— Você não tinha que voltar para a cidade? - o loiro questionou enquanto ele e Sasuke caminhava atrás de Sakura e Tsunade.
        — Você também - retrucou para ele

— É, meu pai pode esperar e além do mais eu eu tenho a vovó Tsu e o Jiraya-sama, e você não tem ninguém…           

O Uzumaki comentou indiferente, mas não percebeu que aquelas simples palavras feriram de leve o coração de Sasuke.

— Pelo menos não aqui! - ele continuou olhando para o céu vendo a chuva se aproximar 

O Uchiha parou de caminhar ao lado de Naruto e fitou os três caminhando na sua frente. Sakura, Tsunade e Naruto não podiam ter uma ligação sanguínea… mas eram como uma família, eles cuidavam-se entre si e sempre faziam as coisas juntos… como uma família. A prova disso foi quando a loira recorreu a Naruto - mesmo ele sendo um idiota - quando a rosada foi atacada por Yahiko… era isso que uma família era. E foi assim que sua  foi um dia também. O moreno inconscientemente parou de caminhar e não percebeu que os três a frente haviam parado a poucos metros de si, todos observando-o.

— Sasuke! - Tsunade chamou o rapaz que saiu do transe - Perdeu alguma coisa? 

Não. - ele disfarçou e mexeu em sua bolsa sobre seu ombro - Está tudo aqui… - comentou indiferente caminhando.

[…]

— Que bom que ele não machucou a Sakura-chan, não é? - o loiro comentou sentado sobre uma poltrona da casa de Sakura.

Quando chegaram, Tsunade  praticamente arrastou Sakura para o quarto deixando os dois rapazes na sala fazendo companhia um para o outro. Mas nada estava ocorrendo tão bem, já que Sasuke mal falava.

— Sasuke… Ei! Eu estou falando com você, idiota! - berrou irritado.

— Estou ouvindo. - murmurou levemente irritado, estava melancólico pelo comentário do loiro a minutos atrás.

Naruto não podia saber, mas Sasuke era talvez mais sentimental do que ele pudesse imaginar.

— Olha aqu- 

Ele foi interrompido por batidas na porta, o Uzumaki prontamente levantou e abriu a porta com a guarda levantada esperando que fosse mais alguém querendo atacar Sakura.

— Abaixa esse braço garoto, antes que eu quebre ele! - Jiraya suspirou olhando o loiro de cima a baixo - Onde está Sakura? Soube do que houve com ela no centro do vilarejo…

— Ela está bem! O Sasuke ajudou ela! - o Uzumaki comentou contente dando espaço para o outro entrar.

Jiraya se manteve em pé olhando para o moreno.

— Achei que estava na cidade. 

— Hm. - o moreno murmurou sem humor.

— Onde você estava? - Tsunade entrou na sala após ouvir a voz do marido - Procurei você feito uma louca! 

— Eu estava na casa dos materiais. Onde o Sasuke estava… - especificou - O telhado arrebentou e quebrou boa parte das coisas que tinham lá. - explicou.

— Bom… - a loira suspirou ainda não convencida - Um desses caçadores de bruxas quase matou a Sakura. - comentou rapidamente - E eu nem preciso dizer porque…

— Novamente essa confusão? - Jiraya olhou para Sasuke que observava a tudo.

— Então não é a primeira vez que a Sakura foi confundida com uma bruxa? - O moreno  se levantou do banco onde estava.

Jiraya olhou para todos da sala e encarou Tsunade esperando a loira continuar.

— A mãe da Sakura foi uma curandeira que morou a vida inteira aqui, éramos amigas e, algumas pessoas comentavam sobre ela ser uma feiticeira, porque vivia isolada de muita gente… Mas isso só eram boatos que só aumentaram porque ela era uma moça muito bonita que de um dia para o outro surgiu grávida… O homem com quem ela se envolveu foi embora e nunca mais voltou… algumas pessoas mais velhas disseram que isso era calúnia, já que ninguém nunca o viu. - suspirou e revirou os olhos.

— E você? Chegou a vê-lo?

— Não, Sasuke. Não o vi… mas também não acho que ela tenha tido um filho de satanás - ironizou - A mãe de Sakura não era bruxa… era apenas uma bela mulher curandeira. - pontuou.

