Paixões Gregas - Destinados a Amar(Em Degustação) escrita por moni


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Oiiieeeee
Desculpem a hora, mas ainda é hoje. Espero que gostem. Um tantinho longo eu acho. Me empolguei.



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  Pov – Bia

  O celular toca. Atendo sabendo que só pode ser uma pessoa. Laís. Sinto alguma vergonha de ser tão solitária, deve ter algo de bem errado comigo.

   −Bia. – Ela diz em tom alegre, a voz sempre cheia de energia. Quando convivíamos eu era um pouco mais corajosa, Laís me dava isso.

   −Oi irmã. – Sorrio sentada na cama, os livros empilhados a minha frente para seguirem comigo para a biblioteca.

   −Como está?

   −Bem. E você e o Austin. Tudo bem?

   −Ótimo, estamos muito felizes Bia, não sabe que noticia ele me trouxe hoje.

   −Conta logo Laís. – Pergunto ansiosa.

   −Sua primeira promoção. Nem acredito Bia, isso é incrível sabe. Se tudo der certo. Nosso sonho de ter um filho pode se realizar no próximo ano.

  −Isso é incrível mesmo, nem acredito. Você merece minha irmã, os dois merecem, dá um beijo nele por mim. Fico mesmo muito feliz.

   −Eu sei que sim. Cinco meses não é? É isso que falta agora.

   −Sim. Isso é o que resta de tempo aqui na universidade, depois...  Eu não sei.

   −Estamos aqui, sempre vamos estar minha irmã, eu e o Austin, sempre vamos estar aqui para você, e a família dele, que agora é a minha. Os pais e os dois irmãos, somos felizes.

   −Laís eu sinto pena de deixar a mamãe, de deixar a Grécia, Kirus, nem consigo me imaginar vivendo longe da ilha.

   −No fundo eu sei que não vem, que vai conseguir o trabalho na escola e ficar perto da mamãe, claro que penso em tudo que poderia construir aqui, na terra das oportunidades, mas você quer tão pouco.

   −Acha? Pensamos diferente Laís, quero mais que você. Quero tudo, quero ficar onde posso ser feliz, e só posso ser feliz na minha terra, estou arriscando muito.

   −Pode ser. – Ela suspira. – Como está a mamãe?

   −Do mesmo jeito. Quieta, completamente entregue, submissa. Feliz do jeito dela, cada um tem seu jeito e precisamos respeitar isso.

   −Eu sei. Só que... Entendo ela respeitar as vontades dele sobre mim, no fundo ela sabe que estou bem, casada e feliz, que eu escolhi essa nova família, mas quando penso em você. Bia ela te deixou sozinha a própria sorte. Não consigo engolir isso.

   −Ela me ajuda como pode. – Não devia, me sinto boba às vezes, mas não consigo não defender minha mãe.

   −Uns trocados, uns vestidos que ela mesma costura? Passa as férias nesse quarto Bia, dias e noites, todos se vão nos feriados e fins de semana e fica aí. Solitária, não gosto de pensar, sinto vontade de chorar.

   Meu coração se aperta. Também sinto, só Laís consegue me fazer olhar para minha realidade e não sei até hoje se isso é bom ou ruim. Fico muda, não quero chorar. Ela também fica por que como eu, está controlando as lágrimas.

   −Sinto sua falta. – Digo a ela e as lágrimas me dominam. As dela também. Laís soluça do outro lado da linha. – Está acabando.

   −É. Queria poder ir a Grécia, ver você, mas... não dá ainda, o projeto bebê, não podemos ter essa despesa.

   −Eu sei, se conseguir o emprego prometo passar as férias com você em Nova York.

   −Nem terminou a faculdade e já planeja o que vai fazer com o dinheiro das férias do seu primeiro emprego. – Rimos e choramos ao mesmo tempo como duas bobas que somos.

   −Não pode me acusar de não ter sonhos. – Laís ri.

   −Não posso. E ele? Luka Stefanos? Se viram depois daquele encontro?

   −Encontro? Uma bolada no meio do rosto, livros espalhados para todos os lados e uma gentileza que pareceu muito mais pena?

   −Achei que ele foi muito gentil.

   −Claro que foi, ao menos na ilha essa sempre foi a fama de todos eles, são pessoas gentis, com todos, sem distinção.

