Coisas Quebradas escrita por Adriana Swan


Capítulo 18
Brienne de Tarth




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BRIENNE

Havia nevado boa parte da noite e a neve fofa deixava ainda mais difícil de andar.

Podrick e Brienne haviam arrumado suas coisas em seus dois cavalos e agora a mulher andava impaciente de um lado para o outro ao lado da carroça onde Umber estava sentado com semblante sombrio. O acampamento estava sendo desmontado por completo e em pouco tempo todos estariam prontos para partir.

"Se Jaime devolver Stark aos Freys eles vão mata-lo", pensou angustiada. "Pior, vão torturá-lo e humilhá-lo até quebrarem o garoto. Não posso permitir. Devo isso a Lady Catelyn."

De todo o acampamento Lannister, a última tenda que faltava ser desarmada era a dos oficiais, Devan e Jaime, e era justamente para essa que se dirigiam os mesmos seis Freys que estiveram em conferência com eles na noite anterior quando decidiram partir. Eles vinham muito satisfeitos consigo mesmo pela ideia de poder sair daquele inferno gelado. Aproximaram-se da tenda no exato momento em que Jaime e Devan saiam.

— Sor Jaime – Ryman Frey adiantou-se, sorridente. – Prontos para partir? Viemos buscar nossos prisioneiros. Devemos seguir estradas diferentes na volta.

Brienne olhou para Lord Umber, ainda sentado na carroça, com um aspecto feroz. Não parecia nem um pouco inclinado a voltar a tutela dos Freys. "Mas é só um homem, e Stark um garoto frágil. Os Freys são centenas e os Lannisters não se importam com eles. O que podemos fazer?".

— Devan vai acompanha-lo até as Gêmeas – Jaime respondeu, parecendo bem mais tranquilo que na noite anterior. – Ambos os exércitos deverão fazer o caminho juntos até lá. Nas Gêmeas deverá entregar Roselyn Frey a meu primo e ele providenciará para que seja levada em segurança por uma escolta de vinte de nossos melhores homens até Rochedo Casterly.

Os homens pareceram confusos.

— Minha irmã deve permanecer nas Gêmeas.

— Deve lembrar que prometi a Edmure Tully que permitiria que sua esposa e filho fossem ficar com ele em sua prisão em Rochedo Casterly, caso rendesse o castelo. A Casa Frey aceitou esses termos, – Jaime ergueu as sobrancelhas com fingida surpresa – Não pretendem honrar sua palavra? Honraremos a nossa.

Ryman coçou a barba rala e sem graça.

— Falaremos com papai a respeito.

— Estou certo que ele entenderá.

Os Freys pareceram desconfiados com aquilo, mas não insistiram no assunto. Ryman continuou a frente.

— Peguem Lord Umber e coloquem correntes de volta em seus pulsos. O prisioneiro está na carroça?

— Na verdade, pretendo continuar o plano inicial – Jaime falou, como se não desse importância ao que dizia. A mão de Brienne se fechou sobre o punho da espada quando dois dos Freys se voltaram para a carroça onde ela e Umber estavam. – Devan, traga o garoto. Seus irmãos esperam pelo prisioneiro em Winterfell, Sor Ryman.

— Ao inferno com Winterfell – Ryman praguejou – não pretendo morrer tentando chegar ao Castelo. Vamos voltar para as Gêmeas conforme requisitado.

— Uma missão não anula a outra – Jaime explicou, parecendo paciente, enquanto Devan voltava da tenda trazendo Stark pelo braço, com capuz na cabeça. A essa altura, metade do acampamento Lannister estava reunido ao redor deles, ciente de que algo importante acontecia. – Devan levará o exército Lannister para Porto Real, o exército Frey voltará para as Gêmeas. Está mais do que claro que jamais chegaríamos a Winterfell nessa marcha, mas uma pequena escolta de uns vinte homens experientes nos daria agilidade e velocidade o suficiente para levar os prisioneiros até seus irmãos, conforme requisitado.

— São prisioneiros da Casa Frey – repetiu o homem, irritado com o loiro. – Vão voltar as Gêmeas comigo.