Após ouvir o breve resumo sobre a história de Sakura, o moreno percebeu semelhanças, entre ela e a mãe. Sakura era muito bonita e sabia muito sobre ervas e plantas medicinais e isso era fascinante e um prato cheio para os caçadores de bruxas, já que era um das primeiras características notadas. Ele concluiu que na verdade a rosada tinha medo dele, medo de que ele pudesse a confundir com uma bruxa e posteriormente matá-la.

— Pretende ficar por mais tempo, Sasuke? Ainda estou concertando o telhado! Não sei se…

— Sim… mas não se preocupe, eu vou ajudar você a concertar o quarto. - o Uchiha respondeu indiferente.

— Por essa eu não esperava! - o loiro comentou alto e o velho lhe acertou um cascudo.

— Bom… - a loira começou - Sasuke… a Sakura quer falar com você. Seja rápido porque precisamos ir! - comentou ríspida deixando claro que não pretendia deixá-los sozinhos.

— Não vou demorar. - ele deixou um pequeno sorriso surgir em seus lábios e caminhou rumo ao quarto dela. 

[…]

O Uchiha deu leve batidas na porta, antes de ouvir a voz de Sakura autorizando sua entrada. Fechou a porta atrás de si e encontrou Sakura em pé com um vaso de flores em mãos.

— Hã… - ele ficou meio nervoso depois que adentrou no quarto dela. 

Tudo no quarto era branco, desde as cobertas da cama até o pequeno guarda roupa. Ele sentia como se estivesse invadindo um lugar sagrado. Um tanto quanto bizarro em sua opinião.

— Eu queria te devolver… - ela pegou o casaco que ele havia lhe emprestado e entregou - Obrigada.

Ele piscou algumas vezes e pegou-o. 

— Não foi nada. 

Ele viu a moça suspirar como se buscasse coragem.

— Na verdade eu queria te agradecer, Sasuke! Foi muito constrangedor o que houve ainda pouco… eu senti tanto medo quando aquele homem tentou me afogar naquele barril! - falou nervosa - Pensei que fosse morrer! - ela murmurou - E… mesmo eu te tratando não muito bem… você me ajudou…

— Eu… - ele ficou surpreso e sem graça pelo comentário - Você também me prestou socorro - comentou meio humorado e levantou parte do cabelo que cobria a testa que continha um pequeno ponto roxo. - Eu te devia uma.

— Tirando o fato de quem jogou a pedra na sua cabeça fui eu. - ela comentou e gargalhou levemente e Sasuke desviou o olhar dela para não rir.

— Eu se tivesse no seu lugar, também teria jogado a pedra. - confessou para a moça que o encarou curiosa.

Ele se aproximou de Sakura e respirou fundo antes de fitar suas mãos e encarar a rosada.

— Eu… vou ficar alguns dias no vilarejo e logo estarei  indo embora Sakura… mas antes, eu queria te pedir desculpas… - ele comentou a última parte mais baixo. - Quando eu te conheci naquele dia, fui um estúpido desde o início… te incomodei e falei coisas totalmente desnecessárias… tudo porque eu queria você… E, eu não fui o melhor galanteador do mundo. Não sei o que houve comigo… nunca me comportei como um idiota… 

Ela ficou quieta.

— Eu não espero que você me desculpe, Sakura… mas eu precisava dizer isso antes de ir… eu não quero que você pense que eu sou um canalha.

— Eu não acho que você seja um canalha, Sasuke - a rosada se pronunciou e o Uchiha ficou surpreso - Quer dizer, no início sim… mas agora você está aqui mostrando que é mais diferente do que eu pensava.

— Então… você aceita minhas desculpas? - ele pôs as mãos nos bolsos.

— Sim! - ela sorriu de canto - Então… até logo… - ela apertou o pequeno vaso entre as mãos.

— Até. - ele sorriu e deu passos para trás.

— Sasuke! - ela chamou e de costas com a mão sobre a maçaneta ele olhou-a sobre o ombro.

— Tem pouco tempo que está aqui, mas saiba que pode contar com a gente. Você não está sozinho! 

A última frase dela fez com que ele percebesse que Sakura ouviu os comentários sem lógica de Naruto e que de alguma forma ela queria transmitir fraternidade a ele. Não era isso que ele queria dela, mas já estava aprendendo a ter limites com ela. Era estranho e curioso…

— Obrigado, Sakura.

