Para Sempre - Parte II escrita por JVB


Capítulo 2
O tempo




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— Perdão – eu disse, quando esbarrei numa moça enquanto comprava pomada para assaduras. Ela deixou os pacotes de frauda caírem no chão. Peguei e devolvi logo em seguida.

— Não precisa pedir desculpa. – Ela olhou para a minha cesta, cheia de coisas, no chão.

Era uma moça alta, magra e muito bonita. Os cabelos castanhos estavam muito bem arrumados e iam até seu ombro. Ela tinha olhos mel e um sorriso encantador.

— Eu não recomendo muito essa frauda – eu disse. – Ela fica dançando no corpinho da criança, sabe?

— Ah, é mesmo? Qual você me recomenda?

— Essa – eu mostrei a que estava na prateleira. – É muito confortável. Bom, pelo menos Rosie não reclama e fica sequinha durante a noite.

— Rosie. Sua filha?

— Sim. Você tem filhos? Ah, claro que sim, você não estaria aqui comprando fraudas se não tivesse. – E dei um sorriso nervoso.

Ela deu risada.

— Não, não tenho. Estou comprando para minha irmã. Ela está muito ocupada cuidado dos gêmeos.

— Ah. – Foi tudo o que eu disse.

— Bom, obrigada. – Ela sorriu e sumiu em algum outro corredor.

Mary me ligou e eu atendi.

— Oi.

— Não esquece de comprar papinha. – Ela disse. – Era só isso.

— Doce ou salgada?

— As duas.

E desligou.

Peguei uma boa quantidade de papinhas doces e salgadas e coloquei na cesta. Fui em direção ao caixa e fiquei esperando na fila. Na minha frente estava a moça bonita que eu conversara. Ela era educada e muito simpática – e linda.

Ela olhou para mim e sorriu. Dei o meu melhor sorriso. Ela pegou as sacolas e foi embora enquanto eu pagava as minhas. A foto de Julie estava lá e sempre parecia errado eu paquerar com outra pessoa quando eu ainda a amava. E ainda amava muito. Em algum momento do dia eu iria pensar nela, mas empurrava esse sentimento para um cantinho para não me machucar.

Peguei as sacolas e fui para o estacionamento do mercado. A moça estava parada em uma das vagas logo na entrada, falando no telefone. Segui para o meu carro e coloquei tudo no banco de trás.

— Deixou cair isso daqui – ela mostrou o meu troco que eu tinha colocado no bolso do moletom.

— Ah, obrigado.

— Desculpe perguntar mas qual é o seu nome?

— Steve, e o seu?

— Samanta. – E ela estendeu a mão para que eu pudesse cumprimenta-la.

— Você não acha errado flertar com um homem que tem uma filha pequena? Não é de se esperar que eu seja casado?

Ela ficou vermelha.

— Ah, eu imaginei que fosse solteiro já que não tem nenhuma aliança no dedo. E-eu...me desculpe.

Dei risada.

— Pois está certíssima, sou solteiro.

Ela parou e abriu um sorriso.

— E sua filha?

— Talvez um estacionamento de marcado não seja um lugar legal para conversar e conhecer alguém. Deveríamos manter contato.

— Sim, - ela respondeu. – Com toda certeza.

 

Cheguei em casa e Mary estava dando banho em Rosie. Coloquei as coisas em cima da mesa de jantar e fui falar com ela.

— Está tudo certo, comprei tudo.

— Então ta bom. – E deu um tapinha na minha bunda quando passei. As mãos molhadas marcaram minha calça.

— Gostei muito da noite de ontem – ela disse. – Deveríamos repetir.

Fiquei em silêncio por um tempo.

— Bem...quem sabe. – Eu não sabia o que dizer, então sai do banheiro imediatamente.

TRÊS MESES DEPOIS.

Eu havia saído pela quarta vez com Samanta. Ela não morava na cidade e só vinha para cá quando visitava a irmã. Era modelo e viajava bastante. Estávamos nos conhecendo e era óbvio que ela estava interessada em mim, o que era bom, já que eu também estava interessado nela. Éramos amigos, mas ela sempre se inclinava para algo a mais. Não havia rolado nada entre nós ainda, até porque nos vimos muito pouco. Tínhamos contato por algumas mensagens, mas era o contato visual que de fato contava, e não tivemos muito disso.

Eu e Mary tínhamos nos aproximado intimamente. Eu não podia confirmar que tinha alguém, então não era compromissado e tinha necessidades que Mary supria muito bem.

— Você já pensou em conhecer outro cara? – Eu perguntei.

— Não.

— Não se prenda a mim, Mary.

— E você está saindo com uma pessoa?

— Bem, talvez.

Dito isso ela fechou a cara e não falou comigo por uma semana. Rosie estava com cinco meses e já estava linda. Os cabelos ainda eram claros e os olhos também. Ela não se parecia nada comigo, apenas com Mary.

Eu estava muito bem, até que um dia, no mercado, encontrei a mãe de Julie.

— Steve!

