Crônicas dos 7 mares:A garota,O garoto e o Oráculo escrita por TheNextSupreme


Capítulo 2
A sub-Terra


Notas iniciais do capítulo

Agora vai começar a ficar interessante ksksksks bjs



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—Ela está demorando muito para acordar, acha que vamos ter que congelá-la como os outros?
—O quê? Não há tempo para isso, estou certa de que ela vai acordar em breve.
—Mas e se...
Acordo ao ouvir vozes ao longe.
Lembro-me de tudo. O navio, o naufrágio, meu pai, minha avó e eu mesma sendo arrastada para...O que?
Num solavanco, abro os olhos, ofegante, uma forte luz me atrapalha a enxergar. Coloco a mão um pouco acima dos olhos e vejo um homem mediano e uma mulher loira, com óculos gigantescos,ambos de roupas brancas olhando pra mim atentamente.
—Ah!-Eu grito, num tentativa falha de me levantar, mas a dor alucinante que vem das minhas pernas faz com que seja impossível. O que está acontecendo contigo, Ashley?
—Ei, ei, acalme-se.-A mulher diz, pressionando meus ombros levemente para que eu me deitasse de novo. Óbvio que eu não o farei.
—O QUE É ISSO? ONDE EU ESTOU?-Eu grito, tentando me desevencilhar dos braços da mulher mas a dor nas minhas pernas faz com que eu não consiga usar tanto da minha força.—QUEM SÃO VOCÊS?
—Ashley, pode se acalmar, por favor?-Ela volta a dizer, calmamente e isso me frustra ainda mais.
—COMO SABE MEU NOME? ONDE EU ESTOU?
—Você está na Sub-Terra, queridinha.-O homem mediano diz, se aproximando.—Embaixo do chão do mar, consegue entender?
—O QUE?!-Grito de volta. Isso é loucura, devo ter morrido ou estou prestes a faze-lo.
—Emile!-A mulher grita de volta para o homem.—Isso é jeito de contar uma coisa dessas para um novato?
—Eu só queria acelerar as coisas! Ela iria descobrir de um jeito ou de outro!
—Oras! Coloque-se no lugar dela e imagine-se recebendo uma notícia estranha como essa!
—Não me colocarei, não sou humano!
—Mas seus ancestrais eram!
Percebo que eles começarão uma discussão daquelas intermináveis, a mulher já não segura mais meus ombros e eu estou livre. E espere...O que ele disse mesmo sobre não ser humano? Seria possível que eles tenham me colocado num hospício?
Antes de olhar ao redor, me jogo de cima da maca, caindo direto no chão com um estrondo, mordo o lábio, tentando me levantar no chão amarelado e frio mas é em vão. É como se minhas pernas não funcionassem mas mesmo assim, eu sinto elas em diferentes pontos.
—Ashley, deixe-nos ajudar!-A mulher segurou-me pelos braços me levantou. Tive que me segurar para que não gritasse novamente, porque o que vejo é surreal.
No lugar de pernas normais, a mulher, que presumo que seja uma médica, tem vários tentáculos, brancos igualmente ao seu jaleco. As ventosas que vão do começo ao final de cada tentáculo, são de um tom de rosa muito claro, quase transparente. Como se um polvo estivesse engolindo as pernas dela.
O mesmo com o homem mediano.
Eu devo estar perdida num sonho profundo demais.
—O que...Diabos...É...Isso?-Digo pausadamente, ainda me segurando na mulher. Não consigo parar de olhar para...Aquilo.
—Oh, isso...-De algum modo que sou incapaz de compreender, ela meche um dos tentáculos na minha direção.—São meus tentáculos. Eu e Emile somos cecaelias, pessoas metade polvo, como as sereias, que são mais famosas no seu mundo.
Que droga devem ter me dado pra ter alucinações como essa? Estou surpresa.
—Não diga sobre as sereias! São o inimigo!-O homem mediano diz, levantando o dedo e um dos tentáculos gordinhos.
—Ora, Emile! Não há motivo para sermos inimigos, é só o que aqueles brutamontes dos mares dizem!
E lá vão eles com mais uma discussão, tiro meu braço do pescoço da mulher e tento me levantar sozinha, enquanto agito os braços, pequenas bolhas de ar são formadas ao redor deles e de mim. Estou respirando debaixo d'água...Tudo bem, já deu, cansei de sonho.
Olho pra baixo, tentando entender o que há com minhas pernas e...Eu não possuo mais pernas.
Ah. Meu. Deus.
—AH!-Solto um grito estridente ao ver os meus...Os meus...Ah isso é tão nojento!
—Parece que você descobriu seus tentáculos.-A mulher volta a falar comigo.—São de um violeta meio roxo muito bonito, é raro encontrar cecaelias como você, Ashley.
—Kraken foi muito bondoso com ela.-O tal Emile diz.—Você é linda, Ashley, se me permite dizer.
—QUE PORCARIA É ESSA? OK, EU VOU SAIR...FLUTUANDO POR AQUELA PORTA ALI E VOCÊS NÃO VÃO PASSAR DE UMA VAGA LEMBRANÇA DE UM SONHO MUITO ESTRANHO, TCHAUZINHO!-Eu grito, antes de começar a tentar...Andar ou nadar com aquelas oito coisas que um dia foram minhas pernas e agora começavam desde o fim da minha cintura.
—Espere, Ashley!
Mas é tarde demais, eu porpulsiono meus supostos tentáculos pra frente e flutuo no ar...Quer dizer, água. Logo, estou abrindo a porta branca.
E o que vejo é mais maravilhoso do que amedrontador. Automaticamente um sorriso se forma no meu rosto, ao ver essa...Sub-Terra.
Era como um coral de cores infinitas, contrastando umas com as outras, de onde estou posso ver vários locais iluminados, galerias com pilastras cheias de conchas, algas e mariscos, alguns peixes usam como casa e, a todo momento, vejo pessoas com tentáculos no lugar das pernas...Cecaelias. Rindo, conversando, lendo, flutuando, comendo,comprando,vivendo, é como Nova York, só que submersa e ao mesmo tempo, é mais incrível do que a cidade fictícia e alagada de Atlantida, mas agora não tenho tanta certeza se ela não é real. Tudo cheio de vida e feito orgânicamente, como se esse lugar não tivesse sido construído e sim nascido. Agora, mais do que tudo quero voltar atrás e dizer que isso não é um sonho, é algo que está abaixo de nossos pés e o mundo não faz nem ideia da existência e da beleza.
Saio dos meu devaneios ao ver um grupo de crianças cecaelias olhando pra mim e rindo. Olho pra baixo, creio que não estão rindo porque eu não estou vestindo nenhum pedaço de pano pra cobrir meus seios, porque ninguém aqui se preocupa com isso, mas sim porque estou rodeada de uma nuvem escura e creio que seja porque me surpreendi muito com o que acabei de ver.
