O Homem do Fim do Universo escrita por Vlk Moura


Capítulo 7
Capítulo 7 - O que você não se lembra




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/691291/chapter/7

Eu estava me sentindo mal, Taec estava atento a tudo a nossa volta assim como eu e Khunnie, meu celular apitou, uma luz vermelha piscava louca. Obrigada, River. Fui até um painel que encontrei de fora de uma cela, comecei a digitar.

— De onde vocês se conhecem? - Woo perguntou a Taec.

— Há uns três meses ela e um cara estranha quase me atropelaram com a caixa de policia azul, eu estava indo para um dos nossos ensaios quando ela saiu correndo e trombou em mim. 

— Atrás dos cybermen - falei parando de digitar, olhei os dois.

— Isso... - ele suspirou - Acabei sendo arrastado pelos dois porque um deles estava por perto e ela falou que gostava das nossas músicas.

— Seria lindo se ela se lembrasse disso - Jun K falou e apoiou ao lado do teclado - O que está tentando fazer?

— Abrir uma passagem, acho que podemos chegar ao ChanChan mais rápido.

— O que quer dizer?

— Que ele está por perto, mas se seguirmos direto vamos demorar muito - joguei meu celular para ele - Jun K, eu sei que você não confia muito em mim, na verdade, a maioria de vocês, mas eu juro que vou reunir vocês todos e deixá-los a salvo.

— Do quê? - Khunnie perguntou.

— De mim...

Falei e digitei um último código. A passagem se abriu e me surpreendi, lá estava um ser alto de óculos paletó riscado, minha cabeça começou a rodar, ele estava com aquela caneta engraçada apontada para nós, mas por alguma razão eu sabia que não era para nós e sim para a porta. Ele tirou os óculos e nos encarou. Sorriu.

— Doctor... - falei e me afastei - Você... Você precisa fugir...

— Eu sou o Doctor - ele sorriu e guardou a caneta engraçada. - E vocês são?

Eu apertei minha cabeça com minhas mãos, eu precisava sair de perto dele, eu sentia as emoções se perderem a raiva tomar conta de mim, o desejo de vingança tomar meu corpo. Eu queria acabar com ele e sabia que não podia. Me afastei correndo, o 2PM ficou parado observando o homem que nos observava curioso. JunHo veio atrás de mim e tentou me parar eu o acertei, e o olhei assustada, ele segurava o nariz que sangrava, eu queria chorar, eu queria parar e pedir perdão, mas eu lhe dei as costas e continuei correndo.

— Ca, precisamos conversar - meu pai estava com olheiras enormes, os olhos vermelhos, a barba estava grande e bem falhada como de costume, o cabelo estava bagunçado o que era estranho. Me sentei no pé da cama, minhas pernas não alcançavam o chão - Sua mãe - eu não a via há dias, mas ele sempre dizia que ela ainda estava viajando, ela tinha ido para Europa, mas já fazia meses e ela não passava tanto tempo longe - ela sofreu um acidente...

— Ela caiu da escada novamente? - perguntei rindo, minha mãe costumava cair da escada de casa e isso parecia mais um dos momentos em que ele me dizia que ela tinha quebrado o braço e ido para o hospital.

— Não... Ela se foi, para sempre - eu não entendia - Sua mamãe, ela faleceu. Ela virou uma estrelinha.

Eu gritava em desespero, como aquilo doia, era insuportável. Meu pai destruído, eu chorando sem entender direito o que aquilo queria dizer. Nunca teve um funeral, mas depois da morte dela meu pai afundou, álcool era sua saída, e quando chegava nas datas de seu falecimento ele passava, pelo menos, uma semana longe de casa, e quando voltava estava pior do que antes. Era sempre assim. No aniversário dela ele costumava fazer o bolo favorito da minha mãe e cantar parabéns sozinho para ela. 

Eu me encolhi em um canto da prisão, eu não sabia o quanto eu tinha corrido e muito menos sabia onde eu estava, meu celular ficara com Jun K, agora eu estava completamente sem comunicação, eu estava encharcada de lágrimas desesperadas, eu sequer conseguia respirar.

— Dez anos! - ele entrou em casa falando, eu estava sentada no sofá assistindo um filme de terror - Faz dez anos que ela nos deixou - ele tinha uma garrafa de cerveja nas mãos e a levantava para o alto - Espero que esteja se divertindo. 

— Ela morreu, não tem nada depois da morte - falei indo até ele tirando a garrafa de sua mão, ele tentou me acertar, mas já estava passado demais, eu nem sabia como suas pernas aguentavam sustentar o corpo.

