Dois Verões escrita por Mia Lehoi


Capítulo 21
Intensos


Notas iniciais do capítulo

Ces vão me matar qualquer dia desses.
Capítulo dedicado à Donatella que fez uma recomendação MARAVILHOSA pra a fic ♥
Atenção: tem uma passagem de tempo no meio desse capítulo.
E eu não tive tempo de revisar, então desculpa qualquer coisa.



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Naquela noite, mesmo sabendo que acordariam cedo no dia seguinte, a turma ficou acordada até tarde. Xaveco e Do Contra abriram uma última caixa de cerveja que sobrara ainda do churrasco e Franja os acompanhou. Bia ficou por ali mesmo, tomou um banho rápido e vestiu uma roupa que ela deixara na casa quando dormira lá alguma vez em um outro verão.

A chuva continuou caindo até umas três da madrugada, o que fez o sinal de internet ficar fora do ar a noite inteira. Sem nada para fazer, Mônica decidiu olhar um quartinho de tranqueiras que havia no fundo da cozinha à procura de alguma diversão. Cebola se ofereceu para ajudar e depois de alguns beijos apaixonados e escondidos os dois voltaram à sala com um tabuleiro de War.

Para animar ainda mais a partida, Denise sugeriu que toda vez que alguém perdesse uma jogada, um desafio fosse feito. As outras latas de cerveja logo foram consumidas e dessa vez as provocações se limitaram a coisinhas bobas e engraçadas, porque ninguém queria estragar o clima bacana.

Entre muitas risadas e as músicas que colocaram para tocar na televisão, aquela se tornou a noite que mais tarde usariam para relembrar o espírito da viagem.

Acordaram no outro dia mais tarde do que o planejado e apressadamente trataram de enfiar todas as malas no bagageiro. Se não fosse a obrigação de devolver a van, todos obedeceriam aquela vontade de ficar na praia por mais um dia que de repente surgira.

Bia ficou ali na varanda esperando e tentando inutilmente não parecer muito triste. Se despediu de todos com abraços saudosos, dedicando muito mais tempo à Nimbus do que aos outros. Xaveco, que propositalmente ficou por último, já foi falar com ela exibindo um sorriso maroto no rosto.

— Eu achei que vocês fossem fazer uma despedida bem dramática, tipo cena de Malhação. – ele riu debochadamente, fazendo a menina dar um tapinha irritado em seu ombro.

— O rei do drama aqui é você, não ele. – girou os olhos. – Vou sentir saudade, seu trouxa.

— Eu também. Vou ver se volto aqui antes do fim das férias. – sorriu. A garota o abraçou de novo e ele seguiu para o carro, onde os outros já o esperavam. Nimbus riu e jogou beijos para ela de dentro do carro mesmo, que ela correspondeu alegremente.

Ao olhar em volta, o loiro notou Denise o encarando com uma expressão triste, na qual ele podia jurar que havia um resquício de ciúme, mas não disse nada.

Franja deu a partida e Marina colocou uma playlist de canções tranquilas que tinha no celular para tocar no rádio, porque ainda estava cedo demais para as animadas. Mônica, que estava na segunda fileira, entre Magali e Denise, encarou Do Contra por um minuto. Ele dormia na fileira da frente com o rosto quase encostado na janela, usando um par de fones de ouvido gigantescos que tocavam uma música de metal tão alta que ela podia ouvir dali. Sempre se perguntara como ele conseguia adormecer com tanto barulho. Finalmente estava deixando de ser estranho olhar para ele. Finalmente estava em paz com o término deles, mas admitia que ele nunca deixaria de ser alguém que lhe deu vários dos momentos mais especiais de sua vida.

Ao lado dela, Denise encarava a paisagem que passava lá fora, do mesmo jeito que fizera no caminho de ida. A manhã estava um pouco chuvosa, embora já fizesse aquele calor característico do verão. Muita coisa mudara nessa semana. Até agora não sabia se aquela viagem fora a pior ou a melhor semana de sua vida.

Cascão, na última fileira, se amaldiçoava por ter deixado Cebola ficar com o banco da janela. Queria descansar, mas a falta de apoio para a cabeça não o deixava dormir de jeito nenhum. E a falta de distrações era um prato cheio para as neuras, que surgiram fazendo-o se lembrar de todas as preocupações que o esperavam quando chegasse em casa. Se pudesse, ficaria muito mais tempo na praia com os amigos e Magali.