Ótimo, Ashley, já começou com o pé esquerdo.
Eu suspiro e vejo as bolinhas se esvaindo da minha boca, imagino qual seria a reação do meu pai ao ver este lugar. Se é que ele ainda vive.
De repente, sinto um ímpeto enorme de chorar, bem ali mesmo, mas não o farei.
—É lindo, não é?-Ouço uma voz me dizendo. Me viro e vejo outra garota, de provavelmente a minha idade, com os cabelos azuis escuros e os tentáculos da mesma cor.—Meu avô é um escolhido, assim como você, também soltou tinta quando viu esse mundo pela primeira vez.
—É bem esquisito, predendo não fazer novamente.-Eu respondo. A garota ri.—E como assim, seu avô é um escolhido como eu?
Ela esboçou um sorriso e estendeu a mão para mim.
—Meu nome é Savannah, e eu estou aqui pra te explicar tudo, não se preocupe.
Aperto sua mão e faço mensão de dizer meu nome mas...
—Ashley Frangipane...Eu sei, todos sabem sobre você.
—Por que de repente todos sabem sobre minha vida menos eu?-Ela ri novamente.
—Só me siga, Ash. Posso te chamar assim?-Eu assenti com a cabeça e esbocei um sorriso. Essa situação me parece mais o primeiro dia de aula.
Primeiramente, é meio difícil acompanhar Savannah no ritmo dela, só flutuando por aí e fazendo força com os braços mas eu tô quase lá.
Nós passamos pela rua movimentada, cheia de peixes, espécies das quais não sei o nome, cecaelias, sons e luzes, depois de dobrar uma ou duas esquinas e impulsionar nossos tentáculos pra cima, na direção da luz de um sol artificial, nós chegamos num tipo de condomínio com alguns blocos feitos orgânicamente, só que dispostos em fileiras, passamos por uma entrada de pedras e algas e segui Ashley até um bloco que era um tanto maior que os outros.
Ela abriu uma porta cheia de conchas e musgo esverdeado e entramos num lugar iluminado com uma grande mesa de pedra no centro.
Savannah apontou para que eu me sentasse numa das cadeiras rochosas e andou até uma estante,voltou com um livro gigantesco nas mãos.
Ela jogou o livro em cima da mesa, fazendo um tanto de areia e bolhas saírem do local onde o livro foi jogado, e Savannah sentou-se na minha frente.
—Esse, Ash, é um dos poucos livros que datam da época em que o Kraken e o Leviatã resolveram se tornar inimigos.-Ela começou, abrindo o livro numa página velha, ilustrada com algum tipo de monstruosidade marinha com fileiras de dentes e, ao lado, um polvo de proporsões descomunais.—Conhece-os?
—Já vi algum filme com esse Kraken mas não conheço o segundo...Não vai me dizer que são reais, não é?
—Ainda está surpresa por eles existirem?-Uma outra voz surgiu das sombras. Um cecaelia alto e com tentáculos maiores do que os que eu já tinha visto nos meus poucos minutos fora daquele hospital.
É metade um rapaz um tanto musculoso, com cabelos castanhos brilhantes e olhos quase vermelhos.
—Ah! Senhor, você veio.-Savannah diz, levantou-se e fez uma reverência.
—É claro que eu vim. E essa base de treinamento está uma bagunça, Banannah, arrume alguém para arrumá-la.
—Meu nom é Savannah, senhor.
—Que seja! Preciso ter uma conversa com a Última Escolhida.-Ele fez um sinal com a cabeça e Savannah saiu flutuando para fora do local.
Agora, estou a sós com quem quer que ele seja, mas ele não me dá bons pressentimentos.
Ele sentou-se a minha frente, então posso ver que é mais alto do que qualquer homem que eu já tenha conhecido. Cruzou os braços e ficou me fitando.
—Não vai me perguntar nada?-Ele pergunta, sem tirar os olhos de mim.
—Eu...Eu estou meio confusa com tudo isso, quer dizer...Porque todos ficam me chamando de A última escolhida e o que esses monstros têm a ver com isso?-Eu pergunto, olhando pra qualquer lugar que não seja os olhos avermelhados a minha frente.
—Não são monstros. São deuses. Você me parece meio atrevida, sabe quem eu sou?
Balanço a cabeça negativamente.
—Sou o Representante do mar Atlântico Norte. Há sete mares e sete representantes, mas isso não vem ao caso agora.-Ele descruzou os braços e pareceu se acalmar.—Desde o surgimento da humanidade, Kraken rouba humanos dos quais ele gosta da áurea, para formarem seu exército perfeito de cecaelias. Leviatã foi expulso da Terra por Deus mas, ele faz o mesmo que o Kraken, rouba humanos e os transforma em sereias, os dois tem uma rivalidade porque Deus não expulsou Kraken também e Leviatã tem inveja disso, mas esta é a versão das cecaelias, isso também não vem ao caso.
Paro para assimilar aquelas informações e a ideia de que tudo isso seja um sonho ou alucinação volta à tona. É loucura.
—É tão...Épicamente impossível, como ele pode me escolher se nem me conhece?
—Como pode ser tão arrogante ao achar que a única realidade existente é a sua?
Me calo imediatamente. Por mais que este mundo seja lindo, estou sendo obrigada a permanecer nele e fui obrigada a ir para ele.
Agora entendo o porquê de ter sido arrastada pra baixo quando o navio se afundou.
—Tudo bem, conte mais.-Digo.
—Os escolhidos, geralmente vem pra cá, têm a sua mesma reação mas se acostumam. Alguns têm filhos, outro não, mas o ponto é que todos são congelados quando têm exatamente vinte e um anos. Há escolhidos de décadas, séculos e milênios passados, mas todos permanecem com a mesma idade.
—Você não precisará ser congelada, porque tem a idade e a guerra acontecerá em breve.
—Espere aí...-Eu recomeço.-Como eu vou pra guerra se eu nunca nem toquei em uma arma?
—É por isso que a Bannanah te trouxe pra essa base. Amanhã, os escolhidos serão descongelados e todos vão treinar juntos.
Pendi minha cabeça pra trás e fechei os olhos, tentando assimilar tudo aquilo.
Se ao menos houvesse uma chance de eu voltar a ser completamente humana, eu não precisaria ver tanta gente morrendo por uma guerra que nem é delas.
—Porque eles não lutam entre si?-Pergunto.
—Isso causaria o apocalipse.
Olhei pra baixo e soltei um suspiro, voltei a olhar e o Representante não estava mais lá.

