Insucesso escrita por narniandy


Capítulo 1
Insucesso


Notas iniciais do capítulo

Pra vocês não ficarem confusos, as frases em itálico que aparecerão além de dar ênfase as sentenças, também representarão os pensamentos dos personagens.
Dito isso, podem ler!



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Seguia Ginny Weasley pelos corredores do castelo com silenciosa discrição. Apesar do feitiço ilusório que a protegia do reconhecimento dos quadros bruxos e de qualquer outro que cruzasse seu caminho, toda cautela era pouca.

Os passos da ruiva eram apressados, mas não chegavam a ponto de correr. A garota abraçava o diário junto a seu peito com rigidez, temendo que alguém o tomasse de si, entretanto aquele era o único gesto consciente que aparentava fazer. Em seus olhos, uma névoa obscura nublava sua visão e suas pernas não obedeciam ao comando de seu cérebro, mas sim o de outra pessoa.  Ao comando dele.

Alguns minutos depois, a Weasley atravessou o batente do banheiro feminino do segundo andar, parou em frente às várias pias de mármore branco e ali permaneceu, como se aguardasse algo. Aquela que a seguia logo se faz presente, o motivo de sua demora foram as precauções que tomou para que o destino de ambas não fosse descoberto, pelo menos não naquele momento.

Pandora deteve-se na entrada do banheiro, ainda em alerta. Notou que a irritante fantasma que geralmente ficava a flutuar pelas cabines e choramingar para as paredes não se encontrava ali, apesar disso, não finalizou o encantamento que a protegia. Logo sua atenção se voltou para a grifina. Revirou os olhos castanho mel enquanto se aproximava desta.

Ela guardou a varinha que segurava nas vestes e caminhou para perto do mármore até encontrar aquilo que procurava: uma pequena cobra esculpida em um dos lados da torneira de ferro enferrujado. Levantou o canto de seus lábios, enquanto a ponta de seus dedos tateava os contornos da cobra. Recuou alguns passos, parando próximo à ruiva, e proferiu apenas uma palavra: abra; que ecoou pelo banheiro abandonado em um som diferente, era como o sibilar de uma cobra. Um sorriso se alargou em sua face. Santa genética, foi por meio dela que recebeu o dom da ofidioglossia, pensou.

As pias expandiram-se em um estrondo, alarmando a morena, que lançou um rápido abaffiato. Em frente aos seus olhos, o mármore branco abaixa-se revelando a entrada  da câmara secreta: um abismo impregnado por completo breu.

A mais nova dos Weasley pareceu despertar do seu estado de inércia e atirou-se no negrume do pequeno abismo sem soltar nenhum suspiro durante a descida.

Pandora recuou mais alguns passos olhando para os lados, tendo certeza de que ninguém chegaria naquele momento inoportuno, finalizou o encantamento que protegia o banheiro e saltou para dentro das trevas sendo preenchida pela plena queda. O ruído do mármore voltando a seu lugar foi a última coisa que escutou quando seu corpo encontrou o piso irregular daquele túnel.

Seus olhos tornaram-se fendas enquanto se levantava e retirava de suas vestes a varinha. Com ela em mãos pronunciou o encantamento capaz de acabar com a densa negritude. Lumus. Não se surpreendeu quando a brilho da ponta da varinha revelou o motivo da irregularidade do solo: ossos. Neutralidade envolveu-a enquanto observava aquela mórbida decoração, mas não se demorou muito; os passos da Weasley já estavam distantes o bastante para quase não serem ouvidos.

Finalizou o encantamento que a ocultava e seguiu, apressada, pelo subsolo do grandioso castelo, desviando de colunas, estalactites e de peles de ofídios grandes demais. Não se alarmou, aquilo só confirmava o que já acreditava: o basilisco é real. E pensar que não queria se transferir de Durmstrang e vir para Hogwarts no começo do ano letivo...

