O Garoto da Casa Verde escrita por Giihcoruja


Capítulo 7
O Garoto da Casa Verde VII




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 Estava em frente a um espelho enorme, a cabeça estava tonta e a visão embasada, parecia que tinha acabado de acordar de madrugada sem ter tempo de dormir, estava pálida em frente a imagem, tinha enormes olheiras de sono, minha mão estava gelada e tremia a ficar arrepiada da cabeça aos pés.

Fui me aproximar, esticando aos poucos o braço, curiosa como era queria sentir a textura do vidro, saber se tudo aquilo que estava vendo era real, quando eu toquei a pequena ponta da unha e no mesmo momento senti faltar o chão aos meus pés, eu entrei em pânico sentindo o sangue das minhas veias gelarem mas estava tão fraca de gritar ou ter qualquer reação, que eu me deixei cair no escuro no limbo infinito.

Era exatamente como esses pesadelos que estava tento durante essa semana sem a falta do meu pai, acordava toda a madrugada gritando e suada, tento que a minha mãe me acordar todas as vezes.

No dia seguinte em que o diretor me contou que meu pai tinha morrido, minha mãe estava providenciando tudo para o enterro daquela tarde, mas mesmo parecendo ser forte, madura para lidar com aquilo tudo olhava para o semblante da minha mãe e sabia, que por dentro assim como eu ela estava destruída, alguém muito importante nas nossas vidas foi tirado, era como se tivessem levado uma parte de nós mesmas embora.

O que mais me irritou foi ver pessoas que mal conversavam com o meu pai, pessoas da cidade que mal se importavam com ele ali, pessoas que nem eu gostava, mas antes de sair de casa a minha mãe falou para mim antes de sair pela porta:

—Filha, sei que esses momentos estão sendo muito difíceis como é para mim, mas temos que ser gentis com as pessoas hoje, seja forte o máximo que poder vão querer nos consolar, então pense duas vezes antes de falar qualquer coisa hoje.

E foi o que eu fiz, contava até dez  ao respirar, quando eu via alguém que não tinha o por que de estar ali.

No meio da tarde quando estava perto do enterro, eu me sentei num banco perto do caixão fechado, a minha mãe não queria que vissem meu pai queimado, pois ele tinha deformado um pouco que a maquiagem não conseguiu disfarçar.

Eu senti o peso nos ombros naquele momento que eu me sentei, senti a dor nos pés com o salto alto preto que tinha colocado, não estava acostumada com o salto, meu vestido grudava em alguns lugares e incomodava por ser curto.

Mas naquele momento só sentia a dor que sentia nos ombros e nas costas, por alguma razão sentia cheiro de queimado, e aquilo me fazia sentir ânsia e vontade de chorar.

Justo no momento em que achei que iria chorar e perder o controle de mim mesma, ele apareceu, mas eu só senti quando ele estava ao meu lado com um terno preto e os cabelos loiros em gel, ele passou um dos seus braços ao redor do meu ombro e simplesmente disse:

—Eu sinto muito Clara, mas isso tudo vai passar.

Eu tirei o rosto que estava enterrado nas minhas mãos, olhei para ele seria e ele estava ali calmo com seu sorriso de dentes alinhados e suas covinhas que eu sempre admirei.

Na minha cabeça, pensei em gritar com ele, em ser grossa e dizer que ele não sabia o que eu estava pensando e que estava errado. Mas eu via aquele sorriso tranquilizador na minha frente e a vontade de falar sumia na mesma hora, quando eu fui agradecer ele me interrompeu ao dizer:

—Você não precisa me agradecer. Eu passei pelo mesmo, acho que não percebeu mas no começo no ano passado o avô que eu amava muito por parte de pai morreu de velhice, diziam que foi pro causa decorrente do Alzheimer, mas o fato era que ele foi um segundo pai para mim e isso foi muito difícil, mesmo sendo novo, nos primeiros meses foi difícil mas no final do ano eu já tinha me acostumado e fiquei bem.

Ele abraçou mais forte depois que falou, respirou um pouco forte, parecia segurar o choro ou parecer mais corajoso para mim, não sabia o motivo, eu simplesmente olhei para o chão sentindo seu braço ao meu redor e não falei nada,simplesmente retribui o abraço envolvendo meus braços aos dele, então depois de alguns segundos ele simplesmente falou:

—Quando você menos esperar, vai restar apenas saudades do seu pai e você estará bem.

