Um Presente Para Marie escrita por Myu Kamimura, Secret Gemini, Madame Chanel, Secret Gemini


Capítulo 1
Único




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Mais um dia comum no Santuário. O sol brilhava, os pássaros cantavam e a paz reinava no local... Bem, nem tanto, pois na Casa de Gêmeos uma fervorosa discussão acontecia:

—Mas como assim estou de castigo? Respeite-me, tio! Eu não sou mais sua aprendiz e nem tenho mais 13 anos!

—Não interessa Marie! O que você fez foi errado e deve ser punida por tal.

—Ficando enclausurada igual uma criança? Aff, por Athena, Tio Kanon!

A revolta de Marie, atual Amazona de Prata da constelação de Pavão, era simples: Não queria aceitar o castigo imposto por seu tio, o Grande Mestre Saga, de ficar presa na Casa de Gêmeos, saindo do Santuário apenas para missões caso fosse convocada. O motivo da punição era considerado uma afronta: Marie levou o ex-Cavaleiro Shion, que fora ressuscitado por Athena meses atrás, até as dependências das Amazonas, local totalmente restrito aos homens:

—Eu não entendo como o Shion, sendo ex-Grande Mestre, aceitou tal loucura!

—Falou o cara que espionava Amazonas no riacho! Se toca, tio K! Você e o Tio Saga estão é com inveja.

—I-Inveja?

—Sim... A Violeta ressuscitou meu Shion com 18 anos... Apesar dele quer quase 300 anos, é mais jovem e vigoroso que vocês dois juntos!

—Olha, você pode até falar que eu me tornei um tiozão irritante, mas o Saga? Ele é casado com uma garota de 16 anos!

—Sim... Essa que me chama para sair quase toda noite, porque o Quadradão não curte baladas. – a morena parou de falar por um instante e refletiu suas próprias palavras. Em seguida, riu e prosseguiu – Ah... Agora esse castigo faz todo o sentido... O tio Saga não quer que eu leve a Sammyrah a perdição... PFT, coitado. Bom, se vocês vão me enclausurar, que seja – jogou os braços para o alto – Eu vou para o antigo quarto do Tio S. Lá pelo menos tem TV.

No aposento, a morena colocou para fora toda a revolta, atirando pela janela sua máscara, mas depois se arrependeu, já que não poderia explicar como a perdeu, afinal não sairia do Santuário por um longo mês:

—Não sei no que estava pensando quando quis vim para esse antiquário... Maldita revolta adolescente.

Caminhou até a janela e olhou o céu sem nuvens. Pensou em sua antiga casa, na escola que frequentava, na comida fumegante que sempre a recepcionava quando retornava para o lar. Parece até que sentiu o aroma do feijão com linguiça fresca e toucinho que Salomé sabia preparar como ninguém. Há quantos anos ela não via a mãe? Ela deve estar bem diferente da arqueóloga que ela guarda em suas lembranças:

—Mamãe...

Uma lágrima escorreu de seus olhos, ao mesmo tempo em que uma voz ecoou em sua mente:

—Você está chorando?

—Como você sabe?

—Pude sentir sua tristeza...

—Ao menos não te proibiram de usar telecinese. Ia ser tenebroso demais ficar sem sua voz.

Era Shion, seu grande amor. Um amor que lhe foi tirado por um momento de insanidade de seu tio, mas devolvido graças à bondade de Athena, quando a morena, aos prantos, confessou-lhe que quase se aliou a Hades quando viu seu amado renascido em forma de espectro:

—Por que você estava chorando?

—Revolta... Esse castigo não é justo.

—Eu te conheço, Marie... Não era isso, confesse.

—Ok... Estava pensando no Brasil, na minha antiga casa... Na minha... Mãe.

—Salomé de Pavão... Irônico que a Armadura que foi de sua mãe te escolheu, não?

—Eu já acho que foi destino. Minha mãe renegou-a quando perdeu meu pai, mas eu segui o sangue que corre nas minhas veias... Graças a esse sangue, te encontrei.

—Sabe o que eu não entendo?

—O quê?

—Como você foi se apaixonar por um velho decrépito como eu.

—Você não era decrépito. Decrépito era o Dohko, que parecia o cruzamento de um hematoma com uma ameixa seca. Você era mais um... Coroa Sexy. – riu.

—Coroa Sexy? Hahaha... Você tem cada uma

—Oras, eu só disse a verdade.

—Sabe... Eu tive medo.

—Medo de quê?

—De você não me amar quando revivi jovem.