Logo se deparou com a outra garota defronte a uma segunda porta. Ginny ainda tinha o mesmo olhar vazio e agarrava-se ao diário; suas vestes e cabelo estavam escurecidos pela sujeira. Pandora mais uma vez usou seu dom para abrir aquele portal. Com outro ruído as serpentes que adornavam o objeto começaram a se mexer. Após esse processo, a Weasley voltou a tomar a frente, mais perto do que nunca de seu objetivo.

A morena guardou a varinha em suas vestes não vendo mais necessidade de continuar o feitiço visto que a luminosidade emanada da câmara combatia as trevas com destreza. Deu alguns passos e deslumbrou-se com a grandiosidade daquele local esquecido pelo tempo. Numerosas estátuas de cobras cercavam o ambiente de ambos os lados e lá no fundo, no centro, a face de Salazar Slytherin estava esculpida na parede de pedra, as mechas de seu cabelo e barba pareciam dançar contra o vento e de sua boca, ela sabia, o basilisco aguardava apenas uma ordem para sair e cumprir aquilo pelo qual foi designado.

A grifina terminava de descer a escada no momento em que Pandora agarrou-se aos suportes de ferro enferrujado e pôs-se a fazer o mesmo. Quando seus pés alcançaram o chão umedecido da câmara, a Weasley já estava parada, fitando o nada, defronte a grandiosa escultura central. Com passos cautelosos, desviando-se das poças d’água que se acumulavam em determinados locais do solo, se juntou a ela.

A mais nova ajoelhou-se ao notar a aproximação da outra. Cuidadosamente, Ginny depositou o diário à sua frente e depois o abriu em uma das páginas em branco. Pandora retirou de suas vestes um punhal e segurou a mão da pequena ruiva. Com a precisão aprendida nas aulas de poções, rompeu a pele da Weasley com um pequeno corte, permitindo que o líquido carmim começasse a sair do corpo. Um sorriso já tomava conta de seu rosto enquanto guiava a mão da garota para as páginas em branco que logo começaram a tingir-se de escarlate.

Sangue.

Apertou a palma de Ginny, fazendo-a soltar um pequeno gemido. Fechou seus olhos, em concentração, e começou a  recitar as palavras gravadas em sua mente:

Per sanguinem electorum vitam restituit. Get oblatio munda et accipere rubrum sacrificium, ab his fideliter sequi. Revertere, et regnabunt cum intelligentia, domine mi. Resurfacing perfectique quod intendebatur obtingit. Resurgendo. Iterum!*

A morena repetiu o encantamento uma segunda vez e, ao abrir seus olhos, deparou-se com o diário absorvendo as últimas gotas do líquido carmim. O rosto da pequena Weasley tornou-se pálido, um brilho intenso começou a emanar da página, agora em branco, obrigando Pandora a desviar sua visão.

Ela segurou a haste do punhal com tamanha força que seus dedos ficaram esbranquiçados. A expectativa pelo que aconteceria era grande, fazendo que a ansiedade, muito bem contida dentro de si, se descontrolar.

Alguns segundos depois, o brilho se esvaiu permitindo-a voltar sua visão para a grifina. Não foi uma surpresa encontrá-la estirada no chão, desmaiada; o sangue em sua mão coagulava-se. O diário continuava o mesmo, assim como toda a câmara.

Afinal, o que supostamente deveria esperar acontecer? Não tinha falado com o lorde sobre essa parte do plano e, consequentemente, não possuía a resposta para tal questionamento. Aquilo a incomodou.

Recuou alguns passos, fitou a Weasley no chão e o diário de seu mestre ao lado da garota. Em sua mente, repetiu todas as palavras faladas e gestos feitos tentando encontrar algum erro que justificasse o aparente insucesso do ritual. Entretanto, tinha cumprido tudo com excelência; seguido a risca os processos por ele descritos. Não poderia ter feito aquilo com imperfeição, não toleraria estúpido erro.

Decidiu aguardar.

Observou a câmara atentando-se nas passagens enegrecidas que surgiam em várias paredes, provavelmente túneis. Todas as saídas da tubulação daquela escola se encontravam ali. Quem tivesse conhecimento daquele lugar poderia chegar a qualquer ponto de Hogwarts sem ser pego por Filch ou qualquer outro responsável. Seus olhos brilharam ao constatar tal fato; era assim que o enorme réptil adormecido na boca de Slytherin locomovia-se e atacava.

