A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 25
Escorpião – Ciúmes e traição




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No dia seguinte, indo para o trabalho, fechava a porta do meu apartamento, quando uma vizinha apareceu no corredor, voltando das compras.

— Bom dia, Diana! Viu a ventania de ontem à noite? Causou o maior estrago na rua! Tive que sair para comprar velas!

— Bom dia, Marilia! Não, não vi nada, devia estar dormindo – menti, dissimuladamente inocente.

No museu, encontrei Hélio que parecia estranhamente animado, bem diferente da expressão carrancuda dos últimos tempos.

— Você não parece bem, Diana.

— Você acha isso mesmo?

— Sim, e sabe o que você está precisando?

— Não, o que eu preciso?

— Um bom treino — respondeu, com um sorriso travesso.

— Treino? Como assim?

— Lembra-se, Diana, quando éramos crianças?

— Não, eu não me lembro.

— Costumávamos brincar de luta com espadas.

— Parece uma boa brincadeira para crianças – disse com ironia. Ele me deu um sorriso maldoso.

— Vamos, vai ser divertido. Você anda muito enferrujada, precisa se exercitar.

— Está bem! Quando? .

— Hoje, na minha casa. Vamos lá, depois do trabalho.

Apesar de ter aceito, fiquei preocupada, Hélio deveria ser muito experiente, mas eu precisava treinar, me aprimorar, não adiantava negar mais quem eu era e que fazia parte de um mundo mágico, cheio de guerreiros e lutas de espadas, tinha que aprender e rápido, e meu irmão poderia ser um bom professor.

Como combinado, no final da tarde, fomos para a casa dele

— Você mora aqui? – indaguei, ao ver a bela casa de dois andares de frente para o mar.

— Sim. Você gostou? Prefiro ficar perto do mar – explicou e eu me lembrei que Gabriel também já tinha dito a mesma frase. – Daqui eu tiro minha energia, do sol e do mar, mas você já sabe disso.

— Não, eu não me lembrava. E o meu poder de onde vem?

— Da lua e das florestas, minha cara irmã. Mas, chega de conversa, a gente veio aqui para treinar

— Aonde? – quis saber, já que estávamos no meio da sala.

— Aqui – dizendo isso, abriu os braços e os belos móveis se afastaram e tapetes se enrolaram, abrindo uma grande área vazia. – Agora, sua espada – falou, tirando a camisa, expondo seu belo dorso musculoso, a barriga tanquinho e seus braços fortes. Puxa, aquilo ia ser dureza!

— Isso já sei – pensei na minha espada e ela apareceu na minha mão. – E agora?

— Agora! Defenda-se! – gritou e avançou sobre mim com sua espada em punho, só me dando tempo para erguer a minha e aparar seus golpes, que eram fortes e rápidos, mas, não sei como, eu conseguia detê-los, apesar de meus braços doerem.

Hélio deu distância, me dando tempo para respirar.

— Você está uma molenga, Diana! – Ele me provocou, rindo.

 — Ah, é! Você vai ver quem é a molenga! – E avancei para cima dele, mas Hélio deu salto mortal sobre mim, caindo de pé nas minhas costas.

— Não acredito que você caiu nessa! – falou irônico, virei-me para ele, que saltou para me atacar, mas eu escorreguei pelo chão, passando debaixo das suas pernas.

— Boa, Diana! Parece até a velha Diana!

Depois a luta ficou de igual para igual, como se tivéssemos feito aquilo, várias vezes, por muito tempo, corríamos pela parede, dávamos saltos mortais sobre as mesas e paredes, quando ele desapareceu, eu gritei.

— Não é justo! – Mas, senti uma rasteira, cai deitada de costa no chão com Hélio apontado a espada no meu peito.

— Você vai ter que aprender – finalizou, ofegante, depois caiu ao meu lado rindo. –Venci, irmãzinha! — Começamos a rir.

Estava encharcada de suor, Hélio sugeriu um banho.

— Devo ter alguma coisa para você usar aqui! – Ele foi para um lugar, que supus ser o quarto e voltou trazendo um vestido.

— E de alguma das suas amiguinhas? – perguntei, maliciosa.

— Provavelmente. Diferente de você, eu gosto de variedade – respondeu, com sarcasmo, e eu fiquei pensando como a dona do vestido voltou para casa, se sua roupa ficou ali. Após um banho e jantarmos, Hélio me levou para casa.

— Obrigada.

— Não tem de que. Foi divertido! Você continua a ser uma boa guerreira. Além disso, nossa mãe me pediu, pois pensou que você estaria muito vulnerável, ficando no meio daquela briga entre Gabriel e Hermes.

— Como ela soube?

— Hermes deve ter contado para ela. Ele está hospedado na casa da nossa mãe. Você sabe eles são amigos, há muitos anos. Você não sabia? — Hélio parecia estar se divertindo com minha cara de boba.

— Como assim amigos? – Não podia acreditar no que estava pensando.

— Exatamente, este tipo de amigos que você está pensando. Ah! Esqueci que você pensa como uma mortal. Ah! Tem mais um pequeno detalhe, Hermes é nosso meio-irmão.

