A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 19
A estrela – A harmonia do amor




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Gabriel começou a falar em italiano com o policial, que parecia não aceitar as explicações, nesse momento, tive uma ideia. Segurando meu pingente de turquesa, não sabia se daria certo, mas tinha que tentar, pois já tinha dado antes.

— Policial, nós somos recém-casados e só saímos para dar uma volta, esquecemos nossos documentos. Sei que é errado, mas o senhor poderia nos liberar dessa. – Sorri, candidamente, para o homem, que parecia fascinado pelas minhas palavras.

— Claro, que sim, signora. Essas coisas acontecem – o policial me respondeu, com um sorriso de cumplicidade. – Vocês podem ir agora.

— Obrigada, senhor – agradeci e tentei andar, com calma, para o carro, Gabriel me acompanhou, deu partida e saiu tranquilamente, enquanto o policial conversava com o outro.

Quando já estávamos a certa distância, Gabriel aumentou a velocidade.

— Você foi demais! Não queria atacar aqueles policiais.

Eu respirei aliviada.

— O que eu não entendo, é como ele fez o que eu disse sem falarmos a mesma língua? – indaguei, pois era a segunda vez que eu fazia algo parecido, a primeira tinha sido no barco de entrega na casa de Salvatore.

— Por que você sempre tem que ficar perguntando e procurando explicações para tudo? – Ele não entendia a minha curiosidade.

— Porque eu quero saber. Também, não compreendo como todos nós nos entendemos mesmo tendo origens diferentes?

— Isso é fácil, pois a maioria de nós fala muitas línguas, tivemos muito tempo para aprendê-las.

— Onde estamos? – perguntei, prestando atenção na linda paisagem pela janela.

— Toscana.

— Sempre quis conhecer este lugar e, agora, aqui estou como uma ladra fugitiva.

— Não seja dramática. Você já este aqui antes e eu também. Já vi várias vezes esses campos, algumas vezes, destruídos e queimados, cobertos de cadáveres.

— Quem está sendo dramático agora? – perguntei, sarcástica. — Além disso, eu não me lembro de nada disso.

— Sorte a sua. Acho melhor pararmos agora para comer e descansar um pouco, já está anoitecendo e, apesar de estarmos distantes, não quero me arriscar com Nix.

E assim que apareceu uma placa indicando a primeira cidade, saímos do nosso caminho. Era uma pequena cidade de medieval murada, com o casario em pedra, o tráfego de carro não era permitido nas ruas principais, mas conseguimos uma pousada na periferia dela. Era uma casa de pedra escuras, com chão e detalhes em terracota e madeira, bem aconchegante, ideal para um casal em lua de mel. O quarto era simples, com uma decoração romântica cheia de pequenos detalhes, como flores do campo em um vaso de cerâmica pintado à mão, uma cama de madeira sólida e cobertas coloridas. Estava empolgada com o lugar, por isso deixamos a mala forjada no quarto e saímos para andar pela cidade.

— É linda! – falei, admirando as casas de pedras com flores na janela, as ruas muito limpas e as lojas sofisticadas e bem cuidadas para agradar os turistas.

— Agora é – ele replicou, pensativo. – Contudo, pense que antes, o esgoto corria a céu aberto, o cheiro era medonho e haviam ratos e cachorros famintos nas ruas, com pouca ou nenhuma iluminação, era terrível. Cheirava mal, tinha o odor da morte

— Você é sempre um estraga-prazeres assim? – questionei, irritada.

— Não, só não gosto desses lugares. Para você é apenas uma bela cidade turística e romântica, mas para mim, trazem lembranças terríveis de medo, fome e frio. Depois da guerra, estávamos muito fracos e perdidos, meu pai havia sumido, vagávamos sem destino pelo mundo, eu e minhas mãe e irmã, precisava protegê-las, nos escondíamos como ratos em buracos, com medo de sermos apanhados, pelo seu povo ou pela inquisição, poderíamos ser queimados vivos, achamos que muito o foram — relatou de um jeito soturno.

— Deve ter sido terrível, nem posso imaginar algo parecido.

