Dança da Extinção escrita por yumesangai


Capítulo 23
The end




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—Você não tinha o direito. - A voz alterada era de Yesung, mas Sungmin já estava explodindo.

 

—Eu tinha todo o direito! E eu deixaria de novo!

 

Leeteuk estava de braços cruzados, enquanto assistia seus amigos discutindo. Após o disparo, Yixing que estava pelo corredor, foi o primeiro a chegar e a tirar Sehun de lá. Ryeowook e Minseok tiveram que tirar Yixing à força da sala.

 

E tudo que se ocasionou logo depois era uma confusão.

 

—Ele tomou a vacina! Você não tinha o direito de deixar que ele interferisse no processo. - Yesung sempre foi uma pessoa lógica, é claro que ele podia se dar ao luxo de ser lógico, não eram seus amigos.

 

Em outra ocasião, ele teria sido o primeiro a puxar o gatilho.

 

—Ele estava basicamente morto, era um cadáver antes mesmo de morrer! - Sungmin gritou de volta e Kyuhyun se aproximou se colocando entre eles e puxando o amigo, criando novamente uma distância amigável entre eles que estavam basicamente em cima um do outro.

 

—Agora nós não temos nada, esse experimento era importante!

 

—Era uma pessoa e você já tem o bastante, não funcionou!

 

—O que nós devemos fazer? - O líder perguntou em voz alta, mas estava apenas pensando alto.

 

Sehun havia acessado as armas, basicamente com autorização de Sungmin e atirado em Baekhyun.

 

—Eu não me importo. - Sungmin empurrou o braço protetor de Kyuhyun. - O garoto tentou se matar logo depois, não importa se a arma só tinha uma bala, ele tentou suicídio logo após.

 

—Nós não deveríamos ter que nos preocupar com civis. - Heechul resmungou.

 

—Eles estão aqui e isso não vai mudar. - Siwon declarou. - Enterrem o garoto para que eles tenham algum tipo de conforto, e nós vamos seguir o que já tínhamos combinado. - Olhou na direção de Leeteuk que assentiu.

 

—Siwon tem razão, a morte do garoto não muda nossos planos. A vacina não funcionou e isso é oficial. O garoto já está sofrendo, não precisa de nenhum tipo de punição, apenas… deixe as armas no depósito, eu não quero civis usando armas, eles não têm treinamento para isso e visivelmente estabilidade psicológica para tomar decisões.

 

—/-

 

Sehun soltou o ar lentamente, seu peito doía e parecia pesado, mas ele não sentia dor, era uma sensação familiar, mas ao mesmo tempo era apenas um peso imaginário, algo que sempre esteve lá, mas às vezes se tornava sufocante.

 

Ele preferia mil vezes que fosse algo tratável, algo que ele pudesse enxergar, mas essa sensação de ter um buraco no peito?

 

Pensou ter visto o rosto de Minseok, mas seus olhos não queriam ficar abertos, ele apagou rapidamente.

 

—O que você quer? - O tom de Minseok não era agradável, ele estava cansado, havia sido um dia extremamente longo.

 

Sehun, seu protegido, estava apagado na cama depois de tomar alguns remédios para acalmar. Yixing estava trancado no próprio quarto.

 

—Acho que nós devemos conversar, não? - Leeteuk fez sinal que ele deixasse a pequena ala médica onde Sehun repousava.

 

Eles seguiram por um corredor frio até uma das salas adaptadas, havia um sofá e móveis descombinado, provavelmente alguma sala de descanso.

 

—Você quer que a gente vá embora?

 

Minseok não esperava nada diferente, embora regras nunca houvessem sido estabelecidas anteriormente. Eles tiveram que deixar as armas guardadas, até porque eles eram civis sem autorização para seu uso, num estabelecimento militar.

 

E Sehun atendeu ao pedido de Baekhyun.

 

—Não, eu não quero. Eu entendo, embora não concorde, ao mesmo tempo acho que não cabe a mim opinar no que aconteceu.

 

O zumbido no ouvido do líder diminuiu. Minseok o encarou surpreso e confuso.

 

—Por quê?

 

Leeteuk relaxou os ombros.

