Um conto cinza escrita por Waver


Capítulo 3
Uma piada




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Frio. Flocos brancos de neve caiam do céu, escondendo a sujeira, ocultando o sangue. Em poucos metros de distância, o corpo decapitado jazia sem nenhum resquício de vida, sendo enterrado, lentamente, pela alvura de um inverno repentino. A vila era escrava de um silêncio imperador, morta e desvanecida como todo o resto. Nenhum sorriso, nenhum suspiro, nenhum nome. Apenas uma história que nunca seria tocada pelos bardos, um conto que ninguém saberia além do jovem senhor que tudo presenciou e que nunca nada esqueceu.

A figura caminhava, em passos oscilantes, se distanciando cada vez mais do cenário sepulcral. Vestes pesadas, como se sempre encarasse o pior dos invernos, cobriam o corpo esguio, de pele pálida, cabelos mais escuros do que a cor negra e olhos como ave de rapina, de feições jovens como se tivesse seus 17 anos. A aparência provocava temor nos mais ignorantes, ao confundirem-no com um Nascido do Norte, apesar de ninguém se atrever a acusá-lo disso. Não se fala do Norte, nunca. Sua lâmina polida, de aço doramênio, era arrastada pelo chão, deixando uma trilha no solo de barro. Era pesada, carregando as angustias e desesperanças do portador.

Poucos passos depois, deixou-se vencer pela desgraça e, vazio por dentro, caiu de joelhos. Socou o solo com seus punhos trêmulos. Era vítima do pior frio que já havia sentido, um frio forjado do fracasso e melancolia. Com feições de um doente, tombou por fim com a cara no barro.    

            Permaneceu lá, perdido no turbilhão de informações e vozes que nunca se calavam. Tão imerso em seu próprio infortúnio, não notou o galopar que se aproximava, impetuoso, mesmo com seus sentidos aguçados de caçador. Seus devaneios só foram cessar quando a firme voz fez seu chamado:

— Levante-se, nortenho. A lama aos mortos pertence...”.

O jovem, ainda com o olhar vazio, se esforça para alcançar, com os olhos, a origem da voz. A sua frente, um rapaz de 20 anos, de cabelos vermelhos, trajando roupas comuns e uma leve cota de malha, o encarava com olhos audaciosos como de uma fera.

— “Pois vivos cavalgam, com suas lâminas banhadas à sangue dourado.” — o jovem derrotado finalizou, com voz rouca. — Qual seria o nome daquele que se aproxima com o lema dos bárbaros?

— Rodrik, de certo. Saberia me dizer o nome do homem quebrado? — pergunta o ruivo, enquanto estende a mão, em gesto de auxílio.

O caído aceitou a ajuda e, com esforço visível, levanta-se, para encará-lo como homem.

— É um prazer, Rodrik. Se curvar ao desastre tem se tornado um hábito, para este caçador chamado Weller.


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