Love The Way You Lie escrita por Tatti Rodriguez


Capítulo 1
Crazy Lovers


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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E lá estava ela mais uma vez, minha tão doce e suave Harley, minha boba Arlequina. Com seus cabelos desgrenhados, cada "Maria-Chiquinha" torta e fora de seu lugar. Sua maquiagem borrada, o lápis de olho negro estava por todo seu rosto, os lábios inchados e vermelhos por causa do sangue doce que escorria de um corte que havia feito ali. Em suas mãos estava seu enorme martelo de madeira, o dobro de seu tamanho. Seus dedos finos, comportando um soco inglês em cada mão, juntamente com nossa "aliança" em seu dedo anelar da mão esquerda. Ela estava ofegante e seus seios grandes que tanto me enlouqueciam, iam para cima e para baixo. Sua blusinha apertada estava rasgada e sua saia também. Suas botas estavam com respingos de meu sangue e seu pé esquerdo a tinta branca de meu rosto. Ela era linda.  Minha linda maluquinha.

"EU DISSE CHEGA, JACK!" a voz fina gritou e eu franzi o cenho. Ela me chamara por meu verdadeiro nome, que apenas ela sabia. Que apenas ela usava quando ainda era minha jovem psiquiatra, a quem jurava ser capaz de me regenerar.

Gruni e corri em sua direção com o punho preparado para mais um soco. Mas ela desviou e atingiu minhas costas com seus pés tamanho 35. Cai ao chão de bruços e somente levantei quando me certifiquei que aquela lunática não havia quebrado nada.

"EU DISSE CHEGA!"

"E EU DIGO QUE SÓ ACABA QUANDO EU QUISER!", tirei de minha cintura uma de minhas pistolas. Calibre 35. "E EU NÃO ESTOU COM A MÍNIMA VONTADE DE PARAR AGORA!"

"Pois eu estou, Puddinzinho."  o apelido que ela mesmo me dera, que sempre pronunciava tão carinhosamente, era agora dito com deboche e eu odiava que debochassem de mim.

Destravei a arma e mirei em sua coxa esquerda. Puxei o gatilho e por uma fração de segundos, Harley conseguiu desviar com uma acrobacia.

"Estou cansada disso. Eu não quero mais isso para mim!" a voz energética acabara. Seus olhos azuis lacrimejaram e eu não tinha soltado minha bomba de gás em seu rosto perfeito. "Me cansei disso, J. Me cansei de tudo isso. Batman tem razão.  Está na hora de me libertar de você!"

"Batman tem razão? BATMAN TEM RAZÃO? ESTÁ ME DIZENDO QUE O RATO COM ASAS TEM RAZÃO? QUE DECIDIU OUVIR AQUELE..."

"SIM! ELE É O ÚNICO QUE ME ESCUTA! E QUE EU CONFIO AGORA. EU ME CANSEI DE TUDO O QUE VOCÊ JÁ FEZ COMIGO E O QUE VOCÊ SEMPRE DEIXOU DE FAZER!"

"E O QUE EU DEIXEI DE FAZER POR VOCÊ? SEMPRE FIZ DE TUDO POR VOCÊ... Harley."

Eu jogara minha arma no chão e com as mãos levantadas me dirigi até a pequena garota a minha frente. Em posição defensiva ela ergueu o martelo junto ao seu corpo. Mas isso não me magoou, eu esperava por isso. Mas ela não esperava pela rasteira que dei. Ela caiu no chão e antes que pudesse levantar eu já estava em cima dela, minhas mãos em torno do pescoço fino e alvo. Apertando mais a cada frase que desferia:

"Eu te dei seu primeiro caso de loucura, eu te dei sua passagem para a liberdade, te dei a chance de ser você mesmo. Te dei um nome e uma função, uma razão para viver! Dividi meus planos com você,  meus sonhos e minha loucura!" Eu não me importava com suas unhas apertando e arranhando minhas mãos e meu rosto.  Mas eu me importei quando vi a inconsciência tomando conta daquele cérebro desregulado. Eu afrouxei o aperto e me levantei a trazendo junto de mim. "Eu te dei tudo, Harley."

"Mas eu queria muito mais, Jack." ela tossia e cuspiu um pouco de sangue "Você me deu muitas coisas, muita liberdade, muita aventura, ação..."

"Surras..."

"Mas nunca o que eu sempre pedi."

"Te dei tudo o que sempre me pediu."