— Olá, senhora Scott. – Eu cumprimentei da forma mais educada possível, tentando não deixar aparente que ela trouxe uma certa saudade de Julie.

— Como você está?

— Ótimo, e a senhora?

— Estou muito bem, obrigada.

Não consegui segurar o impulso de perguntar:

— E Julie?

Ela deu um meio sorriso.

— Ah, está bem. Está estudando bastante. Fico orgulhosa, apesar de estar morrendo de saudade. Nunca fiquei tanto tempo longe dela.

Nem eu, pensei. Mas nós só tínhamos namorado por um pouco mais de oito meses.

— Ela liga de vez em quando. Vocês não tem se falado?

— Não... – minha voz quase não saiu.

— E o bebê? Soube que você ia ser pai e que por isso...bem, vocês dois terminaram.

— Rosie está bem.

— Que bom. Adorei o nome, muito bonito.

— Bom, tenho que ir senhora Scott, foi um prazer em vê-la.

Nos despedimos e sai dali o mais rápido possível, parecendo um adolescente de quinze anos fugindo de meninas.

 

E então era aniversário de um ano de Rosie. O tempo passou tão rápido... minha menina já estava grandinha, e já tinha aprendido a andar e falar algumas palavras.

— Parabéns, Rosie! – Os convidados disseram enquanto cantávamos parabéns.

Os balões estavam espalhados pela casa, todos cor de rosa e roxo. Para minha surpresa, alguém bateu na porta de casa e eu abri, também abrindo um enorme sorriso no rosto.

— Samanta, você veio!

— Aproveitei que estava pela cidade e você mandou um convite...achei que seria legal. Quero muito conhecer sua filha.

E levei ela para conhecer minha menina.

— Olá – ela disse para Mary, que tentou ser simpática. Eu sabia que ela estava com ciúme.

— Essa daqui é Mary e essa é Samanta, uma amiga. Ah, e claro...essa é Rosie – peguei Rosie do colo do Mary e ela balançou os braçinhos em reação do “olá” alegre que Samanta dera.

— Nossa, ela é linda. Se parece muito com você – ela disse para Mary.

— Eu sei.

— Ela tem uma marca de nascença na mão... – ela reparou na manchinha clara que ela tinha no dedo indicador. – Uma graça.

— De onde vocês se conhecem? – Mary perguntou.

— Do mercado, ela também estava comprando fraudas.

—Ah, entendi – ela pareceu mais aliviada talvez em pensar que Samanta era comprometida. Decidi deixar por isso mesmo para não criar confusão.

— Venha, Samanta, vou te mostrar a casa.

E levei ela para a cozinha, para o banheiro, para a sala, nos quartos e por fim, no quarto de Rosie.

— Você tem um álbum de fotografia?- Ela reparou num álbum sobre a cama. Não entendi o que isso estava fazendo ali, provavelmente Mary o achara do esconderijo secreto que eu tinha no armário.

— Droga – eu disse.

— O que foi?

Ela pegou o álbum e abriu.

— Quem é? – Ela apontou para uma foto. Era o álbum que eu tinha onde guardei as fotos com Julie. Não quisera jogar fora então guardei, mas parece que Mary andou mexendo nas minhas coisas. Iria confronta-la mais tarde.

— Ah, uma ex-namorada – eu disse, tentando parecer imparcial. – Mary anda mexendo nas minhas coisas. – Peguei o álbum e coloquei dentro do armário. – Provavelmente tentando achar um álbum vazio para colocar as fotos de Rosie.

— Entendi. Você guarda fotos de suas ex-namoradas?

— Não, mas ela era mais que minha ex-namorada. Éramos muito amigos, não achei que precisei queimar as fotos ou...jogar fora. – Eu só não queria dizer que eu queria manter a lembrança viva de que Julie já estivera nesse quarto, que já foi minha.

No final da festa todos se despediram e eu levei Samanta até o carro.

— Vou ficar aqui até o fim de semana que vem. Podíamos fazer alguma coisa...

— Claro, é claro que sim.

Dei um beijo em sua bochecha e ela virou o rosto, fazendo com que nossos lábios se tocassem. Ela suspirou e entrou no carro e eu fiquei sem saber o que pensar. Era difícil trazer Julie na memória, ter Mary ali e Samanta me beijando. Organizei meus pensamentos e voltei para dentro de casa, encontrando Mary parada na porta.

— Eu sabia que ela não era só a sua amiga que você conheceu no mercado. Você acha que eu sou idiota?

— O que? O que tem eu sair com outras pessoas?

— Pensei que estivéssemos em algum tipo de relacionamento.

— Mary...

— Você deveria se envolver COMIGO, e não com uma outra mulher. O certo seria você tentar construir uma família. Eu, você e Rosie. Pelo amor de Deus!

— Mary, eu não te amo.

Ela parou de falar.

— E ama aquela mulher?

— Não, eu ainda não a amo.

— Pense em Rosie, Steve. Você é muito egoísta. Pense primeiramente na sua filha, será que consegue?


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