—Aí você percebeu que não era fetiche, mas sim amor.

—... Eu te amo, Marie

—Eu te amo mais, Carneirão.

—Eu te chamo mais tarde... Athena quer me ver.

—Certamente você também será punido... Só espero que ela não faça o pior.

—Não seja boba... Se você, que me levou até a área proibida, só está sob custódia do Kanon, eu só tomarei uma bronca.

—Que os deuses te ouçam e te protejam.

A voz do amado sumiu, tal como o calor que ela sentia toda vez que conversavam por telecinese. Shion a amava e ela sabia disso, como sabia que Athena era misericordiosa e não tiraria sua vida:

—Ele viveu muita coisa, mas, ao mesmo tempo, não viveu nada...— pensou.

Mergulhada em lembranças de sua antiga casa, da sua chegada ao Santuário e de como começou a namorar Shion, adormeceu, ainda com os olhos marejados.

***

—Aqui estou, senhorita. – disse Shion, ajoelhando em reverência, sem se atrever a olhar para a deusa. Trajava uma longa toga branca ornamentada com bordados dourados e um elmo prateado. As vestes eram semelhantes as do Grande Mestre, apesar de que a função agora exercida por ele era outra: tornou-se mentor da subcomandante Sammyrah, a jovem esposa de Saga. – Sobre o que aconteceu...

—Cale-se, Shion! – sua voz foi firme, diferente do tom suave que a deusa normalmente usava. Neste momento, o ex-cavaleiro atreveu-se a erguer o olhar e visualizou as vestimentas de Saori: uma túnica dourada tão reluzente, que parecia ter sido tecida com fios de ouro. Os cabelos estavam presos em forma de trança e, na testa, usava uma tiara dourada – Eu não o chamei aqui para ouvir explicações. – suspirou – tampouco para puni-lo.

O tom de voz de Saori havia voltado ao normal. Em seu interior, Shion respirou aliviado, ainda mais quando a deusa estendeu-lhe a mão para que ele se levantasse. Feito isso, a deusa sorriu e prosseguiu falando:

—Estive conversando com Saga e... Hoje é aniversário de Marie

—Ela não me...

—Sim, ela não se lembrou. Saga acredita que ela perdeu a noção do tempo...

—Como a maioria dos que estão aqui há tanto tempo.

—Exato. – a deusa se sentou em um degrau da escadaria do templo e fez sinal para que o lemuriano fizesse o mesmo – Há seis anos, quando comecei a passar mais tempo aqui, isso quase ocorreu comigo. Por isso trouxe a tecnologia... Só que o caso da Marie é um pouco mais complexo.

—Como assim?

—Ela quis esquecer o tempo – respondeu Saga, entrando do recinto, enquanto retirava o elmo – Depois que eu... Bem, vocês sabem, fui dominado pelo mal e fiz o que fiz, Marie perdeu a vontade de viver. Teria feito igual ou até pior que Salomé se as outras Amazonas não a tivessem amparado.

—Eu não sabia que...

—Sim, Shion – Saori prosseguiu – O amor de Marie por você é muito forte. Quando revivi os outros e não você, ela ficou dias sem falar comigo... Até que fui questioná-la do porque do gelo. – a deusa fechou os olhos, e finas lágrimas escorreram. Depois de um breve silêncio, continuou...

#FLASHBACK ON#

“Ela nunca deixou de me chamar de Violeta, mas naquele momento, virou os olhos cheios de lágrimas e bradou:”

—Você não é mais a minha Violeta! Tornou-se uma patricinha egoísta. Por que meu tio Saga tirou tudo de mim? Até a minha melhor amiga?

—P-por que está falando assim comigo, Marie?

—Você trouxe todos eles de volta! TODOS! Menos Ele... Por que, Saori-san? – vociferou, aos prantos – Eu devia ter me aliado às forças de Hades... Este sim, me devolveu ele.

—Marie... – A essa altura, eu também estava chorando. Atirei meu báculo no chão e a abracei – Eu... Não sabia. Achei que...

—Achou que era apenas um capricho, não é? Mas não é, Violeta... Eu amo Shion com todas as minhas forças, com toda a minha vida. Era um amor improvável quando eu achava que ele tinha 50 anos e eu 13, tornou-se impossível quando descobri que ele, na real, tinha 251 anos e acabou quando meu tio louco tirou a vida dele! Quando eu o vi trajando aquela versão from hell da Armadura de Áries, quase fui ao Tártaro, jurar lealdade ao imperador Hades, com a condição de que ele me permitisse viver ao lado de Shion por toda a eternidade.

