A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 5
O louco - Aquele que está perdido




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Voltei para casa tarde, estava exausta, nunca estive tão cansada assim antes, imaginei se estivesse doente, assim me deitei no sofá, antes de me arrumar para sair, porém, quase desisti, peguei meu telefone para desmarcar meu encontro com Gabriel, mas entrou uma ligação de Helena.

— Diana, eu tinha me esquecido do jantar de hoje, se arrume para ir bem bonita.

— Helena, acho que vou desmarcar, não estou me sentido muito bem. Parece que devo estar ficando gripada — revelei, desanimada.

— Nada disso! Tome um banho e coloque uma roupa bem bonita, um salto e um pouco de maquiagem e vá à luta, garota!

— Não sei, não, amanhã temos que começar cedo, há muito trabalho para fazer.

— Diana, enlouqueceu! Um cara daqueles não aparece a toda hora na sua porta, então vamos lá! Animo! Vá tomar banho agora, se arrume e divirta-se. Você merece. Amanhã, você me conta as novidades. Até mais. – Ela desligou e eu obedeci suas ordens.

Era quase sete e trinta, estava pronta, quando o meu telefone tocou. Agora, era minha mãe, querendo notícias, não parava de falar, contando todas as novidades do sítio, sobre a enorme produção de tomates, as alfaces não estavam brotando como deveriam, meu pai queria comprar um cachorro, e quando falei que teria que desligar porque iria sair, ela quis saber com quem.

— Um novo amigo. – Nunca mentia para minha mãe.

— Onde você o conheceu? – Ela parecia preocupada.

— Em um restaurante, depois fomos a uma noite de autógrafo. – Omitindo a cronologia da história.

— Tome cuidado com estranhos. – Ela me aconselhou. – Boa noite, filha. Lembre-se sempre que nós a amamos.

— Eu também amo vocês. Boa noite, mãe.

Olhei meu relógio, passava um pouco das sete e meia, meu telefone tocou de novo, dessa vez era Gabriel, avisando que estava me esperando na portaria. Então, desci do meu apartamento para encontrá-lo. Definitivamente, eu estava confusa em relação a esse homem, ao mesmo tempo atraída por sua beleza e charme, mas, por outro lado, algo nele me fazia sentir mais cautelosa e até receosa, como se andasse em um campo minado, não sabia onde estava pisando e, de repente, tudo poderia explodir aos meus pés.

— Você gosta de comida indiana? – Ele me perguntou, logo após entramos no carro dele.

— Não sei, eu nunca comi.

— Eu gosto muito, posso levar você a um restaurante, que sempre frequento quando estou na sua cidade. Quer experimentar?

— Sim, claro.

Era um restaurante pequeno e escondido, enfeitado com bandeirolas e luzinhas coloridas e imagens dos seus deuses, cheirava a incenso e curry e, ao fundo, ouvia-se uma canção saída de autofalantes, na qual uma mulher cantava em uma língua que eu não entendia ao som de uma cítara, uma música triste e bela ao mesmo tempo, o ambiente tinha uma atmosfera mágica e agradável.

— Gostariam de beber algo? – perguntou o garçom, vestido com túnica branca, com cinto e colete coloridos.

— Posso escolher? – Gabriel me perguntou, ao ver minha indecisão.

— Sim, mas, sem álcool, por favor – advertir, pois queria estar completamente sóbria essa noite.

— Então, para moça um Lassi e para mim, Sitara. Pode nos trazer a entrada também. — Quando o garçom se afastou, ele me explicou. – O Lassi é uma bebida à base de iogurte e água-de-rosa, não tem álcool.

Quando as bebidas chegaram, fiquei curiosa, com a dele.

— A minha é feita de caldo de cana, limão, gengibre e vodca, quer provar? – Então, minha curiosidade foi mais forte que a minha prudência e eu provei.

— É boa!

— Posso pedir uma para você se quiser? – Apesar do que eu tinha decidido antes sobre ficar sóbria, eu aceitei.

Fizemos os pedidos, para ele, cordeiro ao curry e para mim, frango com arroz de açafrão. A comida era boa, mas o sabor forte e picante, bastante exótico, comecei a sentir um estranho calor.

— Então, como foi seu dia?

— Bom. Estamos montando uma exposição sobre deuses e entidades antigas. – Contei com a língua solta por causa da bebida.

— Deve ser bem interessante. Fale-me mais sobre essa exposição – Gabriel incentivou-me e eu gostava de falar sobre esse trabalho.

— Isso é verdade, é muito interessante. Conseguimos peças incríveis de outros museus, inclusive uma estátua de cerca de dois mil anos fantástica! – Tive a impressão que vi estranho um brilho nos olhos de Gabriel, deve ter sido a bebida e todos aqueles temperos.

— Fale me mais dessa estátua. – Ele me encorajou, novamente, bem interessado no que eu falava.

— Não tenho muito que falar, você precisa vê-la quando inaugurarmos a exposição.

— Mas, essa estátua deve ser muito bonita e muito valiosa, a segurança deve ser imensa.

— Sim, inclusive um responsável do museu de origem dela veio, pessoalmente, inspecionar tudo. Inclusive, o chefe é um cara meio arrogante. – Não conseguia ficar de boca fechada.

— Verdade! Qual o nome dele? – Seu olhar pareceu—me tenso.

— Hélio – respondi e complementei. – Ele ficou com a mesma cara quando ouviu o seu nome. Vocês se conhecem?

— Nós nos cruzamos por aí – disse, tentando demonstrar indiferença.