[…]

— E qual o problema dele ficar aqui? Nossa casa é minúscula! - Jiraya rebateu.

— Podemos ir… - Sasuke adentrou na sala com uma expressão de felicidade.

O moreno percebeu os olhares confusos.

— O que-

— Sasuke, o quarto onde você estava acabou de desmoronar, o pessoal acabou de avisar o Jiraya-sama! - Naruto comentou impaciente - Então, o sábio quer que você fique aqui com a Sakura-chan, por enquanto… mas a vovó Tsu não gostou da ideia…

— Claro que é uma péssima ideia, Naruto! - a loira rebateu irritada - Eles nem se conhecem direito! Isso chega a ser, ridículo!

— Claro que não! - Jiraya retrucou - Afinal Sasuke, salvou a vida da Sakura não é? - virou-se a Naruto que acenou afirmativamente.

— Isso não vem ao caso. - a loira continuou.

— Ahh, claro que vem, se alguém me salvasse da morte eu não teria problema nenhum em dormir sob o mesmo teto… me sentiria até mas seguro. - comentou irônico e divertido.

— É inútil discutirem isso, como se eu e a Sakura fossemos crianças… eu posso ficar em qualquer lugar… e acho que ela não ficaria contente em receber um estranho aqui.

— Nisso,  o Sasuke tem razão! - Naruto opinou - Precisamos perguntar a Sakura-chan! 

— Perguntar o que? - a rosada surgiu do batente da porta.

— O quarto onde o Sasuke estava, desabou… como lá em casa é muito pequeno, o Jiraya sugeriu que o Teme ficasse com você - o loiro repetiu.

— Aqui? - Sakura questionou em tom alto e aquilo ofendeu levemente o Uchiha, que havia acabado de se desculpar com ela, passando por cima de seu precioso orgulho.

— Eu disse Jiraya… - a Senju sussurrou vitoriosa.

— Mas… deve haver outro lugar! Ele tem que ficar aqui?

— Esquece, Jiraya… eu fico em outro lugar… até terminaremos o quarto.

— Esse é o o problema, Teme… ninguém aqui vai te receber em casa… vai por mim… o vilarejo inteiro é uma desconfiança sem fim… - Naruto atraiu a atenção de Sasuke 

— Acho que na pequena capela, tem um quarto… - Tsunade comentou.

— O pessoal da feira transformou aquilo em depósito de carne… - Jiraya comentou - Acho que podemos usar algumas telhas que não quebraram e fazer uma cobertura para você.

— Está maluco? Ele morreria de frio! - a loira ralhou.

— Sasuke irritou-se, odiava que as pessoas tomassem conta de sua vida, odiava que se intrometessem em sua vida, mas aquilo parecia não fazer sentido ali, já que todos eram extremamente irritantes e constantemente invadiam seu espaço pessoal, - o que ele odiava - mas ele  percebia que aquela forma deles de viver era como uma proteção familiar… 

— Chega! Jiraya… eu vou tentar voltar para cidade antes da chuva e amanhã mesmo mando alguns trabalhadores para virem te ajudar! Não preciso de favores!

E o Sasuke arrogante surgia novamente, a rosada pensava… 

— Aposto que está louco para ficar aqui não é? Sasuke? Pois bem… que seja! Você fica então! - ela falou irritada e Tsunade se preocupou.

Após algumas conversas com Tsunade, a rosada conseguiu convencê-lá de que Sasuke não iria suspeitar de si, já que o mesmo havia o protegido de um caçador de bruxas e que o melhor lugar e talvez o mais estratégico seria sua própria casa… Assim definitivamente ela não teria suspeitas. Uma jogada de mestre!

A chuva caiu pouco antes de Naruto, Jiraya e Tsunade partirem para casa, fazendo com que o silêncio entre os dois na sala ficasse ainda maior.

A sala era pequena e fazia divisória com a cozinha, Sakura estava no pequeno fogão preparando algo para comerem. E também não estava muito afim de conversar com ele. 

Perdido em seus pensamentos, Sasuke tentava pensar em como pedir desculpas a ela pela segunda vez. Aquilo era ridículo, “pedir desculpas, mais uma vez” . Contudo ele iria ficar na casa dela e não pretendia passar os dias ali discutindo.