—Ma-Marie...

#FLASHBACK OFF#

—Foi nesse momento que compreendi tudo que ela sentia e te trouxe de volta a vida. – concluiu a deusa – Marie foi minha primeira amiga, mesmo com 10 anos de diferença de idade, e eu a admiro muito.

—Bom, e o que vamos fazer em relação ao aniversário dela? – questionou Shion.

—Primeiro saiba que o castigo é uma desculpa para ela não ver o que estamos armando – falou Saga – Não que ela não tenha errado, mas deixei passar dadas as circunstâncias. Saori, Aldebaran, eu e as Amazonas estamos cuidado dos preparativos aqui no Santuário. Vamos fazer uma grande festa. O Debas está no meio porque deu a melhor sugestão: uma festa junina.

—E o que diabo é isso?

—Uma festa típica do Brasil. Ele vai nos ajudar com a decoração e as comidas, que não fazemos a mínima ideia de como preparar.

—A única coisa que conheço do cardápio é pipoca – riu Saori – Agora você tem uma missão muito especial, Shion.

—E qual seria?

—Trazer Salomé até aqui.

—Mas ela...

—Sim. Minha irmã jurou nunca mais pisar no Santuário, mas essa é uma ocasião especial. Você, como grande amigo dela, irá convencê-la.

—Bem, a última vez que vi Salomé, eu tinha o quê? – contou os dedos e riu – 236 ou 237 anos... Bom, espero que ela me reconheça.

—Esse é o endereço da ultima carta que ela me enviou – falou Saga, entregando um papel dobrado a Shion – Creio que ela não tenha mudado de lá, pois ela protege um importante sítio arqueológico ao norte do Brasil.

—Então deve ser bem conhecida na região. Bom, eu vou logo... Athena.

—Já derrubei a barreira, Shion. – sorriu – Pode se teleportar, mas, na hora de voltar, terá que vir por fora, tudo bem?

—Sem problemas, Alteza. Até mais.

O lemuriano desapareceu no tempo-espaço. Localizar Salomé seria uma tarefa fácil, se levar em consideração o trabalho que teria para convencê-la a ir ao Santuário. Logo, chegou à cidade de São Raimundo Nonato, no interior do estado do Piauí. Cerca de 30 mil pessoas residiam no município, mas, como ele suspeitou, seria fácil encontrar Salomé:

—Ah, você fala daquela senhora grega, que trabalha lá na Serra das Capivaras... – respondeu-lhe o dono de uma banca de frutas, após o antigo patriarca lhe dar a descrição da amiga – É que aqui a conhecemos como Sara.

—Certo... E o senhor sabe onde ela mora?

—Claro. Ela mora duas casas após a farmácia no fim da rua.

—Muito obrigado.

Shion caminhou até o local indicado pelo homem, parando em frente uma simplória casa com portão baixo. No gramado, uma placa com os dizeres “Prof.ª Sara Georgiopoulos Henron– arqueóloga e historiadora”  o fez ter certeza de que era aquele o local. Tocou a campainha e aguardou ser atendido. Não demorou muito para que ela abrisse a porta. Apesar dos anos, não havia mudado muito, a única coisa diferente eram os cabelos azuis, que agora eram cortados tipo Chanel, diferente da época do Santuário, que eram longos e esvoaçantes, mas a pele permanecia bronzeada e os olhos vermelhos, iguais aos de Marie. Shion, que estava de boné preto, cabelos presos, calça jeans e camiseta branca, permaneceu de cabeça baixa:

—Pois não? – falou, limpando as mãos sujas de argila em um pano.

—Há quanto tempo... – ele ergueu a cabeça e sorriu – Salomé.

—Há anos ninguém me chama por esse nome... E nem fala comigo em grego. – falou séria, assumindo uma postura firme e sem se aproximar – O que o Santuário quer de mim?

—HUNF... Sabia que sua natureza de guerreira jamais desapareceria... E que você não iria me reconhecer.

—Acho que você é muito jovem... Mais jovem até que minha... DEUSES! ALGO ACONTECEU COM MARIE?!

—Hahahaha! – riu, tirando o boné – Bom saber que você se importa com ela. É justamente por isso que estou aqui.

—Esses sinais... Não é possível! Eu quero a receita para rejuvenescer assim, Shion!