— Morta - ele riu engasgado - Antes ela estivesse morta de verdade - eu quase o deixei cair com o susto - Aquela vadia te largou comigo, me trocou por um maldito europeu, tem lá sua família perfeita.

Ele escorregou das minhas mãos, caiu sentado, eu estava atônita. Não conseguia me mover, não conseguia dizer uma palavra sequer.

— Isso dói. - ele falou.

— Você está mentindo! - eu briguei - Você está bebado, você está mentindo!

— Não! - ele respondeu engasgado.

Eu peguei minha chave, o caderno que sempre ficava sobre o balcão e saí pelas ruas, já era madrugada e eu não estava ligando para o que ia acontecer. Me sentei na praça a luz estava clareando boa parte do espaço. Abri aquele caderninho, minha mãe fazia várias anotações naquela coisa, ela anotava sobre as estrelas, os planetas, sobre ETs, eu sempre pensei que fosse tudo um delirio dela, era o que me diziam que ela era louca, que ela sonhava com coisas impossíveis, eu não gostava de pensar nisso, pensava apenas que ela gostava de fantasiar, mas não como uma louca. Alguns desenhos e um deles era uma cabine telefonica azul, e parecia ter escritos em inglês. Ela descrevia um homem magro, de óculos, paletó riscado. 

— Doctor!

Abri meus olhos, eu estava sozinha, ninguém em volta, nem mesmo os loucos alienigenas que costumavam aparecer por ali. Limpei as lágrimas, minha cabeça doia, eu queria vomitar. 

Comecei andando e então corri. Eu precisava voltar. Algo me acertou. caí sentada e lá estava, a outra eu, ainda tinha as marcas de nossa última luta.

— Me deixe ir - falei e vi alguém surgir com ela. - River...

— Como sabe meu nome? - ela perguntou.

— Apenas sei - falei me levantando - Eu não quero brigar com voc~es, apenas me deixe passar.

— Não! Você é quem precisamos parar!

— Eu? - como eu não me lembrava daquele momento, aquela eu era mais nova, eu deveria ter alguma lembrança sua. 

— Você irá atraí-lo para nós - Doctor!

— E quem disse que será fácil me pegar? - eu dobrei as mangas do casaco.

— Por isso! - River jogou um raio sobre mim, eu não conseguia me mexer.

Droga! 

Elas me carregaram pelos corredores, me jogaram em uma cela, me trancaram e quebraram o painel de controle dela, não tinha como eu sair. A outra eu pegou o casaco do Capitão. Eu estava brava comigo por ter feito isso e por mais que fosse eu usando aquela coisa, não era EU quem realmente estava vestindo aquele enorme e belo casaco. Levantei depois que me trancaram, fui até a porta e não conseguia abrir, olhei em volta, nenhuma entrada de ar era realmente uma entrada, eram apenas buracos por onde saia um ventinho. Me joguei ao chão, não tinha muito o que fazer.

— Carla! - alguém me sacudia - Ei, você dormiu aqui? - eu pulei na pessoa e vi ser minha avó. - Vem, querida, você precisa tomar um banho.

Eu a segui, ela me puxava pela mão como quando eu era criança. Tomei banho, ela me entregou uma muda de roupa que eram da minha mãe.

— Você e ela são tão parecidas - ela falou sorrindo.

— Por que ninguém nunca me contou? - ela me servia o café, percebi que travou por alguns instantes, abracei minhas pernas - Por que nunca me contaram que ela nos abandonou?

— De que iria adiantar?

— Eu não teria ficado sabendo dessa forma.

— Ele estava bebado? - confirmei - Sei que ele é meu filho, mas que Deus me perdoe, ele é um lixo. - eu a observei enquanto queimava minha língua - Seu pai não acreditou que fosse possível ser trocado por um outro homem.

— Por que ela nos abandonou?

— Ela queria algo melhor. Não a culpa, seu pai não é uma pessoa fácil.

— E quanto a mim?

— Ela tentou te levar com ela, eu até tentei ajudar - ela bebeu um pouco do café - Mas seu pai nos vetou de tudo, disse que se ela tinha ido então que sofresse sozinha. Você era filha dele e não iria ter outro pai.

Eu a observei, minha avó parecia acreditar que eu ter ido e ter tido uma nova família parecia ser a melhor coisa.

