Me de amor como ela

Porque, ultimamente, eu tenho acordado sozinho

A dor espalhou lágrimas na minha camisa

Eu disse a você que os deixaria ir

A fumaça da baforada do cigarro bateu na janela e, por um momento, nublou as luzes da Londres. Era assim que se sentia, nublado. Ainda dizem que isso não é um sentimento, mas claro que é. De que outra forma você pode descrever que se sente como o mar em um dia de chuva?

E vou lutar pelo meu canto

Talvez hoje à noite eu vá chamar você

Depois que o meu sangue se transformar em álcool

Não, eu só quero segurar você

As ondas vindo e vindo é o mesmo que ficar parado. E é o que tem feito, ficado parado no mesmo lugar onde a viu pela última vez: seu apartamento de 40m². Se é que aquilo pode-se chamar de apartamento, pois tinha um banheiro, uma cozinha e uma outra peça que era onde ficava a cama. O incrível era que aquilo era tudo o que precisava. Era. Antes dela aparecer e bagunçar tudo. Sentia falta do cheiro dela em sua cama. Queria procurá-la, mas era orgulhoso demais pra isso.

Dê um pouco de tempo para mim, vamos queimar isso

Vamos brincar de esconde-esconde, para virar esse jogo

Tudo que eu quero é o gosto que seus lábios permitir

Não sabia como podia consertar as coisas. Então deixaria assim por um tempo, mesmo que isso queimasse, afinal nada dura para sempre, não é? Mesmo com todo o vinho que já havia bebido ainda conseguia sentir o gosto de cereja dos lábios dela. Aqueles malditos lábios que insistiam em perturbá-lo.

Dê-me amor como nunca antes

Porque, ultimamente, eu tenho desejado mais

E faz algum tempo, mas eu ainda sinto o mesmo

Talvez eu deveria deixar você ir

Maldita sensação de culpa. Como poderia adivinhar que tudo aconteceria tão rápido? Que a maldita fagulha acendesse uma grande fogueira dentro dele? Odiava sentir-se assim, frágil, à mercê dos outros e tão sem controle de seus sentimentos. Quando ela saiu a última vez, não se importou em olhar pra trás, ela merecia coisa melhor.

Você sabe que eu vou lutar pelo meu canto

E que esta noite vou chamar você

Depois que o meu sangue estiver se afogando em álcool

Não, eu só quero segurar você

Não, ele não ia deixar assim. Ela era diferente, não agiria como as outras, seira egoísta sim, queria ela só pra ele, como uma fúria crescente que tornava suas baforadas mais instensas e constantes. Era o último cigarro. A partir dali mudaria. Por ela. Com ela.  Deveria tê-la segurado, como muitas vezes faziam quando dormiam. No caso ela dormia. Pois ele nunca se cansada de sentia a pele macia sob o seu toque, a maneira como ela respirava suave, como ficava arrepiada quando seu toque, quase imperceptível, chegava perto da nuca.

Minha nossa, minha nossa, oh, dê-me amor

Minha nossa, minha nossa, oh, dê-me amor

Minha nossa, minha nossa, oh, dê-me amor

Minha nossa, minha nossa, dê-me me amor

Deu um sorriso amargo que logo se transformara em um riso, foi isso. A maneira simples como ela era, o caminhar, o olhar e principalmente o sorrir. Isso o despertou de seu mundinho, saíria por ela. Não aguentava mais ficar sem o cheiro, as carícias, e principalmente o calor do corpo dela junto ao seu. Nada mais importava. Dessa vez quem saiu sem olhar pra trás foi ele. O apartamento não era mais seu canto especial, percebera que ela era. Ela que tornara tudo tão especial e caloroso. Dessa vez iria ser egoísta e a traria de volta, só pra ele. Virariam um “nós” novamente.

Me dê amor.