Ambas as informações poderiam ser de grande proveito em seu futuro, percebeu.

Direcionou seus olhos para a Weasley desfalecida, tentando achar nela uma distração para sua mente.

Algo deveria acontecer, indagou consigo mesma. Afinal, por menor que fosse, deveria existir ao menos um sinal que indicasse o sucesso ou insucesso de sua incumbência. Ela jogou os fios castanho-escuros para trás dos ombros, a inquietação arrebatando seu corpo vagarosamente.

O silêncio, naquela situação, era atroz.

Às suas costas uma silhueta surgiu: tão diáfana quanto um fantasma e tão gasoso quanto as nuvens acinzentadas que cobriam o céu noturno. Entretanto, as esferas azuladas em seu rosto eram dotadas de um brilho de astúcia e engenhosidade, como um dia ele próprio teve. Suas vestes, uma versão masculina e esverdeada das da garota, pareciam poder se desmanchar com um simplório sopro. Mas sentia a energia da vida, com um toque gracioso e ameno, acariciar seu corpo enquanto retirava a vitalidade da pequena grifina e morosamente entregava para ele.

Deu alguns passos em direção à morena.

Oh, sim. Teve o grande prazer de conhecê-la. Pandora Gaunt, o nome dançou em seus lábios desbotados, que assumem um sorriso viperino. E pensar que seu tão querido tio conseguiu perpetuar sua prole pelo mundo antes de morrer por suas próprias mãos… Poderia ser chamado de muitas coisas, mas néscio não fazia parte do grupo de adjetivos, não tinha como negar a peça relevante que a garota se tornou nesse seu anseio por ressurgir. E não foi com surpresa que achou nos olhos, ou palavras dela a mesma ambição por conhecimento que possuía. Juntando o útil ao agradável, viu-se com menos dificuldades na execução de seu plano ferino e ainda ganhou uma habilidosa seguidora. Se não fosse um sonserino provavelmente a aplaudiria, porém como o era… o sorriso se alargou.

Pandora Gaunt, o nome bailou em sua boca mais uma vez.

Mais um passo. A analisou facilmente, identificando a ansiedade da corvina. Então temia que seu esforço não tivesse êxito? Permitiu-se ampliar um pouco mais seu sorriso antes que sua face assumisse uma expressão fechada. Será que já tinha forças o suficiente para falar? Questionou-se. Bem, só descobriria tentando.

E assim o fez.

Arreceia que o ritual não tenha dado certo? perguntou. Sua voz soando rouca pelo desuso.

Os pelos da nuca de Pandora arrepiaram-se pela proximidade dos corpos, seus olhos arregalam-se e o punhal que segurava precipitou-se ao chão, fazendo com que um incomodo barulho agudo ecoasse por toda a câmara.

Virou-se lentamente, ainda com as esferas castanho mel sobressaltadas. Tinha dado certo, constatou ao deparar-se com o garoto mais alto atrás de si. Traços aristocráticos emolduravam seu rosto tornando-o bonito e igualmente másculo, seus olhos possuíam mais brilho do que a pele, ainda morbidamente pálida; e seu cabelo negro tinha suaves ondulações.

Estava sendo tola ao encará-lo estaticamente como mais uma das estátuas daquele local, até mesmo sem nada falar. Porém, que suposta reação deveria ter ao deparar-se com o rapaz que futuramente seria Lord Voldemort, o bruxo mais temido do mundo mágico? Um sorriso ameaçou abrir-se em seus lábios quando um ousado pensamento lhe veio. Quem diria que Tom Riddle Jr., porvindouro grande bruxo, poderia ter uma aparência tão inocente e, até mesmo, angelical?

Ele arqueou uma de suas sobrancelhas em sua direção, não muito satisfeito por aguardar tanto tempo por uma resposta.

