Amortência escrita por Tatti Rodriguez


Capítulo 1
Único ♥




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/691440/chapter/1

Ela andava a passos lentos e cautelosos pelo longo e largo corredor de Hogwarts. Estava com a pena trabalhando furiosamente em seu diário de anotações. Distraída, alheia a tudo o que passava ao seu redor, não notou alguém andando sorrateiramente atrás de si, silencioso e concentrado.
— Buh! - ele sussurrou ao ouvido da pequena moça.
— Ahhh! - o grito fino ecoou pelo corredor. Ela estava trêmula e deixara suas coisas espatifarem no chão, a respiração descompassada e o coração palpitando fortemente. Olhou para trás e viu o causador de seu susto. Um de seus melhores amigos. Godric Gryffindor, com aqueles cabelos rebeldes e ruivos, os olhos felinos de coloração azul, seus lábios carnudos abertos em um sorriso.
— Tens razão quando dissestes que não serveria para entrar em minha Casa. Onde estas sua coragem, Helguinha? - Godric, brincou e gargalhou.
— Deve ter se esparramado ao chão, junto às minhas coisas! - ela bufou e com o aceno da varinha, sua pena e seu diário levitaram de volta em suas mãos - Já pedi para parar de fazer isso!
— Eu sei. Mas, é que és tão adorável quando se assusta. - ele piscou e a viu corar com o elogio - Por Merlim! Ficas ainda mais adorável vermelha assim.
— Porque não estás a enfernizar Rowena? - Helga perguntou depois de bufar e recomeçou a andar, mas agora com suas coisas junto ao seu corpo.
— Ah, ela se trancou em sua torre e estás a praticar uns feitiços novos. - o leão deu de ombro - Fui vê-la, mas, só o que eu consegui foi um vaso a voar para arrebentar em minha cabeça. Porque ela me detesta tanto?
— Não acho que ela te deteste. - Helga retornou ao seu tom de voz meigo e gentil de sempre - Acho apenas que não gostas quando tu te achas demais.
— Eu? Me diga apenas uma vez em que eu tenha feito isso?
— Bom, vamos listar... Houve quando estavamos todos à escolher como cada aluno seria separado em cada Casa. Quem começou a se gabar por ter apenas os mais corajosos? Houve a vez em que estava a lutar contra um trasgo montanhês, o derrotou, e depois o que fizestes? Nos atormentou por uma semana, dizendo que devíamos nossas vidas à ti. E o trasgo não estava nem perto do lago onde estávamos. Houve também a vez em que...
— Certo, certo. Eu já entendi. - ele dissera de uma maneira cabisbaixa, o que fez Helga o olhar preocupada. - Acho que Rowena tens razão para me achar um homem metido.
— Metido e convencido. - Helga o corrigiu, mas logo acrescentou - Mas isso não quer dizer que Rowena o deteste. Se te detestasse, não o chamaria todos os dias para cavalgar, não diria à mim tantas coisas boas sobre você.
Helga olhou a expressão de Godric mudar de tristeza para alegria. Algo iluminou seu rosto e o sorriso branco se aumentou na face bronzeada. Aquele sorriso fez seu coração feliz.
Godric era apaixonado por Rowena, mas não sabia bem como expressar. Não sabia como agir perto da mulher alta de cabelos negros e olhos azuis, não sabia como se portar e nem o que deveria dizer. Sua intenção de agradá-la era tão grande, que sempre achava que se mostrando corajoso e destemido era uma boa forma de ter sua atenção. Mas só conseguia passar por um homem tolo e ridiculamente cheio de si.
" — És um idiota completo. Achas que enfrentando um trasgo montanhês, com apenas tua espada, podes ter todos os olhos sobre si? Achas que iríamos agradecer-te e o reverenciar? Ora! Por Merlim! Deixe de ser tão tolo! "
Fora o que ela dissera a última vez que ele tentou roubar sua atenção. Achou que ela finalmente iria ceder aos seus atributos físicos e sua enorme coragem, mas dera com Trestálios n'água.
