Contos do desconhecido... escrita por Nando


Capítulo 3
Fake


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta! Lamento pelo atraso, tenho andado ocupado... Mas é um novo cap! Um novo personagem com uma maneira diferente de pensar... Aproveitem!



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         As palavras andavam á volta de mim como uma roda. Conversas, risos, sorrisos…

         Porque sou obrigado a conviver com eles? Denominam-se a si mesmos pessoas e acreditam que conviver entre eles é uma coisa maravilhosa. Pior, eles ainda dizem que sozinhos não seriam ninguém e a vida não teria sentido. Absolutamente ridículo! Adoraria ir para um mundo onde só eu existisse! Assim não tinha que conviver nem mostrar o meu sorriso, fingindo-me encaixar no mundo á minha volta…

            Respirei fundo e tentei acalmar a minha raiva. Olhei para o alto, para o céu, com aquela sua cor misteriosa que eu não compreendia. Havia tantas coisas que eu não compreendia sobre aquele mundo! Como funcionava? Qual o objetivo da sua existência? Porque estamos aqui? Tantas as perguntas... E nenhuma resposta…

 Olhei ao meu redor para observar as pessoas ao meu redor. Um novo pensamento abateu-se sobre mim. No final tudo não passa de uma mentira. Quem somos nós neste mundo? Não passo de apenas mais uma vida. Mais uma pessoa. E no final nenhum de nós é verdadeiro. Somos todos falsos…

O professor chegou. Um dos poucos objetivos que se pode fazer neste mundo é virar professor. Esta opção para mim estava fora de questão. Não queria passar uma eternidade a ensinar! E mesmo se desistisse depois de algum tempo eu não conseguiria ensinar, pois as aulas geralmente são sobre como o mundo funciona e o que se sabe acerca dele. Ora logo eu não me iria dar bem já que cada pessoa tem um jeito diferente de ver o mundo, um jeito diferente de pensar, e provavelmente ninguém gostaria de um professor que fosse contra todas as teorias dos alunos.

Sentei-me no chão como todos á minha volta, e, após uns momentos de ensino ao qual eu não prestei atenção, o professor propôs um desafio diferente:

—Alunos, hoje vou vos dar a liberdade de serem vós a dar a aula. Vamos fazer um debate. Cada um vai colocar as suas ideias acerca deste mundo e os outros vão concordar ou discordar. Que acham?

Todos se mostraram contentes com a ideia. Fizemos uma roda no chão. Com todos os alunos devidamente sentados, o professor começou a falar:

—Bom qual é que acham que seja um bom tópico para começarmos?

Um aluno (que eu desconhecia o nome) levantou a mão e disse:

—As cores das nossas roupas. Sempre me intrigou por que razão têm cores diferentes... E também tem a cor do céu que nem preciso falar mais nada…

            O professor perguntou se alguém sabia a resposta e uma aluna respondeu logo em seguida, sem dar tempo a mais ninguém:

            -Na minha opinião isso deve-se ao próprio céu – Apontou para cima – Eu acho que a cor do céu é uma mistura de muitas cores e quando chegamos a este mundo o próprio céu influencia as cores das nossas roupas, variando de pessoa para pessoa.

            -Então isso também pode explicar o caso dos tons de pele, ou seja, o facto de que umas pessoas apresentam um tom mais rosado e outras um tom mais preto? – Perguntou outro aluno.

            A rapariga anuiu e várias conversas começaram a circular. Uns concordaram com a ideia adicionando algumas coisas á teoria, enquanto outros discordavam e propunham as suas próprias teorias. Mas eram ideias tão estúpidas e sem fundamento que eu nem me dei ao trabalho de me lembrar delas.

            Mas houve um aluno que propôs uma ideia interessente. Era um dos poucos alunos que eu sabia o nome: Edward. Os seus cabelos louros e o seu sorriso brincalhão fez com que todos olhassem para ele para ouvirem a sua ideia:

            -Na minha opinião isso tem a ver com o verdadeiro ser de cada um. Dependendo dos pensamentos e desejos íntimos de cada pessoa, que estão bem no fundo de nós mas não temos como chegar lá. Esses pensamentos refletem-se na nossa roupa que tomam cores e formatos diferentes dependendo do ser de cada um. Logo roupas com cores mais escuras significa que se trata de uma pessoa com pensamentos mais distantes e um pouco diferentes, enquanto que com roupas mais claras possa-se tratar de uma pessoa com pensamentos mais alegres. Isso também se pode refletir no cabelo e nas feições e até no tom de pele.