A lucidez de Pandora pareceu retornar com tal gesto. Ela sentiu seu rosto assumir uma coloração avermelhada, constrangida, e pescou em sua memória a pergunta que lhe foi feita antes de entrar no estado de torpor.

Seus olhos direcionaram-se ao chão, ainda encabulada pela forma que agiu e temerosa de ter mostrado algum tipo de desrespeito que de nenhuma forma tinha por ele. As palavras saíram de sua boca,  mais baixas que o usual.

Arreceiava, sim, meu lorde. Respirou fundo, ainda mantendo-se na mesma posição.  Mas agora percebo que tanta inquietação de nada serviu. — Não conseguiu refrear o levantar de lábios, estava orgulhosa de seu desempenho. — O ritual deu certo.

Com excelência, ele pensou em completar ao sentir-se tangível, absorvendo um pouco mais da energia da grifina. Mas impediu-se de o fazer. Não era de seu feitio conceder elogios, apesar da morena à sua frente assumir uma posição submissa que em muito o agradava.

Os pensamentos dele logo se desprenderam da herdeira Gaunt e fixaram-se na pequena Weasley estirada sobre o chão gélido. Tola grifina, refletiu. Tão apaixonada pelo famoso Harry Potter, tão carente de um pouco mais de atenção, tão manipulável. Destinou alguns passos em direção ao pequeno corpo, com um sorriso nefasto assumindo seus pálidos lábios, enquanto ajoelhava-se ao lado dela. Ginny Weasley, apenas mais uma garota bobinha que sonhava alto de mais. Era quase um ato de misericórdia tirar-lhe a vida daquela forma.

Não se preocupe sussurrou próximo ao ouvido feminino de forma branda. Tinha a certeza de que mesmo em seu estado de quase morte a garota era capaz de compreendê-lo. Existe causa mais nobre para se morrer do que o meu retorno? questionou. Sua família se orgulhará pela coragem de tal ato! Existe glória maior do que fenecer como a grifinória que és? Não conseguiu reprimir o riso perverso, a pele da garota tornava-se cada vez mais álgida. Tenha bons sonhos.

Voltou a ergue-se.

Pandora observava aquilo com atenção. Pelo silêncio que reinava naquela câmara, tornava-se fácil discernir as palavras proferidas por seu lorde à garota. Certa satisfação invadiu-a, não conseguiria explicar o motivo de tal sentimento, mas ele estava ali, não havia modo de negar.

Como deveria portar-se diante do lorde das trevas? O questionamento a aflige.

Ele aproximou-se da herdeira Gaunt, novamente. Deleitava-se com a quase plena liberdade alcançada depois de tanto tempo aprisionado no antigo diário, e também com a familiar pulsação da magia em seus membros que, lentamente, restauravam-se.

Parou em frente a ela que, por sua vez, observava o nada, dispersa.

— Onde está minha varinha? — inqueriu no mesmo tom brando que usou com a ruiva.

Ela piscou, voltando à realidade. Para todos os efeitos, demonstrar respeito é a melhor opção, abaixou seus olhos ao notar a presença dele perto de si.

Com certa agilidade, seus dedos traçaram um caminho por dentro de sua capa, buscando a diminuta caixa onde guardou a varinha do lorde. Ao tê-la em mãos, finalizou o encantamento e observou o objeto expandir-se até alcançar seu tamanho natural.

Antes que o jovem bruxo fosse capaz de ter sua varinha em mãos um estrondo ecoou por toda a câmara. O basilisco, escondido nos lábios de Slytherin, sibilou avisando-os da vinda de alguém. Provavelmente Potter, pensaram, pronto para salvar a pequena Weasley.

Os orbes de ambos encontraram-se, azuis vítreos no castanho mel. Travaram um breve diálogo que finalizou-se  com ordens claras à garota: esconda-se.

Ela refez o feitiço, guardando a diminuta caixa em suas vestes e juntou-se a penumbra de um dos incontáveis túneis. Seu lorde traçou o caminho oposto, mas embrenhou-se nas sombras como ela. O basilisco sibilou mais alguma coisa da qual não prestou atenção, algo a alarmou.