   −Mas ficou encantada. Me lembro bem de como ele sempre foi bonito, mesmo ainda menino. Os olhos azuis sempre foram absurdamente bonitos em contraste com o bronzeado.  Austin me beliscou aqui. – Ela diz rindo.

   −Foi há um mês praticamente, eu o vi passando uma vez depois disso, muito longe, ele não me viu.

   −E claro que não podia se aproximar e cumprimenta-lo não é?

   −Não. Eu nunca faria isso, sabe disso.

   −Pior é que eu sei. Você é linda Bia, não está abaixo de nenhum rapaz. Precisa ser mais...

   −Laís, rapazes não estão nos meus planos e esse em especial, Luka Stefanos pode ter todas as garotas que quiser, na verdade ele tem, é o que dizem, é um namorador, nunca está sozinho, nunca está com ninguém, não crio essas fantasias, não posso, quero me formar e trabalhar, no momento é até onde posso sonhar.

   −Ok, desculpe. Nunca se sabe. Só não se esconde. Promete?

   −Prometo.

   −Ótimo. Tenho que desligar. Amo você irmã. Ligo amanhã.

   −Obrigada por estar tão perto, mesmo estando tão longe. Amo você Laís. Um beijo.

   −Outro. – Ela desliga e fico um momento em silencio pensando nele, meu quarto nunca mais foi o mesmo desde sua rápida visita. Pego meus livros, boa parte vai na mochila, o resto eu carrego nos braços, preciso estudar e esse quarto está me sufocando, então vou passar umas horas na biblioteca.

   Me sento na mesma mesa de sempre, penso nele enquanto abro os livros, sorrio lembrando do jeito alegre que ele tem, tão natural para ele estar ali, penso no coração disparado quando ele tocou meus cabelos. E brincou com meu rubor antes de partir como se nunca tivesse estado ali.

   Posso ser uma grande idiota, mas consigo a proeza de sentir falta dele. Me concentro nos estudos, nunca mergulhei tanto nos livros como passei a fazer desde aquele encontro, Luka me fez sentir realmente sozinha desde então.

   −Senhorita. – Uma mão toca meu ombro e salto assustada, a bibliotecária sorri do meu susto. – Vamos fechar. Precisa ir.

   Ergo meus olhos ainda assustada. Dez da noite. Meu coração acelera um pouco, não acredito que fiquei tanto tempo. Junto minhas coisas.

   −Obrigada. Eu estou indo.

   Coloco a mochila nas costas, recolho os livros que sobraram, meu vestido enrosca na cadeira e dois passos depois ela cai levando a cadeira ao lado e fazendo o barulho ecoar pela sala. Deixo os livros sobre a mesa agradecendo ser a única presente. Ergo as cadeiras, pego os livros de volta e me apresso para saída.

   −Boa noite. Tome cuidado.

   −Claro. Boa noite.

   Nunca fiquei até tão tarde, normalmente não passo de oito da noite, sempre procuro estar no meu quarto nesse horário, tem sempre uma história ou outra de assedio pelas ruas do campus, ataques, nunca sabemos bem o que é real e o que não passa de lenda urbana.

   Escuto meus passos pela calçada, aperto meus livros, tem uma música alta tocando longe, alguém está dando uma festa em algum lugar, não sei se é bom ou ruim, se tem uma festa têm bêbados e na maior parte das vezes eles não são agradáveis.

   Minha mente começa a criar fantasias, sinto passos atrás de mim, quero olhar e tenho medo, viro a esquina e podia correr. Talvez devesse, não fosse o medo de cair de boca no chão e ficar realmente em perigo eu correria.

   Escuto um motor se aproximar, aperto os livros como se eles pudessem me proteger, engulo em seco quando sinto o carro diminuir.

   −Bia. – A voz dele chega aos meus ouvidos e tudo em mim se acalma, paro de andar, olho para o lado quando Luka está descendo do carro, bate a porta e segue até mim. – Pode me dizer que ideia é essa de andar essa hora sozinha pelo campus?

   −Eu... eu estava na biblioteca. – Aviso assustada ainda. Uma parte dos livros que carrego nas mãos escorrega para o chão, ele os recolhe. Enquanto controlo minha tensão.

   −Está tremendo. Não devia sair por aí tão tarde sozinha. Esse lugar não é sempre seguro.

   −Me distraí na biblioteca. – Luka sorri, aquele sorriso é mesmo lindo e tem o poder de me acalmar.