            Um silêncio pairou em cima de nós, mas foi logo quebrado por inúmeras vozes a intercalarem-se uns por cima dos outros. Uns começaram a acreditar na ideia de Edward, enquanto que outros achavam a ideia da outra rapariga mais confiável. Eu permaneci neutro. A ideia de Edward parecia interessante, mas a da rapariga também tinha alguns pontos fortes. Olhei Edward de cima a baixo. Se a sua ideia estivesse correta então ele tinha pensamentos bem distantes, já que estava todo vestido de preto, o que fazia um contraste interessante com os seus cabelos louros…

            O professor pediu silêncio e perguntou por outro tópico:

            -Como é que este mundo foi criado? – Perguntou outro aluno.

            O silêncio voltou-nos a rodear. Todos começaram a pensar numa resposta. Outro aluno falou o que todos já sabiam:

            -Não acreditam na hipótese de ter sido um deus a criar este mundo?

            O silêncio permaneceu. Não havia grandes certezas de como o mundo tinha sido criado. Para além da hipótese de um deus ter criado o mundo (havendo até uma seita religiosa a apoiar essa teoria) não há mais nenhuma ideia.

            O silêncio foi quebrado por Edward que propôs uma nova teoria:

            -E se existissem outros seres para além de nós?

            Todos os olhos se centraram nele, uns olhares de espanto e outros curiosos aguardando ansiosamente para ouvir a teoria:

            -Estou-me a referir a seres que talvez existam para lá deste mundo, seres que criaram este mundo, seres que nos criaram a nós ou talvez sejamos os seus descendentes deixados para colonizar este mundo.

            Mal ele acabou de contar a sua teoria várias pessoas começaram a concordar com ele. Até o próprio professor aplaudiu a sua teoria!

            Mas faltava algo. Aquela teoria não explicava tudo. Tinha vários defeitos e contras. Tinha permanecido calado até este momento mas agora via-me no direito de dar uma opinião sensata no meio de todas aquelas ideias. Pedi por atenção e então dirigi-me a Edward:

            -Essa teoria deixa muito a desejar…

            Ele fixou a sua atenção em mim e falou em tom reprovador:

            -Então esclarece-me lá essas falhas…

            -Se esses seres realmente existiram onde estão eles agora?

            -Provavelmente foram colonizar outro mundo.

            Era uma probabilidade. Mas eu ainda não tinha desistido:

            -E deixavam-nos assim sem mais nem menos? Sem deixar pelo menos alguém que nos pudesse guiar ou falar as verdades sobre este mundo?

            -Talvez tenham achado que sermos nós a descobrir os segredos deste mundo fosse mais divertido.

            Talvez, provavelmente… Ele estava a usar muitos verbos de possibilidade. Estava a encurralá-lo.

            -Tu falaste que nós éramos os descendentes desses seres, mas sendo assim como explicas o nosso nascimento?

            Edward começou a balbuciar algumas palavras mas eu não lhe dei tempo para inventar uma desculpa.

            -Lembras-te de como nasceste certo? No meu caso abri os olhos e prontos estava neste mundo. – Virei-me para os outros – Alguém teve um caso diferente?

            Ninguém respondeu. A todos tinha acontecido a mesma coisa. Virei-me outra vez para Edward:

            -Seguindo a tua teoria nós devíamos ter nascido de alguma coisa, mas não. Nós simplesmente aparecemos, sem mais nem menos. – Agravei o tom da minha voz e apontei o dedo indicador para Edward – Logo, a tua teoria está errada!

            Edward ficou num estado lastimável. A ideia de a sua teoria ter sido destruída tinha o deixado sem fala. Todos os outros tinham os olhos postos em nós os dois. O silêncio andava mais uma vez á nossa volta, e, desta vez, não foi Edward que o quebrou e sim o professor a anunciar o fim da aula.

            Todos começaram a ir embora e eu virei costas para seguir o rumo da multidão, mas um calafrio fez-me virar para trás. Os olhos de Edward estavam cheios de algo que eu não conseguia descrever, mas que me deixava um mal-estar em todo o meu corpo. Fiquei a observá-lo por uns momentos e depois segui caminho, com os olhos de Edward a observar cada movimento meu…


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Notas finais do capítulo

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