Contos do desconhecido... escrita por Nando


Capítulo 13
Marta


Notas iniciais do capítulo

E eu voltei com mais um cap! Com a aparição de facas, o mundo está a dar uma volta. Como lidarão Marta e Fake com a desgraça que está para vir? Aproveitem...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/691269/chapter/13

            A ajuda de Fake na proteção de Harley revelou-se produtiva. A tensão e a preocupação tinham desaparecido e Fake encontrava sempre novas maneiras para ocultar a sua existência, ao mesmo tempo que tentava descobrir mais coisas sobre ele. Ainda não tínhamos chegado a nenhuma conclusão, mas desde que Fake tinha chegado sentia-me cada vez mais perto de uma resposta. Harley também gostava dele, ou pelo menos penso que sim, pois reage sempre animadamente á sua chegada.

            Uma coisa que eu tinha notado ao estar cada vez mais com Fake eram as suas parecenças com David. As suas personalidades eram completamente distintas mas, por algum motivo, sentia que eles eram mais parecidos do que á primeira vista aparentavam. Ambos eram curiosos e desejavam sempre saber mais do que aquilo que atualmente sabiam, quanto mais se aproximavam da resposta, mais felizes ficavam, ao mesmo que tempo que os seus olhos brilhavam de excitação, como se o mundo lhes pertencesse. Deste modo, mostravam a clara divisão que existia entre mim e eles. Eles queriam sempre mais, eu limitava-me a ficar com o que tinha. Davam sempre um passo a mais na busca pela verdade, eu dava um passo atrás para fugir dela. Fazia-me até pensar que o mundo em que vivíamos era diferente. Como se eles estivessem sempre mais além, enquanto eu ficava sempre preso a este, por alguma força que não me deixava sair.

            Dei um salto para tentar sair daquela realidade, mas a força voltava-me a puxar para baixo. Repeti aquele ato múltiplas vezes mas o resultado era sempre o mesmo. Estiquei a mão para tentar agarrar aquela cor misteriosa, mas acabei agarrando apenas o “nada”. Por algum motivo não queria parar, continuando a tentar agarrar algo ou alguém que me tirasse dali, mas foi interrompida por uma súbita voz:

            -Que estás a fazer?

            O susto foi tão grande que me esqueci de colocar os pés no chão, caindo de costas no chão. Levantei os olhos e vi Fake a olhar para mim com um olhar confuso, enquanto Harley espreitava fora do seu casaco. Comecei a sentir algo que nunca tinha sentido antes. Queria fugir e esconder-me para que eles não me vissem, mas as pernas impediam-me de me levantar, ficando paralisada no lugar onde me encontrava. Fake abaixou-se e olhou-me, cada vez mais confuso:

            -Estás bem? Tens a cara vermelha!

            Coloquei as mãos na cara e vi que estava diferente do habitual, o que me estava a acontecer?

            Ele estendeu-me a mão, para me ajudar a levantar. Assim fiz, no entanto, ao me levantar tropecei no meu próprio pé, caindo nos braços de Fake. Dei um salto para trás, sem eu mesmo saber porquê, ficando estática desviando o meu olhar do dele, que estava cada vez a entender cada vez menos do meu comportamento:

            -Acho que posso dizer que não te encontras no melhor estado. O curso para professores está a ser assim tão difícil.

            -Não… - disse enquanto abanava negativamente a cabeça – Até está a ser mais fácil do que pensava.

            -Então o que é?

            Engoli em seco sem saber o que responder. Também eu queria saber o que se passava comigo, e talvez ele me pudesse explicar:

            -Antes de vocês virem estava a tentar chegar ao céu, tentando agarrar algo que nem eu mesma sei explicar. Quando chegastes, a única coisa que tinha na mente era fugir e esconder-me. O que se passará comigo?

            Harley saltou do seu casaco e correu para mim, lambendo-me a mão como sempre fazia, ao que eu respondia com festas no seu pelo. Fake olhava para o chão pensativamente, ao mesmo tempo que alisava o seu cabelo com os dedos, como sempre fazia quando estava a pensar em algo. Após uns momentos de silêncio ele virou-se para mim e disse:

            -Não terás descoberto um novo sentimento?

            Fiquei parada a refletir sobre esta pergunta. Se esse fosse o caso poderia explicar muita coisa:

            -Mas que sentimento é este?

            -Bom, tu querias fugir e esconder-te quando te apanhámos de surpresa a fazer algo que, por algum motivo, não querias que fosse visto por ninguém. Esta definição não é a mesma da alegria, nem a da tristeza, logo é um novo sentimento.

            -Mas isto é uma grande descoberta! Precisamos de dizer isto aos Investigadores, a existência de um novo sentimento ajuda imenso na investigação dos seres humanos e como nos comportamos. Quem sabe se com estes descobrimentos, possamos evoluir para um novo ser…

            Estava tão embrenhada nos meus pensamentos que nem reparei que Fake me olhava um pouco receoso, e Harley dava voltas e mais voltas, compartilhando a minha alegria, que foi interrompida por um suspiro de Fake:

            -Não achas estranho?

            A minha mente parou de fantasiar e concentrei-me nas palavras dele:

            -Como assim?