Brienne sentia o sangue pulsar tão quente em suas veias que até o frio parecia menor. Jaime estava tentando manter Stark longe dos Freys? Ainda estaria tentando cumprir sua promessa e proteger o rapaz? O rapaz estava parado ao lado de Devan, quieto, a mão do Lannister ainda repousando em seu braço.

— Tenho ordens expressas de levar o prisioneiro até Winterfell.

— Então leve Lord Umber se quiser – Ryman falou, seus olhos indo dos nortenhos para Jaime – o rapaz volta conosco.

— E de que serve o garoto sem Umber? - Jaime riu, cético. – Seria só mais um rapaz qualquer. Ninguém acreditaria em sua identidade e ele perderia o valor como prisioneiro.

— Sempre achei que esse prisioneiro teria mais valor com a sua cabeça na ponta de uma lança – Frey falou, destilando veneno.

— E terá – o Regicida concordou, com um sorriso calmo. – E essa lança será colocada sobre os muros de Winterfell.

— Então cortemos sua cabeça agora e a leve em um saco – falou outro dos Freys.

— Foi para isso que seu pai o manteve em correntes por meses e meses? – Devan perguntou. Brienne sempre achara Sor Devan um homem jovem e imponente, perigoso como todos os grandes nomes dos Lannisters pareciam ser. Era um dos poucos que tentava enfrentar a neve com determinação junto a Jaime, mas naquela manhã parecia diferente. Tinha profundas olheiras e os ombros curvados de cansaço como se tivesse passado a noite em claro. – Achei que seu pai havia sido sábio para não mata-lo no casamento. Sempre há coisas a se fazer com homens como Lord Edmure Tully, Lord Jon Umber, ou esse prisioneiro, como seu pai bem sabe. Qualquer um dos três ficaria muito bem com a cabeça numa estaca na noite do Casamento Vermelho. Mas Lord Walder Frey poupou os três por sua misericórdia... e porque suas cabeças vivas podem valer mil estacas de outras. Os senhores sabem que os Boltons tem Winterfell por casamento. E graças ao mensageiro das Gêmeas, sabemos que Stannis tem um exército marchando para o Castelo e que o Lord Comandante da Patrulha da Noite desertou da Muralha com dez mil selvagens. – Devan fez uma pausa, a mão segurando mais forte no braço de Stark, suas palavras eram altas o suficiente para todos os homens ao redor assistindo o ouvirem. – Se Stannis ganhar, o Norte se fortalece. Se o Lord Comandante ganhar, o Norte se fortalece. Quando estiverem fortes o suficiente, de quem vocês acham que eles viram atrás? Da Casa Lannister? Do Rei Tomem? Vocês mataram três mil e quinhentos nortenhos num banquete de casamento.

A mão de Brienne se fechou com mais força sobre o punho de Cumpridora de Promessas. Três mil e quinhentos nortenhos num banquete de casamento, entre eles, Lady Catelyn, a mulher que a salvara; entre eles Robb Stark, o rapaz que chamavam de seu Rei e Senhor. Os Freys pareceram desconfortáveis, enquanto o exército Lannister ao redor deles observava. Não eram homens que lamentassem a derrota do Norte, mas muitos eram homens que consideravam as leis de hospedagem sagradas, assim como a lealdade a seus senhores. Eram homens que não gostavam de traidores.

— Reféns valem mais do que os mortos – Jaime falou, continuando o argumento do primo. – Como refém em Winterfell pode fazer o ex-Lord Comandante se ajoelhar. Vivo, Stannis jamais terá o Norte. Porém temos que chegar a Winterfell antes que Stannis...

— Nas Gêmeas... – um dos Freys recomeçou, mas Devan o cortou, impaciente.

— Nas Gêmeas foi dado como morto – falou irritado. – Ninguém acreditará que está vivo enquanto estiver escondido lá.

— Então contaremos a todos.

— Exibiu um corpo e disse ser o dele. Precisará de mais do que sua palavra para convencer Westeros do contrário.

— Então que seja a palavra dos Lannisters – Ryman falou erguendo a voz e abrindo os braços teatralmente para chamar mais ainda a atenção dos exércitos que agora formavam sua plateia – Vamos, senhores, Sor Devan e Sor Jaime não contaram a vocês quem é a puta que estão arrastando desde as Gêmeas? Não contaram a vocês quem é o demônio sob o capuz?

