Dois Verões escrita por Mia Lehoi


Capítulo 3
Receita para o desastre


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Mônica tinha motivos de sobra para estar animada naquela noite. Além do cenário paradisíaco e de todo o clima geral da viagem, era a primeira vez em muito tempo que poderia sair para se divertir estando solteira.

Depois do fim de seu namoro com Do Contra em junho, ela passara todo o seu período de fossa com a cara enfiada nos livros, se preparando para o vestibular. Agora, depois de todos aqueles meses entre textos de biologia e músicas de coração partido, estava louca por uma festa.

O dia não fora lá essas coisas. A turma acabou dormindo até depois do almoço para compensar a perda de sono da noite anterior. Marina e Franja chegaram à casa por volta das quatro da tarde e todos ficaram por ali mesmo, até Denise inventar de arrastar as meninas para o quarto para que todas se arrumassem juntas.

— Ah não, mona! – reclamou a ruiva, lançando um olhar desaprovador para o combo de bermuda e camisa que ela havia vestido. – Você não ir com essa roupinha de liquidificador!

— Qual o problema da minha blusa? – rebateu, aborrecida.

— Qual não é o problema da sua blusa? – a outra respondeu, arqueando as sobrancelhas – Hoje é sua primeira night out solteira, tem que causar uma impressão!

A baixinha bufou, olhando ao redor para ver se encontrava algum apoio nas outras amigas, mas as três sorriam amarelo, obviamente concordando com a outra.

— Tá, tá, tá. Mas nada dessas suas roupas espalhafatosas!

No final da produção, todas estavam maravilhosas. Magali vestia um shortinho florido com fundo cor-de-rosa e uma blusa branca de alças e, diferente das outras meninas, calçava um par de sandálias baixas. Marina optara por um vestido preto rodado, Cascuda escolhera uma blusa cor creme de amarrar no pescoço e um short preto de seda. Denise usava uma de suas costumeiras saias rodadas e uma blusa cropped, junto com sandálias pretas de salto grosso.

E Mônica decidiu que tinha sido uma boa ideia deixar as amigas cuidarem de sua produção. Ela sempre preferia usar roupas mais básicas porque sentia medo de parecer ridícula no meio delas, mas daquela vez olhou no espelho e se sentiu linda.

Marina a emprestara uma blusinha curtinha azul de alças que ela só aceitara usar quando Magali sugeriu que ela vestisse uma saia preta de cintura alta que compraram juntas algum tempo antes e ela colocara na mala só por desencargo de consciência. Denise pontuara a produção com uma sandália preta tipo Anabela e ela mesma complementara com uma bolsinha vermelha em formato de coração e alguns acessórios que trouxera de casa.

— Parece que alguém tá pronta pra causar... – a ruiva riu, animada. – Juntem aí pra selfie, amadas! – chamou, apontando o celular. As cinco se reuniram, fizeram poses, biquinhos e piscadelas, até terem um número suficiente de fotos.

Mônica suspirou levemente, tomando coragem. Magali entrelaçou o próprio braço ao dela, abrindo um sorriso de incentivo, e as duas seguiram para a sala, onde os garotos já esperavam. E as caras que Do Contra e Cebola fizeram ao vê-la deixaram a jovem envergonhada e lisonjeada ao mesmo tempo.

Bia chegou quase ao mesmo tempo em que as garotas, vestida numa saia longa e numa blusinha de crochê que deixava a barriga à mostra. O trajeto até o luau fora bem rápido, mas quando chegaram lá já encontraram o local fervendo de gente. Precisaram de alguns minutos para arranjarem duas mesas e se organizarem.

Franja, Marina e Nimbus saíram para buscar algumas bebidas, enquanto os outros continuaram na mesa, batendo papo. Mônica, no entanto, não conseguia se divertir. Estava bem ciente dos olhares de seus dois ex e tinha que admitir que toda hora tinha vontade de olhar para eles também. Cebola era o amor não resolvido de sua vida. No tempo em que estava comprometida, os dois acabaram voltando ao estágio de apenas amizade, mas ela sabia que estando solteira, era só questão de tempo até eles começarem a se topar de novo. E Do Contra... Ele fora dois sólidos e apaixonados anos de relacionamento. Ela sabia que no começo não estava muito certa do que sentia pelo garoto, mas com o tempo fora se apaixonando mais e mais. Ficara devastada com o final do relacionamento. Agora, o conhecia como a palma de sua mão, mesmo ele tendo aquele jeito doido que ninguém (além dela) entendia. Era estranho demais conviver com ele e não deixar esses sentimentos virem à tona.

— Er... Meninas... – começou, meio sem graça. – Vocês querem ir dançar?

— Opa, agora falou a minha língua! – respondeu Denise, imediatamente se esquecendo da conversa que mantinha com os outros.