   −Que tipo de gente se distrai numa biblioteca? – Dou de ombros sem defesa.

   −Não vi a hora passar.

   −Vem. Vou te levar em casa. – Ele toca meu ombro. – Me dá as coisas que eu carrego.

   −Não preci... – É tarde, ele toma meus livros e depois minha mochila.

   −Meu Deus Bia, você não roubou a biblioteca roubou? Por que não quero ser seu cumplice.

   −Não Luka. São meus livros. – Ele me faz rir, tem esse jeito despretensioso de ser que me deixa relaxada, mesmo quando tudo nele mexe comigo.

   −Biblioteca Bia. Entende o conceito? – Ele diz abrindo a porta do carro para mim, me sento, ele me entrega os livros, coloca a mochila no banco de trás, da à volta e se senta ao meu lado atrás do volante. – Os livros ficam lá, você vai até lá e lê, não leva de casa, não precisa. Entende isso?

   −Eu ás vezes preciso de um pouco de espaço. – Confesso e ele fica em silencio um momento.

   −Todo mundo precisa. – Ele diz dando partida. – E precisa comer também. Vamos jantar.

   −Luka não precisa, eu... você deve ter algo para fazer e não quero te atrapalhar.

   −Sim, comer, é isso que tenho que fazer, e vai comigo. Gosta de gyros?

   −Gosto.

   −Ótimo. – Ele dirige para fora da universidade. – Depois te deixo em casa. Pensei em você. – Luka me diz e eu olho para ele surpresa. Ele pensou em mim? – Vim te visitar outro dia, não estava. Agora já sei que preciso entrar naquele lugar horrível que chamam de biblioteca.

   −Não adianta fingir que não gosta de estudar. Sei que se formou e foi muito bem e que tem uma empresa de sucesso.

   −Uhm, anda pensando em mim, se informando. – Fico vermelha de vergonha na mesma hora. – Adoro as bochechas vermelhas, as sardas ficam tão bonitinhas.

   −Você é famoso Luka, no campus, na ilha, não fico perguntando de você, me informando. – Tento me explicar.

   −Não? Devia, eu sou bem interessante.

   −Tá bom. – Luka para o carro, são só uns quarteirões longe do campus.

   −E realmente não gosto de estudar, eu sou um tanto genial sabe, então é isso, meu sucesso vem dessa minha natureza inteligente. – Ele brinca, descemos, os livros ficam no carro junto com a mochila, a lanchonete está lotada de gente jovem, ele acena para um e outro, conhece todo mundo. – Na verdade o sucesso é todo do meu sócio, ele sim é um gênio. Eu só... sei lá, puxei meu pai. Sei fazer negócios.

   −É tarde para modéstia. Isso também está longe da verdade.

   −Isso, me elogia, eu gosto disso, pode dizer que sou bonito também.

   −É. Agora a modéstia cairia bem. – Luka me aponta uma mesa, nos sentamos de frente um para o outro. Tudo tão estranho, eu estou sentada numa lanchonete badalada ao lado de Luka Stefanos. Não consigo entender bem como aconteceu. Nem como fico tão bem ali com ele. Tímida, porque essa é minha natureza, mas não ansiosa ou assustada. Isso é novo demais.

   −O que quer comer?

   −Gyros e um suco de morango.

   −Apostei mentalmente no suco de morango. Tony. – O garçom se aproxima. Luka faz os pedidos. – Tony veio em férias na adolescência e nunca mais voltou para os Estados Unidos.

   −Você olha para as pessoas. – Digo a ele que sorri despreocupado. – Me contou sobre o brasileiro, agora sobre o Garçom.

   −Não crie expectativas, não sou sempre assim, o Pedro estuda o mesmo que eu e o Tony... sei lá, venho sempre aqui e acabei conhecendo ele.

   Eu vou quase todos os dias na biblioteca nos últimos quatro anos e não sei nada da bibliotecária. Isso deixa claro que somos diferentes. Eu fechada e ele livre e solto.

   −Obrigada Luka. Estava mesmo assustada.

   −Claro que estava, sozinha no meio da noite. Não faz isso, é perigoso. Minha irmã estudou lá quatro anos e nunca saia assim sozinha andando a pé. Tem muito idiota por aí.

   −Foi a primeira vez, perdi a hora.

