorriu.
Passaríamos por isso juntos também. Sorri, até que lembrei do que ele tinha feito.
— Jason. Jason, você deu pra elas o código... Jason eu não acredito! Como você pode...? - O olhei.
— Emily, eu...
— Não, agora já era. Você já matou milhares de pessoas! - esfreguei os olhos, desviando meu olhar dele. - Isso foi egoísta e imaturo, Jason! Minha vida não vale a de milhares de pessoas... - soltei o ar que segurava. - Talvez não esteja pronto pra ser rei! - ele piscou algumas vezes.
— Emily, eu não faço idéia do código real. Vão te matar quando descobrirem que é falso. - ele comprimiu os lábios, e olhou pra baixo.
Prendi a respiração.
— Jason, eu não queria...
— Você está certa. - Ele deu de ombros. Suspirei.
— Não tô não. - Olhei pros meus dedos. - Você vai ser um ótimo rei, e eu... Nunca conseguiria ser uma rainha tão boa quanto você como rei. - Pisquei contendo as lágrimas.
Senti seu olhar sobre mim.
— Desculpa ter gritado.
— É isso que te preocupa? Ser uma boa rainha? - ele riu, passando o braço pelo meu ombro. - Você é uma rainha todo dia, Emily.
Arqueei uma sobrancelha.
— Você apoia as pessoas. Resolve os problemas delas. Ajuda todo mundo. Faz o impossível por qualquer pessoa na rua. Isso é ser uma rainha, isso é ser a Emily. - ele sorriu, e eu abaixei o olhar, provavelmente corada.
— Talvez possamos fazer isso. - segurei sua mão, e deitei a cabeça em seu ombro. Jason beijou o topo da minha cabeça.
— Podemos. - Ele deitou a cabeça na minha. - Espera, quem disse que eu mudei de idéia sobre nosso acordo?
— Eu juro que vou te dar um soco, assim que conseguir mexer. - ele riu, acariciando meus cabelos.
— É, eu mudei de idéia. - ele sussurrou antes de fechar os olhos.
(...)
— Ei, vocês podem parar de me ignorar? - Pisquei algumas vezes com a voz estridente de Wanda.
— Não. - Jason responde, sem abrir os olhos e com um sorriso no rosto.
Encaro Wanda. Meus olhos quase pulam pra fora.
Ela usava roupas normais, que estavam sujas de sangue que duvidava ser dela. Tinham manchas recentes secando em seus braços para trás, nas suas botas, e na camisa.
Cutuquei Jason para ele abrir os olhos, e ele me olhou confuso.
— O que? - o encarei contendo as lágrimas, até ele se virar pra Wanda. - Jesus.
— O que? - ela olhou pra baixo. - Ah, essas manchas, não liguem. Estava conversando com Andrew. - ela sorriu, e eu tive vontade de quebrar todos os seus dentes, enquanto chorava. Mas me conti. Os músculos de Jason se contraíram. - Só vim dizer que já estamos quase conseguindo usar seu precioso código. Se for falso, você morre, Emily.
O ouvi prender a respiração.
— E se for verdadeiro?
— Ai... Vamos ter arminhas novinhas, presente do príncipe Jason Londres. - ela sorriu, e pude sentir que ele quase levantou e a estapeou ali mesmo.
Acariciei sua mão com calma.
— Quem sabe eu deixe vocês dois juntos mais vezes se me dissessem obrigado? Por tudo que eu fiz por vocês...
— Não vamos fazer isso. - Cruzei os braços.
— Obrigado, Wandinha. - O olhei abismada. Que?
— Hum... De nada, Jasosonzinho. - Wanda sorriu maliciosamente. - Bem, até daqui a um tempo.
Ela saiu andando, e pude ouvir a porta se fechando no corredor vazio.
— ONDE TA SEU ORGULHO AGORA, LONDRES?
— Eu não ligo pra ele agora. Quero estar só com você. Quero te proteger. Não ligo pra ela. - e sorriu.
