Dois Verões escrita por Mia Lehoi


Capítulo 19
Meia verdade


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, pessoal! essa semana foi bem agitada na minha vida.
Bom, só pra situar vocês na linha temporal da fanfic, um pequeno aviso: as cenas do capítulo anterior e desse se passam de madrugada/de manhã. Então eles ainda tem mais esse dia inteiro na praia antes de voltar pra casa.



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Mônica se espreguiçou na cama de casal, notando que tanto Magali quanto Denise ainda estavam acordadas, ambas entretidas com seus celulares. Marina era a única que ainda não estava de pijama, deitada no colchão, elétrica demais para dormir. Por ela ficariam acordadas madrugada adentro.

— Quanta animação, hein? – Magali comentou para ela, parecendo sonolenta.

— Quero aproveitar meu último dia aqui! – a morena riu.

— Nem acredito que a gente já vai embora. – Mônica respondeu tristemente. Estava tudo tão bom, sem preocupações, sem tédio. Especialmente depois daquela noite. Ela sorriu, mas logo suspirou pesadamente, preocupada com o que aconteceria quando ela e Cebola finalmente conversassem sobre o beijo.

— Gente... – Maria Cascuda murmurou, chamando a atenção das outras para si. Ela já estava acordada há tempos, sem ânimo para se levantar. – Aconteceu uma coisa...

As outras a olharam, confusas. Mônica já suspeitava do que se tratava, mas as amigas estavam completamente no escuro. Ainda assim, prevendo que o assunto era sério, todas a encararam com atenção, esperando.

— Eu e o Cas... A gente terminou. – contou, mordendo o lábio inferior, insegura. – Eu prefiro não falar sobre isso, mas... Uma hora vocês iam ter que saber, né. – encarou o chão tristemente.

Um minuto de silêncio se seguiu, nenhuma delas sabendo ao certo o que dizer. Magali ainda se lembrava de quando contou para as meninas sobre seu término. Elas a levaram para a melhor sorveteria do Limoeiro e escutaram pacientemente enquanto ela chorava e se entupia de guloseimas.

— Sabe... Tem dois potes de sorvete que a gente comprou pra amanhã... – a comilona sorriu sugestivamente.

— Os meninos vão ficar tão chateados se a gente comer o sorvete todo... – Mônica também sorriu. As quatro se olharam por alguns instantes, pensativas. De repente um sorrisinho apareceu no rosto de Gabriela, embora ela continuasse com os olhos marejados.

Nas pontas dos pés elas seguiram até a cozinha, aproveitando que não havia ninguém na sala para ir sorrateiramente até o quarto com os potes, colheres e uma lata de leite condensado.

— Tem certeza que não quer falar sobre isso? – Marina perguntou, já servida com uma quantidade generosa de sorvete de chocolate.

— Tenho... – ela suspirou pesadamente, os olhos se enchendo de lágrimas. – Ainda é tudo tão estranho...

Magali suspirou pesadamente, chateada por não saber como consolar a amiga. Todas queriam ajuda-la, mas ninguém sabia como lidar com a situação, ainda mais sabendo que teriam mais um dia inteiro naquela casa com os garotos. Para algumas, aquelas férias renderam uma chuva de confusões sentimentais.

— Sabem... Eu tenho uma coleção de filmes do Orlando Bloom no meu computador. – Denise sugeriu, abrindo um sorrisinho pouco contente. – Amanhã a gente se preocupa com a nossa vida.

Cebola puxou Mônica pela cintura assim que ela saiu do quarto. Ela deu um pequeno salto, assustada com a intromissão repentina, mas não se soltou, o olhando com uma expressão desconfiada.

— O que... O que você está fazendo aqui? – perguntou, aborrecida.

— Te esperando, ué. – ele riu baixinho. Era só meia verdade. Se levantara para r à cozinha beber água, mas ao ouvir o burburinho dentro do quarto feminino decidiu ficar ali e tentar descobrir sobre o que elas conversavam. Não teve muito sucesso, mas conseguiu escutar quando Mônica avisou que iria sair.