   −Anota meu telefone. Quando acontecer me manda mensagem e te resgato. – Trocamos telefones, não que um dia eu vá ligar para ele ou pedir que me resgate onde quer que eu esteja, mas não preciso dizer a ele. Quando coloco o telefone sobre a mesa e olho para ele Luka está me observando. – Nunca vai fazer isso. – Ele parece mesmo preocupado.

   −O que?

   −Me pedir ajuda numa emergência. É tímida demais para isso. – Não nego. É bom que ele saiba. – Uma pena. Agora vou ter que ficar no seu pé.

   −Aposto que tem mais o que fazer. Estava na festa? – Mudo de assunto.

   −Sim. Mas estava chato e eu com fome, daí resolvi ir para casa e dei de cara com os cabelos vermelhos e o vestido de princesa. Pensei, só pode ser a Bia.

   −Quase correndo pelo campus, só não saí correndo porque achei que acabaria no chão.

   O pedido chega a nossa mesa, o garçom se afasta. Um casal se aproxima, eles apertam as mãos e Luka me apresenta, depois ficamos sozinhos.

   −Aposto que sabe a história deles. – Luka faz careta.

   −Sei. Estou me sentindo um fofoqueiro. – Ele me faz rir. Gosto tanto de escrever que adoraria sair por aí perguntando tudo de todo mundo, mas claro que não faço. – Perguntei de você lá em casa.

   −De mim? Por que?

   −Tivemos uma relação Bia, foi há muito tempo, mas não pode negar que foi um caso rápido, eu, você e sua chupeta babada. Tinha que saber mais sobre isso.

   −Sobre estar se sentindo um fofoqueiro. Talvez seja. – Luka morde o sanduiche, ele não parece mesmo preocupado com isso. – O que descobriu?

   −Todos aqueles seus segredos sórdidos. Está em minhas mãos.

   −Então além de roubar chupetas você faz chantagens?

   −Não tenho limites quando quero algo. – Isso apesar do tom de brincadeira parece ser a mais pura verdade sobre ele. – Então, voltando ao meu jeito invasivo. Me conta. O que vai ser quando crescer?

   −Professora. O que quero mais que tudo é dar aula na escola de Kirus, para os garotos de lá. Voltar para ilha. Me estabelecer lá. Perto da minha mãe. – Ele fica me ouvindo de um jeito atencioso, eu gosto disso.

   −Também quero voltar para casa. É isso que vou fazer. Meu escritório, se posso chamar assim, já está pronto, é só terminar o curso.

   −Kirus é o lugar mais bonito do mundo. Quando a balsa vai chegando eu sinto o cheiro da ilha. Mar, oliveiras, e ciprestes.

   −Bouganvilles e figos também. – Ele completa e balanço a cabeça concordando.

   −Não sei se vou conseguir, mas é o que quero. Dar aulas na escola.

   −Claro que consegue. – Ele não me critica, não acha estranho eu querer apenas isso, como se fosse pouco, como se precisasse sempre buscar mais, sonhar mais alto.

   −Se não der certo então talvez eu tenha que ir para Nova York viver com minha irmã.

   −Já deu certo. Sua irmã mora lá? Tenho um monte de família lá, todo mundo na verdade.

   −Eu sei, todos os Stefanos vivem lá. Só vocês ficaram.

   −Somos os quatro muito apegados. Eu e meu pai mais que todos, eu acho. Meu pai conta que passou a vida toda querendo voltar para casa, que só quando chegou em Kirus é que se sentiu em casa.

   −Minha irmã está super feliz, ela acha que como deu certo para ela eu devia ir, que lá eu teria mais oportunidades, mas gosto tanto da vida que tenho. – Me calo pensando que ainda não é minha vida, é apenas meu sonho. – Não é verdade, não é a vida que tenho, ainda é apenas a vida que planejo. Pode ser que fique só nisso. Planos.

   −Pessimista?

   −Realista eu acho. – Ele segura minha mão que descansa sobre a mesa. Meu coração descompassa um pouco e me critico por isso. Luka Stefanos não é alguém com quem eu possa nem mesmo sonhar.

   −Você vai conseguir. – Me diz num leve aperto de mão. Depois ele olha para minha mão e sorri. – Mãos pequenas.

   Tocamos as palmas, sem combinar nem nada, medimos em minha mão e a dele em silencio, minha mão parece mesmo pequena assim em relação a dele.