— Foi a mesma resposta que ele me deu, quando eu perguntei isso a ele. – Refleti.

— Então, Hélio sabe que estou aqui – Agora, ele parecia um pouquinho preocupado.

— Você ligou quando estávamos almoçando hoje, ele estava conosco.

— E ele sabe que eu conheci você e que sairíamos hoje à noite. – Gabriel parecia um pouco chateado com minha resposta.

— Vocês não se dão muito bem, não é? – O álcool me deu coragem para ser indiscreta.

 — Não, tivemos algumas desavenças no passado, por isso evitamos ter qualquer espécie de contato – Então, de repente, ele parecia mais despreocupado, outra vez, mudando de expressão. – Na verdade, eu estou interessado em você. Como uma jovem e bela mulher resolve se tornar museóloga?

— Não sei, mas desde pequena, sou fascinada por antigas civilizações, suas histórias e culturas, até pensei em fazer arqueologia, mas não queria deixar meus pais, por isso estudei museologia, mas ainda pretendo viajar. Quero fazer doutorado em civilizações greco-romanas e mesopotâmias. – Minha boca não parava.

— Em nascia lá, na mesopotâmia. Na verdade, no Iraque.

— Você nasceu no Iraque? – Não podia acreditar.

— Sim, meus pais eram... diplomatas, viajei por todo o mundo.

— Então, você é um homem do mundo.

— Sim, eu gosto de viajar, visitar lugares diferentes. E você, onde nasceu?

— Aqui. – Não queria contar para um estranho a minha verdadeira história, quem sabe, um dia, eu lhe contaria, mas agora não era o momento exato.

A noite transcorreu agradável, comida e bebidas boas e conversa melhor ainda, eu me sentia tão confortável junto dele, que parecia que nos conhecíamos há anos, mas estava tarde e eu teria que trabalhar no dia seguinte, apesar de ser sábado, estávamos correndo contra o relógio para montar a exposição.

— Lamento, mas preciso ir —revelei a contragosto.

— Mas, está cedo ainda. – Ficou decepcionado.

— Infelizmente, tenho que acordar cedo para trabalhar amanhã. Lembre-se, você me prometeu que não voltaria tarde para casa.

— Eu sei, jamais quebraria uma promessa que fiz a você. – Ele levou a mão ao coração. Esse foi um momento estranho, não sabia como explicar, o que aquilo queria dizer.

Ele pediu a conta, não me deixou dividir e me levou de volta para casa, ficamos parados dentro do carro, na frente do meu prédio, eu não queria sair.

— A noite foi maravilhosa. Obrigada. – Agradeci, com sinceridade.

— Podemos repeti-la amanhã, quer dizer hoje, se você quiser. – Gabriel propôs, sedutoramente.

— Você não acha que está indo muito rápido? – Estava ficando assustada.

— Não gosto de perder tempo.

— Por isso mesmo, em um momento, você está aqui e amanhã vai embora. E eu como fico quando você partir? – Não sei como tive coragem para falar com ele daquele jeito.

— E se você vier comigo? – Ele me perguntou, olhando nos meus olhos.

— Isso não rola, a gente mal se conhece. Não sei se quero me envolver com alguém, que amanhã não estará mais aqui - expus meus receios para ele e para mim mesma, tinha que ser racional agora para não sofrer depois.

— Eu entendo suas dúvidas, você não sabe quem eu sou, mas darei um tempo para descobrir. Por enquanto, boa noite, Diana – Pegando minha mão e beijou a palma dela, e eu tive vontade de voar para cima dele e beijá-lo, mas me contive, sai do carro e dei boa noite, rapidamente, antes de mudar de ideia.

 

Entrei rapidamente no meu prédio, sentindo ele me observar até desaparecer da sua visão. Quando cheguei ao meu apartamento, precisava de um banho para relaxar e tentar dormir. Foi o que fiz tomei um banho longo e morno, sentindo me sonolenta, deitei e quase imediatamente adormeci.

Então, ouvi uma cítara tocar, suavemente, ao fundo e senti um cheiro bom doce e apimentado no ar. Abri os olhos para saber onde me encontrava, era uma sala ricamente decorada em tons vermelhos e dourados, sentia um calor agradável, estava confortavelmente deitada sobre almofadas macias. A uma certa distância, podia ver uma estátua parecida com o deus dourado do museu, mas, lentamente, ela começou a se mover, primeiro as mãos e os braços se ondularam como serpentes, depois o quadril, em um movimento sensual. Agora, parecia estar viva e dançava sedutoramente para mim. Apesar do ar estar tenuamente enevoado pela fumaça do incenso, o dançarino foi se tornando cada vez mais nítido. Em seus tornozelos e punhos haviam pulseiras com pequeninos sinos de pratas, que tilintavam em um som cristalino, que acompanhava o ritmo da música. A cada giro, ele me deixava cada vez mais tonta e chegava mais para junto de mim. Pensei que precisa sair dali, no entanto, minha vontade ficava cada vez mais fraca ao mesmo tempo, que o ritmo da música e da dança aumentavam. Em um rodopio, o dançarino parou na minha frente, face a face, assim pude ver seu rosto dourado, era o de Gabriel, que se inclinou e me beijou, um beijo quente e sensual, senti suas mãos passando pelo meu corpo, queria ficar ali, queria ir até o fim, contudo, subitamente, me senti puxada para trás por algo muito forte e acordei ofegante e encharcada de suor. Pensando que havia comido pimenta demais, enxugando a minha testa úmida.


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