A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 9
O julgamento – O despertar da verdade.




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— Eu estava esperando por você e entrei pela porta, como qualquer mortal. Então, como foi o jantar? – Ele repetiu a pergunta.

— Vamos, entre! Não vamos ficar conversando aqui, na porta, os vizinhos irão reclamar. – Falei, abrindo a porta e acendendo a luz.

— O que foi que ele contou? – Gabriel insistia.

— Ele me contou como você destruiu a vida da irmã dele e, por isso, ela morreu. – Contei, cruzando os braços e o encarando.

— É mentira. Eu a amava, nunca teria feito nada para fazê-la sofrer. Você acreditou nisso?

— Na verdade, não. – Confessei, me sentando, pesadamente, no sofá e ele fez o mesmo. – Mas, ele falou que ela era uma pessoa inexperiente e delicada.

— Como! Você nunca foi inexperiente e delicada! – Ele replicou, irritado.

— Como eu? Você está me confundido com outra mulher, é por isso que está interessado em mim, porque me pareço com ela. – Vociferei.

— Não, foi nada disso que eu quis dizer. Você entendeu errado.

— Eu acho que não, Gabriel. Sei muito bem o que ouvi. Acho melhor você ir embora, já escutei muitas histórias por hoje. Preciso trabalhar amanhã. Boa noite, Gabriel – E abri a porta.

— Boa noite, Diana. – Despediu-se, sem protestar, enquanto saía, fechei a porta atrás dele.

Atirei me no sofá, cansada. O dia foi muito confuso, muitas confissões, tudo aquilo parecia uma novela. O que faria agora, continuar com Gabriel ou desistir, acreditar em Hélio ou não. Tinha que esvaziar minha cabeça, quase sem perceber estiquei a mão e peguei o livro de Samuel Zargo sobre a mesa de centro, o abri aleatoriamente. O título do capítulo era a “Dama da lua”. Aquilo era coincidência demais para mim, pois foi assim que ele me chamou na sua dedicatória. Comecei a ler aquele livro.

O livro era um épico, como as fantásticas histórias, que fazem sucesso no cinema e em séries de TV, sobre um mundo irreal, com seres com poderes especiais, não como super-heróis, mas como forças da natureza. Eles seriam tão velhos quando a Terra, e quando mais antigos, maiores eram seus poderes. Teriam surgidos antes dos humanos, a quem chamam de mortais. Por um tempo conviveram juntos, porém percebendo serem mais poderosos, passaram a dominar os humanos, eram considerados e cultuados como os deuses, espíritos ou entidades, anjos ou demônios, dependendo do povo e do tempo. No entanto, os mais velhos e mais poderosos decretaram, que eles não poderiam intervir na história da humanidade, assim esses seres passaram a viver em segredo, continuavam convivendo com os humanos, mas nunca poderiam mostrar quem eram, realmente. Por uma disputa de poder, eles se separam em dois grupos, um grupo ficou e se espalhou para o leste, liderado pelo Senhor do Oriente, enquanto o outro partiu para o oeste e seu líder era o Senhor do Ocidente. Por muito tempo, os grupos conviveram pacificamente, até que uma nova disputa de poder e territórios levou a uma guerra, que quase destruiu toda a civilização ocidental, mergulhando o mundo na idade das trevas. Idade das trevas? Quer dizer a queda do Império Romana e as invasões bárbaras, ele deve estar brincando, mas era divertido.

O sono fez pesar meus olhos, mal conseguia mantê-los abertos, já era bem tarde, precisaria de algumas horas de descanso, antes do trabalho no dia seguinte. Fechei o livro, fui para o meu quarto, apaguei a luz e fechei as cortinas da janela, porém tive o estranho pressentimento que lá embaixo, na rua, em algum lugar na escuridão, Gabriel me observava.

Naquela noite, sonhei com uma batalha, sobre muralha muito alta, eu vestida como uma guerreira com meia armadura e capacete, trazia um arco e aljava com flechas nas minhas costas e na minha mão havia uma espada, lutava ferozmente para me defender dos muitos guerreiros que me atacavam. Olhei para o lado, Gabriel estava vestido como um guerreiro oriental com turbante e calças largas e o peito protegido por uma malha de ferro, também, lutava bravamente, mas haviam muitos soldados a nossa volta, estávamos perdendo a batalha, e só havia uma saída.

— Vá, fuja, voe! Eu o protegerei. – Gritei.

— E você? - Ele perguntou aflito.

— Ele é meu pai! Será mais fácil para mim! Vá! – Argumentei, novamente. Por um segundo, percebi a dúvida nos seus olhos. Ele não queria me deixar ali. – Vá! – Incentivei.

Então, ele pulou do muro e sumiu em uma rajada de vento forte e os soldados me cercaram, me rendi e fui capturada. Acordei ofegante, como se estivesse acabado de sair, mesmo de uma batalha, acho que estou ficando muito impressionada com toda esta história, pensei

Só depois de algum tempo, consegui dar um rápido cochilo, até o despertador me acordar novamente. Corri para o trabalho, mas antes de sair de casa, peguei o livro de Samuel, que estava sobre a mesa. No metrô, não havia lugar para sentar, por isso me encostei em uma das paredes do vagão e comecei a ler.