 

—Eu já vivi o seu inferno, ok? O meu grupo, os meus amigos lá fora, nós tentamos salvar as pessoas e algumas fizeram meus amigos serem mortos na minha frente, eu vi colegas atirando na própria cabeça, eu vi pessoas tão desacreditadas que tiraram a vida daqueles que queriam viver.

 

Minseok tinha os olhos cheios d’água, ele estava tão cansado. Cansado de correr de errantes e das pessoas.

 

—Como você consegue?

 

—Por que alguns estão vivos.

 

Minseok pensou em Sehun, e ele que tentou tirar a própria vida? Ele que provavelmente não queria mais viver? O que iria fazer?

 

Luhan estava morto e isso não iria mudar.

 

—Eu não posso perder o Sehun.

 

—Às vezes a decisão não é nossa.

 

—O que você faz?

 

—Eu estendo a mão, é o máximo que posso fazer.

 

Ele queria dizer que não era o bastante, mas a verdade é que poderia afundar no mesmo mar que Sehun e ainda assim não seria o bastante para salvá-lo.

 

—/-

 

Uma sala de eventos foi usada para o velório, não havia coroas de flores, e eles não tinham as roupas adequadas, mas eles já estavam acostumados, o fato de poderem fazer um pequeno velório era muito mais do que eles conseguiram.

 

Chanyeol e Taemin que ficaram para trás.

Suho e Jongdae, enterrados na floresta durante a chuva.

 

Eram memórias cruéis.

 

Eles prestaram suas homenagens em silêncio. Yixing ficou em pé no canto da sala o tempo todo. Sehun estava abraçando os próprios joelhos, sentado próximo ao incenso que já havia se apago.

 

Não havia uma caixão, não havia foto. Baekhyun estava enterrado no terreno da base, onde haviam outros túmulos.

 

—Você se esforçou o bastante.

—Obrigado.

—Nunca esquecerei de você.

 

Minseok, Jongin e Kyunsoo prestaram pequenas homenagens.

Sehun encarava a parede escura da sala. Baekhyun, Chanyeol, Luhan, Suho, Jongdae.

 

“Esse mundo quer que você viva”. Baekhyun havia dito na pequena igreja.

“Você vai ser o único homem na terra”. Luhan havia dito.

 

Quando Sehun começou a chorar, ele estava sozinho na sala, assim como ele estava sozinho naquele mundo amaldiçoado onde todos achavam que ele era forte o bastante para sobreviver.

 

—/-

 

—O que você está fazendo? - Kyungsoo perguntou ao encontrar Kai jogando várias coisas na mochila.

 

O quarto que eles dividiam estava uma bagunça, armários revirados, roupas e mantimentos para todos os lados, haviam outras coisas que eles não possuíam antes, provavelmente vindas da base em que eles estavam.

 

—Eu vou atrás da Krystal.

 

—Como é? - Soo o encarou buscando a insanidade quase constante em Kai, mas havia apenas um olhar determinado, como Jongin costumava ser quando decidia algo, estupidamente teimoso.

 

—Você ouviu, não é? Com a alta temperatura do inverno, os errantes vão congelar, quando a estação mudar, não vai mais existir mortos caminhando. Os mortos irão permanecer mortos.

 

Eles haviam escuto isso do grupo, mas ouviram também que era uma teoria, sem falar em lugares que o inverno não fosse tão rigoroso, talvez não tivesse o mesmo efeito, mas que provavelmente seria o bastante para acabar com aquela eterna madrugada dos mortos.

 

—Elas foram para o campo, os militares vão atuar nas cidades e por último nos campos, então eu vou até elas, vou ajudar.

 

—Sozinho? Nós acabamos de entrar no inverno. Você simplesmente vai vagar pela cidade até o campo? Esse é o seu plano idiota?

 

Kai franziu o cenho e terminou de jogar alguns utensílios na mochila.

 

—Não estou pedindo a sua opinião. Vou pegar a minha arma na entrada. Eu posso ir embora quando quiser, lembra? Eu já tomei a vacina.

 

—Sehun vai com você? Minseok?

 

Kai vacilou brevemente, ele encarou o chão fugindo do olhar do amigo. E então soltou o ar lentamente.

 

—Vou falar com Sehun, mas não importa. Essa é a minha decisão. Eu vou embora.