Enquanto as músicas continuavam rolando, o carro seguiu. Não havia ais a excitação da ida, então todos permaneceram quietos e cansados, sem muito para conversar.

Aquela seria uma longa viagem.

Já faziam alguns dias que estavam de volta ao Limoeiro. Poucas coisas aconteceram, uma vez que os jovens estiveram separados. Mônica e Cebola continuaram se vendo ocasionalmente, aproveitando cada deixa que tinham para curtir um bom tempo à sós. Era um verdadeiro começo de namoro, com as borboletas no estômago causadas por cada sorriso do outro.

As conversas no grupo do whatsapp continuaram, mas nesses dias os amigos se viram pouquíssimas vezes.

Denise, certa de que tudo o que sentira por Xaveco fora só uma maluquice de verão, aproveitou que Aninha estava de volta à cidade e marcou uma noite das garotas numa balada movimentada da cidade. Ela, Mônica, Magali, Marina e Ana se arrumaram impecavelmente e se encontraram na frente da boate. Gabriela anda conversava com elas por mensagem, mas preferira ficar em casa.

— E aí gatas! – a ruiva gritou, quando todas se reuniram. Compraram seus ingressos e seguiram para dentro, já curtindo a seleção de músicas que o DJ tocava.

A noite quase toda passou feito um borrão enquanto dançavam e conversavam. Ana contou sobre algumas coisas que conhecera na Europa e perguntara às amigas sobre suas férias. Todas zoaram Magali por nunca dar chance pra ninguém, Marina e Mônica também dispensaram todos os garotos que tentaram chegar nelas sem nem lhes dar uma chance de dançar junto.

Mais tarde elas arrumaram um lugar para sentar enquanto Denise continuou na pista, dançando. Ela estava fazendo de tudo para se divertir, mas não conseguia. Toda vez que um menino aparecia, jogando aqueles papos característicos de um flerte, ela se desanimava ainda mais. Era frustrante. Aquela sempre fora sua festa favorita no Limoeiro, onde ela dançava até de manhã, arrumava um paquera aqui e ali e ia para casa plenamente satisfeita.

Por mais que tentasse se convencer, não era ali que queria estar naquele momento. Mas ainda estava cedo demais para desistir.

— Acho que nunca mais quero namorar na vida. – Aninha fez uma careta. Haviam arrumado uma mesinha na área externa da festa para aproveitar o clima fresco e conversavam há alguns minutos.

— Ah, mas não é possível que todo namorado seja mala igual ao Titi! – provocou Marina.

— Eu sei, mas é que... Ai gente, me acostumei a ser solteira! – a morena sorriu animada – É tão bom ter esse tempo todo pra mim...

— Mas e quando você fica carente? – perguntou Mônica, mais pela curiosidade do que por qualquer coisa. Até hoje ela se espantava com o quão diferente Ana se tornara depois de seu término.

— Não falta gente pra me ajudar com isso, né. – riu baixinho, corando.

— Safada! – Magali gargalhou – Você tem uma certa razão. É bom mesmo poder fazer o que você quer sem se preocupar com ninguém... Mas...

— Mas? – incentivo Marina.

— Confesso que to sentindo falta, sabem? – mordeu o lábio inferior, hesitante – Eu sou uma bobona romântica, mas fazer o que?

— Acho que o segredo é achar o equilíbrio. – continuou Mônica – Vocês sabem como meus namoros eram loucos. – girou os olhos – O meu namoro com o Cê mesmo, a gente mais sofria do que ficava junto. Agora tá tudo diferente...

— Quê? – Ana e Marina perguntaram ao mesmo tempo, as duas com expressões desconfiadas. A dentucinha notou a bola fora que havia dado e tentou disfarçar, mas o rosto corado não ajudou.

— Diferente tipo... A gente tá separado, né. – sorriu amarelo.

— Sei. – respondeu Magali. De longe avistou Denise se aproximando, visivelmente chateada. As amigas se entreolharam, preocupadas.

— Essa festa já deu o que tinha que dar. – ela anunciou ao chegar, suspirando pesadamente. – Prontas pra ir pra casa?

— A gente tava só te esperando. – respondeu Marina.

Se arrumaram rapidamente e saíram da boate para pedir um taxi. Já eram umas três da manhã quando chegaram na casa de Magali, onde combinaram de dormir, já que os pais dela estavam passando o fim de semana na chácara da tia Nena. Largaram os sapatos e as bolsas na sala mesmo e depois de uma fila de espera para tomar banho, se enfiaram em seus pijamas e seguiram para a cozinha afim de arrumar um lanche.