Estava quase louco, passava noites em claro tentando achar um meio de atingir o coração da inteligente morena. Mas, como? Já tentara de tudo... Estava quase desistindo. Pensava que talvez não houvesse jeito mesmo, que Rowena era tão inalcançável quanto tocar as estrelas. Vai ver, ele não pudesse tocar seu coração e quem sabe, teria sorte de continuar sendo portador de sua amizade. As esperanças estavam se esgotando. Mas lá estava a doce e meiga Helga HufflePuff. A garota que sempre tinha a coisa certa a se dizer na ponta da língua, que sempre estava ali para lhe escutar e aconselhar. A garota tão boa e pura. Ela era realmente a definição de sua casa. Bondosa, leal e a melhor amiga que alguém poderia ter.
— Ela diz coisas boas à meu respeito? - a curiosidade era grande.
— Muitas, uma das coisas que gosta em ti é tua coragem. Sempre me diz que tu não precisas se mostrar corajoso o tempo todo, a coragem já reside em ti. Falou também que gosta de seu cabelo assim, cheio, como de um leão, mas o que mais gosta em ti, é o que vê em seus olhos todas as vezes que a olha.
A moça loira viu o sorriso e o olhar apaixonado do amigo e sorriu junto.
— Mas, ó, não digas à ela que te disseste essas coisas. Rowena me mataria.
— Não direi. - o ruivo piscou para a amiga.
— Agradeço.
A lufana retomou o olhar para frente. Estavam quase chegando às masmorras e em uma das grandes salas devia estar o que mais procurou a tarde toda.
— Afinal, onde estás a ir? - Godric perguntou curioso.
— Até Salazar. - respondeu a loira simplesmente. E somente de falar o nome forte e sonoro, sentiu as mãos tremerem, o coração pulsar forte.
— Hmm, para quê?
— Preciso de ajuda em algumas poções.
— Para quê?
— Porque tu és tão curioso? - Helga perguntou parando de frente ao amigo.
— Certo, certo. - ele riu ainda todo bobo - Não irei mais perguntar. Tenho algo a fazer agora.
— Mais um de seus planos para conquistar Rowena? - ela perguntou quando o amigo lhe deu um beijo na testa e se afastava logo em seguida.
— Sim! Preciso bolar um plano antes de Salazar! - ele sorriu abertamente mais uma vez e logo sumiu corredor acima.
Mas o sorriso da doce moça loira, a palpitação gostosa que o nome do sonserino lhe causara, logo sumira. Tristeza deu lugar em seu coração.
Suspirou e dando mais uma dúzia de passos se viu diante da porta da sala de Salazar.
Prendeu a respiração e bateu a porta três vezes, até ouvir a voz grossa e mal educada do lado de dentro.
— Quem é?
— Helga. - a jovem respondeu.
— O que queres?
— Ajuda.
— Não havia hora mais inoportuna, não? - ele perguntou abrindo a porta com brusquidão.
Ele olhou para baixo e viu a doce jovem lhe sorrindo. Franziu o cenho e cruzou os braços firmemente em seu peito.
— Que queres, Helga?
— Já lhe disse, ajuda.
— Que tipo de ajuda? Para quê? - ele estreitou os olhos e avaliou os objetos seguros nos braços finos e delicados.
— Com poções. Só você pode me ajudar. Rowena estas à treinar feitiços e Godric não é tão bom quanto tu. Na minha opinião és o melhor. - Helga lhe sorriu docemente e com as bochechas alvas, agora coradas.
— Hmmm - resmungou o sonserino - Certo, entre.
O homem alto deu passagem à pequena garota e logo em seguida fechou a grande e grossa porta de carvalho escura. Se encaminhou novamente à grande mesa com frascos de ingredientes e três caldeirões fumegantes. Se pôs atrás do caldeirão do meio e passou a anotar algumas coisas em seu pergaminho.