Abriu o portão e abraçou o velho amigo. Um abraço apertado, carregado de saudade. Shion adentrou na casa da mãe da amada, e percebeu que pouca coisa nela havia mudado. Continuava apreciando a arte de fazer vasos e jarros de argila, gostava de pintar e a maior de todas as paixões, encontrar relíquias. Serviu um suco de cupuaçu, fruta típica da região, alguns biscoitos e sentou para conversar com o antigo cavaleiro:

—Acredita que eu estava pensando hoje no Santuário? – revelou, enquanto se livrava do avental que usava para proteger o vestido amarelo florido – Eu perguntaria como está tudo lá, mas acho que muita coisa aconteceu nestes anos, não é?

—Sim... De revoltas internas a guerras santas. Eu, por exemplo, morri e fui revivido duas vezes.

—E diz isso na maior tranquilidade? Hahaha... Agora entendo porque rejuvenesceu. Você tem o quê? 19, 20 anos?

—18, na verdade... Mas é só aparência. Por dentro ainda sou um vovô – riu e pensou bem se deveria contar sobre sua relação com Marie, mas achou melhor esperar.

—E minha Marie? Como ela está?

—É uma menina de ouro. – sorriu – Foi extremamente bem sucedida no treinamento e, devido uns acontecimentos no Santuário, quase assumiu a Armadura de Gêmeos, mas, por fim... Acabou como Amazona de Prata.

—Pavão, não é?

—Viu nas estrelas?

—Isso e muito mais, senhor Shion... – falou séria

—Do... Do que você está falando?

—Eu sei da relação de vocês dois, mas não me preocupo. Sei que você jamais irá magoá-la. Não é mesmo?

—Claro que não...

—Bom, mas acho que não viajaria tantos quilômetros apenas para pedir a mão da minha filha, não é?

—Não lembra que dia é hoje, Salomé?

—Sete de Jun-... DEUSES!

—Sim... A Marie faz vinte e oito anos hoje. E esse é o motivo de eu estar aqui... Devido a todos os acontecimentos, a Marie optou por esquecer-se do tempo. Ela não percebe mais o passar dos meses, ficando presa em um looping eterno, mesmo com Athena levando a tecnologia para o Santuário... Neste momento, Saga, Athena, as Amazonas e Aldebaran de Touro estão organizando uma festa junana... Festa janina...

—Festa Junina?

—Isso!

—Era uma das preferidas dela quando ainda morava aqui.

—Salomé... Eu sei que você jurou jamais voltar ao Santuário depois que o Heron pereceu, mas a Marie precisa de você nesse momento... Hoje estávamos conversando e ela estava chorando, enquanto lembrava-se de você.

A mulher hesitou. Olhou para um quadro na parede. Um retrato de Heron pintado por ela, já que não tinha uma foto sequer do falecido marido. Sentiu que era a hora. Virou-se para Shion e falou:

—Apenas me deixe apanhar algumas roupas e tomar um banho.

—Como quiser – respondeu sorrindo.

***

Horas mais tarde, no Santuário, boa parte da festa já estava organizada no Coliseu. As Amazonas dividiram-se em dois grupos. Um ficou responsável pela decoração junto com Athena e Saga e, o outro, ficou ajudando Aldebaran no preparo das comidas. A parte da decoração foi fácil, afinal o protetor da Segunda Casa Zodiacal ensinou-os a confeccionar as bandeirinhas coloridas e correntes de papel, além do vestuário. Entretanto, a parte culinária estava dando sérias dores de cabeça ao Brasileiro:

—Pelo amor de Athena, não pare de mexer isso! O peixe é frito, não queimado! Os ovos devem estar bem batidos, senão o quindim não fica legal... – falava, exausto. Teve que interromper o preparo de suas já famosas cocadas, para supervisionar as Amazonas. – Ai meu Padrin Padre Ciço! O que eu fui inventar?

—Tudo certo aí, Aldebas? – perguntou Saga, entrando na tenda onde estavam sendo preparados os comes e bebes. – Precisa de uma mão?

—Sim! Você sabe fazer bom bocado?

—O que é isso?!                                                                                                   

—Ai Saga... Num me leva a mal, mas tá complicado! É difícil ser o único brasileiro aqui...

—Bom, se você quiser a ajuda de uma grega naturalizada brasileira... Pode contar comigo.

Era Salomé, que havia chegado junto com Shion. A pedido do Ex-Grande Mestre, a pequena mochila trazida por ela foi levada a um soldado para a Casa de Áries. A irmã mais velha dos Gêmeos usava um vestido rosa claro e sandálias gregas:

—Olha, eu não sei quem você é, mas se souber alguma coisa de culinária brasileira, já me ajuda, visse?