   −Não é tão pequena, a sua que é grande.

   −Claro que não. As suas são pequenas, por isso os livros ficam escapando toda hora.

   Afastamos as mãos para terminar de comer. Conversamos sobre minhas aulas e as dele, o que gostamos no curso e ficamos ali, distraídos, até que Tony se aproxima.

   −Luka. Temos que fechar. – Só então desperto para o ambiente a minha volta. Está vazio, somos apenas nós dois ali e fico surpresa.

   −Já estamos indo. Desculpe prender vocês até tão tarde Tony, me esqueci que é dia de semana. – Luka pega a carteira no bolso.

   −Segunda vez que perco a noção do tempo hoje. – Aviso para seu novo sorriso. Ele deixa o dinheiro sobre a mesa e deixamos o lugar, no carro continuamos a conversa e sinto pena de ter que me separar dele em alguns minutos. – Obrigada Luka. Foi muito bom.

   −Também gostei, não tinha ninguém em casa hoje e odeio ficar sozinho. Minha irmã foi tirar o Saulo da geladeira justo hoje que não tem nem meu avô, nem minha avó em casa.

   −Geladeira?

   −Você sabe. Aquele cara que você liga de vez em quando, que saí quando está meio sozinha. – Luka desvia os olhos das ruas para me olhar um momento. – Não sabe né? Não tem um desses.

    −Não mesmo.

   −O elevador consertou? – Ele pergunta quando para na porta do edifício.

   −Ainda bem. – Para minha surpresa ele desce comigo, pega meus livros, minha mochila e caminha ao meu lado para o prédio.

   −O que vai fazer amanhã?

   −Aula no prédio de ciências sociais até a uma da tarde. Depois mais nada, acho que vou aproveitar para adiantar um trabalho que tenho que entregar na próxima semana.

   Luka aperta o botão do elevador, parece decidido a me acompanhar até meu quarto.

   −Ótimo. – Ele diz entrando comigo no elevador. – Uma hora na frente do prédio de ciências sociais, leva um biquíni.

   −Ahm? – Do que ele está falando?

   −Vamos passear de barco, meu dia está leve também. Só umas aulas pela manhã. Então vamos passear de barco.

   −Luka... – A porta do elevador abre e ele sai na minha frente carregando meus livros até a porta do quarto sem me dar chance de falar. Pego as chaves com dedos trêmulos, ela cai mais uma vez.

   −Não disse? Mãos pequenas.

   −Não. Isso é porque me deixou nervosa.

   −Deixei nada, as mãos é que são pequenas. Tipo Tiranossauro rex. − Eu quero reclamar, responder, mas eu apenas caio na risada quando a imagem de um dinossauro se forma em minha mente de forma involuntária. Abro a porta ainda rindo. – Vai ser legal, podemos nadar em alto mar. Sabe nadar né? – Ele pergunta se livrando dos livros e da mochila largando tudo sobre a cama.

   −Muito bem. Apesar das mãos de Tiranossauro Rex.

   −Então não tem um biquíni?

   −Eu tenho biquíni, mas...

   −Nesse caso só quer me enrolar mesmo. Uma da tarde. Se esquecer o biquíni te jogo no mar de roupa. – Luka vem até mim, parada no meio do quarto olhando para ele sem acreditar. – Não fica demorando não. Uma em ponto. – Ele me beija o rosto, uma mão entra por dentro dos meus cabelos e me puxa a nuca com delicadeza, seus lábios tocam meu rosto e sinto seu perfume, um arrepio me percorre. – Até amanhã.

   −Tchau. – Me forço a dizer acompanhando seus passos com os olhos.

   −Tranca a porta. Só as mãos são de dinossauro. Você é toda pequenininha. – A porta se fecha depois dele e levo um longo momento para me mover até a porta e passar a chave. Depois olho para cama. Como se dorme depois disso?

   Pov – Matt

   Penso nela a noite toda. Como foi a noite, se depois dessa noite ela ainda vai ser livre ou vai acabar me apresentando um namorado ou porque saiu tão brava.

   O que isso está fazendo comigo? Essa angustia e curiosidade sobre Alana está me tirando o foco e eu devia apenas me deixar livre para conhece-la, parar de ter tanto medo. Quem sabe me permitindo viver isso eu não acabe fazendo o que realmente importa? Pesquisar?