De seu esconderijo conseguia observar a grifina em seu estado de inércia e a lâmina usada no ritual esquecida perto do corpo desta. Sua respiração tornou-se lenta e sentiu-se como se lutasse contra o tempo.

Accio punhal  sussurrou. O objeto aterrissou em sua mão no exato instante em que a porta da câmara se abriu em um ganido.

Pandora tentou controlar sua respiração e batimentos cardíacos, ciente de que qualquer suspiro reverberaria como um trovão no recinto e berraria sua localização ao garoto de óculos que disparava na direção da Weasley. Seu corpo acalmou-se ao respirar fundo.

A corvina escondeu a lâmina em suas vestes, tendo como som de fundo as exclamações do menino que sobreviveu, e viu-se como uma expectadora fantasma dos eventos que daquele momento em diante se iniciariam.

O tom de voz calculadamente afável de Tom Riddle sobrepôs a do outro garoto:

— Ela não vai acordar — afirmou.

Potter contestou, atônito.

Pandora sentia parte da confusão do garoto em si. Faltavam mais alguns minutos para o ritual findar-se por completo, tão pouco tempo para o lorde das trevas retornar. Eles, a memória do bruxo e ela, só precisavam permanecer em silêncio enquanto observassem as falhas tentativas do garoto de reanimar a pequena Weasley.

Por que ele estava revelando-se, então?

Ambos travaram um diálogo. O menino que sobreviveu consternado e, logo após, enraivecido com o significado das palavras em tom friamente cortês do outro. Ameaças nefastas iniciaram-se. A conversa tomou um rumo violento.

A morena aturdiu-se na negridão de seu esconderijo. Tentava encontrar o momento certo para intervir em favor de seu lorde, mas aquilo estava distante de mais de suas mãos, só para testificar tal fato o grasnido de uma ave, até então desconhecida, fez-se presente.

Grudou-se na gélida parede conforme a fênix voava cada vez mais perto de si, temendo ser descoberta, sua varinha estava ao seu fácil alcance, porventura precisasse defender-se. O sibilar da língua das cobras se fez presente; seu lorde chamou o basilisco para dar fim a vida de Potter.

Enquanto usava seu dom e exercia sua autoridade como herdeiro de Slytherin, seus olhos azuis vítreos encontraram-se, mais uma vez, com o castanho mel da herdeira Gaunt. Com facilidade, reconheceu a confusão por seus atos e a determinação em participar daquela luta. Os lábios do jovem lorde ergueram-se levemente. Pandora Gaunt, sentiu vontade de pronunciar o nome que bailava em sua boca. Era, sem dúvida, uma intrigante e valiosa seguidora. Não conseguia pensar em motivo algum para a garota dedicar-se tanto à algo que poderia voltar-se contra si, entretanto ali ela estava: disposta a sacrificar-se. Balançou a cabeça de forma sútil, dando sua ordem final.. Não desperdiçaria tamanho talento em uma luta tão fácil, ela ainda tinha muito a mostrá-lo, conseguia sentir isso.

— Vamos medir os poderes de Lord Voldemort, herdeiro de Salazar Slytherin, com os do famoso Harry Potter. — Voltou-se para a grandiosa serpente proferindo uma última ordem: não a ataque.

O sorriso ferino perverteu sua aparência angelical e assustou o garoto de óculos. O basilisco precipitou-se furiosamente na direção do menor, cujo qual tentou barrá-lo com o dom que, igualmente ao outro, possuía.

— Saber a língua das cobras não vai salvá-lo, Potter. — Sarcasmo preenchia sua frase. — Ele só obedece a mim.

A satisfação de seu lorde em ver o gesto de pânico do menor foi de fácil identificação. Sons de uma possível tentativa de fuga se misturavam com os sibilos do grande ofídio e o grasnido do pássaro avermelhado. Vislumbres do combate foram capturados por Pandora que, seguindo a ordem que lhe foi dada, continuava nas sombras. A voz do jovem Lord declarou a cegueira do basilisco com certa raiva, os passos de Harry Potter tornaram-se mais barulhentos conforme ele percorria as águas esverdeadas da câmara.

