A Garota da Lua escrita por calivillas


Capítulo 11
A imperatriz – aquela que tem o poder e conhece a verdade.




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— Olhe, senhora deve estar enganada. Minha mãe está em um sítio no interior, Hélio não é meu irmão. Aliás, eu não tenho irmão — retruquei, achando toda aquela história uma loucura.

— Sei que é difícil entender, já que você foi criada como uma pessoa comum, uma mortal, mas você não é, Diana. Você é uma de nós, um ser especial.

— Exatamente, quem são vocês, afinal? – perguntei, irônica.

— Você já leu sobre nós, no livro de Samuel Zargo.

— Aquilo é ficção, história para vender livros. Tudo aquilo é uma loucura. Com certeza, não acredito que aquele mundo poderia existir de verdade.

— No entanto, nós somos reais. Você é a Dama da Lua, minha filha e do senhor do Ocidente, irmão gêmea de Hélio, o senhor do Sol. Todos nós tivemos muitos nomes através dos tempos e nos lugares por onde passamos. – Ela mantinha a voz calma, como se falasse com uma criança.

— Você é louca! Essa história é uma sandice! Eu sou uma pessoa comum, lembro de toda minha infância, não tenho mais de dois mil anos! — falei, exaltada.

— Diana, se não acredita em mim, olhe em sua volta.

No calor da discussão, não havia prestado atenção, que a nossa volta o silêncio era absoluto, como ela mandou, olhei ao redor, parecia que o mundo havia sido pausado como se fosse um filme, pessoas e até mesmo o trem, que entrava na estação, estavam parados, congelados em um momento específico, fiquei boquiaberta.

— O que aconteceu? Eles estão todos congelados!

— Não, eles não estão parados, somos nós que estamos conversando, em tempo menor que uma fração de segundo, por isso eles parecem parados para você.

— Como? Isso é impossível! – contestei, apesar do que eu via, pensei se poderia ter sido drogada ou hipnotizada.

— Não, a física quântica explica, eu acho. Ou vai explicar um dia, não sei, também não interessa. Mas, em suma, eu sou a senhora do tempo, esse é o meu poder, posso manipular os segundos, os minutos e as horas. Então, agora que tenho sua atenção, posso explicar, o porquê de você esqueceu de quem é.

— Então, explique, mas continuou achando que devo estar drogada.

— Nós somos o que somos, uma outra espécie diferente da humana, um pouco mais, como eu direi, equipada. Temos capacidades maiores, somos mais rápidos, fortes, conseguimos dominar alguns elementos, não sabemos porque, nem queremos saber. Por isso, alguns de nós, na verdade, a maioria, tentou e ainda tenta tirar proveito da espécie humana. Nós somos a origem de tantos mitos e histórias da humanidade.

— Mas, se vocês são tão poderosos porque perderam esse domínio? Por que vivem escondidos? – perguntei me lembrando do livro de Samuel.

— No começo, havia um equilíbrio numérico entre nós e os humanos, porém, temos muita dificuldade de nos reproduzirmos. Tivemos alguns filhos com os mortais, mas eles são frágeis, apesar de serem talentosos, tem algo de loucura, alguns morrem cedo. Por outro lado, até algum tempo atrás, os humanos eram poucos, se reproduziam com facilidade, porém suas vidas eram curtas, devido as guerras, doenças e catástrofes. Além disso eram ignorantes, não conheciam as forças da natureza, usávamos isso para amedrontá-los e dominá-los.

— No entanto, a situação mudou.

— Sim – ela prosseguiu, pesarosa. – Nos últimos tempos, os humanos tiveram uma grande evolução, seus remédios curam mais, sua ciência explica mais e mais, eles estão vivendo e se reproduzindo mais, enquanto nós... estamos estagnados há séculos, não crescemos, muitos dos nossos desapareceram ou foram destruídos. Ainda vemos nossos elementos serem aniquilados, estamos perdendo nossa força e nossos poderes gradualmente.

— Eu lamento muito por vocês — disse com sinceridade, mas ainda descrente com aquela história.

— Por nós. – Ela me corrigiu. – No entanto, foi essa a razão da guerra entre nosso povo. Muito tempo atrás, no começo das eras, houve uma divisão, uma parte de nós foi para o ocidente, pois queríamos mudanças e a outra ficou no oriente, eram mais tradicionais, e com a separação, ficamos diferentes. Alguns de nós acharam que a espécie humana estava se tornando perigosa, por isso, teria que ser destruída ou pelo menos contida, outros achavam que não tínhamos direito para fazer algo parecido.

— E quem eram vocês nessa guerra?

— Nós não queríamos a destruição – disse e eu fiquei aliviada. – E nós ganhamos, mas não foi uma vitória, pois todos nós ficamos muito enfraquecidos, perdemos quase todos nossos poderes, tivemos que nos recolher e esconder por séculos.

— E como sua filha e Gabriel entram nessa história?

