A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 21
Peixes – a desilusão e a perda


Notas iniciais do capítulo

Que as estrelas guiem os nossos caminhos



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Quando a cena se desfez e água se tornou transparente outra vez, ficamos por certo tempo em silêncio, até eu levantar o rosto e olhar a minha volta, nesse momento, eu soube que era a única, que não sabia o que significava aquilo, me sentindo traída.

— Helena conseguiu! – Kira exclamou, orgulhosa, quebrando o silêncio.

— Vocês sabiam? – perguntei, ainda em dúvida, mas os olhares de culpa me atingiram com flechas.

— Diana, vamos conversar! – Gabriel me puxou, suavemente, pela mão, me levou para o pátio de entrada. – Desculpe-nos, Diana, mas não podíamos contar a você. Estamos preparando este resgate há muito tempos, desde que soubemos da exposição no seu museu, por isso implantamos Helena, depois, eu surgir com uma isca, para atrair a atenção deles para outro lugar.

— Agora, eu entendi tudo – retruquei, zangada — Você também me envolve e me usou para desviar a atenção deles, me arrastando para aqui e deixando Helena livre para agir!

— Não é nada disso! Você entendeu errado! – Ele parecia nervoso, tentou me tocar.

— Não! – gritei, afastando-me dele. – Agora, me responda, foi por isso que me procurou, com ajuda de Helena? Para tirar a atenção do meu pai e do meu irmão? Então, eu dei conta que era a primeira vez que os chamavam assim.

Gabriel parecia não saber o que responder, talvez, estivesse escolhendo as palavras certas para se justificar. Então Kira chegou, falando para Gabriel:

— É hora de vocês voltarem e ajudarem Helena proteger seu pai até que ele esteja forte o bastante. – Olhei para eles, ansiosa, quando ouvi a palavra voltar e Kira olhou para mim, de um modo enigmático, enquanto eles caminhavam para o interior da casa, falou baixinho para Gabriel, mas eu pude ouvir.

— Acho que seria melhor, ela ficar, por segurança.

Esperei ouvir Gabriel negar, mas ele permaneceu em silêncio, derrotada, fiquei ali, sentada em um banco de madeira, enquanto os dois confabulavam, entrando na casa. Por duas vezes, eu me arrisquei para salvar aquele homem, larguei tudo para socorrê-lo, agora ele me traía, me tornei uma prisioneira. Meu coração estava partido em mil pedaços. Aí pensei que poderia haver uma saída, voltar para o Grande Bazar e tentar encontrar Jane. Mas como fugir dali? Procurando uma solução, olhei para o portão de madeira, que era a única entrada do muro alto que cercava a casa, mas sabia que a principal proteção era mágica. Porém, para minha surpresa, notei que o portão estava levemente entreaberto, quase não dava para perceber, parecia muito fácil, pois, eu simplesmente o abri e sai, andando pela rua. O que eu não vi foi Gizza surgiu das sombras e fechar o portão atrás de mim.

Andei rápido, pelas ruas movimentadas da cidade, e para meu espanto reconhecia o caminho para o meu destino, deveria ser um dos meus dons, pois não teria a fama de boa caçadora se não possuísse um bom senso de direção.

De volta ao Grande Bazar, olhava atenta pelos caminhos do mercado, procurando a velha mendiga, em quem Jane se disfarçou, mas foi ela que me achou, aparecendo ao meu lado e me assustando.

— Que bom que voltou, Diana!

— Preciso de sua ajuda para sair daqui.

— É por isso que vim. Sabia que mais cedo ou mais tarde você descobriria a verdade sobre eles. Agora, vamos! Seu pai mandou um jatinho, que nos espera no aeroporto.

— Mas, eu não quero voltar para Itália. – Insisti, com medo de me tornar prisioneira em outro lugar.

— Não, conversei com seu pai, decidimos que irá para sua casa. Além disso, é para lá que se deslocou o centro da ação — afirmou, pois eu sabia do que falava, era lá que estava o Senhor do Oriente, talvez, bastante fraco para lutar, mas até quando?

Jane me segurou pelo braço, atravessávamos a multidão rapidamente, quando fomos barradas.

— Diana, para onde você está indo? – Gabriel perguntou, perplexo, parado na nossa frente.