Helga o observou trabalhar, observou os olhos verdes escuros lendo nervosamente suas anotações e as mãos grandes despejarem mais alguma coisa no caldeirão ao lado. Ele se endireitava as vezes para coçar a barba por fazer, em puro sinal de quê pensara em algo muito melhor. Os lábios finos crispados em dúvidas e os cabelos longos que emanavam um cheiro de madeira fresca. Ele era lindo. Realmente lindo. Ela entendia que a maioria das mulheres quando viam Salazar o desejavam e o admiravam, mas nunca todas se aproximavam. Diferente de Godric, sempre mais aberto e conquistador.
— Estás ai para me olhar? Ou para pedir minha ajuda? - perguntou de repente, fazendo-na se assustar e derrubar sua pena.
— Desculpe. - ela apanhou rapidamente a longa pena branca do chão, mas ao se levantar, esbarrou em alguns potes de vidro na mesa ao lado. Espatifaram ao chão e antes que ela murmurasse algo, Salazar já os concertava.
Repparo.
Com o rosto em chamas, a moça o olhou. Ele tinha os olhos fechados e as sobrancelhas erguidas em um sinal de irritação.
— Me- me perdoe. - ela gaguejou.
— Como consegue ser tão estabanada, Helga? Já devia saber se comportar. És uma mulher, precisa ter leveza e elegância em seus movimentos, como Rowena! Já a viu sempre tropeçar e cair? Derrubar algo ou alguém? Não, pois ela sabe se portar!
Ela abaixou a cabeça e seus dedos se embrenhavam uns nos outros. Seu coração batia freneticamente e seu corpo sentia leves espasmos. Não de medo, jamais sentiria medo de Salazar, ele não a apavorava. Como o homem que sempre a protegia poderia assustá-la? Como o homem que sempre preferia suas plantas para fazer suas preciosas poções, poderia assustá-la? Não, jamais faria isso, pois ela o conhecia, conhecia muito bem ao ponto de saber que jamais faria nada com ela, nunca levantou a mão ou a varinha para ela, pelo contrário, quase matou o homem que havia feito isso uma vez. Ele poderia ter aquele porte de indiferença e de frieza, mas, ela conseguia ver muito mais que isso em seu interior.
Ela não tinha medo do que Salazar - não - faria. Mas sim de suas palavras. Sempre a comparando com Rowena, sempre querendo que se tornasse ao menos, um terço do que a melhor amiga era. E Helga sabia o porquê. Porque assim como Godric, Salazar era apaixonado por Rowena Ravenclaw. Mas também, quem não se apaixonaria? Ela era tão linda e elegante. Tão inteligente e tão responsável, não tinha estranhas manias e sempre tão esforçada.
Salazar e Godric sempre a infernizando para ser mais como a corvina.
" - Arrume sua postura!
— Porque se suja tanto!
— Olhe por onde andas! "
A lufana sempre bufava e revirava os olhos, e também ganhava reprimendas por isto. Ela sabia que não precisava ser como Rowena, para cativar alguém. Ela sabia que poderia ser amada e desejada sendo ela mesma. Rowena sempre dizia isso.
" - Não ligue para aqueles dois estúpidos infantis! Não chore pelo que dizem. Eles a amam, só dizem estas coisas para lhe azucrinar. É uma pessoa maravilhosa. A melhor que existe no mundo. "
Helga agradecia as palavras. Sabia que Rowena sempre era sincera, mas sinceramente, ela gostaria que essas palavras surgissem dos lábios de outra pessoa.