Umber desceu da carroça, se pondo de pé ao lado de Brienne, enquanto Podrick alcançava o punho da própria espada no coldre. De pé próximos a carroça, a garota podia ver os dois fora da lei, junto aos dois soldados Lannisters que escoltaram os nortenhos até a árvore coração no outro dia. Eram os guardas de confiança de Jaime e Brienne pensou se estariam ali para ajuda-la ou impedi-la de agir. Todas as outras atenções estavam presas a Ryman Frey, quando ele avançou até Devan e puxou o prisioneiro pelo outro braço e afastando de Jaime e o primo e o levando até perto dos outros Freys.

— Vamos lá, vocês ouviram seus senhores – Ryman provocou – eles querem que todos saibam. Uma passagem de volta ao sul para quem adivinhar qual o nome do demônio.

— Bryden Tully! – alguém gritou do meio da multidão, e alguns risinhos foram ouvidos e abafados.

— Errado, mas foi uma boa aposta. – Ryman ria, segurando Stark pelo braço. O rapaz estava acostumado a andar cegamente com o capuz por tempo o suficiente para não vacilar. A situação dessa vez era diferente de quando saíram das Gêmeas; dessa vez Stark não estava amarrado ou fraco demais para se manter de pé. – Vamos, senhores, quero nomes!

— Pequeno Jon Umber – alguém falou da segunda fileira e ninguém riu dessa vez.

— Errado de novo –Ryman riu, uma risada distorcida mostrando dentes ruins, que ninguém acompanhou. – Pequeno Jon Umber está morto. Morreu como um cão, chorando e implorando como um covarde.

Grande Jon deu um passo involuntário na direção deles, mas parou. Seu ódio era tão forte que era praticamente palpável para Brienne e Podrick a seu lado, e os contagiava.

— Vamos lá, façam suas apostas – Ryman quase gritou.

— Eu sei quem é – uma voz baixa saiu da primeira fileira, e Brienne reconheceu vagamente o rapaz tímido que falava de cabeça baixa. Blackwood.

— Então diga o nome antes que eu puxe seu capuz e ganhe uma passagem de ida para o sul – o Frey segurou o capuz com força, mas não o puxou, com certeza pegando o cabelo do rapaz junto com a intenção de causar-lhe dor, mas o garoto não reclamou. – Gosta disso? – falou para o prisioneiro enquanto puxava mais forte. – Prisioneiro-sem-nome. Você perdeu tudo, até a merda do seu nome. Era um nome de merda mesmo. – Voltou-se a Blackwood. – Fale, rapaz. Ganhe seu prêmio.

— Se é uma aposta, quero mudar os termos – Blackwood falou, olhando para Jaime, em busca de aprovação. – Se for quem penso, quero ser um dos vinte na escolta do prisioneiro.

Jaime deu um leve sorriso, despreocupado. Brienne lembrava de vê-lo tenso na saída das Gêmeas quando humilharam Stark, podia sentir que estava do mesmo lado que ela naquele dia. Hoje ele estava diferente, calmo, parecendo muito menos amuado com a situação do que Devan. Será possível que não se importasse mais com o destino de Stark?!

— Se acertar, fará parte da escolta – Jaime prometeu.

Blackwood ainda pareceu hesitar um pouco, e quando finalmente falou, sua voz ainda era cheia de dúvidas.

— Os Freys o chamam de demônio – começou, todos olhando dele para o prisioneiro. – Os Lannisters o chamam de garoto. Ele é importante para os Freys, para os Lannister, para Stannis e para o Norte. Sor Devan disse que foi dado como morto e um corpo exibido a todos. Lord Umber o obedece e só existe uma única pessoa no Norte que esteja acima da Casa Umber. Este deve ser Robb Stark.

Ninguém riu, ninguém comentou nada. Aquele era sem dúvida um nome que não havia passado pela mente de mais ninguém e mesmo o ouvindo, era difícil de acreditar.

— Incrível. Senhoras e senhores – Ryman riu, um riso quase insano de luxuria – eu vos apresento o Jovem Lobo, Robb Stark.