— A guerra que não vimos de Samuel Zargo. Leitura interessante. – Ouço uma voz ao meu lado, que reconheço mesmo antes de olhar para a direção de onde ela vinha.

— Bom dia. – Digo, tentando ser educada, mas um pouco impaciente com a velhinha que encontro, praticamente, todos os dias no metrô, por coincidência, desocuparam dois lugares junto a nós, sentei e continuei a tentar ler.

— Está gostando da leitura? – Ela insiste.

— Estou. – Respondi, sem estender o assunto.

— Sobre o que é? – Sei que ela não vai me deixar em paz

— É uma história sobre uma guerra. – Resumi o óbvio, mas ela continuou.

— Qual guerra? A 2ª guerra?

— Uma guerra que não existiu, só ficção.

— Você tem certeza que nunca houve essa guerra? Como? Talvez tenha acontecido.

— Minha senhora ...- Comecei a falar, abaixando o livro e me virando para onde ela estava, mas não havia mais ninguém ali, olhei em volta a procurando, não a avistei em lugar nenhum, dei de ombros, aquela velha era maluca.

No momento em que cheguei ao museu, logo cedo, já haviam andaimes na fachada e os operários colocavam os dois enormes banners de propaganda da exposição, um de cada lado da porta principal, Suzana está lá fora supervisionando o trabalho.

— Bom dia, Suzana. Chegou cedo. – Cumprimentei, parando ao seu lado na frente da porta.

— Bom dia, Diana. Eles vieram cedo, queria ver se a colocação dos banners. Mal posso esperar para vê-los abertos. – Disse, empolgada, depois gritou para os homens lá em cima. – O da direita está mais alto, levante um pouco o da esquerda.

— Bem, vou começar a trabalhar. – Falei, ensaiando para entrar no museu.

— Espere um pouco, eles já vão abrir os banners, quero ouvir sua opinião sobre a simetria. – Ela me pede.

— Podemos abrir, senhora? – Grita um dos homens de cima do andaime.

— Sim! - Confirma Suzana.

Eles soltam as amarras e os banners, lentamente, se desenrolam e logo suas imagens estão expostas.

— Lindos! – Suzana exclama, animada.

Concordo com ela, olhando as imagens exibidas, um mostrava a estátua do deus dourado por inteiro e no outro era de um close up da sua cabeça com todos os detalhes de sua expressão, e foi isso que chamou minha atenção. Admirei por algum tempo a sua face, ele me lembrava alguém. Gabriel, veio à minha cabeça, era o rosto dele que a estátua lembrava, pensei que estava ficando apaixonada, pois comecei a vê-lo por todo lugar, mas examinando melhor o rosto da estátua reparei que não era exatamente igual, porém suas feições lembravam muito as dele. Então, de novo, pensei que precisava tirar aquele homem da minha cabeça.

Contudo, acho que foi Gabriel que me tirou da cabeça dele, pois não me ligou o resto da semana, tentava me convencer que não me importava. No entanto, olhava o meu telefone, compulsivamente, a procura de recados. E depois de três dias, quando eu olhei para a tela do meu telefone pela milésima vez, Helena não aguentou mais.

— Liga para ele! – Ela foi incisiva.

— O que? – Disse, me fazendo de boba.

— Liga para Gabriel e pare com essa agonia! – Ela argumentou.

— Que agonia? Eu não vou ligar para ninguém. Por que você está falando isso?

 - Porque, há três dias, você não para de olhar para esse telefone, e nós sabemos o motivo.

— Está tão na cara assim? – Perguntei, já sabendo a resposta.

— Liga logo! – Ela ordenou e foi o que eu fiz.

O telefone chamou várias vezes até cair na caixa postal.

— Caiu na caixa postal, talvez ele não queira atender. - Comuniquei a Helena.

— Ou talvez não possa atender agora. Deixe um recado. – Insistiu

— Não acho melhor esquecer. Vamos! Ainda temos muito trabalho até a exposição. Só faltam poucos dias para inauguração.

Todas as peças já foram desembaladas, fotografadas e catalogadas, só faltava a parte da montagem, as salas foram preparadas com uma iluminação especial para ressaltar a beleza de cada peça em vitrines de alta segurança.

— Olhe é lindo! – Helena falou ao ver o belo anel de ouro com uma grande pedra amarela ladeada por pequenos brilhante. – Deve ter pertencido a algum rei.

— Pertenceu a um grande rei, segundo os escritos nas paredes onde alguns desses objetos foram encontrados. – Esclareceu Hélio, que trabalhava conosco.

Depois do nosso jantar, eu e Hélio ainda não tivemos oportunidade de conversamos outra vez, estávamos todos ocupados com os preparativos finais da exposição. Em um rápido instante de folga, ele se aproximou de mim.

— Espero não ter causado uma má impressão a você, expondo a história de minha irmã.

— Você devia gostar muito dela.

— Sim, nós éramos muito próximos, apesar de sermos muito diferentes, até aquele homem chegar e se colocar entre nós. – Sua voz era cheia de tristeza.

Não sabia o que dizer, em um gesto de consolo, coloquei a minha mão sobre o braço dele, ele me encarou de um jeito estranho e, por um segundo, os olhos tornaram-se de um dourado intenso.


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