— Tu não tens jeito, não é mesmo? - Salazar bufou e fez a besteira de olhar nos grandes olhos castanhos, que lhe encaravam com dor e vergonha. Aquelas duas amêndoas estavam inundadas em lágrimas. E aquela cena, fez o duro coração de Salazar amolecer. Era sempre assim quando via Helga triste e abatida. E uma dor intensa lhe atingia a cabeça e o peito, todas as vezes que ele era o causador. Ele sempre a protegeu de tudo e todos, mesmo não sabendo o porquê. Talvez fosse o que ela transparencia ser, uma garota frágil e sensível, que não conhece o pior do mundo, que acredita cegamente nas pessoas e usam isso contra ela. Helga HufflePuff era uma jovem de coração bondoso, puro e valioso como o ouro. Ela sempre sabia o que lhe dizer e sempre sabia o que fazer, ela nunca o julgou, nem quando ele decidira por quais razões seus futuros alunos seriam escolhidos para a Casa de Slytherin. Godric e Rowena engataram em uma discussão com a serpente, mas não a doce Helga. Ela simplesmente fizera algo que ele jamais ira esquecer.
" — Ele não julgou as vossas escolhas. Não acho certo o julgar. Então, minha Casa, será daqueles a quem não se encaixares nos requisitos dos três. Em minha Casa, serão aceitos todos aqueles que são bons, que sempre visam o próximo, que não precisam fazer grandes feitos ou possuir uma inteligência como a de Rowena, nem a ambição de Salazar, mas sim todos aqueles à quem quiseres aprender a ser um bruxo bom e aprender sobre a magia que carregam. "
Depois daquele dia, nenhum dos amigos voltou a questionar a decisão de Salazar. E depois deste dia, o Chapéu Seletor a chamava de "Doce HufflePuff", sempre que ela passava pelo seu corredor.
E ninguém ousava desmentir o chapéu pontudo e marrom.
— Me desculpe. - a jovem dissera com a voz embargada.
Salazar suspirou pesadamente, pegou nas delicadas e pequenas mãos e a levantou do chão. Pousou a mão grande e calejada no rosto suave e enxugou as lágrimas que ali caíram.
— Me desculpe. Eu estou um pouco nervoso com essas novas criações. Não queria lhe ferir o coração.
Ele viu o sorriso gentil e sorriu de volta. Pegou a pena de seus dedos e a colocou na mesa. A conduziu para longe dos potes de vidro e a pôs ao lado de sua bancada de trabalho.
As mãos quentes da garota lhe provocavam uma gostosa sensação. Era quase um pecado, suas mãos sujas e rudes tocarem em mãos tão suaves quanto pétalas de rosas. Mas era uma sensação e um contraste tão bonito, que ele sempre se via desgostoso quando tinha que solta-las. Mas tivera que o fazer.
— Mas diga-me, ajuda em quê exatamente? - Salazar pirragueou e começou a mexer em seus frascos tentando acalmar seu coração que pulsava na palma de sua mão, onde as mãos dela estavam a meio minuto atrás.
— Preciso de ajuda com uma poção para minhas plantas e uma para acrescentar em meus pratos. - Helga varria o imenso balcão com o olhar, ali havia tudo o que se podia imaginar. Bezoares, cordas de coração de dragão, veneno de acromântulas, pó de fada mordente e até mesmo metade de chifre de unicórnio, o restante, ela não tinha muita certeza do que poderia ser.
— Hmmm, que tipo de poção para as plantas?
— Ah, para ajuda-las a crescer mais forte. - Helga ainda olhava os caldeirões.
— Hmmm, entendo. Creio que já sei o que devo fazer. - Slytherin coçou o queixo novamente e algo pareceu estalar sua em sua cabeça - Vou à dispensa e já volto. Tente não quebrar nada. Não me demoro.
A jovem concorcou com um aceno de cabeça, viu o alto homem sair a passos rápidos pela porta, o vento passou pelo corpo forte e másculo, deixando um rastro de um cheiro de madeira fresca, hortelã e torta de banana. Ele com toda a certeza havia lhe roubado um pedaço de torta, quando deixou a cozinha por alguns minutos. Ele poderia dizer que ela não fazia quase nada certo, mas nunca poderia dizer que não era perita na cozinha.