Ryman puxou o capuz.

Robb Stark estava muito diferente do que Brienne esperava. O rapaz estava de pé, uma postura ereta e altiva, própria de pessoas de alto nascimento. Seus olhos se adaptaram a luz como os de um predador, seu cabelo bagunçado pelo capuz trazia um toque selvagem, mas havia algo mais que Brienne não havia visto antes. Desde o primeiro dia percebera o quanto era bonito, mas  um garoto bonito, capaz de arrancar suspiros de doces donzelas, pois o vira também como um garoto frágil e doente. Ele se recuperara. Nesse momento, Stark se erguia como um Lord, os cabelos vermelhos herdados dos Tully tão vivos e intensos, a barba disfarçando a juventude, e um rosto bonito o suficiente para ser inesquecível. E Brienne sabia muito sobre homens bonitos, já conhecera o Cavaleiro das Flores, seu amado Renly Baratheon... e Jaime, Sor Jaime Lannister. Todos homens de arrancar suspiros (muitas vezes dela mesma), mas Stark... Stark tinha outro tipo de beleza. Uma beleza selvagem que o envolvia como uma áurea. Devia ser o mesmo tipo de beleza surreal que fizera Rhaegar Targaryen sequestrar Lyanna Stark e começar uma guerra. Não se tratava do rosto, da postura ou do nome, havia algo no sangue Stark, algo antigo e divino.

Os olhos azuis de Stark percorreram a multidão ao redor dele, lentamente. A multidão o olhava de volta e Brienne percebeu que eles o viam da mesma forma que ela via. Robb Stark não precisava de uma coroa para que as pessoas sentissem estar na presença de um Rei.

— O Rei no Norte! – Ryman prosseguiu, e só os Freys riram. O exército Lannister observava Robb com um misto de curiosidade, surpresa e fascínio. – Um Rei que perdeu a coroa, o castelo e o exército. Não é mais rei de porra nenhuma. Não é mais Lord de porra nenhuma.

Stark encarava Ryman e seus olhos eram frios e inquietantes. Os insultos de Ryman pareciam não ter nenhum efeito sobre ele.

— Você não tem nada a dizer? – ele falou, impaciente por não conseguir causar no rapaz o efeito que desejava. – Heim? Vossa graça?

Com essas palavras sarcásticas, Ryman deu um tapa no rosto de Robb.

Brienne deu um passo involuntário em direção a eles, mas sentiu seu braço ser segurado firmemente. Quando se voltou, viu um dos dois solados de confiança de Jaime a segurando enquanto balançava a cabeça deixando claro que ela não devia agir, a mão dele sobre o cabo da própria espada. Do outro lado, ela podia ver o outro soldado com a mão sobre o ombro de Podric. Os dois fora da lei pareciam mais chocados que todo o restante com a identidade de Stark, embora parecessem tão indignados quanto Brienne pela forma que o Frey o estava tratando. "Esses são homens de Lady Catelyn depois que virou Lady Stoneheart", pensou, "não são homens para aceitar tamanha injustiça".

O único no grupo ao redor da carroça que não se mexera foi Lord Umber, mas seus olhos brilharam com uma intensidade tão insana que seria capaz de matar aquele homem pequeno a sua frente com as próprias mãos. Ryman havia acabado de desonrar o nome de seu filho de sangue, e agora humilhava seu filho de coração.

Ao voltar a olhar a cena a sua frente, Brienne viu que Stark havia fechado os olhos e os punhos, mas não fizera nenhum outro movimento. Quando abriu os olhos azuis de novo, estavam frios como antes, só um pouco mais desafiadores.

— Estou certo que Stark adoraria continuar ouvindo sua opinião sobre seu reinado ruim, mas estou congelando – Jaime falou, dando de ombros, despreocupado. – Temos que partir.

— Não vou deixar que o tire de minha tutela – Ryman insistiu, decidido.

— Nunca pensei nisso – dessa vez Jaime parecia mesmo satisfeito com o rumo das coisas. – É seu prisioneiro, a honra é mais sua do que minha. Vinte dos meus melhores homens, vinte dos seus, e partiremos para Winterfell imediatamente.