— Para longe de você – retruquei, cheia de ira, com meu coração estilhaçado.

— Por quê?

— Porque ela descobriu quem você realmente é – respondeu Jane, me antecedendo.

— Não posso deixar você partir. — Ele insistiu vindo em minha direção, mas Jane ficou entre nós e ergueu a mão direita, a nossa volta todo mundo parecia parado, congelado em uma fração de segundo, exceto nós.

— Gabriel, olhe a sua volta. – Percebemos que algumas outras pessoas se moviam em nossa direção, eram os homens de Caio. — Não queremos uma luta aqui, pois, poderia ser trágico para toda esta gente ao nosso redor e se alguém se ferisse, teríamos que inventar um atentado terrorista ou algo parecido para esconder a verdade – ela o ameaçou, ouvi aquilo, assustada.

— Por favor, Gabriel – pedi e ele saiu da nossa frente nos deixando passar, com uma expressão resignada, pois eu não queria que ninguém se ferisse e nem ele. Assim que saímos, tudo voltou ao normal.

Um carro já nos esperávamos perto dali, no entanto, me lembrei de um pequeno detalhe.

— Não tenho um passaporte, não poderei viajar.

— Não se preocupe, querida. Está tudo resolvido. – Jane sorriu e de um compartimento do carro tirou meu passaporte original.

— Mas eu não entrei com este passaporte.

— Lembre-se, querida, você já tem um visto de entrada, não há nada que seu pai não consiga, ele tem muitas formas de poder e a uma das mais importantes é o dinheiro – Jane rebateu, com um sorriso maroto.

Foi fácil a nossa saída, no aeroporto, um jatinho já nos esperava, confortável e elegante, preparávamos para a decolagem, quando ouvimos o piloto pelo alto-falante:

— Senhoras e senhores, aqui é seu comandante Hermes, estaremos decolando em alguns minutos. Hoje, não temos previsão de tempestades, raios ou trovões, as estrelas nos guiarão, na companhia da bela lua, para o nosso destino, com toda segurança. Após estarmos estabilizados, serviremos o jantar. Boa viagem.

— Esse Hermes, sempre brincalhão! – Jane comentou, achando graça, mas eu estava muito triste para compartilhar com ela.

Pela janela do avião, vi a lua entre as nuvens, não imaginava que lá embaixo, Gabriel também olhava para ela, com tristeza.

Como havia sido anunciado, o jantar foi servido, não aquele embalado em pacotes, mas um digno de um dos melhores restaurantes franceses, foi quando nosso piloto surgiu e se juntou a nós.

— Latona, que bom a rever, depois de tanto tempo sem notícias, e como sempre bonita – Hermes a saudou, galanteador.

— Chame-me de Jane, um nome mais apropriado para esse tempo.

— É claro! Jane. E essa é a nossa linda Diana! Tenho que dizer que você nunca esteve tão encantadoramente bela. Se eu soubesse que você estaria tão bonita, teria vindo a primeira vez resgatá-la e, com certeza, nunca a tirariam de mim – observou, cheio de charme, em referência a vez que Gabriel me resgatou de dentro do outro avião.

Eu apenas sorri, em retribuição ao elogio exagerado dele, imaginando se ele era realmente o Hermes original, supunha que sim. Então, ele se sentou à minha frente, na clara intenção de jantar conosco, enquanto eu me perguntei quem estaria pilotando o avião, naquele momento, mas ninguém parecia preocupado com esse detalhe. Também, não podia ignorar, a beleza dele, Hermes era um tipo mais esportivo, com cabelos cacheados castanhos claros, queixo quadrado com um furinho no meio, olhos castanhos brilhantes e um lindo sorriso magnificamente branco, ninguém podia ficar sério diante dele, foi o que eu fiz, sorri quando ele me olhou diretamente.

— É bom ter você outra vez conosco, Diana, de volta a família. – Fiquei surpresa com aquele comentário.

— Por acaso, você é um dos meus irmãos?

Imediatamente, lembrei-me da minha conversa com Hélio, na casa de Salvatore. Hermes deu uma gargalha, jogando a cabeça para trás.

— Não, Diana, felizmente, não sou seu irmão, pois, com certeza, isso seria um problema para mim. – Ele não precisava explicar o que queria dizer com isso, era uma cantada, mas eu não estava muito a fim daquele papo.