Ela sorriu e continuou a ver a bancada. Como ele poderia ter tantos ingredientes e saber sempre o que fazer? Ele era realmente inteligente. Helga pegou as folhas duras e amareladas e seu cérebro reve dificuldade de ler tal garrancho. Era uma letra cursiva e apressada. Com toda a certeza era assim, pois precisava acompanhar a velocidade de seus pensamentos. Deixou os pergaminhos no mesmo lugar e passou a examinar os caldeirões. O do canto esquerdo possuía a coloração avermelhada e era tão denso quanto lama. O do meio era um líquido esverdeado. Mas o do canto direito lhe chamou mais atenção. Era tão bonito de se ver, parecia micro pérolas uma junta à outra, de dentro, saía espirais de fumaças amarelas e verdes, a textura como líquida, e o cheiro que emava, era tão gostoso, como o que Salazar exalava.
Madeira fresca.
Hortelã.
Torta de banana.
Sentia que poderia inalar aquele odor por toda a vida.
— Gostaste dessa poção? - Salazar dissera assim que entrara na grande sala. Ele carregava mais alguns frascos e alguns ramos de folhas e flores em seus braços.
— Sim, para quê serve? - Helga perguntou dando a volta no balcão e sentando de frente à Salazar.
— É uma poção do amor. Pode causar a mais forte das paixões.
Helga se surpreendeu. Salazar fazendo poções do amor? Salazar Slytherin? O mesmo Salazar que dizia que amor é para os tolos? O mesmo Salazar que dizia que era besteira se apaixonar?
Mas então ela se lembrou.
" — Sim! Preciso bolar um plano antes de Salazar! " as palavras de Godric foram ouvidas novamente.
Sim. Era o mesmo Salazar que apesar de dizer que paixão e amor era uma maldição dos estúpidos, seu coração era apaixonado também. Pelo jeito, Godric teria que pensar em algo muito mais poderoso que uma poção. Se bem, que o amor de Rowena nunca seria de Salazar, ela bem sabia. Enquanto o amor dela, o que fazia seu coração bater mais rápido e descompassado, era justamente dedicado à Salazar.
Helga jamais vai poder dizer quando tudo começou, quando finalmente se dera conta de que sempre fora apaixonada e sempre amara o sonserino. Mas ela sempre poderá dizer que não houve um dia em sua vida, que ela o amou menos, que ele estava em seus pensamentos e sua imaginação maquinava na hipótese de que um dia ele pudesse sentir o mesmo por ela. Ela sonhava com isso todas as vezes que fazia a torta de banana que Salazar tanto gostava, ou quando ela plantava e colhia as mais belas e de perfeitas condições, suas preciosas plantas para dar à ele. Ele as usava em todas as poções. Aquilo era tão lindo, ele usando algo que ela plantou e criou com todo o carinho.
"— Ainda bem que és tão jeitosa com herbologia, Helga. Nem no mercado mais sofisticado, eu ei de encontrar iguarias com mais qualidades que as tuas."
Pequenas palavras, mas que para a lufana possuíam um enorme significado. Seu coração sabia.
Limpando a garganta ela perguntou:
— Pode causar paixão, mas e amor?
— Não, ainda não consegui evoluir essa poção tanto assim. E nem que seja capaz de durar mais de três dias. - Salazar torceu os lábios enquanto cortava folhas de laranjeiras e as colocava junto ao suco extraído de uma dedureira. Colocou um pouco de olho de aranha também.
— Qual o nome da poção?
— Ainda não tenho um nome. - ele estava com os galhos de tronquilhos em pó na mãos, quando sorriu de canto para Helga - Façamos o seguinte. Eu lhe ajudo com essas poções se você me ajudar com um nome.
Ele viu o sorriso nos lábios rosados da garota. Era aquele sorriso que ele esperava. Ele já havia feito a jovem chorar, estava na hora de fazê-la sorrir. Slytherin conhecia sua melhor amiga o bastante, para saber que ela adora apelidar as coisas. Tanto que vários dos nomes de suas poções ou das coisas no castelo, fora ela que dera.