— Você se apaixonou por Gabriel. Naquele tempo, ele se chamava Enlil. – Ao ouvir aquele nome, segurei a respiração, pois foi o nome que Hélio o chamou no meu sonho, porém não mencionei nada. – E o ajudou a fugir do seu pai, que ficou furioso, por isso, a puniu, mandando a para o Esquecimento. Fiquei furiosa com ele e a procurei por todos os lugares.

— Como assim, meu pai me mandou para o Esquecimento? O que é isso?

— Como disse, é uma punição, você fica presa entre duas dimensões, sem pertencer a lugar nenhum – explicou e eu estava tonta com toda aquela narrativa, era muita novidade para minha cabeça. – Mas, felizmente, eu a encontrei e fiz você nascer outra vez e a entreguei aos seus pais adotivos. Acho que fiz uma boa escolha?

— Sim, fez. – Sorri pensando nos meus pais e no que eles pensariam, se ouvisse toda aquela loucura.

— Contudo, fiquei por perto para protegê-la. Ninguém sabia que você havia voltado até o ocorrido na estação, com a criança, apesar de achar que a exposição e o surgimento de Gabriel me pareceram uma coincidência muito grande, mas, podem também não ser.

— E se por acaso, esse meu pai me capturar o que ele faria? – Estava começando a ficar preocupada.

— Talvez, ele a mande novamente para o Esquecimento, talvez ele faça o mesmo com Gabriel.

— O que posso fazer para impedir isso?

— Você precisa lembrar quem você é, e tentar salvar a vocês dois.

—Como? Você vai me ajudar? – Não sabia o que fazer, pois até há poucos dias, eu me julgava como uma simples garota normal, com pais normais e um trabalho normal.

— Não posso enfrentar o seu pai, mas procure a ajuda de outros. — Ela parecia desanimada.

— Quem? – Não tinha a menor ideia de como achar estes tais outros, se havia uma disputa, quem estaria do meu lado? Em quem poderia confiar?

— Como, por exemplo, Samuel, ele é amigo de Gabriel, peça ajuda a ele. Preciso sair daqui já chamei muita atenção, seu pai não pode saber onde estou.

— Espere! Qual é seu nome?

— Atualmente, Jane. – E ela desapareceu, enquanto o cenário a minha volta começou a se movimentar como se nada houvesse acontecido.

Fiquei ali, atordoada, no meio da estação, sem saber como e por onde começar para salvar Gabriel e a mim mesma. O primeiro passo seria encontrar Samuel, mas um escritor famoso como ele não teria seu telefone na Internet, então, pensei na editora para qual trabalhava, isso era fácil estava no livro, só precisava voltar para casa, para pesquisar com mais tranquilidade. Mas, quando andava de volta, notei uma grande movimentação na minha rua, havia caminhões de bombeiros e carros de polícia e, quando me aproximei, percebi que aquela movimentação toda era na porta do meu prédio, juntei me ao pequeno grupo de pessoa para atrás da fita de isolamento.

— O que houve? – perguntei à mulher ao meu lado, que reconheci como uma vizinha.

— Houve um pequeno incêndio em um dos apartamentos, mas não podemos entrar em casa até que os bombeiros nos liberem – ela esclareceu, eu não podia acreditar naquilo, teria que procurar uma livraria ou ...  Tive uma ideia melhor.

— Helena, Bom dia. Desculpe ligar logo assim pela manhã, mas, por acaso, você sabe o nome da editora de Samuel Zargo? – indaguei de maneira dissimuladamente casual.

— Pensei que você não gostasse desse tipo de livro, Diana.

— Não, só curiosidade, pensei em comprar outros livros dele.

— Posso pesquisar para você, estou de frente para o meu computador.

— Por favor, faça isso.

Esperei alguns segundos.

— Está aqui. Nos caminhos para o Oriente. – Pensei que o nome era bastante sugestivo, depois de toda aquela história que escutei.

— Ótimo. Tem o telefone deles aí.

— Só mais um momento. Vou passar por uma mensagem.

— Obrigada, Helena – quis encerrar a conversar, mas ela não deixou.

— O que está acontecendo, Diana? Há algo errado? – Ela parecia ter adivinhado, mas não sabia se poderia confiar em alguém, então menti de novo.

— Não, Helena, está tudo bem. Até mais tarde.

Liguei imediatamente para a editora, sabia que não iria dar em nada, mas podia tentar, foi o que fiz quando uma voz feminina entediada me atendeu

— Gostaria de falar o senhor Samuel Zargo. – Pedi, me fazendo de boba.

— O senhor Samuel não está. Só a tarde. – Estranhei a resposta, pois sei que os escritores não trabalham nas editoras.

— Então, ele estará aí mais tarde?

— Sim, foi o que eu disse. – A mulher respondeu, sem paciência.

— Posso deixar um recado?

— Se quiser? – disse, como se soubesse que seria inútil.

— Diga-lhe que a Dama da Lua precisa muito falar com o Contador de histórias sobre o Senhor dos Ventos.


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