— Então, é impressão minha ou a senhorita tava um pouco chateada? – Ana perguntou, se dirigindo especialmente à Denise.

— Ih... Você não sabe da missa a metade, amiga. – Mônica deu um sorrisinho, trazendo dois potes de pipoca nas mãos. Elas já estavam se ajeitando nos colchões que espalharam pelo quarto, junto a montanhas de cobertores e travesseiros.

— Uau, pelo visto perdi muitos babados dessa viagem. – a outra comentou, surpresa.

— Não perdeu nada! – a ruiva murmurou, fazendo cara feia. Todas as outras a encararam com olhares aborrecidos e ela se rendeu. – Tá, tá. Aconteceram algumas... Coisas. – suspirou pesadamente.

As garotas esperaram enquanto ela contou, nos mínimos detalhes, todos os momentos que aconteceram entre ela e Xavier na praia. Enquanto falava, os sentimentos transpareceram e ela se viu com os olhos enchendo d’água, lembrando de tudo o que gostava nele e de como aquele menino lhe causara sensações tão intensas. Era tão óbvio, especialmente quando dito em voz alta, o quão idiota ela fora e continuava sendo.

Quando o relato terminou, todas ficaram em silêncio, sem saber o que dizer. Mesmo que estivessem junto a ela o tempo todo e soubessem que os dois tinham tido alguma coisa, nenhuma delas suspeitara que fora tão importante.

— Uau... Quem diria que depois de todos esses anos a gente ia descobrir que o Xaveco tem pegada. – Mônica brincou, para tentar descontrair um pouco. Notou que funcionou ao ver as outras, inclusive Denise, rirem um pouco.

— Ridícula! – a ruiva sorriu, ainda que continuasse chorando. – Ele tem, ok? – corou – Eu to tão perdida! Não acredito que logo o Xaveco fez isso comigo.

— Eu sempre acreditei no potencial dele. – Magali continuou a brincadeira – O que foi? O Quim também não tem cara de quem em pegada, mas... – mordeu o lábio inferior, começando a rir.

— Nossa! Tô duplamente chocada! – Ana riu – Vou jogar uma bomba no colo de vocês, então. O Titi é só pose.

— Mentira! – gritou Denise, pasma.

— Verdade! – a morena rebateu – Dou no máximo uma nota seis pra ele. – completou, fingindo analisar as unhas.

— Não vou nem comentar o Franja, porque aquele ali de santo só tem a cara. – Marina deu de ombros, fazendo as outras rirem ainda mais.

— Ai gente... Preciso contar uma coisa. – começou Mônica, atraindo todos os olhares para si.

— Lá vem mais uma bomba. Não vai dizer que o DC é mão mole também, por favor. – reclamou Denise, já depois de ter parado de chorar, mas ainda com o nariz avermelhado.

— Nada a ver! – a outra corou – Então... Eu e o Cê... A gente meio que... – deu uma pausa – Tá junto. Desde aquele dia do parque. Pronto, falei.

— Eu achei que você ia contar uma novidade... – provocou Marina.

— Como assim? – ela gritou, envergonhada. – Vocês notaram?!

— Gata, você é péssima pra disfarçar. – Aninha riu. – Até eu que cheguei anteontem já reparei.

— Essa camisa que você tava hoje é dele. – acusou Denise, apontando a camisa xadrez vermelha que a outra usou sobre a blusinha curta que vestira para a festa.

— Além disso, eu vi vocês juntos no parque, amiga... – Magali sorriu sem graça. – Eu e o DC, na verdade.

— Ah... – a dentucinha murmurou, envergonhada. – O DC... Ele...

— Uma hora ele ia ter que saber, né. – a comilona respondeu – Acho que ele vai ficar bem.

— Vocês dois ficaram bem amigos... – observou Marina, sem expressar nenhuma conotação com aquela frase. Era uma amizade um pouco inusitada.

— A gente tava meio que sobrando no meio de todos os dramas que estavam acontecendo... – respondeu, rindo baixo.

— Essa semana foi bem intensa. – pontuou Denise, encarando o chão.

— Sabe amiga, eu tenho certeza de que o Xaveco gosta de você. – comentou Aninha – Mas é pra ele que você precisa dizer todas essas coisas que disse pra a gente...