 Muitas pessoas no mundo, perdem seus entes queridos, a morte é algo normal na vida das pessoas, sei que muitas pessoas na vida perdem mães, as vezes os pais, tios na vida, sei que graças a Deus era abençoada por ter a minha mãe. Vivi toda a minha infância com dois pais apaixonados que eram apesar do duro trabalho que tinham e hospitais para atender, era bonito ver os dois juntos, abraçados e se beijando, eu via entre os dois passar de uma paixão a uma verdadeira amizade. E eu me sentia agradecida por ter os melhor pais do mundo, nunca me deixavam faltar nada e eles me mostravam a realidade da vida, me levavam em orfanatos, iam comigo nas ruas levar comida e edredons aos sem teto, via crianças internadas em seus hospitais, eles nunca escondiam nada de mim, só coisas que poderiam ser chocantes para mim eles chegavam, a conversar comigo antes que eu visse.

Agora que o meu pai morreu, e que não era mais criança, já era adolescente e uma aparte adulta em mim diziam para que eu madurecesse. As duas primeiras semanas que se seguiram não tive coragem de ir para a escola, na verdade não estava nem um pouco bem e a minha mãe me entedia, mas sempre vinha ver como eu estava e falava que eu precisava encarar a verdade, e voltar para o colégio e estudar.

Não tinha mais bons sonhos, sempre os pesadelos me atormentavam as imagens do enterro,  do meu pai em baixo de um pano, em seu terno preto, com um girassol nas mãos, a madeira do caixão se fechando em cima, os homens, tios e meu avô que tanto amava o seu filho carregando aquele pesado caixão no meio no caminho até o barraco onde iria ficar para sempre.

Minha mãe sempre vinha ouvindo meus gritos de agonia e tristeza a me acordar, ela simplesmente, me pegava em seus braços, encostava a minha cabeça em seu peito, sentindo suas lagrimas no meu cabelo ela dizia com amor:

—Já passou filha. Xii... A mamãe está aqui.

Era quase todas as noites, me pegava desenhando sempre a mesma coisa, o girassol sendo envolvido com seus dedos frios e cálidos pela morte.

Foi a minha primeira vez que tinha ido a um enterro, foi chocante para mim ver o meu pai daquele jeito, cheirar fumaça de cigarro no meio de pessoas que nem se importavam realmente com o meu pai e com a nossa família.

Momentos em que eu me lembrava para tentar desviar dos pesadelos, me pegava lembrando da sensação dos seus braços em volta de mim, dizendo que tudo irá passar, seu abraço quente e forte, então me pegava perdida em seu toque.

Na segunda semana as coisas começaram a melhorar, ao invés de ter pesadelos, eu não tinha sono e pedia as vezes para poder dormir com a minha mãe apesar de já ser adolescente, por que enfrentar tudo isso sozinha era muito e ela também me chamava as vezes era claro que precisávamos uma da outra.

Tentava desenhar outras coisas, ver um filme a tarde, ler um bom livro de romance alegre e tentava desenhar rosas vermelhas ao invés de cemitério.

Até que em uma segunda feira, minha mãe abriu as cortinas do quarto, me levantando, tendo como ordem a sua voz:

—Vamos mocinha, você precisa voltar para o colégio.

Eu resmunguei de baixo do travesseiro:

—Eu não quero ir mãe. Tem certeza?

Ela sentou na beirada da e simplesmente falou, me convencendo a me levantar, me trocar e ir:

—Seu pai iria ficar muito chateado se soubesse, que a filha amada dele parou de seguir com a vida por sua causa.

Sabia que não podia mais fugir da realidade, agora o que iria restar do meu pai será a saudades que sentirei dele e as memórias vivas na minha lembrança, os bons momentos que ele deixou na minha vida, sei que um pedaço dele eternamente ficará comigo e uma boa parte minha ficará eternamente com ele de um jeito ou de outro, nos poucos momentos que tinha com ele era só risada, era meu amigo me contava de suas viagens, dizia cada lugar que gostaria que eu conhecesse, a alegria estampada em seus olhos cada nota boa que eu tirava e  as vezes que dançávamos quando era pequena colocava meus braços nos seus quando tocava uma música nas festas era muito pequena ao ver meu pequeno pé em cima do seu, os jantares e almoços que tive com ele, o amor que carregava por ele nunca em momento algum vai diminuir e a saudade vai ficar. Afinal a saudade é um amor que fica.


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