O destino do garoto alarmou a Gaunt, ele buscava nos túneis abrigo contra o temível monstro e dependendo do caminho que percorresse a encontraria. O feitiço desilusório tornou a ser feito e, aproveitando-se da falta de visão de Potter, cruzou o caminho mais rápido, passando pelo corpo inerte e quase sem vida da Weasley, e destinando-se ao antigo esconderijo de Tom Riddle. Este último pode perceber as ondulações no ar causadas pelo deslocamento da garota. Foi o tempo exato de embrenhar-se novamente nas sombras para o garoto de óculos disparar de seu antigo abrigo em direção aos outros dois.

Como ele conseguiu despistar o basilisco? Inconformada, a garota acompanhou os acontecimentos com uma visão mais ampla, porém distraiu-se com o sibilar conhecido próximo de si. O sorriso pravo tomou seus lábios. Ele tinha a mandado não se envolver diretamente, então um pequeno impulso indireto não seria considerado o descumprimento de sua ordem, correto?

— Potter está próximo de seu lugar de repouso. — Se fez ouvir através de um sussurro na língua das cobras.

O ofídio parou por alguns segundos e aproximou-se de Pandora, que não recuou. Ainda era protegida pelo encantamento e, igualmente, pela ordem do herdeiro. Não temia. A bocarra peçonhenta abriu-se em um claro aviso.

— Como sssaberei ssse não essstá blefffando? — retrucou em meio a sibilos.

— Por que o guiaria para um blefe se sigo a quem você obedece? — questionou da mesma forma.

O ofídio afastou-se de si pendendo as palavras da garota, sibilou alguma coisa em um humor não muito bom e destinou-se para o lugar onde foi informado. A corvina alargou o sorriso e voltou a prestar atenção no exato momento em que o monstro emergiu.

Potter, em pose de uma espada, escalou a face de Slytherin sob o constante avanço do basilisco. Ele desviou-se de todos e tentou desferir alguns golpes na cabeça do mostro cego. A espada entrou em atrito com a pele impenetrável do ofídio falhando em todas as suas investidas.

Tom Riddle deleitava-se com a visão daquela batalha desproporcional, em mãos da varinha de Potter, intercalava seu olhar entre a ruiva preste a entrar em seus últimos suspiros, o garoto já destinado à morte e a morena com parte de seu corpo envolvido na negritude, não mais com o encantamento cercando-a. Um sorriso satisfeito ameaçava abrir-se em seu rosto, mas não seria precipitado, aguardaria o momento certo para cantar vitória.

Pandora perguntava-se o porquê do ritual ainda não ter sido finalizado por completo quando um dos movimentos do menino que sobreviveu roubou-lhe a atenção. O basilisco avançou, em um golpe mortal, para cima dele, sua bocarra aberta e transbordando de veneno. Potter firmou a espada na mão e mirou-a no céu da boca do monstro que protegia a câmara. A lâmina transpassou a carne em um corte letal e o grande ofídio protestou com dor. O garoto retirou a espada, também protestando ao sentir um dos dentes peçonhentos perfurar a pele de seu braço, intoxicando seu organismo e assinando seu atestado de óbito.

O basilisco tombou com um último sibilo e feneceu, no solo encharcado da câmara, arrancando olhares atônitos do jovem lorde e da corvina.

Harry Potter arrastou-se, com suas vestes encardidas, até Ginny, segurando a presa do monstro, manchada com seu sangue, em uma das mãos e a espada noutra. Tinha o rosto avermelhado pelos últimos esforços realizados e suava em consequência do envenenamento.

— Engraçado — começa o herdeiro. — O estrago que um livrinho tão bobo pode fazer, ainda mais nas mãos de uma garota tão tolinha.

Cólera transbordava do garoto enquanto estendia sua mão para pegar o diário de couro, a outra palma firmou-se em volta da presa do ofídio. Os olhos de Pandora atentaram-se no movimento dele ao abrir o livro em uma página qualquer e erguer a peça embebida em veneno.