— Certo!
Ele acentiu já deixando o sorriso sumir de sua face, o que deixou Helga um pouco decepcionada. Ela gostava tanto do sorriso de Salazar. Era um misto de malícia e desafio, os dentes brancos e os lábios finos, envoltos da barba sempre por fazer. Ele era tão lindo sério, mas era irresistível sorrindo.
Balançou a cabeça levemente. Ela tinha que parar com essas coisas, o observar tanto, ele logo lhe chamaria a atenção novamente, e ela não queria ser pega outra vez pelos olhos atentos. Decidiu então se distrair, assim não começaria a pensar bobagens.
— Para quê serve isto? - ela perguntou apontando para os olhos de aranha.
— Para dar mais potência à poção. São extremamente poderosos, além de impedir que o cheiro de enxofre prevaleça. - Salazar explicou. Estava demorando... A curiosidade de Helga era imensa e sempre nuito presente.
— Hmmm, certo. E isto?
— És semente de cacau. Para deixar a terra mais fértil. - Salazar explicava pacientemente, sem tirar os olhos do caldeirão.
— Porque o fogo estás baixo?
— Porque se estivesse alto, esta sala já estaria indo pelos ares. A temperatura do fogo é muito importante na preparação de uma poção, Helga. É dela que depende o sucesso da poção, não só dos ingredientes, da quantidade e do modo que é preparada.
— És como cozinhar? - a garota se animou.
— Sim. És como cozinhar. - ele revirou os olhos rindo - Quando estás a fazer uma torta de banana. Como a faz?
— Uso os ingredientes em quantidades exatas, o forno em temperatura média e coloco muito amor em tudo!
— Estás vendo? És assim também que se prepara as poções. - a serpente mexeu mais um pouco e tampou o caldeirão - Agora vamos fazer uma essência de todos os sabores.
— Essências de todos os sabores? - ela perguntou confusa.
— Sim, para suas receitas. Já pensaste em um nome? - perguntou apontando para o caldeirão perolado.
— Estou pensando. - ela olhou para o caldeirão com conteúdo brilhante e novamente o cheiro lhe invadiu os sentidos. Um sorriso surgiu nos lábios e fechou os olhos aproveitando para se concentrar na poção.
— Salazar, tu já sabes como essa poção age? - ela perguntou de repente.
— Ora! Mas é claro que eu sei! Eu mesmo quem a preparei! - Salazar protestou - Esta poção além de causar os sintomas de uma forte caixão, também lhe permite saber por quem estás apaixonado.
— Saber por quem estás apaixonado? - Helga se endireitou na cadeira, e olhou do líquido perolado, até os verdes brilhantes olhos de Salazar.
— Sim. Suas poções estão prontas. - responde ele vendo a lufana se aproximar dele e o abraçar.
— Ah, obrigada, Salazar. Tu és o melhor!
Salazar ficou imóvel, não sabia como reagir aquele contato tão próximo. Ele não era acostumado à abraços e nem à toques tão afetuosos. Ser abraçado era uma sensação estranha para ele. Sempre tão reservado, não permitindo que ninguém entrasse em sua fortaleza, nem mesmo Rowena, a quem ele achava gostar. Mas, Helga... Helga era diferente. Ela era especial. Era única. Carinhosa e afetuosa ao extremo. Seus abraços eram confortáveis e seguros. Salazar se encontrava verdadeiramente ali, nos braços finos e delicados. O modo como ela circundava sua cintura e como ela encostava sua cabeça em seu peito, era tão certo. Ela se encaixava perfeitamente ali. Nele.
