Contos do desconhecido... escrita por Nando


Capítulo 5
Alice


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta! Agora no papel de uma nova personagem que planeja entrar para a "Companhia do Futuro", veremos o que a aguarda...



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Por mais que andasse nada parecia mudar á minha volta. A única coisa que mudava era o número de pessoas. Nada de novo aparecia, nem mesmo o chão por onde andava, mudava de cor. E o céu também permanecia sempre o mesmo, parecendo seguir cada passo meu…

Também eu seguia os passos de um homem, supostamente nosso guia, que nos tinha vindo buscar. Mas cada passo que dava, cada vez mais me confundia. Embora nada mudasse, eu sempre tinha a sensação de que se quisesse voltar não conseguiria, devido a todos as rotas que tomávamos.

O guia permanecia sempre com os olhos pregados no chão, sem os levantar, fazendo um desvio na sua rota de vez em quando. Não falava muito, respondendo às perguntas de maneira evasiva, estando mais atento ao seu trajeto do que às pessoas que o seguiam.

            Por falar nas pessoas que o seguiam, não éramos muitos. O grupo era pequeno. Juntamente comigo, e excluindo o nosso guia, éramos cinco. Tal como previra, a “Companhia do Futuro” não era muito procurada…

            Mas, mesmo sendo poucos, aquele grupo era estranho. Havia uma rapariga muito comunicativa que quebrava o silêncio, sempre com algumas perguntas que ninguém lhe sabia responder devido a serem direcionadas ao guia, que pela sua falta de comunicação respondia de maneira vaga (quando respondia). Mesmo assim os seus olhos azuis brilhavam de excitação e o seu cabelo castanho, que se alongava pelas suas costas, abanava de um lado para o outro. E vendo que o guia não lhe respondia eu tentei responder o melhor que conseguia. Chamava-se Vanda.

Havia um rapaz que falava connosco, com o cabelo castanho, parecia estar pronto a ajudar, sempre com um sorriso no rosto respondendo o melhor que podia às perguntas de Vanda, embora também ele tivesse algumas perguntas. Chamava-se Ban.

            Quanto aos dois restantes, não sabia o que dizer sobre eles. Eram um rapaz e uma rapariga. Estiveram toda a viagem sem dizer nada para além do nome. A rapariga chamava-se Gabrielle e o rapaz Adrian.

Gabrielle tinha o cabelo louro, liso e de uma maneira muito requintada, bem como as suas roupas – usava um vestido amarelo que condizia com os seus cabelos e sapatos que parecia que brilhavam. A princípio pensava que era uma pessoa comunicativa, mas bastou uns momentos de conversa para perceber como ela se encontrava distante, evitando falar com qualquer um de nós. Mantinha uma distância segura de nós, seguindo atrás.

Mas Adrian seguia ainda mais atrás, mas não era ele que se tinha atrasado, nós é que nos tínhamos distanciado dele. O seu aspeto destacava-se entre nós. Os seus cabelos negros e a sua roupa estavam totalmente desalinhados, e davam-lhe um ar um pouco estranho. Mas aquilo que nos fez distanciar dele, incluindo Gabrielle, eram os seus olhos. Transbordavam de algo que eu não conhecia, e cada vez que os olhava de relance sentia algo a subir pela minha espinha. Era uma sensação desconfortante.

Tirei aqueles dois da minha cabeça e virei-me para Ban e Vanda, entrando na conversa. A Vanda estava a tentar descobrir por quanto tempo teríamos de andar e que rotas iríamos tomar, mas como o guia não lhe prestava atenção, foi Ban que começou a especular com ela e eu acabei por me juntar á conversa. As nossas ideias nem tinham nada em concreto, apenas mandávamos ideias á toa, na esperança de acertar.

E, pouco tempo depois acabámos por chegar, num total de 225 passos. Quem acabou por ficar mais perto de acertar foi Ban que tinha dito que daríamos mais 200 passos, eu tinha dito 300 e a Vanda 452.

Apenas nos apercebemos que tínhamos chegado quando o guia parou e com a sua voz rouca anunciou o fim da viagem. Sem termos tempo de racionar o lugar onde nos encontrámos, fomos recebidos por um homem com um rosto alegre que nos começou a apertar as mãos entusiasticamente, introduzindo-se enquanto passava por nós:

—Olá a todos, prazer em vos conhecer, o meu nome é Daniel, vice-presidente da “Companhia do Futuro”, conto convosco para tentar melhorar este lugar…

O entusiasmo dele notava-se ao longe. Talvez a falta de membros o deixa-se um bocadinho impaciente, o que se dava na sua alegria quando se dava a entrada de novos membros.

Depois de ele nos ter cumprimentado ficámos a conhecer os outros membros. Eram á volta de 50, sem contar connosco. Estavam todos sentados, á exceção de um homem, provavelmente o presidente da companhia, que se encontrava em pé.