— Magá? – Mônica perguntou, mas logo recebeu um “nah, tira-gosto primeiro!” vindo da outra. Então ela se levantou, já se arrependendo daquela ideia. A fofoqueira estava empolgada demais, e ela sabia que aquilo era sinônimo de confusão.

— Bee, pode deixar que vou te arrumar um bofe escândalo em dois tempos. – ela riu, vendo que a baixinha continuava lançando olhares para a mesa.

— Quê? Não Dê, eu não quero me envolver e...

— Meu amor, você precisa conhecer uma coisinha chamada “Lei do Desapego”. – fez aspas no ar, antes de arrastar a outra para o meio da pista de dança. – É só pra se divertir!

Tocava uma seleção de músicas sertanejas bem dançantes e a ruiva sabia todas de cor e salteado. As duas dançaram por alguns minutos e dividiram uma latinha de cerveja, só para dar uma animada. Mônica se sentiu mais relaxada depois desse tempo e começou a se soltar, inventando coreografias junto com a amiga e arriscando passos mais difíceis.

— Não olha, mas tem um gato secando você ali atrás. – Denise sinalizou, abrindo um sorriso sugestivo.

— Mentira! – ela exclamou, surpresa. – O que eu faço?

— Se solta. – respondeu com uma piscadela.

A morena se surpreendeu quando a outra a puxou pela cintura, conduzindo o par e a fazendo rodopiar e descer até o chão. Realmente não precisou de muito tempo até o garoto, um loiro de olhos verdes, vir tirá-la para dançar. Ela foi junto com ele, só para se divertir mesmo e sorriu para Denise, que mandou um beijinho para ela e continuou dançando.

Denise dançou uma ou duas músicas sozinha antes de Magali aparecer, trazendo duas batidas de melancia e perguntando quem era aquele garoto loiro.

— Deu pra ver de lá da mesa?

— Uhum. Os meninos tão lá espumando. – respondeu, fazendo a outra jogar a cabeça para trás para soltar uma risada exagerada. – Você gosta é de ver a bagunça, né Dê?

— Bagunça, babado e confusão. – corrigiu – Mas dessa vez juro que só tava fazendo a coleguete do bem. Ela precisa se divertir um pouco!

Magali riu alto, mas concordou. Era bem verdade que a dentucinha andava focada demais em outras coisas para se divertir, especialmente desde que se decidira pela carreira de paramédica. Ela precisou de várias sessões com a orientadora escolar, muita pesquisa e noites acordada para se decidir, mas quando escolheu, não teve mais volta. Então ela e a comilona prometeram uma a outra que fariam de tudo para irem para a mesma faculdade de saúde.

Aos poucos o DJ foi trocando a seleção sertaneja por um de músicas eletrônicas e as luzes da pista foram abaixando. As duas amigas não se importaram e continuaram a dançar, bebericando seus coquetéis e de vez em quando dando umas olhadinhas para Mônica, que mantinha uma conversa animada com o garoto.

— Ei meninas! – gritou Cascuda, se juntando à dupla e trazendo Marina a tiracolo.

— Finalmente vocês resolveram sair da mesa! – comemorou Magali.

— Também né miga, o babado tá acontecendo é aqui. – a morena sorriu, apontando discretamente o casal que dançava agarrado a alguns metros delas. – A Mô arrasou, hein? Aquele cara é um gato!

— Eita Mari, vou contar pro Franja que você disse isso! – alfinetou Denise, sorrindo sugestivamente.

— O Fran é muito mais gato, obviamente. – girou os olhos – Mas se eu for depender dele pra me divertir numa festa...

— Vocês acreditam que os meninos acharam um fliperama no meio da festa? – emendou Cascuda, fazendo bico.

— Nossa, mas são uns nerds mesmo... – disse Denise, com uma clara expressão de desaprovação. – Então meninas... O que vocês acham de a gente arrumar um gato bem gostoso pra nossa Magalinda aqui? – completou, subitamente parecendo dez vezes mais animada.

— Falei que eu sou imbatível nisso aqui! – Xaveco riu, convencido. O fliperama ficava bem perto do bar do luau, na parte menos movimentada, um pouco longe da pista. Era uma velharia, herança da época que aquele tipo de jogo era a moda do momento, que sobrevivera a algumas décadas de uso desenfreado. O loiro era recordista desde o verão passado.

— Nunca achei que tivesse alguma coisa na qual ninguém realmente pudesse vencer o Xaveco! – Cebola bufou, aborrecido. Ele, Cascão e Franja já tinham passado pela máquina algumas vezes, mas ninguém conseguira nem se aproximar da pontuação do amigo.