Totalmente sem jeito, ele passou os braços ao redor do corpo pequeno e quente. Sua mão esquerda pousou nos cabelos amarelos e brilhantes, ele afundou seus dedos parcialmente por entre as ondas douradas e sentiu um cheiro suave de limão e brisa de verão. Ele se sentiu em um campo coberto de flores campestres, a maciez da pele de Helga era como as pétalas das rosas lilases que ela tanto cuidava em sua estufa. Salazar se permitiu fechar os olhos e relaxar.
Se sentiu duplamente mais confortável quando Helga se aconchegou melhor. A brisa se intensificou.
— Teu coração estás batendo forte. - ela sussurrou - Assim como o meu.
— Sim, ele está. - Salazar concordou e abriu os olhos quando não sentiu mais o rosto quente de Helga pressionado em seu peito. As orbes castanhas o encaravam com curiosidade e até expectativa.
— Porque?
— Acho que porque estou assim contigo. - Salazar respondeu.
— Acho que meu coração bate forte por outro motivo. - Helga dissera com as bochechas em tom rubro - Sua poção funciona. E creio que já sei como descobrir por quem estás apaixonado.
— Certo. Como, então? - a voz saía cada vez mais baixa, porque seu campo de visão ia abaixando cada vez mais também. Dos olhos castanhos, seus olhos verdes captaram os lábios pequenos e vermelhos, tão carnudos e agora pareciam tão tentadores...
— O cheiro, me diga qual cheiro tu sentes... - as mãos pequenas começaram a subir peitoral à cima, uma pousou no pescoço forte e outro permaneceu em cima de seu coração.
Salazar, sem quebrar o abraço e o toque delicado, se inclinou para o lado a fim de sentir o cheiro de sua poção.
Ele imaginou que sentiria o cheiro de livros velhos, lavanda e de suco de abóbora que eram característicos de Rowena. Mas não... Não era o cheiro dos livros velhos que Rowena vivia lendo. Nem de lavanda que era a flor que enfeitava sua torre de feitiços. Ou o suco de abóboras por qual ela era apaixonada.
Mas sim o cheiro de sândalo.
De flores campestres.
E de brisa de verão.
Ele olhou para Helga, assustado, amedrontado. Não poderia ser, Helga? Helga HufflePuff? Sua melhor amiga? A garota que passou horas o ajudando com suas pesquisas até altas horas da noite. A garota que sempre preparava suas comidas favoritas. A garota que cuidou dele quando o mesmo contraiu uma gripe fortíssima. A garota que sempre lhe arrancava sorrisos e pensamentos bons e bobos. A garota que sabia, que o amava, que seria sua melhor amiga para sempre.
Então, Helga HufflePuff? Sim. Poderia ser e era. Sempre fora. E ele sabia, bem em seu íntimo, que sempre seria. Aos poucos, Helga foi se infiltrando em seu interior. Criou raízes ali, que jamais seriam cortadas. Com seu jeito meigo e doce, foi quebrando as barreiras impkstas por ele em torno de seu coração. A sua bondade derretera o gelo de seu coração. Helga o tornou um tolo, um estúpido cheio de sentimentos e absurdamente apaixonado.
Ah! Somente a desastrada, Helga! Ela merecia uma punição por isso... Por ter feito isto com ele... Por sempre o dobrar, independente de qualquer coisa. E ele a puniria. Da forma mais perversa do mundo, porque no final, Helga era uma garota perversa. Perversamente ela o fez amá-la. Ele não poderia permitir isso!
Salazar envolveu seu braço na cintura delgada e ali permaneceu firme. Sua mão aprofundou as ondas douradas de seu cabelo e a trouxe para mais perto de seu rosto.
Um segundo.
Um milímetro.
Era tudo o que separava os lábios finos dos carnudos, o que separava a lufana do sonserino.
O tempo se esgotou, assim como a distância. Os lábios masculinos prensadoa sobre os femininos, o coração de ambos pulsando forte em todo o corpo.
O gosto de Helga, era doce, inebriante, viciante... Helga era tudo ali nos braços de Salazar. Ele sentia que carregava o mundo em seus braços. O seu mundo. Os dedos finos se engancharam nos cabelos negros e ali permaneceram, até o ar ser necessário.