Na hora do jantar a rosada colocou as panelas rústicas de cerâmica sobre a pequena mesa no centro da cozinha e sala; ficou alguns minutos se questionando como chamaria o moreno para o jantar. Ignorou seus pensamentos bobos e voltou o corpo para frente da mesa (antes frente a pia) e seu corpo pulou quando viu Sasuke parado encarando a mesa.

— Droga… você me assustou! - meio irritada ela falou - Já estava indo procurar por você. 

— Estava lá fora - ele ignorou o susto estranho dela e sentou em uma das cadeiras.

— Mas, ainda está chovendo… você pode acabar ficando resfriado! - a rosada sentou frente a ele, na cadeira.

— Hm…

O jantar seguiu em silêncio e tudo que se ouvia era o barulho dos talheres sobre os pratos. Até que…

— Você vive muito tempo, aqui? - a rosada escutou o Uchiha perguntar e aquilo a surpreendeu.

— Minha vida toda - ela respondeu tentando parecer indiferente.

— Mas… - Sasuke continuou, ela era um pouco misteriosa para ele, e o moreno gostava de mistérios. - Você já foi na cidade não é?

Sakura ainda mastigando o encarou desconfiada por de repente ele querer saber tanto sobre ela. Uma hora ele era educado e gentil em outra ele era arrogante e prepotente… aquilo estava a irritando.

— Quando criança sim. Mas depois que minha mãe morreu, não tinha porque ir mas lá. - respondeu terminado seu prato.

— E o que vocês faziam lá? 

— Porque quer saber? - a rosada retrucou - Acha mesmo que eu sou uma bruxa não é? - ela questionou estrategicamente e com medo.

— Não é isso - o moreno uniu as sobrancelhas confuso.

— Deveria ter me deixado nas mãos do seu amigo… ele teria poupado o seu trabalho interrogatório…

— Porque está tão irritada? Eu só fiz uma pergunta! - foi a vez de Sasuke se irritar - Por Deus… a velha Tsunade comentou um pouco de você para mim… e eu achei que se conversando com você, pouparia o clima ridículo que está nesta casa. - pontuou indignando.

A rosada o encarou finalmente e percebeu nas palavras dele, havia um acordo de paz. Para Sasuke que já estava naturalmente atraído por ela, essa hipótese que ela fosse uma bruxa, estava fora de cogitação, já que ela não apresentava características e isso o riscava contente.

Ela suspirou.

— Desculpa Sasuke. Você tem razão! Não tem motivos para a gente discutir. É que, eu fiquei incomodada, eu não falo muito na mamãe.

— Eu sei como é… - o Uchiha falou sorrindo levemente pelo seu discurso de segundos atrás, ter funcionado - Eu também não falo muito sobre a minha.

A rosada olhou para sua xícara de chá e depois para ele.

— Então. Você também… - ela desistiu de continuar.

— Ela morreu faz alguns anos. Mas ainda não é fácil falar sobre isso.

— Eu sinto muito, Sasuke… - ela percebeu a voz distante dele quando comentou a perca.

A rosada concluiu que fora por isso que Sasuke ficou tão pensativo na volta para sua casa, não era apenas pelo comentário sem noção de Naruto… ele também havia perdido a mãe, e aparentemente o pai também.

— A mamãe e eu vendíamos ervas medicinais do nosso quintal, na cidade. - ela mudou de assunto de repente, fazendo Sasuke sair de seus pensamentos.

O Uchiha percebeu que ela deu continuidade aos seus questionamentos.

— Mas quando ela morreu… eu não tive mais coragem de ir sozinha, quer dizer… o Naruto se ofereceu pra ir comigo, mas isso é diferente! Isso, que nós duas fazíamos era rotineiro e simbólico de alguma forma! - Sakura sorriu nostálgica e Sasuke não perdeu isso - Não era apenas vender… era algo que nós duas fizemos desde sempre… e acho que sem ela aqui… não seria a mesma coisa.

Ele percebeu a saudade nas palavras dela. A mesma saudade que ele sentia ao se lembrar da família. Ele havia encontrado alguém como ele, ou melhor quer entendia boa parte de si. Pensamentos vieram a sua mente e ele não queria aceitar, mas não pensava em ir embora daquele vilarejo por tão cedo. Estava apreciando a presença dela.

Continua…