— Ela era muito sonhadora, assim como você - ela sorriu se lembrando - Uma artista, essas minhas paredes foram feitas por ela - observei aquelas pinturas, eu nunca soube, quem diria, minha mãe estava comigo até quando estava do outro lado do oceano. - Mas com certeza você é mais seu pai do que sua mãe - eu a observei - Uma pena.

— Você diz encrenqueira? - ela confirmou - Faz parte da minha natureza. Vovó - ela me olhou - quem mais sabe disso?

— Todo mundo - eu não acreditava - Todos sempre souberam. Ela era muito boa para ele - era doloroso ouvir aquilo saindo da boca da mãe do meu pai, ele era difícil, não posso negar isso, mas eu não diria que minha mãe era boa demais para ele, com todos os problemas ele me criou e só sou o que sou por causa dele.

Abri meus olhos, eu tinha dormido no chão. 

A porta se abriu, observei River, levantei de uma vez e corri contra ela, aprendi aquilo vendo os jogos de Rugby do meu primo, usei todo o meu peso e mais o dela. Ela caiu, acertei um belo soco em seu rosto, ela apagou, nunca pensei que teria coragem de fazer isso com a River, não com minha River que me ajudara tanto. Que fora como uma mãe para mim, mas lá estava ela nocauteada. Limpei o suor do buço com o braço, eu estava brava, não, furiosa. A minha eu surgiu na porta curiosa e ao me ver sobre o corpo de sua companheira correu. Fui até a porta, tinham arrumado o painel de controle, eu tranquei.

— Desculpa, River. 

O quebrei e arranquei pedaços que impediriam que ele funcionasse.

Olhei em volta, eu precisava me encontrar, eu precisava acabar comigo. 

Corri para um lado e já avistei o casaco, ele balançava enorme em mim. Acelerei o passo ignorando as dores na nuca, eu precisava do casaco, eu precisava do Capitão.

Pulei como um felino caçando um cervo. Acaí em cima de mim que comecei a gritar, eu parei meus braços e acertei um soco em mim. E outro e outro e outro, eu estava quase me matando e ia fazer isso sem ligar para que eu fosse sumir e nunca viver as coisas das quais não me lembro, mas se não me lembro qual o problema de nunca ter vivido?

— Você é uma criminosa! - a mulher gritava para mim - Isso é o que se torna uma menina que cresce sem a mãe! - ela cuspia em mim essas palavras. Atrás dela um menino com o rosto inchado, nariz e boca sangrando. - E que tem um pai louco!

— Não fala assim do meu pai - eu ia pra cima dela, mãos me seguraram a mulher se encolheu amedrontada.

— Essa menina precisava estar num zoológico não numa escola.

— Eu vou quebrar a cara dessa mulher - eu urrei e as mãos me puxaram para longe.

Eram conhecidos da minha família que me paravam. 

Me levaram até a casa da minha avó que me olhou horrorizada, começou a cuidar dos machucados da minha mão causados pelos socos mal dados. Enquanto ela fazia isso chorava.

— Por que você fez isso? - ela perguntou segurando soluços.

— Porque eu não podia deixar que ele continuasse a falar o que falava - ela me olhou parando por alguns instantes, até sua respiração parou.

— O que ele falava?

— Que meu pai era um fracassado e minha mãe uma lunática e que minha família era tão fracassada que não tinha como eu ser alguém. - eu segurei as lágrimas - E o pior é que ele está certo. - ela parou de mexer na minha mão e me olhou.

— Querida, você não pode deixar que digam essas coisas.

— Eu sei, por isso soquei a cara dele - falei e ela riu - Mas ele tem razão, veja meu pai, veja que até minha mãe o largou, nos largou. O que o futuro me aguarda?

— A maior aventura da sua vida, minha querida.

Abri meus olhos, a minha eu do passado desmaiada entre minhas pernas, eu ofegava sobre ela e percebi que chorava tanto que as lágrimas molhavam o rosto da minha eu do passado, a eu sem esperanças, não culpo que ter me juntado a River criminosa tenha funcionado, eu estava completamente sem chão. Empurrei o corpo para longe do casaco e o vesti, arrumei meu cabelo em um coque bagunçado, limpei as lágrimas de forma desajeitada, minha cabeça doeu, a tontura me atingia com força, minhas pernas trançavam na melhor reprodução do meu pai em nossa última noite.

Cheguei até uma área enorme na prisão, vários alienigenas gritavam e corriam, fofocas sobre uma verdadeira saída se espalhavam e lá estava eu tentando me encontrar. Apoiei contra uma parede.