— É impressionante... – Franja franziu as sobrancelhas – Mas eu tenho certeza de que posso bater esse recorde. Só preciso ir lá na mesa pegar o meu drink que está com a Marina e... – se interrompeu ao ver que a mesa estava praticamente vazia. – Cadê a Marina?!

 - Ué, provavelmente tá lá junto com a... – começou Cascão – Cascuda. – completou ao ter a mesma visão.

— Cara, eu sou muito burro! – gritou Cebola, dando um tapa na própria testa – A Mônica lá no meio da pista e eu aqui jogando fliperama com um bando de marmanjo!

— Agora que você disse... – continuou Xaveco, parecendo confuso. De repente seu recorde não parecia mais tão legal assim. – Também me senti meio idiota.

— Senhores, não sei vocês, mas eu vou resgatar a minha namorada! – declarou Franja, antes de sair pisando duro. Os outros quatro se entreolharam, por um lado surpresos pela atitude inesperada do cientista, por outro tentando decidir o que fariam a seguir. No final, rumaram bravamente até a pista de dança.

As meninas ainda tentavam, sem muito sucesso, convencer Magali a dar uma chance para alguém quando Franja chegou de repente e puxou Marina para um beijo de tirar o fôlego, que fez o grupo explodir em gritinhos e assobios animados.

— Uau, o que foi isso! – gritou Cascuda, enquanto o casal se afastava ainda aos beijos.

— Nossa, essa festa tá surpreendente mesmo! – comentou Magali, estupefata.

— Se preparem, meus amores... Porque a noite tá só começando. – completou Denise, ao ver Cebola se aproximando ao mesmo tempo em que Mônica, sem ter consciência da presença do ex-namorado, foi beijada pelo tal loiro da pista de dança.

Ele se chamava Thiago e aparentemente fazia engenharia de qualquer coisa numa faculdade do Rio de Janeiro. Ela não tinha entendido muito bem o que ele dissera por causa da música alta, mas não se importou. Que diferença fazia? Ele era bonito, engraçado, dançava bem e estava afim dela. Essas informações bastavam.

Mônica não pensou muito antes de decidir ficar com ele. Pelo clima que se formara desde que começaram a dançar, ela sabia que hora ou outra ele ia tentar e, bem, o que tinha a perder? Estava solteira, só tinha beijado dois garotos em seus quase 18 anos de vida e queria passar longe de qualquer drama romântico.

Cebola, por outro lado, sentiu um nó enorme em seu estômago ao vê-la com aquele menino. Ele só faltara dar uma festa para comemorar o fim do namoro dela com Do Contra, mas depois disso ficou sem saber o que fazer. Ela estava distante, ocupada demais com os estudos, praticamente montando acampamento na biblioteca da escola com Magali e Marina, se esquivando de quase toda situação que poderia lhe dar uma chance de chegar junto. A viagem caíra como uma luva, ele estava certo de que, apesar da presença de seu rival, dessa vez conseguiria conquista-la de vez.

Só que aí, mais uma vez, ele demorou demais para tomar uma atitude.

O garoto piscou algumas vezes, tentando decidir rapidamente o que fazer, porque não podia ficar parado no meio da pista de dança. De onde estava ele podia ver a maioria dos amigos desviando os olhares entre ele e Mônica. Quando ele olhou de volta, todo mundo disfarçou e fingiu estar entretido com outras coisas, mas ele sabia que eles tinham visto e entendido tudo. Então ele reuniu o último restinho de ego e coragem que lhe restava, estufou o peito e seguiu até a rodinha que Denise, Magali, Cascuda e um recém-chegado Cascão haviam formado.

— Denise, o que eu devo beber pra ficar muito louco? – perguntou segurando o pulso da garota, que o olhou um pouco surpresa.

— Tá me achando com cara de cachaceira, querido? – ela rebateu, fazendo cara feia. O rapaz só arqueou as sobrancelhas em resposta, sem dizer nada. – Você tá ligado que eu não vou cuidar de nenhum bêbado, né Baby? – esperou que ele fizesse que sim com a cabeça. – Ok então, vamos lá. – e riu, antes de sair guiando-o até o bar.

— Tô achando que isso vai sobrar pra a gente. – murmurou Cascão, sem conseguir conter a preocupação.

— Você acha? – ironizou Magali.

Na verdade, ela pensou, isso é uma receita para o desastre.


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Notas finais do capítulo

Heeeey! Mais um capítulo!
Bom, esse foi só babado e confusão mesmo, hahaha! Adorei escrever.
Pessoal, eu queria saber uma coisinha de vocês: preferem narração em primeira ou terceira pessoa? Eu estava pensando em colocar POVs dos personagens em alguns pontos estratégicos, mas quero saber o que vocês acham disso. (podem ser sinceros, a tia aqui aguenta! xD)
Por hora é só, até o próximo! ♥