Suspirei, dando de ombros.
— O que acha que ela fez com Andrew? - Ergui meu olhar cheio de lágrimas pra ele. Jason não respondeu, apenas olhou pra baixo. - Jas? Jason me responde! - Pedi, sentindo lágrimas rolarem do meu rosto.
— E-Eu não sei. - ele respondeu, com a voz falhando. Enterrei meus soluços em seu braço, e ele acariciou minhas costas devagar.
Andrew.
(...)
— EI. Olhem pra cá. - O som das grades batendo de novo nos fez erguer a cabeça. Wanda. - Er spricht Deutsch? - "Ele fala alemão?"
— Nein. - "Não." Suspirei.
— Sprechen Sie Deutsch? - "Você fala alemão?" ela insiste, sem largar as barras.
— Que? Você tá falando comigo? Isso é russo por acaso? - ele arqueou uma sobrancelha. - Podem fazer isso de um jeito que eu entenda?
— Er will nicht Deutsch sprechen. - "Ele não fala alemão."
— Große. - "Ótimo" - Ich weiß, dass der Code falsch ist, und ich bin nicht glücklich darüber, ganz im Gegenteil. Sobald ich die Erlaubnis habe, werde ich dir hundert verschiedene Arten zu töten. Aber jetzt kann ich nicht. Sie haben ein paar Minuten ihren Prinzen zu überzeugen, seine Meinung zu ändern, oder wir werden es ändern zu machen. - "Eu sei que o código é falso, e eu não estou feliz com isso, muito pelo contrário. Assim que eu tiver permissão, eu vou te matar de cem formas diferentes. Mas por enquanto, eu não posso. Você tem alguns minutos para convencer seu príncipe a mudar de idéia, ou nós vamos faze-lo mudar"
Ela larga a cela, e sai andando com passos rápidos.
— Ich spreche sehr gut Deutsch, Engel. - "Eu falo alemão muito bem, anjo" ele piscou pra mim.
— Gut. - "Bom." - O que vamos fazer? Você não sabe o código, e duvido que elas vão acreditar nisso.
Ele suspirou.
— Uma hora elas vão acreditar. E nessa hora, você vai estar gritando.
Ele estava certo.
— Mas eu não me importo de gritar. - sorri.
— Mas... Talvez ninguém precise gritar. - Jason disse.
— É. - Olhei pras minhas mãos. - Acha que Wanda... Poderia ser a Wanda que achamos que fosse? - o olhei esperançosa, e ele me olhou de um jeito que soube a resposta.
Jason suspirou.
— Wanda não conhece o amor, Emily.
— Não é verdade. Eu amava ela. Ela viu o que é o amor.
— E não quis reconhecer. Aquela Wanda não existe, a Wanda real é má.
— Talvez um vilão seja só alguém cujo a história não foi contada.
Ele abriu abriu a boca pra dizer algo irritado, mas fechou, e esfregou os olhos.
— Não defenda ela, Emily. Ela matou muita gente.
— É. Você tem razão. - dei de ombros. Mas logo sorri abertamente. - Eu tive uma ideia.
Ele sorriu também.
— Era disso que eu estava falando.
— Bem... Se ela não sabe o que é o amor, de acordo com você, ela não sabe como funciona... Se nós brigassemos, ela pararia de me usar pra te atingir, achando que não ligamos mais um pro outro.
— Ai meu Deus, você é brilhante demais! - ele me agarrou pelas bochechas, e me beijou.
Isso iria doer. Desculpa, Jason.
Estiquei minha mão, e acertei um tapa forte em seu rosto.
— AI, EMILY! - Ele tocou o local do tapa, se afastando. - Ta doida, garota?
— Eu falei pra não me tocar de novo!
— Que diabos? - ele me olhou assustado.
— Ei, o que tá acontecendo? - Wanda cruzou os braços, saindo das sombras, parecendo desinteressada.