"Eu te pedi amor e você nunca o deu para mim." ela soltou minhas mãos de seu cabelo e começou a caminhar para longe se mim "Eu sei o que você passou, Jack, eu sei o que você perdeu. A morte das duas únicas pessoas que você amava foi um baque. Sua esposa, grávida de seu primeiro filho. As duas pessoas que sempre importaram para você. Sei que a linha entre a sanidade e a loucura é uma linha fina e tênue. E a sua arrebentou. Assumiu outra identidade e outra razão de se viver..."

"Cala a boca...", eu pedi e a minha frente ela não estava mais ali, a morena deu lugar a uma ruiva com uma barriga enorme, ela sorria para mim e eu tocava em sua barriga... Brian, ali estava Brian... Eu podia ouvir seu riso de novo, eu podia sentir os lábios da ruiva em meus lábios... Mas a morena entrou em meu campo de visão novamente.

"Você tinha medo de que eu tomasse o lugar dela, que se esquecesse do que tiveram e do filho que viria! Mas eu jamais quis tomar o lugar dela! Eu jamais quis te fazer pior! E você nunca precisou me castigar por não ser ela!" Harley se virou e já não estava mais com aquele kilo de maquiagem nos olhos. "Eu me apaixonei por você e te amei, ainda te amo, nunca te pedi nada além de seu amor. Eu fiz tudo por você, eu assaltei por você,  abandonei todos por você, matei por você e enlouqueci por você."

Arlequina me encarou com aqueles enormes olhos azuis. Aquelas duas piscinas que eu tanto me afogava. E era ali, quase morrendo afogado que eu me encontrava. Eu não era mais o Joker,  o Príncipe Palhaço do Crime ou o super vilão de Gothan. Eu era apenas, Jack, novamente. E eu havia jurado para mim mesmo que eu não voltaria a sê-lo nunca mais.

"Eu te odeio tanto, Harley... Um ódio que me rasga por dentro! Um ódio que me faz querer te fazer engolir todos aqueles sacos de pum recheados de gás mostarda..." eu falei e a prensei na parede. Minhas mãos cravaram em sua cintura e a ergui, obriguei suas pernas a se fecharem em torno de mim e friccionei nossas intimidades. Ela segurou um gemido, mas eu sabia que ela estava ficando excitada também.  Eu a conhecia bem. Meus lábios fizeram um caminho lento de sua orelha até sua boca com gosto ferroso do sangue. "Eu te odeio e você também me odeia. Eu sei que você quer me matar, assim como eu tentei te matar várias vezes...Mas sei também que você é fraca demais pra fazer isso."

Minhas mãos percorreram toda a lateral do corpo esbelto. Ela tinha a pele quente, macia e o cheiro de lavanda me embriagava.

"Você só precisa de coragem, Harley... Você só precisa de uma ajudinha, menininha Quinzel. Porque você vai precisar me matar, antes de se juntar ao rato voador. Antes de se tornar a mais nova vadia dele... Selina não foi o bastante, Rachel, ele ainda quer você?" Fiz mais um pouco de pressão em minha cintura e a senti amolecer em meus braços. Peguei uma faca que tinha em meus sapatos e a entreguei "Tá aí sua chance."

Os olhos se exaltaram e ela estava trêmula. As mãos seguravam vacilantes o objeto. O modo como ela me olhou... O modo como ela segurou meu cabelo e o forçou para trás deixando meu pescoço exposto, o modo como ela pressionou a lâmina e o modo como ela recuou quando viu o fio de sangue ali... Ela era uma covarde!

"VAI! QUINZEL! É A SUA CHANCE DE SE LIVRAR DE TUDO! NÃO É O QUE QUERIA?!" dei um tapa em sua cara com a esperança de ver a fúria em seu rosto. Eu sabia que ela não tinha coragem. Mas eu tinha... esperança de ver que eu podia estar errado e acabar logo com  isso. Ela era a única que tinha permissão de me matar, ela era a única que eu deixaria me matar. E no fundo, eu sabia o porquê disso. Eu sabia porque ela era a única que podia fazer o que o filho da puta do Batman, ou qualquer outro heroizinho de malha apertada de merda  não poderia. Porque nem ele e nem ninguém vai chegar perto de mim o bastante. Mas, Harley, nós dormíamos na mesma cama todos os dias, ela era grudada em mim e não poderia ser nenhuma outra. Batman e nem ninguém teria essa oportunidade. "Mais um assassinato em sua lista é o que te impede de lamber as botas do Batman."

"Um mundo sem você, minha vida sem você..." ela começou a acariciar meus cabelos e a contornar os traços de meu rosto com os dedos finos. Aquelas carícias que me davam um pouco de razão, sanidade. E aqueles lábios nos meus, a língua enroscando na minha eram minha luz no fim do túnel.