            -Os primeiros habitantes vieram para cá e encontraram este mundo assim, como o vemos agora. Passou-se já muito tempo desde que eles vieram e permaneceram aqui. Juntos criaram a língua e descobriram tudo que se sabe deste mal puseram aqui os pés, menos uma coisa – sentimentos. A sua existência só está a ser descoberta agora e cada vez vão aparecendo pessoas com sentimentos diferentes, que ainda não foram dados nomes.

            -E o que isso significa?

            -Isto significa que o mundo está a mudar com a aparição destes sentimentos, não sei o que devemos esperar deste súbito aparecimento, mas por algum motivo não pressinto nada bom…

            Olhei para ele sem saber o que dizer ao certo. Ele tinha razão. Porque estariam só agora a aparecer estes sentimentos? O que viria daqui? Olhei para Harley, e apareceu-me subitamente uma pergunta:

            -Será que o aparecimento de Harley está conectado com isso?

            Ele olhou-me fixamente, dando a entender que tinha já uma resposta, olhou em volta e abaixou-se para ficar ao mesmo nível de altura que eu e então disse:

            -Eu pensei nisso a primeira vez que o vi, e se queres que te seja sincero, cada vez mais tenho a certeza. As minhas primeiras suspeitas começaram quando tu me explicaste o motivo de teres dado o nome Harley. Tu disseste que não sabias porquê, e que o nome apenas te saiu da boca, como que involuntariamente. Para ajudar a este facto tu tens a ideia fixa de que não queres mostrar Harley a ninguém, como se receasses que lhe fizessem alguma coisa, mesmo que só o tenhas conhecido há pouco tempo. Isto fez-me pensar que a vossa ligação vai para além de tudo que foi demonstrado até agora, suspeito que seja um sentimento, embora não tenha muita certeza. Acho que a única coisa que podemos afirmar é que o aparecimento de Harley no mesmo momento em que estes sentimentos se estão a espalhar tanto, levanta muitas dúvidas.

            Olhei para ele enquanto assimilava toda aquela informação. Harley fixava-nos atentamente, sem levantar ruído, como se soubesse que estávamos a falar dele. Cada vez mais sentia que algo estranho estava para vir. Seria o fim deste mundo? Não conseguia dizer. Tal como Fake tinha dito ainda havia muita dúvida quanto a isto tudo. Por enquanto, nada fazia sentido.

            Os meus pensamentos foram interrompidos por um grito que nunca tinha ouvido antes, mas que me arrepiou o corpo por completo. Virei-me na direção do grito, vendo dois vultos ao longe. Fake agiu rapidamente, escondendo Harley na sua camisola. A princípio pensei que tivessem avistado Harley, mas este não foi o caso, pois Fake desatou a correr com um ar atormentado na direção do grito. Sem saber o que fazer corri atrás dele, embora não conseguisse chegar perto dele.

            Ele parou subitamente, fazendo-me parar logo de seguida. Olhei em frente e reparei nos dois vultos que tinham-se mostrado ser um homem e uma mulher. O homem trazia algo na mão e corria em direção á mulher, enquanto ela olhava horrorizada enquanto ele saltava para cima dela e a atingia-a com aquilo.

            Após ser atingida, algo vermelho começou a sair do lugar onde a coisa lhe tinha atingido. Ela começou-se a mexer, com movimentos estranhos, mas o homem voltou a atingi-la, fazendo-a parar de vez. O que era aquilo? O que estava a acontecer? Não sabia a resposta para as perguntas, mas algo dentro de mim estava me a causar arrepios, como se me estivesse a avisar que aquilo era errado, mas por algum motivo os meus pés tinham-se prendido ao chão e os meus olhos não se desviavam daquela cena.

            O homem levantou-se e olhou para a mulher inanimada no chão. Começou-se a rir alto, um riso que tal como o grito que antes tínhamos ouvido, causava arrepios, como se o ser que víamos á nossa frente não fosse humano. Ele lambeu os lábios, desviou os olhos da mulher e reparou então na nossa presença. Fiquei estática no meu lugar e a minha mão procurou a de Fake, como se quisesse ganhar força. Quando a encontrei apertei-a com força, reparando na ausência de reação por Fake, também ele devia estar horrorizado com aquela cena. Voltei a fitar o homem que nos apontava a coisa com que tinha atingido a mulher, dizendo:

            -Caros espetadores, isto é uma faca. Quando isto atinge alguém fá-la desaparecer do mundo, ora vejam – apontou para o lugar onde estava a mulher, e reparámos que o seu corpo estava a se desvanecer. O que era aquilo? – Bem, como vós observastes o que eu fiz a esta mulher talvez seja melhor dar-vos a conhecer o verdadeiro poder da faca…

            A minha mão agarrou mais fortemente a de Fake, enquanto o homem avançava contra nós, com a faca apontada na nossa direção. No meu pensamento apenas estava o horror devido à incerteza do desaparecimento…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então gostaram? No próximo será Edward e Robert que vão descobrir o que a Companhia do Futuro anda a fazer, como lidarão eles com esta descoberta?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos do desconhecido..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.