Não é novidade para ninguém o quanto eu amava Scorpius. Nunca foi.

Apenas para ele e eu, é claro, mas graças a umas boas brigas e alguns mal-entendidos, essa fase já havia passado.

Mas agora, de mãos dadas com essa versão diferente de Scorpius, e me dirigindo a Sala Comunal da Grifinória, percebia que o mesmo amor pode ter várias faces.

— Já estamos chegando, senhorita Rosie? - Scorpius apertou minha mão, puxando-a para baixo, em um gesto impaciente.

— Já sim, querido. - Respondi - e não precisa me chamar de senhorita. – engasguei, me abaixando para olhá-lo nos olhos, quando percebi sua expressão triste - vamos lá, Scorpy, se anime, sim?

— Mas e meus papais? – fungou, ficarndo repentinamente aflito.

— Olha, você confia em mim? - ele assentiu, comprimindo o queixo em uma clara tentativa de reprimir o choro. Meu coração pareceu diminuir de tamanho. - Prometo que não ficará longe deles por muito tempo. - Baguncei seus cabelos loiros, tentando sorrir. - E você irá adorar meu irmão e meus primos.

— Eles podem brincar comigo? - Ele perguntou, quase desconfiado.

— Claro! – sorri, esperando ter passado a confiança que eu queria. - E...

— Rose Weasley!

Ah, caramba.

— Onde é que você se meteu a tarde toda!?

A voz e os passos de Lily poderiam ser ouvidos dois corredores a frente.

Levantei-me puxando Scorpius para meu colo - o pobrezinho arregalou os olhos cinzas para a outra ruiva a minha frente.

— E quem é esse menininho lindo!? - Sua voz desceu quatro oitavas ao colocar os olhos no loiro em meus braços, não parecia nem de longe a louca que gritava a segundos atrás.

— Olá, qual é seu nome? - ela perguntou, apertando a bochecha dele.

— Sco...- Mas eu o cortei, em pânico.

— Lily, melhor entrarmos. - suspirei pesadamente. - preciso explicar tudo para você e os outros.

Parecendo enxergar o desespero em meu olhar, Lily suavizou a expressão e apenas assentiu.

Seguimos em silêncio até o quadro da Mulher Gorda. Depois de Lily dizer a senha apressadamente, eu já estava começando a retomar a respiração normal, quando me deparo com o que parecia ser a Reunião Weasley-Potter no Salão Comunal. Não havia mais ninguém além deles.

— Onde você estava Rose?! - Hugo estava em pé, de braços cruzados, perto de uma poltrona. - e esse menino quem é?! - Alvo estava sentado no braço da mesma poltrona, uma sobrancelha arqueada.

— Por que estão tão bravos, Rosie? - Scorpius perguntou ainda com os olhos arregalados, apertando mais suas mãozinhas ao redor do meu pescoço.

Olhei para ele penalizada e depois de acalentar sua cabecinha, olhei feio para os dois.

— Precisa desse escândalo todo!?

— Você e Scorpius somem a tarde inteira e não podemos pelo menos saber o porquê!? - James se levantou do sofá onde antes estava largado.

— Sem contar que fugiram da nossa última aula! - Completou Alvo, que apesar de parecer irritado, eu bem sabia que estava apenas acompanhando James e Hugo. Ele nunca quer ficar de fora.

— Como eles sabem meu nome? - A voz baixa e sonolenta de Scorpius me atingiu em cheio e minha cabeça parecia querer explodir.

— Eles estão falando de outro Scorpius, querido. - sussurrei de volta, beijando o topo de sua cabeça, e colocando-o no colo de Lily. Ele pareceu arredio com a ideia de sair de perto de mim, mas depois que lhe lancei um sorriso confiante, cedeu. - pode levá-lo para o meu dormitório? Te espero para começar as explicações.

— Tudo bem. - suspirou Lily, arrumando Scorpius com cuidado em seu colo. - só porque ele é fofo.

E subiu as escadas rapidamente.

— Espero que você tenha uma excelente justificativa, Rose. - Hugo poderia abrir um buraco nas minhas vestes. - do tipo "algum ex comensal sequestrou Scorpius e eu" ou "apareceu outro bruxo das trevas e tivemos que evitar a Terceira Guerra Bruxa" - Dizia James - ou ainda, "Voldemort ressurgiu e tivemos que salvar o mundo".