— Você tava ouvindo a nossa conversa, né? – reclamou, fingindo tentar se soltar dele.

— Claro que não. – ele fez cara feia – Não é educado ouvir a conversa das pessoas. – completou, completamente sério, fazendo-a ter que segurar a risada.

Ficaram ali por alguns segundos, apenas se olhando, mas logo estavam aos beijos no meio do corredor. Haviam muitas saudades implícitas naqueles toques e pra os dois era muito difícil resistir à proximidade.

— Cebola! – ela reclamou, estapeando-o levemente assim que se soltaram. – Aqui não! E se alguém ver?

— Você tem algum problema com eles saberem? – ele arqueou as sobrancelhas, confuso.

— Não exatamente... – Mônica mordeu o lábio inferior, pensativa – É só que... Eles se intrometem demais. – fez bico.

O garoto pensou por um instante e logo abriu um sorriso. Era verdade, os amigos, por mais que fossem bem intencionados, se intrometiam demais e quase sempre acabavam atrapalhando. Ele sabia que uma hora todos iam saber, mas por enquanto estava tão bom manter aquilo só entre os dois...

— Que coisa feia, Mônica Sousa... Mentindo pros amigos desse jeito. – ele sorriu marotamente, escorregando os lábios pelo pescoço dela, lhe causando arrepios.

— Não é mentir... É só omitir. – ela respondeu, um pouco sem fôlego. – Vai dizer que você acha a ideia ruim?

— Se for com você nada é ruim. – Cebola respondeu, mesmo sabendo que soaria como um bobo apaixonado. Era isso que ele era, afinal.

— Deixa de ser bobo, Cê! – ela sorriu, puxando-o para mais um beijo.

Ele estava tão diferente do que ela se lembrava... Os beijos mais profundos, os toques mais firmes e decididos. Mas por dentro continuava o mesmo, embora um pouco mais maduro. Continuava gostando dele tanto quanto antes e queria fazer tudo dar certo. Ela sempre fora o tipo de pessoa que fazia tudo da maneira correta, com direito à romance, buquês de flores e jantares com os pais. Ainda queria tudo isso obviamente, nunca deixaria de querer. No entanto, ainda tinham mais um dia naquele verão de sonho e não custava nada fazer algo inesperado pela primeira vez na vida.

— Eu só quero curtir isso que a gente ta vivendo, sabe? – ela disse por fim, embora sentisse um pouco de medo que ele não entendesse o que queria dizer.

— A gente vai ter todo o tempo do mundo pra ser um casal direitinho. – ele respondeu, olhando-a com uma sinceridade que lhe causou borboletas no estômago.

De certa forma, era uma maneira de começar de novo sem ninguém pra se intrometer. Só os dois se esforçando pra fazer tudo dar certo. Depois poderiam pensar com calma em todas as implicações da relação. Por enquanto, a melhor coisa era simplesmente viver o momento.

Mônica sorriu, abraçando-o pela nuca e encostando-se na parede, levando-o junto. Podia sentir as mãos do garoto plantadas firmemente em sua cintura e cada centímetro do corpo dele colado ao seu. A possibilidade de serem pegos a qualquer momento, mesmo que não estivessem fazendo nada demais, acendeu um friozinho gostoso no estômago que nunca haviam sentido e tornou o beijo ainda mais especial.

Naquele instante ela decidiu que se fosse para viver novas sensações, tinha que ser com ele.

Xaveco chegou em casa quase ao mesmo tempo que Bia. Nimbus o olhou com uma cara desconfiada, mas logo riu e foi pra dentro, morrendo de sono. Ele tinha aproveitado aquela semana intensamente, fazendo vários amigos e se divertindo mais do que em qualquer outro verão de sua vida. Era até engraçado ver aquele garoto, normalmente tão quieto, chegando em casa quase todo dia somente ao amanhecer, tentando pisar devagar para não acordar mais ninguém.