   Não corro pela manhã, não consigo, vou para o banho, me visto e me sento em frente a minha mesa. Abro o computador e fico olhando para a tela pensativo.

   A porta se abre. Alana entra séria. Me coloca algumas revistas sobre a mesa e me deixa ali depois de ordenar que leia. Eu gosto disso, do jeito levemente mandão que essa garota tem.

   Olho para as revistas todas abertas em matérias sobre Luka Stefanos e Tyler Bowen. Todas falam sobre a empresa deles. Easy Rulling. Se ela quer que leia não me custa.

   Mergulho nas entrevistas e reportagens, meia hora ali descobrindo um mundo de coisas que nem sonhei. Eles não são nem de longe o que pensei, pelo contrário, dirigem uma empresa séria e importante. Luka nasceu em um berço de ouro, mas Tyler começou do nada.

   O dinheiro investido pela família foi zero, tudo veio dos dois e apenas deles, a empresa já conta com alguns colaboradores, todos jovens talentosos que eles buscam em comunidades carentes. As respostas a todas as perguntas são maduras e inteligentes. Nem de longe dadas por garotos inconsequentes.

   Fecho as revistas e fico em silencio. Sei que Alana me observa enquanto finge trabalhar. Caminho até a janela de onde agora posso ver boa parte do mar e fico ali perdido em meus pensamentos.

   Minha vida toda passa pela minha cabeça, numa reavaliação que me parece precisar de mais estudo, mas mesmo assim me faz ver o quanto preciso repensar e reorganizar.

   −As caixas para as amostras foram entregues no barco. – Alana diz em voz alta e retorno a realidade, me viro para olhar para ela.

   −Tem razão. – Aviso. Alana me olha sem saber bem o que estou dizendo. – As matérias. Não me deu por acaso. Está certa. Estive sendo um idiota.

   −Matt eu...

   −Escute. – Peço a ela. – Um idiota a bastante tempo. Vem de antes de você ou esses dois rapazes. – Alana se afasta da mesa. Caminha até a janela e se posiciona ao meu lado, mostra sua disposição em me ouvir. – Eu sou filho de um funcionário de banco, meu irmão seguiu seus passos, esperavam que eu fizesse o mesmo enquanto eu queira isso. – Aponto o laboratório. – Eu lutei por isso, mas no processo acho que fiquei um tanto amargo, talvez porque tenha sido difícil demais para mim.

   −Eu só queria que não tirasse conclusões apressadas sobre as pessoas. Que desse uma chance a elas, a eles em especial.

   −Está certa, mas acho que fui um pouco mais longe com isso. É que eu abri mão de muito por isso. Vejo pouco minha família. Economizo ou economizava cada centavo, além disso, o tempo todo que estou lá tem sempre aquela história que eu devia ter seguido os passos do meu pai, ter um emprego fixo com um salario no fim do mês, casado e constituído família. São bons, mas antiquados.

   −São família Matt, como todas as outras. – Ela toca meu ombro.

   −Amo minha família, só que a distancia. – Tento brincar. – De perto é bem complicado. Acho que deixei a amargura desses anos de busca sem sucesso falar mais alto, como se todo mundo que conseguiu fosse culpado por eu não conseguir.

   −Agora que está aqui. – Dessa vez ela mostra as coisas a sua volta. Nosso laboratório. – Pode deixar essa parte de você de lado, apagar isso e mergulhar no sonho que te fez abrir mão de todo o resto.

   Posso, mas agora diante dos olhos azuis cheios de vida e curiosidade eu não sei mais o que realmente importa. Nesse segundo diante dela o que eu realmente quero e envolve-la em meus braços e beijar Alana.

   −E se eu não quiser mais isso? Se eu não quiser mais apenas isso?

   −Melhor ainda eu acho. – Seus lábios se curvam num sorriso leve, isso a deixa tão bonita e tão intensa. Mexe com meu corpo, minha alma.

   −Preciso repensar sobre tudo. Acho que agora eu só... eu só... – Seus olhos me hipnotizam, meu raciocínio foge e só penso em seus lábios ainda curvados e no modo como o sorriso vai se desfazendo e o olhar vai ficando mais denso a cada centímetro que vou diminuindo de distancia entre nós.

   Minha mão procura a dela e meus dedos entrelaçam aos seus, ela dá um passo para mim, descansa uma das mãos em meu peito e eu envolvo sua cintura.