Respirações e corações desconexos, as pernas estavam bambas e nem ela, quanto ele ousaram abrir os olhos. Aquele momento não precisavam olhar nada, suas emoções mostravam tudo o que era necessário.
— Acho que a poção devia se chamar Amortência. Essência de amor. - ela sussurrou com os lábios roçando nos dele.
— Que nome mais tolo, Helga. - ele brincou.
— O cheiro... O cheiro que tu sentiste, era mais gostoso que o que eu senti? - a pergunta foi feita em voz baixa pela lufana. Seu medo de quebrar o momento mágico que vivam, era evidente.
Mas do mesmo jeito, este momento morreu. Quando Salazar Slytherin percebeu o que Helga dissera.
Ela também sentira um cheiro vindo da poção. E este cheiro poderia não ser o seu.
A hipótese de ser o cheiro de outra pessoa, que não a dele, lhe proporcionou um frenesi de fúria. Ele era tão relutante em relação ao amor e a paixão, quando ele finalmente aceita essas sensações por alguém, ele não é correspondido?! Ou talvez fosse, mas para quê arriscar?!
Salazar afastou o corpo de Helga do seu e ele sentiu uma grande onda de frio lhe invadir. Seus olhos verdes brilhando em fúria.
— Já lhe fiz o que me pediste! Pegue suas poções e saia daqui. - a voz ríspida e fria de sempre, voltou a ser presente.
— Salazar... - Helga se assustou. Onde estava a voz aveludada e carinhosa?!
— Saia, por favor? - ele pegou os frascos cheio de poções, o diário e sua pena e entregou à Helga - Preciso trabalhar agora.
Ele lhe deu as costas, sentindo tudo dentro de si ser pressionado. Ele havia se entregado ao amor... À paixão, estava em apuros, ah, como estava. Mas lhe doía mais, era a possibilidade de Helga se sentir assim por outra pessoa... Helga era dele. Sempre seria... Sua doce HufflePuff.
— Salazar, o que...
— Saia!
Helga sentiu o coração partir, ele se arrependera, com toda a certeza se arrependera. Ela era tão tola por achar que ele finalmente a notaria... Que percebesse que ela era a mulher se sua vida. Ledo engano...
Ela ajeitou melhor suas coisas, se virou em direção a porta, confusa e dolorida. Mas antes que abrisse, a voz gélida lhe perguntou:
— Afinal, qual foi o cheiro que sentiste?
Ela respirou profundamente e engolindo o choro, lhe respondeu, antes que a porta se fechasse atrás de si.
— O teu.
Salazar levantou a cabeça antes baixa e olhou rapidamente para a porta já fechada. O coração tamborilando dentro do peito. Seu sorriso, o sorriso que somente Helga poderia tirar, estava ali, dançando em sua face.
Era o seu cheiro que ela sentiu...
Ela merecia saber que era o dela pela qual ele era apaixonado.
Correu por entre os corredores e descendo as escadas até o terceiro andar, na cozinha ela deveria estar. E ele acertou. Como a conhecia bem! Por Merlin!
Com um aceno de varinha, o pequeno pedaço de pergaminho voou até sobre os potes de poção que ele fizera para ela.
Helga estava separando seus ingredientes, precisava espairecer um pouco, nada melhor que sua cozinha para lhe ajudar! Ainda não sabia bem o que fazer, mas algo sairia!
Ia pegar a poção 'Essência de todos os sabores', quando viu o pedaço de papel amarelado.
O abriu e sorriu ao meio de lágrimas ao ler o conteúdo.
" Na verdade, amortência és um ótimo nome. Sei disto porque senti a essência de meu amor. A sua essência. Minha doce HufflePuff.
— Salazar. "
Helga agora sabia o que faria... Uma grande torta de banana, para sua Amortência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amortência" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.