Contos do desconhecido... escrita por Nando


Capítulo 6
Marta


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta! Agora no papel de Marta, que faz uma reflexão sobre sentimentos e que acaba por ter um encontro que pode mudar toda a perspetiva que tinha sobre o mundo... Aproveitem!



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            O curso para professora era complicado, mas eu estava preparada. Tinha tudo o que era necessário. Estava tudo a correr como tinha planeado.

            Aproveitando a pausa, sentei-me no chão e olhei para o céu. Veio-me á mente a teoria de David, que eu tinha negado. Na verdade ele até tinha um pouco de razão. Era estranho o facto de o chão e o céu terem a mesma cor. Principalmente aquela cor…

            Perguntei-me onde David estaria agora. Conhecendo como conhecia rapidamente criei três teorias, com total certeza que uma era a certa: Podia estar ainda a pensar o que fazer; podia ter-se lembrado da existência dos caminhantes e entrar ele também numa viagem; ou então tinha seguido Alice para a mesma profissão que ela…

            Todas elas me preocupavam. O facto de não ter escolhido ainda a profissão era mesmo a cara dele e era um bocado preocupante, mas as outras preocupavam-me mais. Se escolhesse ser caminhante, ele provavelmente entraria numa longa viagem e poderia nunca mais vê-lo… Algo que me deixava de uma maneira que não conseguia explicar, mas que eu não gostava nada de sentir…

            Mas a última ainda me deixava pior. Sempre me incomodou o facto de ele estar sempre a olhar para Alice, nunca compreendera esse facto, nem ele próprio entendia, perguntando-me várias vezes se aquilo era normal. A princípio achei que fosse uma paranoia da sua cabeça, mas á medida que isso avançava comecei a suspeitar que houvesse algo mais… Algo que nunca ninguém tinha sentido…

            Tudo ia acabar na mesma palavra: “sentimentos”. Nem mesmo os professores conseguiam explicar essa palavra de origem tão misteriosa, que tinha sido usada para dar um nome a coisas que não conseguíamos descrever e que aconteciam dentro de nós. Era um conceito novo, ninguém sabia ainda usá-lo de forma correta. Os desenvolvedores da língua tinham dito que também havia maneiras de expressar estes sentimentos, ou seja, conseguirmos mostrar o que sentíamos a outras pessoas, indicando assim que havia maneiras de detetarmos o que uma pessoa sentia. Havia vários tipos de sentimentos ainda por descobrir, podia até haver uma infinidade de sentimentos, mas apenas dois tinham sido mais bem explicados e com o nome atribuído: sendo a alegria e a tristeza. O engraçado é que mesmo com o nome atribuído, cada sentimento tinha mais do que um nome, pois também podiam ser chamados de felicidade e infelicidade (felicidade para a alegria e infelicidade para a tristeza), havendo também muitos outros nomes, alguns sendo variações ou então outros nomes completamente diferentes.

            Estes dois sentimentos são totalmente opostos. Diz-se que uma pessoa está alegre (ou seja sobre o efeito de alegria) quando ela está bem-disposta, mostrando felicidade, geralmente com um sorriso no rosto. Quando uma pessoa se encontra assim, geralmente indica que algo de bom aconteceu com ela, ou simplesmente que se encontra feliz (outra variação de alegria) por qualquer motivo.

            Já a tristeza, tal como referi, é exatamente o oposto. Diz-se que uma pessoa está triste (sobre o efeito de tristeza) quando se encontra cabisbaixa, geralmente se distanciado dos outros, embora haja pessoas que preferem estar com alguém perto delas para lhe dar apoio, este sentimento indica que algo de mal aconteceu com essa pessoa…

            Outra coisa que eu achei interessante é o facto de nos termos habituado a usar estas palavras relacionadas com sentimentos. Mesmo este tema ter sido dado de uma maneira vaga na escola (eu apenas fiquei a saber devido ao curso de professora) as pessoas acostumaram-se a utilizá-los, mesmo não sabendo utilizá-los de forma correta…

            Mas mesmo parecendo que os sentimentos são algo comum, eles não são. Este facto pode se mostrar devido ao atraso que houve para descobrir a existência de sentimentos. Poucas foram as pessoas que experimentaram estes sentimentos. O normal é sentir estes sentimentos de uma forma mais reduzida, ou nem chegar a sentir nada…

            Mas voltando ao início, ainda há pouca coisa que se sabe acerca destes sentimentos, ou seja, ainda haverá muita mais coisa para descobrir sobre esta palavra mágica a que chamámos sentimentos, eu apenas revi isto na minha mente pois eu acho que há uma probabilidade de o David estar a ter um novo tipo de sentimento em relação a Alice, mas ainda era muito cedo para afirmar esse facto. Tinha de esperar mais um bocado…

            Levantei-me e comecei a andar. Não tinha nenhum objetivo em mente, apenas andei para desanuviar um bocado. Enquanto andava ocorreu-me um pensamento que me deixou abalada: E se o facto de eu não gostar que David estivesse sempre a olhar para Alice também fosse um novo sentimento? Não, isso não era possível, como poderia? Ter um sentimento por uma pessoa que tem um sentimento por outra? Que confusão! Estava-me a tornar como o David que criava teorias assim do nada! Mas se pensasse bem…

            A minha cabeça estava confusa. Nem sabia o que pensar. Abanei a cabeça para tirar aqueles pensamentos, e quando por fim voltei a mim olhei á volta e deparei-me com algo que nunca me tinha acontecido: estava perdida! Como me tinha perdido? Sempre tivemos o caminho mostrado para todos os lugares essenciais, mas uma pequena distração fez-me sair do caminho original e tinha-me perdido. O pior é que não havia pessoas á volta para me poderem indicar o caminho. Comecei-me a preocupar, sem saber o que fazer. E foi então que tudo parou. A minha mente deixou de pensar por um bocado. Ouvi um barulho. Nunca tinha ouvido nada parecido. Era um barulho agudo, e, por algum motivo, parecia que já o tinha ouvido antes…

            Virei-me e quase que tive que tapar a boca para impedir que um grito saísse. Não tinha notado nenhuma presença atrás de mim e principalmente não tinha notado aquilo. Tudo que normalmente se via neste mundo eram apenas pessoas. Nada mais. Mas aquilo contrariava tudo. Não era uma pessoa. Era bem mais pequeno que eu. Tinha quatro pés apoiados no chão, embora fossem totalmente diferentes dos pés que se vê normalmente. Tudo o que tinha a tapar o seu corpo era pelo, que o cobria inteiramente. E a cor variava. Na maioria era preto, mas havia sítios onde era branco. A cara também era diferente, se é que se podia chamar cara… Tinha duas orelhas grandes, um nariz preto (também diferente do habitual) e uma boca grande que várias vezes abria para deixar sair uma língua comprida.

            Estava assustada. Não sabia o que fazer. Nunca antes tinha visto algo assim. Os seus olhos fitavam-me com um estranho sentimento que eu não conseguia explicar. Um novo sentimento? Não havia tempo para pensar nisso! O que faço?

            E foi então que aquilo se deitou para cima de mim, fazendo-me cair no chão. Por algum motivo fui incapaz de me mexer. E foi então que vi que ele mostrava muita alegria. Fiquei paralisada fitando-o. E uma palavra saiu da minha boca. Nem eu própria entendi porque o disse, e o que significava, apenas saiu, sem sequer me aperceber, mas deixou-me com um novo sentimento que não conseguia exprimir. A palavra que saiu da minha boca foi:

            -Harley…


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Notas finais do capítulo

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