Os Freys com certeza não gostaram da ideia. Seguir em meio a neve era a última coisa que pretendiam fazer.

— Ele não – a voz de Stark soou baixa e dirigida a Jaime.

— O que você disse? – Ryman falou, olhando de Robb para Jaime, um sorriso contorcido de deleite. – Você não quer que eu vá? Você tem medo de mim?

Stark evitou encará-lo, embora mantivesse a cabeça erguida, deixando Brienne confusa. A julgar pela postura do rapaz, a garota diria que Stark não tinha medo de nada.

— Não, eu só... – o garoto hesitou, procurando palavras - ... eu só preferia que fosse algum de seus irmãos.

Num movimento rápido, Ryman deu um segundo tapa acertando em cheio o rosto de Stark. Isso foi demais para Brienne e os outros que partiram para cima dos Freys. Com um soco no pulso do soldado Lannister ela se livrou da mão no braço dela, soltou Cumpridora de Promessas da bainha e deu seu primeiro passo a frente junto a Podrick.

— Não.

Lord Umber colocou o braço no caminho de ambos os impedindo de avançar. Todos haviam visto os movimento deles para interferirem e vários homens Lannisters, assim como os Freys, levaram as mãos as armas, mas não fora isso que fizera Umber pará-la. O "não" viera de Robb Stark. Por um momento, Brienne pensou que o rapaz se dirigia a Ryman Frey, que o humilhava, mas não, ele tinha a mão erguida em direção a Lord Umber num gesto claro de que ele não devia interferir. Seu olhar fuzilava Grande Jon com tamanha intensidade que mais uma vez ela só podia imaginar que o sangue Stark tivesse algo de régio e divino. O "não" era uma ordem. Em seguida, Robb baixou a mão e voltou a se dirigir a Ryman, ainda parado na frente dele e agora com a mão sobre o cabo da espada.

— Eu só... – Robb mais uma vez hesitou, escolhendo as palavras com cuidado - ...só estou cansado de ver tanto sangue derramado. Você deve entender...

— Me chame de sor, quando falar comigo, rapaz – Ryman ralhou, olhando desconfiado para Brienne que havia tirado metade da lâmina da bainha.

Stark engoliu em seco antes de continuar.

— Deve entender, Sor... – falou, sua voz demonstrando um toque de irritação contida – ...que estou cansado.

As palavras foram o suficiente para trazer toda atenção de volta a ele. Ryman deu mais um passo, chegando tão perto de Stark que devia poder sentir seu hálito. Robb manteve seu olhar mesmo assim.

— Eu vou leva-lo a Winterfell pessoalmente, moleque,- Ryman falou – e não há nada que você possa fazer para impedir isso. Vou entrega-lo a Ramsay Bolton pessoalmente. E quando Ramsay estuprar sua irmãzinha na sua frente, eu vou estar lá, rindo de você.

Os olhos de Robb eram tão frios que era impossível dizer o que estava pensando. Ele inteiro emanava frieza.

— Você não passa da porra de um covarde – Ryman falou, dando o terceiro tapa no rosto de Robb.

Brienne mais uma vez fez menção de se mover, mas Grande Jon colocou a mão sobre a dela, bem mais calmo que antes.

— Guarde seu aço, Lady Brienne – ela não podia entender como ele podia ficar calmo diante de tamanha humilhação com alguém que ele dizia gostar.

— Sete infernos, essa viagem vai ser algo realmente inesquecível – Jaime riu, claramente divertido com a forma que Robb era humilhado – Concorda comigo, Stark? Aposto que sim. Aos cavalos, senhores. Aqueles que forem comigo a Winterfell, partimos em uma hora.

Os Freys concordaram com a cabeça, amuados, e saíram a contragosto para reunir seus vinte homens. Os de Jaime começaram a se destacar do círculo como se já esperassem por isso, o que fez Brienne pensar que talvez tivessem sido avisados bem mais cedo que fariam parte da comitiva dos vinte. Não pôde deixar de reparar que eram os homens mais próximos a Jaime, não necessariamente os melhores. Nenhum cavaleiro, mas todos homens leais ao Regicida.

A garota se voltou para Umber de cara amarrada.

— Como pode ficar tão calmo depois de vê-lo apanhar?