— Chega, meninos. - revirei os olhos, me jogando no sofá antes ocupado por James. - infelizmente eu tenho uma justificativa melhor que todas essas juntas.

— Estamos ouvindo. - Alvo disse, sentando ao meu lado, enquanto James e Hugo se sentavam na minha frente.

— Aquela coisa fofa lá em cima acabou de me dizer que se chama Scorpius! - Lily, com os olhos arregalados, desceu as escadas parecendo fugir de uma assombração. - eu vou perguntar de novo: quem é esse menininho e onde está Scorpius?!

Todos os pares de olhos se fixaram em mim, pareciam petrificados.

Puxei todo o ar que podia.

— Pra resumir...- fiz uma careta. - uma estante de vira-tempo caiu em cima do Scorpius e ele voltou a ter quatro anos. - soltei o ar pesadamente. - E enquanto o Ministério trabalha na reversão, vou cuidar dele aqui, em Hogwarts. McGonagall achou que seria uma espécie de... punição. Mas só vocês irão saber da verdade, por isso, peço segredo.

Eu podia jurar que ouvi um suspiro do Salgueiro Lutador lá fora.

Depois do silêncio mórbido, James pareceu se engasgar. Alvo enfiou a mão no rosto como se pensasse: "mais uma encrenca". Lily se sentou do lado de Hugo, empalidecendo.

Meu irmão apenas piscava.

— Posso saber como diabos vocês acharam uma estante de Vira-Tempo? - James foi o primeiro a retomar a voz. Ele era o irritante engraçadinho vinte e quatro horas por dia, mas infelizmente era um insuportável quando falava sério.

— Estávamos na Sala Precisa. - respondi apenas, me sentindo corar.

— Por Merlin, Rosie! - Hugo se levantou, as orelhas queimando. - Vocês fugiram da aula para dar uns...uns... amassos na Sala Precisa!? - quando eu iria abrir a boca, Hugo prosseguiu, um dedo levantado no ar. - Papai e eu bem que avisamos que esse garoto seria um atraso na sua vida! Você nunca faria algo assim em sã consciência! Não acredito que...

— Cala a boca Hugo! - Lily o puxou pelos ombros fazendo-o se sentar pesadamente no sofá - pode parar de bancar o irmão ciumento, não vê que nada disso vem ao caso agora?! - ralhou, olhando feio para o meu irmão. - eles erraram, mas estão pagando. Precisamos ajudar Rose!

— Arque com as consequências sozinha! - Bufou Hugo, levantando-se e pisando duro em direção ao seu dormitório.

Arfei, exasperada. Nunca achei que meu irmão fosse me abandonar logo agora.

— Dê um tempo a ele. - Sugeriu Alvo, enquanto Lily balançava a cabeça negativamente com a mão apoiada na testa.- aposto que quando viu o pequeno em seus braços pensou que você já tinha arranjado um filho com Scorpius. - , falou, tentando o rir.

— Alvo! - Lily o repreendeu.

— Espero que aprenda a lição, priminha. - James se levantou, meio emburrado. - ba noite. - e seguiu o mesmo caminho feito por Hugo.

Suspirei cansada, escondendo o rosto entre as mãos e sentindo meus olhos marejarem pela centésima vez naquele mesmo dia.

Alvo me abraçou de lado e Lily veio se sentar do meu outro lado.

— Estamos com você, prima. - ea disse, segurando minha mão.

— Pode contar com a gente, cenourinha. - Alvo apertou meus ombros em sinal de conforto e não pude deixar de rir do apelido.

— Além do mais, o mini Scorpius é uma gracinha!- Lily sorriu. - nem de longe parece seu namorado idiota. - brincou.

— Obrigada gente. - respirei fundo, me sentindo mais confiante pela primeira vez naquele dia, e os abracei. - Obrigada mesmo.

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— Mas por que seus pais não cuidam dele?

Enfrentava a mesma pergunta pela milésima vez desde o café da manhã.

Os raios de sol mal tinham nascido, acordei com Scorpius chaqualhando meus ombros.

Na noite passada, quando entrei no dormitório, ele estava aparentemente desmaiado em cima da minha cama, mas agora, estava completamente aceso e pronto para comer e brincar.