 

Kyungsoo se perguntou se deveria dizer algo contra ou a favor, mas a verdade é que não estava conseguindo processar a informação completamente. Kai deixou o quarto e foi atrás da Sehun.

 

—Hunnie. - O chamou gentilmente entrando no quarto escuro, Kai deixou a porta aberta para a luz do corredor iluminar parcialmente tudo.

 

—Você vai embora, não vai? - Ele perguntou de costas, encarando a parede.

 

—Eu não quero ficar e esperar o mundo voltar a ser mundo, acho que vou enlouquecer se ficar aqui. - Ele sentou na beirada da cama.

 

Sehun se virou para encará-lo.

 

—Não vai me levar com você?

 

Kai torceu os lábios num sorriso triste, suas mãos tirando os fios que caíam sobre o rosto pálido do mais novo.

 

—Não, eu vou sozinho.

 

—Veio se despedir? - Kai assentiu lentamente. - Você pode me fazer esquecer?

 

Kai se levantou e chutou a porta, a fechando. Antes de voltar para a cama e capturar os lábios de Sehun.

 

—/-

 

—Ainda existe um plano? - Yixing perguntou sentado do lado de fora, enquanto assistia um pôr do sol, estava frio, o termômetro indicava algo em torno de 10 graus.

 

—Ficar aqui até o verão chegar. - Minseok respondeu de braços cruzados, enquanto sobrava o ar gelado.

 

—E depois?

 

—Não sei, tentar voltar para casa, se ainda existir.

 

—Kyungsoo e Kai foram embora ontem. - Yixing falou rapidamente com Kyungsoo, ele não era próximo de Kai. - Você também iria?

 

Minseok nunca iria deixar o garoto para trás e isso era um fato, mas se Sehun estivesse mentalmente preparado para encontrar mais errantes? Se Baekhyun ainda estivesse vivo pelo menos.

 

Talvez os dois insistissem em sair de lá, que não era seguro, que não podiam confiar naquelas pessoas.

 

E talvez eles se colocassem numa situação que poderia resultar na infecção, exatamente como aconteceu quando os dois não conseguiram subir na grade.

 

—Não. - O líder respondeu sinceramente. - Eu nunca quis passar por lugares perigosos com Sehun, porque eu sabia que algo assim poderia acontecer. Eu fecho os olhos e o vejo caindo entre aquelas coisas. Eu fecho os olhos e vejo ele matando pessoas vivas para nos proteger. Eu vejo o brilho nos olhos dele indo embora e não tem nada que eu possa fazer para trazê-lo de volta. Ele amava Luhan, era o meu melhor amigo. Sehun o matou, assim como matou Chanyeol e depois Baekhyun.

 

Yixing suspirou.

 

Ele sabia que seu relacionamento com Baekhyun era complicado, era algo que estava mantendo todas as partes quebradas juntas, mas era frágil demais.

 

—Baekhyun não queria mais viver. Eu sei disso, eu o vi naquela cabana quando ele me salvou. Se eu não estivesse por lá, se ele não tivesse arranjado uma motivação, talvez ele não se importasse tanto. Se aquele grupo não fosse tão psicótico, se fossem mortos….

 

—Foi um pouco depois da morte de Chanyeol, foi complicado para todos nós. Kai havia ficado para trás, Jongdae e Suho morreram…

 

—Eu gostaria de ter levado Baekhyun para a China. - Mudou o assunto encarando o céu que parecia não mudar. Eternamente melancólico.

 

—Luhan já me levou uma vez.

 

—Oh. - Yixing o encarou surpreso e com um sorriso sincero. - Onde você foi?

 

—Muralha, eu queria tanto visitar, mas estava tão cheio. - Acabou rindo.

 

—Eu também quero voltar para casa, essa foi uma viagem longa e cansativa.

 

Minseok assente, porque ele entende, os dois demoram a perceber que não estavam mais conversando em coreano.

 

Eles continuam as pequenas conversas ao longo dos dias que viraram meses. Às vezes Sehun se junta a eles, mas normalmente ele fica sozinho. O grupo de militares não precisa de ajuda no que quer que estivessem fazendo.

Então eles não tinham o que fazer além de ter um ao outro para passar o tempo.

 

E foi assim que o inverno terminou, sem Jongin e Kyungsoo. Mas eles que já haviam passado por tanta coisa, não ter notícias de alguém não era tão desmotivador assim.

