A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 27
Câncer – a casa da lua




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As semanas passaram calmas demais. Há muito tempo, ninguém se materializava mais no meu corredor e minha mãe voltou para casa, o que achei bom, pois depois do encontro com Ninlil, fiquei preocupada com sua segurança. Eu tinha treinos intensos com meu irmão, eram divertidos e me sentia cada vez mais forte e ágil, nunca me estive tão bem-disposta. Também, não atendia os telefonemas de Hermes, até que ele acabou desistindo e não sonhava mais com Gabriel. A vida prosseguia tranquila.

Até aquela noite, quando acordei com o barulho intenso do vento no meu quarto, a janela estava aberta e as cortinas voavam devido a ventania, quando abri os olhos, vi Gabriel em pé ao lado da minha cama com sua espada na mão, erguida sobre minha barriga.

— O que você está fazendo aqui? Como entrou? – indaguei, assustada, mas ele não me respondeu, ergueu a espada mais alto e fincou a com toda força no meu ventre e depois a retirou, em um movimento rápido, a dor foi excruciante.

— Por que? – perguntei surpresa, colocando a mão sobre o ferimento.

— Foi preciso – respondeu, sem emoção, e de dentro das minhas entranhas começou a brotar algo disforme, que não parava de sair e que eu não conseguia reter com minhas mãos e a dor aumentava cada vez mais, enquanto Gabriel assistia tudo, impassível, então gritei alto. Assim, acordei do meu pesadelo, quando minha mãe acendeu a luz, atraída pelo meu grito, estava encharcada de suor, enxuguei minha testa molhada com o dorso da mão, então percebi o olhar fixo dela na minha cama, foi aí que ouvi os pequenos grunhidos, olhei na direção deles e entre as minhas pernas, havia um bebê, um menino, ainda ligado a placenta pelo cordão umbilical. Minha mãe foi muito rápida, correndo para o banheiro, trouxe fio dental e uma toalha limpa, ela deu dois laços apertados, paralelos em volta do cordão umbilical.

— Precisamos de algo para cortar isso – disse, aturdida, e eu pensei na minha espada que apareceu e eu cortei o cordão, sob o olhar assustado de minha mãe, que embrulhou o bebê na toalha limpa e o segurou no colo.

— O que é isso? – perguntei, atônita.

— Diana, você teve um bebê – ela me esclareceu, também atônita, minha espada sumiu da minha mão, não podia acreditar naquilo. Como podia ser, se eu não tinha nenhum sinal, minha barriga não cresceu, pelo ao contrário, estava mais forte e ágil do que nunca. - Acho que precisamos conversar – continuou e assim contei lhe tudo, desde do episódio do metrô até aquele dia, passando pela Itália e Istambul, falei de Gabriel e da guerra entre o Oriente e Ocidente. Ela me escutava atentamente, com uma feição espantada no rosto, ainda segurando o bebê contra o seu peito, como para protegê-lo.

— Acho que vou precisar repensar toda a História da humanidade – minha mãe falou, no final da minha narrativa, parece zonza, depois continuou. – Você sempre me surpreendeu, Diana, pois era uma criança forte, nunca ficou doente, muito inteligente e, principalmente, parecia muito mais velha, como se seu espírito fosse muito antigo, mas agora sei que ele é. – Neste instante, o bebê começou a chorar, estendi os braços e ela me entregou meu filho, e ele se acalmou, seus olhos escuros e seus cabelos negros não deixavam dúvidas de quem era seu pai, parecia perfeito.

— Tenho que levar vocês para um hospital, agora! – ela afirmou, com se voltasse a razão.

—Não! – gritei, desesperada. – Nós estamos bem. Tenho certeza disso. Mas ninguém pode saber sobre ele. – Pensava em todos os perigos, que poderia rondá-lo, se Ninlil descobrisse que eu tive um filho com Gabriel, poderia querer matá-lo.

O bebê começou a chorar outra vez, não sabia o que fazer.

— Ele deve estar com fome – observou minha mãe. - Amamente-o. – sugeriu e me ajudou, ele começou a mamar com voracidade.

— Ele parece bem - considerei, passando a mão sobre sua cabeça redonda, agora eu sabia morreria por ele agora.

— Ele precisa de um nome – minha mãe considerou, enquanto o olhava com ternura.

— O nome dele será Alexandre – falei, pensando no maior conquistador da História, com o olhar minha mãe aprovou.

Depois de alimentado, Alexandre dormia, calmamente, em uma gaveta improvisada como berço, ainda enrolado em uma toalha. Então, minha mãe foi até seu quarto e voltou com uma caixa de papelão já amarelada pelo tempo, de dentro dela, retirou algumas roupinhas de bebê, embrulhadas em papel de seda, para ficarem conservadas.

— São suas – falou, me mostrando. - Eu as guardei como recordação. – Pegou um lindo conjunto branco e o alisou com carinho. - Você vestia esse, quando nós a trouxemos para casa, achávamos que era uma roupa muito cara para uma família sem dinheiro como a sua suposta avó dizia.

— A minha suposta avó era minha mãe biológica – expliquei. – Ela queria me esconder do meu pai biológico, por isso me entregou a mortais. – Percebi o choque no rosto da minha mãe, quando falei isso.

— Ela, também, me deu este colar que você está usando agora, e nos disse que pertencia à sua mãe, para entregarmos a você quando crescesse – observou sobre o meu cordão com o pingente de turquesa.

Mas, agora, eu só tinha um pensamento, precisava proteger Alexandre, levá-lo para algum lugar seguro onde ninguém pudesse saber da sua existência.

— Mãe, vamos para o sítio. Lá é isolado o bastante, podemos escondê-lo, até eu ter uma ideia melhor.

— Diana, por que esse medo todo? Quem faria mal a um bebezinho?

— Mãe, você não imagina com que forças estávamos lidamos.

Antes do amanhecer, colocamos Alexandre em uma cesta de roupa, descemos para garage do prédio e saímos em direção ao sítio da família. Quando estávamos bem longe de casa, parei para comprar fraldas, leite e mamadeiras e tudo mais que um bebê necessitaria. Porém, na pressa da fuga, me esqueci do amuleto que Jane havia me dado como proteção, esse erro poderia custar caro mais tarde.

Nosso sítio ficava em uma região rural, com casas esparsas, não havia vizinhos por perto, era bom estar ali, naquele lugar calmo e tranquilo, depois do turbilhão que minha vida se tornou.

Mas, olhar para Alexandre, sempre me fazia lembrar de Gabriel, pois ele tinha os mesmos olhos profundos e escuros do pai, imaginava o que ele faria se soubesse do bebê. Tudo foi tão rápido, não tive o tempo de uma gestação mortal, também sabia que não poderia escondê-lo por muito tempo, com certeza precisaria de ajuda para protegê-lo, talvez Jane pudesse me auxiliar, mas por enquanto não contaria nada a ninguém.

Eu me sentia mais forte perto da natureza, passamos bons dias por lá, mas eu teria que voltar para a cidade e para meu trabalho logo para não despertar suspeita, minha mãe ficaria com Alexandre e eu o veria sempre que pudesse. No entanto, me separar dele foi horrível, mas era preciso para protegê-lo, e eu nunca tive tanta força e determinação como agora.


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