— O que está fazendo? — continuou com certa apreensão. Os orbes esverdeados de Potter encaram a lembrança daquele que matou seus pais, todo o rancor sentido agravado pela tentativa de assassinato à irmã mais nova de seu melhor amigo. — Pare! — exclamou precipitando-se para frente.

Tarde de mais.

O garoto apunhalou uma das partes do diário. As folhas, amareladas pelo tempo, tingiram-se de tinta preta, que surgiu no livro como sangue, que sai de uma ferida. Um buraco rutilante eclodiu na lembrança do jovem Lord, arrancando dele um protesto de raiva. Potter repetiu o mesmo gesto, dessa vez no outro amontoado de páginas, fazendo dessa vez, a luminescência surgir no rosto do herdeiro, que o cobriu em meio à gemidos dolorosos. O grifino observou a lembrança começar a desintegrar-se a partir de vários outros buracos que apareciam. Fechou o diário observando o couro preto e dirigiu a presa do basilisco àquela superfície. O gemido do outro tornou-se mais alto e contínuo até romper-se em uma explosão reluzente.

No mesmo instante, Ginny Weasley despertou. Respiração arfante, olhos arregalados, fios desgrenhados e a cor voltando à pele pálida.

Os acontecimentos posteriores a isso de nada importavam a Pandora. Ela continuou escondida no negrume de seu esconderijo por pouco mais de um quarto de hora, não que tivesse percebido isso. Seus olhos estavam vagos, sua mente em silêncio. Ainda tentava processar os últimos fatos, mas seus sentimentos, emaranhados em confusão, dificultavam o trabalho.

Só muito depois de Potter, os dois Weasley e o aturdido professor de DCAT, saírem da câmara, com a ajuda da fênix do diretor Dumbledore, foi que a garota afastou-se das trevas que a protegiam.

Os passos vacilantes a guiaram ao lugar onde o corpo da ruiva outrora repousava. O perigoso monstro lendário que protegia a câmara, que tinha como objetivo livrar Hogwarts de todos os inqualificados, era apenas uma carcaça.

Desviou seus olhos para a estátua de Slytherin, os olhos do grande bruxo pareciam vivos ao acusá-la do insucesso de sua missão. Você é indigna, os lábios se mexiam, ou, ao menos, pareciam o fazer, de ser considerada minha descendente. Pararam por um momento como se pensasse. Nem mesmo para a minha casa foi, escarneceu.

Um gosto amargo subiu à seu paladar, a varinha de seu mestre parecia sobrecarregar suas vestes, assim como o punhal usado no ritual. A sensação, e mais que isso, a certeza do fracasso pesava em seus ombros. Se ao menos Potter não tivesse levado o diário, poderia tentar… não finalizou o pensamento.

Estavam tão perto, só mais alguns segundos e a ruiva Weasley não mais respiraria, a reflexão a irritou.

Só mais um pouco…  Se ela tivesse… Se fosse… Poderia… Cada vez mais dessas frases formavam-se em sua mente tirando-lhe o fio de paz que ainda possuía.

Seus orbes mel pousaram no basilisco morto, demorando-se lá. Deu as costas para aquele cenário e deparou-se com as várias estátuas de serpentes. O amargor aumentou, as lágrimas queimaram tentando sair de seus olhos, mas negou veemente o contato delas com a atmosfera de fora.

Estava exausta de ser uma vítima de sua própria mente e, se permitisse que aquela situação se perpetuasse, o desfecho miserável dos acontecimentos naquele lugar se tornariam outro acréscimo ao peso que já carregava, por isso não mais permitiria que a história se repetisse. Junto com o ofídio, aquela parte de si feneceria.

— E o esqueleto dela jazerá na câmara para sempre — acrescentou para o nada. Um sorriso irônico formou-se em seus lábios, que logo se transformou em um riso.

Ali, sozinha, diante do insucesso daquilo que poderia ter mudado todo o rumo de sua vida, e do mundo, não podemos esquecer, Pandora Gaunt riu. Com todo o seu fôlego, por longos minutos, dirigindo toda a sua frustração ao riso maníaco que saía de sua garganta.