 

Todos eram sobreviventes e todos estavam vivos depois do apocalipse.

 

—/-

 

O Apocalipse durou aproximadamente um ano, os grandes centros sofreram mais, com o acesso destruído, além de incêndios e veículos abandonados. O tempo todo era noticiado de pessoas e autoridades que faleceram, talvez eles nunca chegassem num número exato de quantas pessoas perderam suas vidas.

 

Ou quantas se sacrificaram em prol da sobrevivência de alguém.

 

Minseok acompanhava o jornal de casa, não sua casa, pois seu prédio estava inacessível, mas na casa de seus avós. Yixing havia passado um tempo por lá, mas logo ficou junto ao consulado para tentar retornar para casa.

 

Os aeroportos ainda estavam fechados e até que se tivesse certeza que os outros países estivessem bem, as rotas de entrada e saída permaneciam seladas.

 

Jongin e Kyungsoo apareceram num noticiário, eles conseguiram chegar nas regiões mais afastadas e com o grupo de garotas que eles conheceram brevemente, ajudaram vários grupos.

 

As regiões rurais não ficaram tão caóticas quanto a cidade, as comunidades locais souberam trabalhar em grupo.

 

Sehun?

 

Minseok o escuta conversando com Baekhyun, Luhan e os outros, mas normalmente ele fala com Baekhyun. Às vezes Minseok o encontra embaixo da cama, pois é lá que os monstros se escondem, quando ele se sente pior ou sabe que está mal, ele dorme lá, pois ele também se sente como um monstro.

 

Sehun precisava daquela falta de conforto, de algo real, de algo que ele ache que mereça.

 

Minseok entende, então ele não questiona.

 

Sehun está piorando quando começa a conversar com Baekhyun e ele começa a responder de volta, mas Minseok diz que é um mecanismo de defesa. Sehun não entende como conversar com um morto pode ser mecanismo de defesa.

 

Minseok diz que conversa com Suho, que sente falta dele. Sehun pergunta se Jongdae está bem, e Minseok sorri. Sehun claramente não consegue separar os acontecimentos. É um pouco doloroso de ver.

 

Mas depois de tudo, é impossível não ter sequelas.

 

—Eu soube de um lugar ainda com errantes. - Sehun comentou ajeitando a bota e encaixando a faca no colete, além de ter uma das armas carregadas.

 

—O que acha? - Perguntou olhando seu reflexo no espelho. Ele sorriu quando Baekhyun respondeu e Chanyeol assentiu ao fundo.

 

—Isso não pode ficar desse jeito.

 

Foi a última coisa que disse antes de deixar a casa e desaparecer. Minseok decide não procurá-lo, existia um limite depois daquele ano, de onde ele podia alcançar Sehun, a verdade é que ele nunca conseguiu protegê-lo do mundo ou dele mesmo.

 

Sehun é seu gato de schowrig.

 

Ele pede que Luhan e Suho tomem conta dele, e Minseok entende o vício de ficar conversando com os mortos, quando ele tem certeza que ouviu uma resposta.

 

Alguns sobrevivem ao apocalipse, mas nem todos sobrevivem ao mundo.

 

[...]

 

“Aos meus queridos amigos, eu não estaria vivo se não fossem por vocês: Suho, Jongdae, Kyungsoo, Yixing, Jongin, Chanyeol, Baekhyun.

 

Luhan, meu melhor amigo, obrigado por ter protegido Sehun até o fim.

 

Sehun, onde quer que você esteja, essa é a nossa história, eu gostaria que as coisas fossem diferentes, mas eu não posso mudar o mundo, espero que você encontre a paz que esse mundo tirou de você.

 

Essa é a história de sobrevivência, de violência, e de amizade. De pessoas estranhas que se conheceram nas situações mais absurdas, mas que se tornaram essenciais. Pessoas que haviam desistido de viver, mas encontraram num desconhecido, a força para se erguer.

 

Humanos que perderam sua humanidade, mas que acreditavam que seus ideais justificavam suas escolhas. Pessoas unicamente cruéis cujo propósito ainda não encontro palavras para descrever.

 

Aos meus amigos que perderam suas vidas nessa trajetória, a história de vocês não será esquecida.

Obrigado”.

 

Por: Kim Minseok


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