Bia parou na varanda, encarando o loiro com uma expressão preocupada. Ele sorriu, sabendo que ela não contara para ninguém as coisas que ele lhe confidenciara ao telefone. Muitas coisas podiam mudar em sua vida, mas ela continuava sendo a pessoa em quem ele mais confiava para contar seus segredos.

— E aí, ainda na merda? – ela riu baixinho, fazendo-o sorrir também. - Você tá com uma cara péssima. – continuou, arqueando as sobrancelhas.

— Você também. – ele respondeu, fazendo cara feia.

— Pelo menos eu me diverti essa noite. – ela abriu um sorrisinho sarcástico. – Se bem que alguma coisa me diz que você também teve sua cota de diversão... – riu, ao ver o rosto dele corar enquanto ela falava.

— Larga de ser idiota, Bia. – ele rebateu, girando os olhos exageradamente.

— Desculpa. – ela franziu a testa, um pouco sem graça pela piada.

— Relaxa, eu tô bem. – ele assegurou. Mas só pela forma com que o garoto bateu a porta com um estrondo quando entrou em casa, ela soube que não era verdade.

Ainda eram umas seis da manhã e a casa permanecia silenciosa enquanto todos dormiam. Quer dizer, quase todos. Na cozinha, Maria Cascuda silenciosamente passava um café, já vestida com uma calça jeans e uma blusa de alças, nem parecendo se importar muito com o pé que ainda devia estar doendo. Ela o olhou um pouco sem graça quando ele entrou na cozinha, como se tivesse sido pega em flagra fazendo algo muito errado.

— Tá tudo bem? – ele perguntou, embora imaginasse que mesmo que houvesse algo errado, ela não lhe contaria. Os dois nunca tinham interagido mais do que o necessário, embora não houvesse nenhuma antipatia entre eles.

— Er... – a garota murmurou, parecendo ponderar se contava ou inventava uma história. – Achei que ninguém fosse chegar agora. – encarou o chão, envergonhada. – Eu chamei um táxi pra me levar pra casa. Desculpa sair assim sem avisar, mesmo depois de você ter me recebido aqui na sua casa. – deu uma pausa. – É só que... Eu...

— Queria poder ficar invisível pra sair de fininho numa boa? – ele arqueou as sobrancelhas. Não sabia exatamente o que tinha acontecido com ela, mas entendia o sentimento. Se ele mesmo não fosse o anfitrião, era bem possível que fizesse a mesma coisa.

— É. – sorriu tristemente – Fugir é feio, mas tem coisas que a gente não consegue encarar... – confessou.

Ele sorriu, sem saber o que dizer. Normalmente ele odiava a hora de ir para casa. Daquela vez, o entanto, parte dele só queria sair dali. No fundo ainda havia a esperança de que aquele último dia seria suficiente para mudar as coisas, mas era difícil acreditar.

Ficaram lá em silêncio por vários minutos, enquanto ela lhe ofereceu uma xícara de café e os dois tomaram sem dizer nada. A quietude só foi interrompida quando o telefone dela tocou insistentemente.

— Meu taxi chegou. – ela anunciou, aliviada. – Obrigada por ter me recebido, Xaveco.

— Por nada. – deu de ombros – Desculpa qualquer coisa.

O garoto a seguiu até a sala para ajuda-la a levar a mala até o carro, ainda que ela não houvesse pedido. Quando já estava acomodada no banco de trás, ela agradeceu e olhou para a casa por uma última vez, obviamente triste.

— Você pode dizer pro Cas que eu sinto muito? – perguntou, desviando o olhar.

— Pode deixar. – o loiro respondeu. Ela acenou uma última vez e Xaveco assistiu o carro partindo, subitamente se sentindo um pouco estúpido.

Em algumas horas, seria Denise que ele veria partir. E não conseguiria fazer nada para impedir, embora quisesse. Por mais que gostasse dela de verdade, isso não servia de nada. Não podia controlar o que ela sentia, afinal.


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Notas finais do capítulo

É isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorteeee (8)
Brincadeira galera! Tem muita coisa pra acontecer ainda. O Limoeiro que aguarde a chegada desse povo!
Enfim, beijão no coração de vocês ♥