— Ele ordenou – Grande Jon falou, observando enquanto o garoto era levado para o meio dos soldados Lannister que se reuniam. Mantinha a cabeça erguida, alheio ao interesse que os soldados pareciam demonstrar nele.

— Mas você não pode...

— Eu o conheço melhor que você – o Lord a cortou, cruzando os braços e se encostando na carroça, demonstrando muito mais calma do que ela podia esperar naquela situação. – Stark só é subestimado quando quer. Ele me mandou não interferir. E não vou.

Brienne rangeu os dentes, a raiva fervendo em seu peito. Olhando ao redor podia ver que não só Podrick compartilhava o mesmo sentimento de raiva, mas também os dois fora da lei. "Ótimo", ela pensou, "agora tenho certeza que estamos do mesmo lado". Aquele pensamento a acalmou um pouco mais.

X

Partiram simultaneamente depois de três horas, o exército seguindo Sor Devan para o Sul, quarenta homens formando uma escolta seguiram para o Norte, vinte soldados Freys e vinte Lannisters, além dos dois prisioneiros, os dois fora da lei, Jaime, Podrick e Brienne. Não levavam carroças, tudo que podiam carregar ia a cavalo, mas nesse primeiro trecho foram a pé puxando os cavalos pelas rédeas em meio as árvores. Brienne levou algum tempo para reconhecer que marchavam pelo caminho em meio ao bosque onde haviam rezado a árvore coração. Brienne, Podrick e os fora da lei, caminhavam bem no meio da comitiva, acompanhando Lord Umber como se montassem sua guarda pessoal. Desde o momento que revelaram a identidade de Stark, o garoto era mantido a frente, cercado por uma guarda Lannister bem armada que tanto poderia protegê-lo quanto mata-lo se fosse preciso.

Antes da metade do caminho já não podiam ouvir barulho nenhum, parecendo terem se distanciado uma vida dos dois exércitos marchando na direção oposta. Vinte homens Freys não seriam difíceis de vencer, mas Brienne não sabia o que pensar dos vinte Lannister, apenas sabia que eles não ficariam de braços cruzados. Se tomassem partidos pelos Freys, com certeza Stark estaria morto antes que pudessem chegar até ele.

Quando finalmente chegaram diante da árvore coração, a marcha parou. Jaime anunciou uma parada de meia hora e ordenou a seus homens que deixassem o Jovem Lobo rezar a seus deuses em paz. Robb se ajoelhou diante da árvore branca, enquanto os mantos vermelhos se dispersaram, indo prender seus cavalos ou cuidar de suas armas. Os Freys não tiveram o mesmo bom senso e acharam uma ótima oportunidade de se aproximarem de Stark, que estava sozinho pela primeira vez naquele dia. Pelo menos metade dos Freys estava ao redor dele, enquanto os outros se sentavam com as costas encostadas nas árvores próximas para assistir. Ryman, como sempre, era o da frente, parecendo muito divertido em ver um rei de joelhos e poder zombar de sua fé.

— Brienne – Jaime a chamou se aproximando.

A garota cruzou os braços emburrada, assim como todos de seu pequeno grupo. Os cinco se viraram para Jaime que se aproximou o suficiente para que só eles o escutassem.

— Que foi? – ela perguntou irritada com ele – Se veio me mandar guardar meu aço, perdeu a viagem.

— Muito pelo contrário, - Jaime sorriu, tranquilo, - acho que Cumpridora de Promessas tem esse nome por um motivo. Você sempre carrega duas espadas.

— A minha e a sua – ela respondeu franzindo o cenho.

— Dê-me Cumpridora de Promessas e fique próxima a Lord Umber.

Brienne trocou um olhar confuso com Podrick. Umber estreitou o olhar por alguns segundos, e um sorriso começou a se formar em seus lábios.

— Do que diabos você está... – a garota começou a questionar Jaime, mas a voz de Stark a interrompeu.

— Sor Ryman – Stark falou se erguendo de suas preces silenciosas. – Posso lhe pedir um favor?

— Porquê? Seus deuses não respondem a suas orações? – respondeu Ryman. Deviam estar a pelo menos dez metros de Brienne e companhia, e havia uns dez Freys entre eles.