—Essa é minha irmã mais velha, Aldebaran – apresentou Saga – Salomé.

—Na verdade, agora uso Sara, mas chamem-me como preferir.

—Debas, antes de você escravizar a irmã que eu não vejo há 28 anos... Será que eu posso, ao menos, abraça-la?

—Oxente, Grande Mestre! Claro que pode.

No exato momento que Saga entregou-se aos braços da amada irmã, Sammyrah, sua esposa, apareceu no local, com uma de suas extravagantes túnicas, essa preta e decotada, calçando sandálias douradas de grife com a amarração até as coxas da ruiva, que se destacavam na fenda de sua túnica e os rosários, misturados a um longo colar de ouro. Mesmo comandante do Santuário, a ruiva nunca se rendeu completamente aos costumes do lugar – nada daquelas cafonérrimas sandálias gregas, como ela sempre dizia:

—Hm, a decoração está um arraso, meninas. – elogiou, conforme passava pelas bandeirinhas coloridas – Quero só ver se as comidas ficaram realmente boas, Aldebaran. E agora cadê meu Saguinha? – Perguntou a Ruiva ao cavaleiro de touro, que sem graça respondeu.

— Éhh... Tá ali ó, Sammy – disse apontando para o ponto do Coliseu aonde Saga abraçava sua irmã. O taurino sabia como a esposa do Grande Mestre era ciumenta, então esperou para ver o que ia acontecer – Ali junto do Shion. – A ruiva girou no meio do Coliseu, até que o localizou, abraçado com Salomé, a ruiva respirou fundo, tentando se controlar, mas como não sabia de quem se tratava, foi logo se exaltando, caminhando pisando duro até onde o marido estava, sob os olhares de Aldebaran –Vixe! Que a coisa vai ficar preta! – disse o brasileiro se afastando

—SAGA DE GÊMEOS! Quem é essa S-I-R-I-G-A-I-T-A????

—Quem é você pra me chamar de sirigaita, criança?! – devolveu Salomé, soltando-se dos braços de Saga, colocando as mãos na cintura e vendo o irmão mais novo se agoniando.

—Sou a mulher dele, sua.... – Antes que a ruivinha terminasse a frase, Saga a calou com um selinho, sob as risadas de Shion e o olhar impressionado de sua irmã. – Antes que comece aqui uma batalha de mil dias... Sammyrah, essa é a minha irmã mais velha, Salomé ou Sara, como ela se chama hoje. Salomé, essa é Sammyrah, subcomandante do Santuário e minha esposa - disse abraçando a ruiva com um dos braços.

—Sua esposa?! – olhou surpresa – Mas ela deve ter metade da sua idade, Saga!

—Isso não impede muita coisa no Santuário... Lembre-se de sua própria árvore genealógica.

—Verdade... Bem, é um prazer conhecê-la. – Salomé olhou-a dos pés a cabeça e sorriu. – Posso te dar um abraço?

—Cla-Claro.

A ruiva ficou surpresa com o pedido da cunhada, mas logo o entendeu. Quando as duas se abraçaram, a mãe de Marie sussurrou algo em seu ouvido. Algo que a fez sorrir:

—Você gosta mesmo dele, né? Pra largar tudo que você largou... Estou impressionada, para ser uma garota tão jovem...

—É, eu realmente amo o seu irmão... – respondeu também em sussurros – O mocorongo nem sabe há quanto tempo...

—Mas não se preocupe! Vocês dois serão muito felizes juntos! – soltou-a e virou-se para Aldebaran – Bem, Touro... Vamos botar a mão na massa, no coco, no amendoim... Bora fazer essa festa funcionar!

Foram mais três horas até tudo ficar pronto. Completando o clima da festa, Salomé e Aldebaran improvisaram roupas de caipiras a todos, usando o velho truque do remendo em túnicas brancas ou vestidos floridos que algumas amazonas possuíam. Com tudo terminado e com uma grande fogueira no centro do Coliseu, coube a Saga buscar Marie.

***

Na Casa de Gêmeos, o único som que se escutava era a TV do antigo quarto de Saga, que estava alta o suficiente para esconder o choro de Marie. Quando Saga entrou no quarto, encontrou-a em situação decadente: enrolada em um lençol, comendo uma barra de chocolates que sabe-se lá Zeus como ela havia conseguido e, na TV, uma novela mexicana:

—Vista uma toga branca. – ordenou, mantendo a pose de sério – temos um evento no Coliseu.