Conforme o ar ficou em falta, ela diminuiu a risada até está ser apenas uma lembrança.

Mas se você tivesse… as suposições voltaram. Ela sentiu vontade de lançar maldições imperdoáveis em cada hipótese que ousava rodear sua mente, atormentando-a com realidades paralelas que nunca existirão.

O que está feito, está feito, finalizou. Agora só me resta o aperfeiçoamento, para que quando o lorde derradeiramente retornasse, ela pudesse unir-se a causa sem nenhuma chance para insucessos.

A morena envolveu-se em seu fiel encantamento ilusório e percorreu, calmamente, o trajeto para a torre da Corvinal. Os corredores da escola estavam silenciosos pelo horário avançado, até mesmo os quadros dormiam. Não encontrou dificuldades durante o percurso.

Permitiu-se pensar sobre o futuro próximo. Não temia que a Weasley reconhecesse-a, a garota estava com uma névoa cegando-a, não via um palmo à sua frente, era guiada por completo pelo diário. Muito menos Potter, ele nem mesmo sabia  de seu envolvimento naquilo. Aliás, ninguém sabia. E aquele era um segredo cujo qual não pesaria em manter.

Deleitou-se ao responder, com facilidade, o enigma da vez e com alguns passos pode vislumbrar as paredes azuladas de seu salão comunal. Poucos alunos continuavam acordados e estes se distraiam através da leitura; aconchegados com seus livros em mãos e próximos as grandes janelas, admiravam a paisagem noturna em meio as pausas na leitura. Totalmente alienados a chegada de Pandora e ao mundo fora daquela pequena bolha.

A garota estendeu sua mão e retirou o primeiro livro, dos vários que preenchiam as inúmeras prateleiras, não se atentando ao título. Sentou-se em um dos confortáveis sofás estofados na cor de sua casa, azul, e abriu o exemplar em sua primeira página. Leu as palavras inicias e, alguns segundos após, entretivera-se com as teorias bruxas sobre o nascimento, progresso e disposição do universo**. Os pensamentos, que antes a atormentavam, foram empurrados para o obscuro de sua mente.

Pandora estava ciente de que o sono tardaria a fazer-se presente, apesar do cansaço de seu corpo, por isso pôs-se a ler o próximo parágrafo e o que veio depois desse. Recostou-se ao estofado, relaxadamente cruzou as pernas e afastou os fios castanho-escuros do rosto. Se alguém de fora visitasse aquele salão comunal não conseguiria distinguir a garota de seus colegas corvinos. Até porque, era como se nunca tivesse saído daquele lugar.


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Notas finais do capítulo

*Pelo sangue do escolhido a vida se refaz. Receba a pura oferenda e aceite o sacrifício vermelho. Feito por seu fiel seguidor. Volte e reine com inteligência. Meu lorde. Ressurgindo e finalizando o que que foi destinado. Erguendo-se novamente. Novamente!
**Ou seja, a Cosmologia. Que segundo alguns fansites seria uma das matérias estudadas nas aulas de astronomia.


Por Aslam! Não acredito que essa one finalmente está postada! Geente, wow.
Olá, pessoa que está lendo o/
Essa one é meu bebê, Zotori bem sabe como eu me sinto em relação a ela, - eai, amiga? - e pode contar-lhe sobre isso. A ideia desse enredo me veio no meu período mais obcecada por Lord Voldemort e pelo órfão que ele foi antes de se tornar tal. Quando Pandora chegou a minha mente ela exigiu ser escrita, mesmo eu falando que "não tem motivo de fazer isso, vou só perder meu tempo", ela foi sagaz e conseguiu obrigar-me a escrevê-la.
Eu tenho muitas ideias para fazer uma continuação e afins, gostaria muito de ver a reação, leitor, diante dessa personagem original.
Well, espero que você tenha gostado e que tenha valido a pena se não tiver deixe o seu comentário falando o que preciso melhorar ou evoluir.
Obrigada por me dar sua atenção, pessoa.
Bye Bye



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