— Em nome das vezes que lutamos lado a lado, gostaria de pedir a honra de uma morte limpa – Stark continuou, ignorando a provocação a seus deuses. – No Norte nós decapitamos aqueles que estão condenados. Uma morte rápida e sem dor. Acho que me deve isso.

— Eu não te devo porra nenhuma – Ryman respondeu.

A garota notou pela primeira vez a movimentação dos soldados Lannisters. Jaime havia dito que deveriam dar espaço para Stark rezar em paz, mas agora ela via que os homens não haviam realmente se dispersado. A maior parte deles parecia distraída, mas estavam estrategicamente próximos aos Freys, cada um razoavelmente próximo a algum deles, e suas ocupações variavam de limpar distraidamente suas espadas ou mexer nas bagagens onde estavam guardadas.

— Depois de tudo que aconteceu, você poderia... – Stark começou com a voz calma, embora todos pudessem ouvi-lo.

— Me chame de Sor, garoto, - ralhou falando alto e dando um passo para mais perto de Stark, o que fez Robb recuar um passo automaticamente, na defensiva, provavelmente com medo de apanhar de novo. Isso claramente divertiu Ryman. – Você é um merda de um covarde mesmo.

O rapaz manteve a cabeça erguida, mas nada respondeu.

Os Freys riram e o sorriso feio de Ryman Frey voltou a se abrir maior que antes, como se o medo do rapaz o deleitasse. Jaime tirou Cumpridora de Promessas da cintura de Brienne com bainha e tudo, e caminhou a passos calmos para onde Robb estava. Ela reparou que nenhum dos soldados Lannisters riu.

— Tem medo de morrer? – Ryman riu, dominando a situação. – Você sabe o que Ramsay Bolton fará com você? Sabe sim. É por isso que está com medo – a atenção dos Freys em Stark era grande demais para perceberem as movimentações sutis dos Lannisters. – Ele gosta de esfolar pessoas. Arrancar seus dedos. Estuprar mulheres. Aposto que estuprará sua irmãzinha na sua frente. Como é o nome dela mesmo? Arya Stark. Ela foi jurada em casamento a um Frey antes de você quebrar sua promessa. Ramsay vai estuprar sua irmãzinha Arya na sua frente, e talvez ele até nos deixe participar também. Poderíamos nos revezar entre as pernas de sua irmã enquanto você assiste – o riso dele era cruel – e depois, depois você vai morrer, mas bem devagar e com muita dor. Eu escolheria uma faca afiada e te mataria como a um cão, enfiando ela aqui – ele encostou o dedo enluvado na barriga do garoto e foi subindo devagar marcando o local em que a faca imaginária passaria. – E subiria bem devagar te ouvindo chorar como uma puta até morrer. Como um cão. E quando tiver terminado, mijarei em cima de seu cadáver.

O garoto continuou olhando para Ryman Frey por alguns segundos, absorvendo cada palavra que lhe fora dita. Stark deu um longo suspiro antes de continuar.

— O problema, Sor Ryman, é que eu não sou um cão – Robb falou, o olhar assumindo um tom profundo e perigoso. – Sou um lobo e lobos não tem medo de ratos.

— Ora seu...

Ryman mais uma vez deu um tapa em Robb, ou pelo menos tentou, mas dessa vez o rapaz segurou seu pulso em pleno ar num gesto rápido e firme. Os Freys pararam, estáticos, como se não pudessem assimilar a ideia de que um prisioneiro pudesse se defender.

— Você vai morrer – Stark falou, ainda segurando o pulso de Ryman – devagar e com muita dor. Vou enfiar uma faca afiada em sua barriga e te abrir ao meio enquanto chora feito uma puta. Eu juro pelos deuses antigos que você vai morrer como um cão.

Ryman puxou a mão se soltando de Stark e dando um passo para trás incrédulo com tamanha afronta.

— Seu moleque – falou cuspindo as palavras – quem você pensa que é...

— Sou Lord Stark de Winterfell – Robb olhou ao redor onde mais de quarenta soldados o cercava. – Matem todos.

O queixo de Brienne caiu quando os soldados Lannisters obedeceram a ordem de Robb Stark.


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