—Como assim se vista e temos? – respondeu com desdém – Eu estou de castigo, lembra? Sou uma menina malvada que merece ser punida.

Saga inspirou profundamente e falou alto e autoritário:

—A cerimônia que será realizada no Coliseu está diretamente ligada a seu castigo. Então... Se eu fosse você, obedeceria a seu Grande Mestre.

—Ligada a mim?! – se levantou rapidamente e vociferou – Seu monstro! Você conseguiu! Vai mata-lo de novo, né? Mas agora, aproveite para fazer o mesmo comigo! Eu quero morrer junto com Shion.

—Que seja... Mas você irá de olhos fechados. – falou, sacando uma venda negra da manga da toga.

—Para quê me cegar se eu já sei quem será meu carrasco?! O carrasco que matou o pobre senhor Arles e o Grande Mestre. Se o meu pecado foi amar um homem mais velho, eu aceito minha culpa. – enxugou as lágrimas e o reverenciou – apenas aguarde que eu vista a roupa do sacrifício.

Saga sentiu pena da sobrinha naquele momento. Teve vontade de falar a ela o que estava acontecendo, mas tinha que manter o teatro. Não foram 5 minutos para que ela saísse de trás do biombo verde, usando uma túnica branca simples e os pés descalços:

—Vamos, Grande Mestre.

—Sim.

O patriarca amarrou a venda nos olhos e sua sobrinha e, segurando-a pelo braço direito, guiou-a por todo o caminho até o Coliseu. Lá chegando, as outras Amazonas em total silencio, colaram os remendos de tecido em sua túnica e pintaram seu rosto conforme as instruções de Salomé. A única coisa que Marie sabia é que estava perto de uma fogueira, pois sentia o calor da mesma. Pensou bem e nunca havia visto uma morte por fogo no Santuário. Sentiu-se então privilegiada por poder morrer como as “feiticeiras” da idade média. De repente, sentiu mãos femininas tocar-lhe o rosto. Pressentiu que fosse Saori e, não aguentando, falou entre os dentes:

—Traidora maldita...

—Será que sou mesmo?

—Essa... Voz...

E quando a venda foi sacada de seus olhos, estes se encheram de lágrimas como o que viram: uma grande festa junina, quase igual as que ela ia em sua pequena cidade, todos seus amigos caracterizados como caipiras gregos – se é que isso existia – e ali, diante de seus olhos, sua mãe. A mãe que ela não via há 15 anos. O abraço foi longo, apertado e cheio de lágrimas. Salomé colocou uma coroa de flores na filha e sorriu:

—Você sempre quis ser a noiva... Hoje vai ter a oportunidade.

E Shion saiu detrás de uma pilastra, caracterizado como um noivo caipira. O mais sexy noivo de quadrilha que Marie já tinha visto. Com um violino de Saori, Aldebaran iniciou a típica musica das quadrilhas brasileiras. Uma quadrilha que foi dançada totalmente sem ritmo pelos cavaleiros e amazonas, mas que valeu cada momento para Marie. Sem saber a quem agradecer por aquilo, abraçou o tio tão forte, que quase lhe quebrou o pescoço, porém foi surpreendida quando ele disse de quem realmente tinha sido a ideia da festa:

—Foi tudo graças a Senhorita Saori.

—Violeta...

A abraçou. O abraço sincero de duas amigas de tanto tempo. O amor puro da infância de Saori, que mal sabia que era uma deusa naquela época. O amor que Marie encontrou para suprir a ausência de casa, da mãe e dos amigos.

A festa varou a madrugada e só acabou porque o ultimo caldeirão de quentão feito por Aldebaran acabou. Todos voltaram para suas moradas, exceto Marie e Shion, que ficaram sentados nas arquibancadas do Coliseu olhando as estrelas:

—Então você sabia de tudo? – a morena perguntou, com a cabeça recostada no ombro do ariano.

—Na verdade, quando falei com você, realmente não sabia de nada. Achei realmente que ia ser punido.

—Sério?

—Eu não tenho porque mentir para você... Prometa-me uma coisa?

—O que, Shion?

—Que você jamais voltará a se desligar do tempo.

—Enquanto você estiver ao meu lado, eu apreciarei e lembrarei que cada milésimo de segundo.

—Hum... Eu te amo, Marie.

—E eu te amo mais, Carneirão.

Com a lua e as estrelas de testemunhas, os dois se beijaram ternamente, selando uma paixão que duraria por muito, muito tempo.


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