   Talvez devesse parar. Talvez devesse esquecer seus olhos e me entregar ao trabalho. Não consigo, não agora e acho que Alana quer o mesmo.

   Pela primeira vez em anos eu paro de pensar e apenas deixo acontecer, meus lábios e os dela se encontram. É um longo beijo, que me traz sensações que não conhecia ou não me lembrava.

   Alana passa os braços por meus ombros e eu a trago para mim, não quero mais parar de beija-la. Quero Alana em meus braços para sempre e quando nos afastamos um momento eu sorrio.

   −Era só para saber que os meninos são bons no que fazem, não achei que ler uma revista provocasse tudo isso. – Ela brinca e depois de sorrir só volto a beija-la mais uma vez.

   É Alana a colocar distância primeiro me empurrando com gentileza. Acabo de descobrir que sou bastante fraco quando se trata dela.

   −Isso foi intenso de muitos modos. – Ela me diz o que obviamente eu já percebi. Balanço a cabeça concordando.

   −Vai se repetir? – Tudo depende dela e quero saber onde estou pisando, se é reciproco.

   −Acho que sim. – Ela me diz ainda em meus braços e isso é apenas porque minhas mãos não parecem dispostas a descolar de sua cintura.

   −E o Saulo? – Eu tenho que perguntar. Me roí de ciúme uma noite toda.

   −O que tem ele?

   −Eu e você. Ele e você, isso é confuso para mim.

   −Matt o Saulo é só um amigo e você é... ainda não sei tanto quanto você. O que sei é que ele não está entre nós.

    −É o bastante para mim. – Aviso. Alana é honesta em tudo, então não tenho porque criar ideias na cabeça. – Acho que temos que voltar ao trabalho.

   −Melhor. – Ela concorda, sorri olhando minhas mãos em torno dela. – Mas precisa... – Alana toca minhas mãos.

   −Ah! Claro. Eu fiquei... – Solto a garota deixando a frase no ar. Dizer que fiquei maluco pode assusta-la.

   −Tenho que te mostrar um relatório que encontrei. – Ela me diz e fico olhando enquanto caminha de volta a sua mesa.

   −Quer almoçar comigo? – Ainda não voltei para a realidade e ela precisa entender isso. Alana ri me olhando da sua mesa.

   −Almoço com você todo dia Matt.

    −Oficialmente. – Ela enruga o nariz se divertindo com meu jeito atrapalhado.

   −Quero.

   −Meio dia? – Agora ela ri com gosto, remexe os cabelos e suspira.

   −Meio dia está ótimo. Eu te espero, mas agora precisa parar com isso ou não vou conseguir me concentrar no trabalho.

   −O mais importante. O trabalho, claro. Não vamos misturar as coisas isso não é certo. Você tem razão. – Pego as revistas e entrego a elas. – Obrigado por isso. – Ela sorri.

   −Bobagem. Eles são mesmo bons, não acha? – Acho é estranho a fixação que ela tem em me provar o valor deles, mas ela está certa. Eles são mesmo bons e me sinto bastante envergonhado.

   −São. Odeio ter diminuído tanto eles. Acho que não fica bem ligar e me desculpar por algo que nem sabem que fiz, mas vou convida-los para vir aqui. Conhecer o lugar e você. Quero que eles vejam que estamos fazendo tudo certo.

   −Me conhecer? – Ela se espanta.

   −Claro Alana. É o dinheiro deles, acho que vão querer saber como está sendo empregado e quero que vejam como é talentosa e dedicada. Vou marcar um almoço. O que acha?

   −Acho que não. Esse é seu trabalho como... como chefe de pesquisa, relações públicas, essas coisas, o meu é aqui. – Alana encara o computador. – Vou trabalhar Matt. – Ela parece mesmo incomodada e não tinha ideia de que fosse tímida. Desde o começo sempre me pareceu tão segura de si.

   −Tudo bem. Só queria... não importa. Cedo ou tarde vão se conhecer. – Isso ela não vai conseguir evitar para sempre. Volto para minha mesa. Antes de mergulhar de volta no trabalho eu olho para ela. Linda e tensa olhando para seu computador.

   Beijei Alana Kalimontes e não me sinto culpado ou arrependido, pelo contrário. No momento meu único problemas é saber quando vou beija-la de novo.

 


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Notas finais do capítulo

BEIJOSSSSSSSSSSSSSS