Jane e Hermes conversaram como velhos amigos, falaram sobre amenidades e citaram muitos nomes, que eu não sabia quem eram, depois ele levantou-se, dizendo:

— Bem, foi muito bom jantar com vocês, mas infelizmente, alguém tem que pilotar este avião. – E voltou para a cabine e Caio e seu grupo ficaram mais para trás e começaram a jogar cartas para se distraírem.

— Todos perceberam que você está diferente, mas ninguém notou qual seria, realmente, esta mudança – Jane analisou, depois que ficamos sozinhas novamente.

— E qual seria, Jane?

— Antes, você tinha o ar frio e duro de quem sabia todas as respostas, conhecia todas as verdades, mas, agora, você tem a aura que só uma pessoa, realmente, apaixonada possui e todas as incertezas que essa emoção traz junto de si, isso a deixa encantadoramente vulnerável. Muitos de nós não reconhecem mais esses sentimentos, como amor, paixão, tristeza, é o preço por se viver demais – ela completou, como se lamentasse.

— Sim, sofrimento e decepção.

— Não se preocupe! Você vai esquecê-lo um dia, haverá outros, nada dura para sempre – Jane me consolou.

— Não, muito obrigada. Não quero passar por isso outra vez. – Repudiava a ideia de sofrer assim de novo.

— E não vai, com o tempo a dor desaparecerá. Mas, você precisa aprender, por que não aproveita o interesse de Hermes por você e se dê uma nova chance? – Jane me aconselhou, mas eu não podia acreditar naquilo que ouvia.

— Vou pensar — menti, abaixei o encosto do meu assento e tentei dormir um pouco.

Quando chegamos a minha cidade, foi tudo muito rápido, era fácil para alguém que tem por trás um nome poderoso como de Salvatore. Novamente, no aeroporto, carros esperavam para nos levar para casa, para minha surpresa, Hermes foi no mesmo carro que eu e Jane, enquanto Caio e os outros seguiam em outro carro para um destino que eu desconhecia.

— Você não tem um avião para cuidar? – perguntei a Hermes, logo depois que ele entrou no carro.

— Não, na verdade, eu tenho vários, tem uma frota de entregas e transporte de passageiros. Porém, não podia negar um pedido pessoal do Senhor para trazê-la para casa, em segurança – revelou. – Além disso, deixei o avião aos cuidados do meu pessoal de terra.

Fiquei feliz, quando me deixaram em casa, por primeiro, no entanto, antes de eu sair do carro, Jane me entregou um saquinho de tecido com alguns desenhos bordados, dentro dele podia sentir uma pedra escura de contornos lisos, ela explicou:

— Tome, Diana! É um amuleto, protegerá sua casa, só permitindo a entrada de quem você quiser nela, esconda-o em algum lugar junto a porta. – E depois me entregou um cartão. – Esse é o meu telefone, ligue quando precisar.

— Obrigada, por tudo, Jane.

— Não tem de que, afinal é isso que uma mãe tem de fazer, proteger os filhos. – Olhei nos olhos dela, e não pude resistiu lhe dei um abraço, depois me despedi de Hermes.

— Mais uma coisa, Diana. – Jane segurou minha mão, antes de eu sair do carro. — Seu pai adotivo está muito doente, o tempo dele neste mundo se esgotou.

Estas palavras quebraram os últimos pedacinhos inteiros do meu coração.

— Não podemos fazer nada?

— Lamento, Diana, mas não temos controle sobre isso. Não podemos fazer mais nada.

Quando entrei em casa, encontrei minha mãe abatida e triste.

— Diana, que bom que você voltou! – Uma luz de alegria passou pelos seus olhos ao me ver, então, eu a abracei apertado.

— Calma, Diana! Você está me machucado! – reclamou e eu a soltei.

— Desculpe, mãe. Senti sua falta.

— Eu sei, querida. Mas não tinha percebido como você está  mais forte.

— Onde está o papai?

— Dormindo. Ele dorme praticamente o dia todo – falou, pesarosa. 

Fui até o quarto deles, na penumbra, observei, meu pai sobre a cama, adormecido, magro e abatido, então cai de joelhos no chão e chorei desesperadamente.


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