— Eu travo! Sei que é idiota, mas... – escondeu o rosto com as mãos – Eu não sei. Fico com medo!

— Medo de que, sua tonta! – rebateu Marina – Olha, se tem uma coisa que eu aprendi depois de todos os foras que dei no Franja, é que não dá pra fugir do amor que a gente sente por alguém.

— Mas abre o olho, porque ele não vai esperar pra sempre. – continuou Mônica – Não perde a oportunidade de viver isso por causa de besteira.

Denise suspirou pesadamente. Sabia que elas estavam certas. Era injusto com ele e com ela mesma deixar as coisas como estavam. Não sabia exatamente como consertaria as besteiras que fizera, mas teria de achar essa resposta.

Continuaram a conversa, comentando os outros casos que aconteceram até o momento e uma hora chegaram no término de Cascão. Magali sentiu um frio na barriga, o mesmo que a perseguia sempre que aquele assunto aparecia e tentou disfarçar. Ainda assim, as outras notaram.

— Magá, fala com sinceridade... – pediu Mônica. – Agora que você e o Cas estão solteiros... – parou, sem saber como continuar a pergunta.

— Eu... Eu... – Magali murmurou, envergonhada. Se fizera essa pergunta incontáveis vezes nos últimos dias e nunca soubera o que pensar. – Não sei! Nem pensei nisso.

— Mentirosa... – Marina deu uma piscadela – Vai dizer que não pensou nenhuma vez na possibilidade?

— Ai gente, não me encham com perguntas difíceis. – fez uma careta, chateada.

Elas concordaram, mas todas sabiam que o assunto viria à toda novamente em algum momento.

Depois de mais alguns minutos de conversa, finalmente se aprontaram para dormir. O dia já clareava lá fora e a comilona se remexeu na cama, sem conseguir pegar no sono por mais que estivesse cansada. Pegou o celular no criado mudo e abriu a conversa de Cascão. Há muitos anos eles tinham o hábito de compartilhar um com o outro coisinhas engraçadas que viam na internet ou coisas relacionadas aos gostos um do outro. Naquela manhã ele lhe mandara um vídeo com vários filhotes de gatinho fazendo trapalhadas e ela rira até perder o ar. A verdade é que já pensara muitas vezes naquela possibilidade. Não queria esperar nada, mas era impossível não pensar.

Colocou o telefone de volta na mesinha e encarou o teto, antes de se virar de novo. Deu de cara com o urso cor de rosa que DC lhe dera naquele dia. Ele era uma incógnita em sua cabeça, uma amizade que surgira do nada. Aos poucos se pegara arranjando assuntos com ele e tentando cada vez mais entender o jeito maluco do garoto. Não podia dizer que sentia algo por ele, ou que já pensara em levar isso além, mas não podia negar que depois daqueles dias o via de um jeito ligeiramente diferente.

Denise tinha razão, aqueles dias na praia haviam sido muito intensos.


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Notas finais do capítulo

Perdão pela demora!! Eu queria muito ter conseguido postar no fim de semana, mas tentei tentei e não consegui escrever de jeito nenhum. Em compensação, apresento a vocês o capítulo mais longo da história até agora! Hehehe
Gente, esse capítulo foi uma delícia de escrever. Adoro noites do pijama. Sempre sobram revelações! (ainda pude aproveitar o ensejo pra falar mal do Titi, o que confesso que estava morrendo de vontade de fazer. Aninha rainha, Titi nadinha)
E agora... Eu PRECISO mandar milhões de agradecimentos pra vocês. Especialmente para a Arabella que deixou comentários em vários capítulos! ♥ Meu, quanto review maravilhoso! To bem sem tempo de entrar aqui no site, então quando abri e li tudo... Surtei bonito!! E TEVE OUTRA RECOMENDAÇÃÃÃÃO!!!! ♥
Não to conseguindo conter minha animação. (vocês tão me transformando na louca das exclamações) Hoje pela primeira vez desde que comecei a história eu parei pra ver quantos comentários a fic tinha no total e somando os do Spirit e do Nyah deu 122!!!!
122 COMENTÁRIOS NUMA FIC MINHA!!! CHAMA O XAMU QUE EU TO DESMAIADA!!! (alguém lembra desse meme?) Nunca imaginei que esse projetinho que comecei a escrever a toa só pra passar o tempo ia chegar tão longe.
Vocês são sensacionais, cara. Não tenho palavras pra agradecer.
Muitos beijos e até o próximo. ♥