Daniel fez-nos sinal para o acompanharmos. O guia sentou-se ao pé dos outros e nós os cinco seguimos Daniel até o lugar onde se encontrava o presidente. Este virou-se para nós, e pudemos ver claramente as suas feições. O seu rosto apresentava várias rugas, os seus olhos mal se abriam e o seu cabelo meio acinzentado dava-lhe algum respeito. Abriu a boca e falou com uma voz grave e rouca:

—Boa seja a vossa vinda, novatos! O meu nome é Samuel e sejam bem-vindos ao lugar onde passarão a maior parte das vossas vidas. Um lugar onde cooperarão para que este lugar onde vivemos siga numa direção desejada por todosl!

Aplausos por todos na plateia. Naquele momento senti que tinha tomado a direção certa. Não percebia porque pouca gente entrava para ali. Nós podíamos encontrar novas maneiras para conviver neste mundo. O futuro estava ali!

O presidente pediu silêncio e virou-se novamente para nós:

—Agora queremos que sejais vós a falar. Contem-nos os vossos motivos para estarem aqui!

Aquilo era um pouco inesperado. Mas era algo oficial, então tínhamos de cumprir. O presidente apontou para Ban ser o primeiro a falar. Este deu um passo em frente, e assim fez:

—Eu juntei-me a esta companhia porque desejo que todos nós tenhamos uma vida sem nada a complicar. Quero que possamos caminhar juntos para um futuro onde todos nós estejamos numa boa condição!

Fiquei impressionada com Ban. Os seus motivos eram fortes e foram bem acolhidos por todos, que o aplaudiram fortemente. A seguir foi a vez de Vanda:

—Eu quero que todos nós possamos ser felizes! É apenas isso que quero! Mesmo que várias mudanças aconteçam, eu apenas quero que todos possamos ser felizes!

Também ela foi aplaudida vivamente. Eu acabei por aplaudir também, estava impressionada com os dois! E agora era a minha vez:

—Eu quero encontrar novas maneiras para desenvolver o mundo. Quero descobrir o que teremos pela frente. Quero enfrentar o futuro!

Também eu fui aplaudida. Ver toda aquela gente a aplaudir-me deixou-me sem palavras. Naquele momento senti-me especial. Senti que os meus motivos eram apoiados. Era uma sensação incrível!

            De seguida foi Gabrielle, e as suas palavras deixaram toda a gente sem saber o que dizer:

            -Eu acredito que desta maneira não haja nenhuma evolução. Não iremos a nenhum lado apenas a falar uns com os outros, mandando teorias á toa sobre o que fazer a seguir… Por isso quero que exista alguém que mande, alguém que possa dar as ordens, alguém que saiba o que fazer e que leve este lugar numa boa direção, é isso que eu acho e que desejo…

            Houve um silêncio a instalar-se na sala. A ideia de Gabrielle era algo que nunca ninguém tinha pensado, então tinha atingido todos de surpresa. Foi o presidente que quebrou o silêncio:

            -Tenho que admitir que isso possa ser uma boa ideia. Vamos ter em conta daqui para a frente!

            Ela agradeceu e deu espaço para Adrian. Este coçou o cabelo, e se aquilo que Gabrielle disse, nos tinha apanhado desprevenidos, então Adrian simplesmente quebrou os pensamentos de toda a gente. A sua voz, que antes mostrava uma certa melancolia, neste momento estava totalmente diferente, parecendo vir do fundo dos seus pensamentos, mostrando sinais de fúria e desgosto:

            -Este mundo está uma porcaria! Tudo o que fazemos é falar uns com os outros! Ninguém procura uma maneira para mudar este mundo aborrecido! E toda a gente simplesmente toma este aspeto como sendo uma coisa natural! São todos idiotas! Ninguém percebe nada do que está á volta deles, eu não suporto mais viver assim! Quero mudar este lugar podre!

            O silêncio voltou de uma maneira muito mais pesada. Houve uma troca de olhares na plateia. Eu fiquei sem saber o que fazer, e todos os outros também. Foi o presidente que quebrou o silêncio outra vez, mas desta vez com o som de palmas:

            -Wow! Temos aqui um dos meus! Os teus pensamentos são impressionantes! Conto contigo!

            Adrian deu alguns passos atrás, voltando ao seu modo original, e então o presidente deu por encerrado aquela reunião. As pessoas começaram a sair, mas eu nem me mexia. Os pensamentos de todos tinham-me deixado sem palavras. Tinha-me acabado de dar conta de uma falha grave que aquela companhia tinha, algo que podia dificultar os seus objetivos, talvez um dos motivos para a falta de membros: como poderíamos melhorar o mundo, se os nossos objetivos e ideias eram tão diferentes?


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Notas finais do capítulo

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