— Como assim? Ele me beijou!

— Espero que tenha aproveitado! – Ele saiu rindo de mim, devia achar muito engraçado minha cara de surpresa.

Notei que a rua já havia quase voltado ao normal e a eletricidade já tinha sido estabelecida, abria a porta do prédio, quando tive uma sensação estranha, isso já estava ficando quase uma rotina para mim, procurei em volta para saber quem apareceria agora, então, tudo ficou escuro e frio, como se fosse envolvida por uma neblina negra quase palpável.

— Olá, Dama da Lua. – Ela surgiu das sombras, dando um passo na minha direção, minha espada surgiu na minha mão. E ela deu outro passo, então pude vê-la melhor, mais baixa do que eu com cabelos negros, comprido e ondulados, pele bem morena e grandes olhos escuros, era bonita, mas de uma forma diferente quase assustadora, emanava uma aura estranha a sua volta, como se sugasse toda a energia ao seu redor, no primeiro momento, eu tive medo.

— Quem é você? – perguntei, erguendo minha espada pronta para me defender.

— Não precisará da sua espada hoje, Dama da Lua. Eu só quero conhecê-la. Não tive esta oportunidade há dois mil anos, porque você desapareceu, mas agora que voltou, aguçou minha curiosidade – Enquanto falava, andava em minha direção, diminuindo o espaço entre nós, eu dei alguns passos para trás, mas agora estava encostada na parede, sem chance de fugir.

— Quem é você? – repeti a pergunta, já estava começando a perder a paciência.

— Sou Eres, companheira de Enlil, que você conhece como Gabriel – ela se apresentou, calmamente.

— O quê?

— É isso. Sou a verdadeira mulher de Gabriel, casada com ele desde o início dos tempos, mesmo antes de você existir. Por isso, não posso deixar alguém como você venha tirá-lo de mim – Agora, o rosto dela estava bem próximo ao meu, podia ver no fundo dos seus olhos escuros, chamas de um fogo vermelho. – Você não imagina até onde eu fui por esse homem. Meu amor por ele me levou para as profundezas.  – Ela estava tão perto de mim, que pode sentir sua respiração quente na minha pele, quando me vi encurralada, fiz o que qualquer animal selvagem faz, reagi, aí me empertiguei, pois ganhava em altura e a encarei.

— Não tenho mais nada com Gabriel! – rebati, irritada, Eres não esperava por essa reação, por um instante, percebi que ela vacilou, aproveitei para ganhar terreno. – Não quero mais nada com ele ou com o seu povo! – Dei um passo para frente, mas depois do susto, ela reagiu.

— Não vou perdê-lo para você, Dama da Lua, custe o que custar! – falou, mansamente, porém ameaçadora, com a voz cheia de ódio, aquelas palavras caíram sobre mim com uma pedra, e ela continuou. – Você só estará segura enquanto se mantiver longe dele. Lembre-se disso – Assim, ela sumiu e o ar clareou outra vez, sentia-me pesada e cansada, como se tivesse lutado mil batalhas.

— Então, você conheceu Eres – Ouvi alguém falar do meu lado.

Por favor, chega! Pensei, ao ver Enki, junto a mim.

 — Chega! Por favor, vá embora! Já falei que não lhe posso ajudar. Não quero nada com seu povo, me deixe em paz.

— Você pode até tentar me enganar ou a você mesma, mas não enganará Eres, pois ela consegue saber o que se passa na alma das pessoas, o melhor e, principalmente, o pior, por isso ela é assim tão densa – Enki me explicou. – Quando ela se chamava Ninlil e Gabriel, tinha o nome Enlil, tiveram uma história de amor intensa. Ela desceu ao mundo inferior para resgatá-lo da punição, tiveram muitos filhos por lá, a maior parte deles já não existem mais. No fim, ele quis voltar para o nosso mundo, porém ela ficou para trás, mas isso aconteceu há muito tempo. E, agora ela é Eres, Senhora do Mundo inferior, que nunca se conformou com a separação.

— Por que eles separaram, afinal? – Mesmo um tanto chocada com aquela história, não consegui segurar minha curiosidade.

— Como qualquer casal, que eles seguiram caminhos diferentes, principalmente, quando este casamento durou milhares de anos, isso foi muito antes de você existir.

— E você e seu irmão, por que brigaram?

— Porque pensávamos diferentes, Enlil sempre foi a favor das mudanças, que a era de brincar de deuses com os humanos havia terminado, ele percebeu isso antes da guerra, sabia que nosso tempo estava preste a acabar, por isso foi procurar seu pai. Mas nosso pai achava que deveríamos manter o que tínhamos a qualquer preço, nem que fosse necessário destruir todos os mortais, então eu os traí – Enki confessou, pois não podia mentir para mim. – Mas, por isso quero encontrá-los, para pedir perdão, aliviar o peso da minha existência. Minha bela dama, mas já ocupei muito o seu tempo. Até mais. – E desapareceu diante dos meus olhos.

Estava cansada, a luta com Hélio e o encontro com Eres sugaram toda as minhas energias, só queria dormir um pouco, por isso fui direto para cama.


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