"Já imaginou?"

"Sim..." Mais um beijo e seus braços me apertando com força. Suas mãos apertando minha camisa roxa  e as puxando para tirá-la.

"E foi bom seu sonho?" Eu a ajudei e terminei de rasgar suas roupas. A pele quente se juntando a minha, eu me sentia aquecido.

Ela não me respondeu, mas eu não precisava ouvir. Eu sabia muito bem a resposta.

"Você é o pior do mundo. Eu odeio você!" Eu suguei o lóbulo de sua orelha esquerda e vi sua pele se arrepiar. Estava a um passo de beijá-la quando ela me empurrou para longe de seu corpo e eu odiava quando ela fazia isso "Que merda, Jack! Eu preciso de mais que isso! Me dê motivos para ficar..."

"Você quer motivos para ficar?" Eu a abracei por trás e moldei seu corpo ao meu. Sussurrava em seu ouvido enquanto minhas mãos procuravam seus pontos específicos de prazer. "Eu prometo a você que eu vou mudar... Nunca mais vamos tentar nos matar,  nunca mais vou revidar um soco seu..."

"Eu não acredito em você..."

"Quieta!" e movimentei meus dedos mais rapidamente em sua feminilidade "Quando eu falar, você escuta!"

Mas ela gemeu e eu revirei meus olhos.

"Eu prometo a você."

"Diz que me ama..." ela se contorceu e envolveu seus braços em meu pescoço.

"Quer que eu minta?" a provoquei e meu castigo foi ter meu corpo jogado contra as portas de vidro que davam para a sala de jantar, mas que usávamos para a realização de projetos de novas armas e arquiteturas de planos.

Levantei e me chacoalhei. Tirei de minha coxa um pedaço do vidro e de minhas mãos também. Balancei a cabeça querendo me situar, mas fiquei mais tonto ainda. Sorri para Arlequina vestida com suas roupas íntimas rosa e ela não fez mais do que começar a chorar.

"Vá a merda!" Harley começou a andar em direção ao martelo e o apoiou nos ombros. Me olhou de baixo para cima e me deu as costas "Eu saio daqui hoje, J. Morta ou viva, mas de um jeito ou outro eu vou me libertar de você."

Ela começou a andar em direção a porta e eu estranhei. Não havia mais nada em sua voz além de cansaço e de certeza. Ela estava realmente me deixando. Ela estava me deixando para trás, seguindo para um caminho onde ela não me queria.

Um mundo onde eu não era adorado por Arlequina não poderia existir. Dentro de mim eu quis não me importar e a deixar ir. Porque eu me importava com ela e sabia que eu não tinha condições de dar a ela o que ela me pedia todos os dias, eu não tinha coragem o bastante para isso.

Harleen Quinzel era tudo o que eu odiava no mundo. Era a doçura e a meiguice, era a esperança e era aquela a quem adentrou minha fortaleza, era aquela em que eu confiava e quem apesar de bater, eu protegia. Ela era a minha fresta de sanidade.

"HARLEEN!" eu gritei, mas ela não me deu ouvidos e continuou andando.

Corri até ela e a puxei para meus braços. 

"Me solta! Eu não quero mais que encoste em mim!"

"Mas eu vou tocar você,  todos os dias.  Você não vai sair por aquela porta, Quinzel. Você não vai sair por ali, porque eu não vou deixar. Se ousar me deixar, eu amarro você na nossa cama e coloco fogo nessa casa com nós dois dentro. Você não se livrar de mim."

"Porque não me deixa..."

"Ir embora? Porque eu amo você, sua vadia lunática." ela me olhou surpresa e não a deixei falar nada, beijei seus lábios e a apertei em meu corpo.

"Você é um cretino... Porque, porque sempre dá um jeito de me fazer ficar? Porque dá um jeito de mentir pra mim? Me faz ter esperanças para quê? Para as matar depois?" Harley me olhou chorosa e eu apenas sorri para ela "Me faz acreditar que vai ser diferente."

"Você ama o jeito que eu minto pra você falando que tudo entre nós mudará.  Mas você,  bem no fundo sabe que isso é impossível. Mais uma vez eu prometo o que jamais irei cumprir e isso basta para você essa noite. Afinal, você é louca o bastante para continuar comigo e eu sou louco o bastante para não te deixar ir. Você é tão louca quanto eu, Quinzel..." 

Ela me encara e ela me abraça com delicadeza. Acaricio seus cabelos duocolorido e eu sorrio.

Era assim que nosso amor funcionava. Doentiamente. E nós amávamos isso.

 

"Fim."


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