— Felizmente para você, não pode.

— Mas não sabia que você tinha uma irmã – Estava perplexa.

— Sim, eu tenho uma irmã e um irmão. Estou com fome, o proprietário da pousada me indicou um restaurante ótimo aqui perto.

Acho que nunca comi tão bem na minha vida, pelo menos, naquela que eu me lembro, tomamos o excelente vinho da região, depois andamos de volta para o hotel, mas antes paramos para tomar um sorvete, parecíamos mais um casal apaixonados, do que dois fugitivos de seres imortais, pronto para recomeçar uma guerra, que tinha acabado há quase dois mil anos atrás.

— Como nos conhecemos, não digo agora, mas da primeira vez?

— Fui até seu pai, para exigir que ele parasse com sua expansão para o nosso território, para prevenir sobre as mudanças que viria das minhas terras, mas ele riu, disse que eles eram poderosos, precisavam crescer e não havia mais espaço na antiga terra deles e me aprisionou. Foi quando a conheci, você era uma guerreira terrível, muito forte e brava.

— Eu?

— Sim.

— Mas você me dobrou – disse, com um sorriso malicioso.

— Não foi fácil. Mas, eu fiquei impressionado com sua força e autoridade.

— Bem diferente de mim agora.

— Não, eu gosto de como você é agora, mais feminina, apesar que a cada dia, você se parece mais com sua antiga imagem.

— Foi um belo truque aquele do pato na casa de Salvatore! Uma boa distração.

— Que pato?

— O pato que apareceu voando dentro da casa, quando tentava arranjar uma distração para você fugi.

— Mas, não fui eu. Não tenho poder com os animais, é você que tem – Gabriel esclareceu e aquilo me deixou intrigada.

Voltamos caminhado para a pousada onde estávamos hospedados, apesar de toda intimidade que tivemos na casa de Salvatore, ainda me sentia um tanto constrangida por estar em um quarto, sozinha com Gabriel. Por isso, fui até a mala, que trouxe da casa que invadimos e comecei a procurar alguma roupa para dormir, mas nada cabia em mim. Gabriel parecia se divertir com minha ansiedade.

— Droga! – Reclamei, com raiva. – Nada nessa mala cabe em mim!

— Você ainda não aprende mesmo – ele falou, rindo de minha impaciência.

— Como assim?

— Coloque qualquer roupa, que ela vai servir em você – explicou, se divertindo com minha atitude.

— E isso funciona?

— Tente!

Pegue uma camisola, que parecia bem pequena e fui para o banheiro e, para meu espanto, ela serviu direitinho em mim. Quando voltei para o quarto, Gabriel já estava deitado na cama. Muito sem graça, puxei as cobertas e deitei ao seu lado, ele me puxou para mais perto e me abraçou e beijou com suavidade, suas mãos macias passeavam pelo meu corpo, descendo a alça da camisola. Seus lábios escorregaram pelo meu pescoço, depois desceram mais e mais, até eu me deixei levar pela paixão quente e sensual que nos dominava. Os beijos ardentes e caricias tempestuosas, as peles quentes se tocando, sua boca deslizando por mim, eu louca de paixão e desejo, quando ele me penetrou, flutuamos no espaço, entre as estrelas, a Terra e seus problemas estavam tão longe de nós.

— Somos o que somos. O passado, o presente e o futuro — ele sussurrou no meu ouvido.

 Lá fora a lua brilhou intensa, uma supernova e o intenso vento quente varreu a noite, como estivéssemos esperando por aquele momento, durante séculos, mas, na verdade, realmente estávamos, então aquela noite foi pequena para nós dois aplacarmos os nossos anseios de paixão.

No dia seguinte, apesar de quase não ter dormido, me sentia revigorada, melhor do que depois do sonho na casa de Lilith.

— Precisamos ir, preguiçosa! – Gabriel brincou, enquanto eu me espreguiçava na cama, eu poderia ficar a vida inteira naquele quarto, o que para nós seria a eternidade, realmente, era muito tempo.