— Banana? - olhei quem me oferecia, eu o conhecia, eu sabia quem ele era.

— ChanSung! - eu o abracei, ele desajeitado me abraçou de volta, fiquei naquele abraço por muito tempo, não porque eu queria, mas porque eu não conseguiria me sustentar de pé caso o largasse. - Que bom que te achei...

— Carla... -ele sabia quem eu era, por que os outros não sabiam? - Taec sabe que você está aqui?

— Eu me encontrei com... ele... - eu me afastei e quase caí, ele me segurou. - Tem algo errado...

— Fora que estamos numa prisão com monstros? - eu ri.

— É fora isso...

— O que mais há de errado?

— Você e ele são os únicos que se lembram de mim - ele me observou - O que é você, ChanChan?

Ele pareceu confuso, eu me afastava dele escorada  a parede a única forma de me manter de pé. Ele não entendia o que eu queria dizer, mas eu sabia o que ele era, em minha mente algo apitava, algo sobre uma história do nascimento da River que o Doctor me contara, algo sobre Amy Pond, algo sobre seres feitos de carne, clones de carne. 

ChanSung se aproximou e explodiu espirrando carne para todos os lados, meu estomago revirou querendo expelir qualquer coisa que estivesse nele. Logo atrás do corpo um homem com nariz grande e gravata borboleta apontava a caneta engraçada para mim. 

— Carla! - ele falou como se dissesse Eureka! 

— Doctor? - ele sorriu.

— Venha - tomou minha mão e começou a me puxar, eu sabia que era ele, aquele cheiro era inconfundivel - Amy está nos aguardando.

— Calma! Calma! - ele me olhou - Eu não posso...

— Por quê?

— Porque é isso que eles querem.

— Eles? - confirmei - Eles quem?

Apontei para minha cabeça, ele não entendia, mas algo dentro de mim, meus instintos, me diziam que era seguro confiar nele. Dei-lhe as costas e mostrei o corte, ele veio até mim e o tocou, doeu, doeu muito como se ele estivesse enfiando o dedo ou até a mão inteira na abertura em minha nuca e por alguns segundos eu realmente acreditei que ele estivesse fazendo isso. Eu o olhei, ele só tinha aquela caneta apontada para mim. Me afastei.

— Para... - eu sussurrei - Para! - eu gritei - Doctor, por favor, para! - apertei minha cabeça - Isso está me matando!

— Não, não está - ele analisou algo - Mas logo irá. - ele ficou pensativo. - Você sabe quem eu sou?

— O Doctor.

— Você se lembra QUEM eu sou? - neguei, ele suspirou.

— Mas sei onde tem vários de vocês - el eme olhou curioso - E me disseram que eu tinha de reunir todos em um só lugar.

— Quem disse? - boa pergunta, quem disse? 

Eu e ele arregalamos os olhos. 

Era uma armadilha, uma armadilha para todos eles. Iam destruir o Doctor, todos ele. 

Tateei o casaco, não encontrei nada, busquei por pontos de comunicação, não encontrei nada. 

Dentro do bolso do casaco encontrei um relógio, eu passei o dedo pelo vidro em sua tela ele me lembrava de algo, me lembrava de algo importante que eu prometi não esquecer, mas... eu esqueci. Olhei o homem a minha frente que assim como eu buscava uma forma de se comunicar com as pessoas. 

— Já sei! - falei.

— Encontrou um meio de nos comunicarmos com os outros?

— Não, mas acho que podemos achar um meio. Vem comigo.

Saí correndo e ele logo atrás, algo que percebi em todas as versões do Doctor é que ele é bom em correr, todos fazem isso com maestria. Dei a volta por vários corredores, alguns nos faziam sair onde partimos, outros nos levavam a lugares sem saída.

— Para onde quer me levar?

— 2PM.

— 2PM? Novamente? - eu o encarei - Nos encontramos com eles antes de pararmos aqui.

— É? - ele confirmou - Espera... Se o que você diz é verdade então tem alguém brincando muito sério com a gente.

— Sim... E quero descobrir quem é, mas antes preciso salvar o meu passado.

— e o seu futuro - ele me olhou - Tem um você do futuro.

— Eu vou ficar ruivo? - eu ia responder que não quando ele me interrompeu - Não, esquece, spoiler, não quero spoiler.

Dei de ombros e comecei a segui-lo, ele parou de fora de uma porta.

— Espero que esteja pronta para a maior aventura de sua vida. - ele falou e então abriu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Homem do Fim do Universo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.