LUCKY'S POV

Ainda que eu não saiba como usar isso direito e tudo seja uma completa loucura, estou aprendendo a ser rápido com minha cauda, ainda mais com muitas sereias me dizendo que sou o último escolhido e que eu devo ouvir o que elas tem a dizer.
Parece estranho eu estar fugindo de muitas garotas, mas não me importo no momento. Eu só preciso ir atrás do oráculo e deixar este mundo pra trás.
Nado pra cima, e pra cima e pra cima, despistando as sereias até que chego num lugar mais claro que os outros, iluminado pelo sol artificial, vejo um tipo de conjunto de casas e...O que seriam aquelas coisas embaixo? Polvos?
Não.
São as cecaelias das quais me disseram ter de lutar contra.
Realmente, preciso e quero acordar deste sonho, os tripulantes devem estar precisando de ajuda, se é que não morreram todos.
—Lucky Blue, volte aqui!-Ouço a voz aguda de uma das sereias vindo atrás de mim.—Isso é muito sério!
—Eu não dou a mínima, isso é loucura, isso não é real!
Me impulsiono pra frente, na direção da cidade das tais cecaelias e nado o mais rápido que consigo.
—Não pode atravessar o limite!
Mas é tarde demais, já estou dentro, nadando o mais rápido que posso.
De repente, trombo com alguma coisa.
—Desculpe-me, eu...-Estava prestes a dizer. Até ver a garota do navio na minha frente. Os cabelos azul arroxeados cobrindo algumas partes do corpo e flutuando em outras, os tentáculos da mesma cor se mechendo lentamente.
É ela.
—Caramba!

 


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