— Se eu soubesse, não contaria pra você. - Jason não fez questão de se levantar do chão.
— Ah, então essa é sua regra seu idiota? Eu devia saber, desde o começo que vocês eram esse tipo de gente. Eu estou tão decepcionada... - comecei a chorar, e Jason continuou esfregando a bochecha, entendendo o que eu queria fazer. - MAS ACIMA DE TUDO EU QUERO TE MATAR! ACABOU TUDO! EU NÃO QUERO MAIS TE VER! - Pulei em cima dele, e soquei seu nariz com força. Ele caiu pra trás, gemendo, com o nariz sangrando.
Ele entendeu o que eu estava fazendo.
— É? Por que eu nunca quis que ficássemos juntos. Dá pra tirar ela da minha cela por favor? - Ele cruzou os braços esquecendo o sangue.
— Não mesmo, isso está me entretendo. - Wanda sorriu.
— Mas eu não quero mais ve-lo nunca mais! - Voltei a chorar, abraçando meu corpo.
— Fecha os olhos, meu anjo. - Ele sorriu.
— NÃO ME CHAMA DE ANJO! - Berrei, pronta pra ir na direção dele se precisasse. - Você é um estúpido, que não serve pra nada!
— E você? Você é mesquinha e egoísta, e eu não ligo mais pra você.
— Ótimo! - tapei os olhos com a mão.
— EI, NINGUÉM TAPA OS OLHOS PRA NÃO VER JASON LONDRES!
— EU NÃO SOU NINGUÉM, E EU FAÇO O QUE EU QUISER!
— General, os gritos deles estão atrapalhando a base inteira. - Uma ruiva disse a Wanda. Nem a vi chegar.
— Oi gracinha. - ele se levantou, e foi até a grade. - Sabia que tenho uma quedinha por ruivas? - ele sorriu, fazendo sangue entrar em sua boca.
Gritei, pulando em sua direção, enquanto socava seu braço de leve.
— Ai!
— EU VOU TE MATAR!
— EI! Acabou o show, calem a boca ou eu dou um tiro em cada um! - Ela esbravejou, batendo com força a luva se ferro na grade. Me levantei, e fui pra longe dele. -Briguem em silêncio. Se eu ouvir um pio, os dois morrem. Não ligo que não se gostem mais, eu não ligo mesmo.
Ela saiu andando pela terceira vez hoje.
Assim que a porta fechou, corri até Jason.
— Droga, Emily. - ele tocou o nariz. - Dakota tinha razão, seu soco dói!
— Desculpa - Não consegui deixar de rir, enquanto o ajudava a limpar. - Deu certo, né? Ela super acreditou!
— No meu plano eu não levava um soco.
— Então não tinha graça. - sorri.
Ouvimos passos de botas de ferro vindo, e eu me afastei dele num pulo. Wanda.
— Já tenho ordens pra vocês. Se não liga mais pra ele, se importaria se eu o torturasse? - Pisquei algumas vezes. Sim, eu me importava. Mas tinha que ser feito.
— Sou contra toda forma de agressão, menos quando eu faço. - torci o nariz, e funguei, secando minhas lágrimas imaginárias.
— É. - ele me lançou um olhar tranquilizador sem ela perceber.
— Eu vou levar quem eu quiser. Então, Jason, você prefere choques ou porrada? - Ela sorriu maliciosamente, e estalou os dedos para as outras 4 Destructives na sala. Elas abriram a grade, e apontaram uma arma pra mim, e outra pra Jason, enquanto ele se levantava pra sair. Wanda colocou uma algema nele, e fechou a grade.
Meu coração gritava para impedir, para agarra-lo ou faze-la me levar no lugar dele.
Mas tinha que ser feito. Ela me torturaria para atingi-lo.
Suspirei. Aquela cela era tão fria sem ele.
Olhei seus olhos uma última vez. Ele queria aparentar estar calmo, por mim. Mas eu sei a diferença. O brilho em seu olhar.
Ele está com medo. Eu também.