Outra vez, nós pegamos a estrada, logo depois do café da manhã, Gabriel pretendia chegar a Roma ainda naquele dia, cobrimos a distância em poucas horas e, no começo da tarde, chegamos à periferia da cidade eterna, com seu trânsito intenso, casas de tons terrosos e telhas vermelhas, praças maravilhosas com lindas fontes e ruínas incríveis. Observava aquele lugar, tentando guardar cada imagem que passava pela minha visão, através da janela do carro.

— Que lugar é aquele? – perguntei, apontado para um grupo de ruína ao lado do Coliseu, lotado de turistas.

— O Fórum Romano – Gabriel respondeu, sem olhar.

— Eu me lembro deste lugar, mas era bem diferente, era tão bonito, todo em mármore e com colunas gigantescas, agora é só um monte de pedra e ruinas – falei com tristeza.

— Essa reação é comum que costumados ter, sentir tristeza quando um lugar que conhecemos no seu esplendor, agora, é só ruína. É assim também com pessoas que conhecemos belas e fortes e a reencontramos velhas e fracas – Gabriel parecia nostálgico.

— Sim, Samuel me falou algo parecido. Com certeza, foram muitas pessoas importantes que assaram por sua vida nesses séculos.

— Sim, foram.

— Se apaixonou por algumas delas?

— Por que quer saber, elas estão mortas.

— Eu sei, só estou curiosa a seu respeito, imaginando a vida que levou.

— E você? Houve outro alguém?

— Ninguém importante.

— Mas, existiu no seu passado.

— Um passado que não me lembro — Dou de ombros.

— Quem sabe um dia se lembrará.

— Para onde vamos? – Mudei de assunto.

— Para meu apartamento.

— Você, também, tem um apartamento em Roma?

— Sim, tenho casas em vários lugares do mundo. É mais fácil para eu me esconder. Mas, antes, temos que nos livrarmos desse carro.

Nós abandonamos o carro em uma pequena viela de Roma, sem a chave na ignição e com a mala e as roupas no bagageiro, depois andamos por várias ruas até um prédio antigo, com boa aparência. Ele empurrou a porta, que abriu com facilidade, entramos em um pátio, subimos as escadas até o segundo andar, e ele girou a maçaneta da porta, que abriu.

— Encantos – respondeu a minha cara intrigada. – Melhor do que chaves.

O apartamento de Roma, lembrava aquele na minha cidade, com móveis modernos e quadros com figuras míticas, um deles me chamou a atenção, era de uma silhueta de mulher contra uma enorme lua cheia.

— É um dos meus quadros prediletos – falou ao ver meu interesse. Agora, vamos ver. – Ligou o computador, que eu não podia acreditar mais estava carregado. — Voo para Istambul, hoje, às nove horas. Teremos umas cinco horas ainda, dois lugares na classe executiva. Agora, o número do cartão. Pronto! Comprado.

— Gabriel, você esqueceu de um pequeno detalhe, que eu não tenho passaporte.

— Eu falei que isso não seria problema. – Então, ele foi até uma mesa e abriu uma gaveta, retirando dela uma caixa, trazendo à para mim, colocando a em cima da mesa de centro. Fiquei surpresa, quando ele abriu a caixa, havia vários passaportes de diversas cores. Ele pegou um de capa vermelha da República Italiana.

— Esse deve servi — Abriu e leu o nome. – Sophia Scaleno. Você será Sophia Scaleno. – Olhei a foto intrigada, a mulher não parecia nada comigo, pois era morena, com os cabelos lisos e negros e olhos castanhos.

— Mas, ela não se parece nada comigo, Gabriel. – Disse, surpresa, como ele achava que poderia enganar alguém deste jeito.

— Olhe de novo – Falou, sorrindo, fiz o que pediu e a foto que estava no passaporte agora, era a minha e eu ainda me surpreendia com aquilo.

— Gabriel, de quem são estes passaportes? — Perguntei com uma pontinha de ciúmes.

— Presentes de amigas – respondeu, sucinto, sem muitas explicações, com certeza não podia esperar que ele fosse um fiel celibatário por dois mil anos, enquanto tentava me encontrar.


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