Mas antes que eu pudesse me levantar, Minerva estava em pé diante da minha porta com uma sacola de roupinhas de criança e para me comunicar da história que eu devia contar para todos: o menininho recém surgido em Hogwarts era um primo de segundo grau de outro primo distante, que ficaria em meus cuidados durante um tempo.

E agora, no corredor que dava caminho as Masmorras, onde eu teria aula de poções dali a dez minutos, mais pessoas me interceptavam para apertar Scorpius e fazer perguntas.

— Bem, ele sempre foi grudado comigo, sabem como é... crianças - ri nervosa - choraria o mês inteiro lá em casa, sem a prima favorita.

— E cadê o namoradinho para te ajudar, Weasley? - Rachel Belmore, com seus cabelos ridiculamente pintados de vermelho se aproximou de mim, destilando todo seu veneno. - Acho que desse jeito, nunca poderão ter um filhinho para chamarem de seu.

— Não que seja da sua conta, Belmore. - Praticamente cuspi seu sobrenome, ainda sem encará-lá de fato - mas ele está doente e precisa ficar de repouso alguns dias em casa.

— É o que você diz. - ela deu de ombros. - ou quem sabe ele simplesmente cansou de ver essa sua cara podre de sangue ruim!

Senti meu sangue ferver. Coloquei Scorpius, que antes estava embalado em meu colo, no chão, sua mãozinha firmemente atada a minha.

Eu tinha que me manter firme para não assustá-lo. Por ele.

— Deixa minha irmã em paz. - Hugo apareceu por trás de mim.

— A única coisa suja aqui, é esse seu cabelo seboso. - Lily surgiu do meu lado, com Alvo em seu encalço.

— Quer que eu mande esse seu cabelo aí passear outra vez? - Alvo cruzou os braços, a expressão azeda. Pude jurar que Rachel chegou a se encolher. - vaza daqui. Belmore.

Alternou o olhar para nós quatro. Uma sombra de medo passou em seus olhos.

Provavelmente, lembrando-se da vez em que ela estava implicando comigo no quinto ano. Alvo lançou um feitiço que fez todos seus cabelos caírem.

— A sua hora vai chegar, imunda - apontou pra mim, antes de sair a passos largos em direção as masmorras.

— Que garota malvada. - comentou Scorpius ao meu lado, estalando a língua, com um ar de adulto. - e Rosie, eu ainda não entendi o porquê de todos falarem meu nome.

— É que temos um amigo chamado Scorpius, meu bem, mas ele teve que passar uma temporada em casa.

— Ahhhhhh - Ele coçou o queixo parecendo pensativo. - E esse aqui é seu irmãozinho? - apontou para Hugo.

— É sim - assenti - este é Hugo. E estes dois aqui - gesticulei para Lily e Alvo - são meus primos Lily e Alvo.

— Vocês são muito legais - Ele esticou a mãozinha primeiro para Hugo, depois Alvo e depois Lily.

Podia jurar que meus primos babavam, enquanto Hugo sorria nervoso.

— O prazer é nosso, pequeno Scorpius. - Alvo sorriu, parecendo encantado.

— Posso falar com você um minuto? - Hugo virou-se para mim.

— Claro. - Concordei, um pouco receosa. - pode levá-lo para mim, Alvo? Vou logo atrás.

Meu primo assentiu, pegando na mão de Scorpius, enquanto iniciava uma conversa sobre Quadribol com o pequeno.

— Bem, vou para a minha aula de feitiços. Te espero lá, Hugo. - Lily acenou para nós não sem antes apertar minha mão.

Hugo respirou fundo, colocando as mãos nos bolsos.

Eu cruzei os braços.

— Desculpe por ontem, tá legal? - Ele parecia sincero, e por isso evitava me olhar. - sabe como me preocupo e sabe o que acho sobre Scorpius e tudo o mais... apesar de ele estar muito mais tolerável agora, tenho que admitir. - não pude deixar de sorrir divertida. - só quero que saiba que pode contar comigo, Rosie. Sou seu irmão, afinal.

Hugo foi pego de surpresa pelo meu abraço, mas correspondeu, sorrindo.

— Obrigada, maninho.

Sorrimos um para o outro,  e ele seguiu para sua aula,enquanto eu seguia para a minha.

Mas a sensação de que tudo isso ainda era a calmaria que antecedia a tempestade parecia não querer me deixar em paz.