Saint Seiya: O Vazio do Submundo / Parte 2 escrita por Masei


Capítulo 7
Cavaleiros de Atena Seguem em Frente




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690907/chapter/7

 

Geki, de braços em guarda, é arrastado por alguns metros na terra batida da quinta câmara; suas pernas marcando o piso e levantando a poeira daquele lugar sem qualquer acabamento. O Urso desfez sua guarda para revelar ferimentos em um rosto já cansado, um rosto que denunciava uma respiração pesada de um guerreiro que esteve lutando há um bom tempo; um sangue escuro escorre do seu braço, possivelmente de um ferimento alojado no ombro direito. Do outro lado, e caminhando calmamente na sua direção, desenha-se o seu oponente, absolutamente grandioso; não somente alto e forte, mas grande, uma presença realmente intimidadora.

Tão grande quanto o Besouro Stand, embora muito mais em forma e temível; sua armadura dourada já tinha algumas rachaduras, mas em comparação com a de Geki, ele parece estar em melhor condições para terminar aquela batalha. A figura de sua armadura lembra um réptil muito grande, seu gorjal de ouro também encontra-se trincado, mas a ankh inscrita em seu peitoral brilha com seu cosmo alvo. A presença altiva jogou uma sombra grande em cima de Geki por conta das luzes toscas de tochas ao redor da câmara.

— Porque diabos eu tenho sempre que pegar o maior de todos?

— Hmm? — veio como resposta apenas.

— Eu disse que você é realmente forte.

— Humpf.

O gigante parou em frente ao Cavaleiro de Bronze sem dignificar o Urso com uma resposta clara, e no pouco tempo em que se encararam Geki tinha certeza absoluta que durante toda aquela luta não ouviu seu oponente dizer uma única letra do alfabeto; nenhuma troca de palavras, nenhum discurso longo, nenhum menosprezo, nada. Apenas grunhidos, sons beligerantes e reclamações veladas. Como tal, o gigante homem apenas acenou adiante, por cima dos ombros de Geki, indicando a saída que ele protegia.

— Negativo. Vai ter que passar por mim.

Ele reagiu com uma queda de cabeça, claramente indicando desapontamento, mas não disse nada; colocou-se em posição de combate e partiu novamente para cima de Geki, que desviava de suas investidas poderosas enquanto mantinha a guarda da saída.

 

*********************************

 

Shun olhava fixo no seu oponente que, ainda sangrando, tentava absorver aquele rosto cândido e quase inofensivo do Cavaleiro de Andrômeda à sua frente, sem compreender necessariamente o que um jovem como ele poderia estar fazendo em uma arena de batalha. A corrente triangular moveu-se sozinha no espaço com rapidez e rasgou a crucificação Ankh que mantinha o corpo de Ikki preso no firmamento; antes mesmo que Takelot pudesse impedir de qualquer forma, o corpo de Ikki caiu com um estrondo no chão.

— Ikki.

— Estou bem, Shun. — respondeu ele arfando.

Takelot pôs-se em posição de batalha novamente, mas a voz de Shun soou com força:

— Você não está em condições de lutar. — ele cambaleou, tentando manter-se de pé. Shun continuou: — É inútil continuar lutando, apenas derramaremos ainda mais sangue sem motivo algum.

— Infelizmente, garoto… — começou ele. — Eu fiz uma promessa… uma promessa estúpida, talvez, mas uma promessa. Para alguém muito importante. — e então, de pé finalmente, ele finalizou. — De que mataria o Fênix.

— O quê?!

Shun silenciou, consternado, pois imediatamente percebeu que a sua ideia pacifista, sua sugestão sensata de parar aquela batalha sem sentido morreria em sua própria boca, uma vez que o peso de uma promessa como aquela era muito maior do que qualquer bom senso. Era uma promessa maldita, pensaria Shun, mas respeitou seu oponente em seu silêncio.

— Nós vamos mesmo ter que lutar, não é? — contrariou-se Andrômeda.

— Não. É ele quem eu quero.

— Eu lamento dizer que você não tocará em meu irmão.

Ikki tentava levantar-se.

— Shun… essa luta, deixe que…

— Não. — cortou Shun, e então virou para Takelot. — Como eu disse: não deixarei que toque em meu irmão.

— É uma pena, parece que eu vou precisar te vencer se quiser cumprir minha promessa.

— Infelizmente sim. — respondeu Shun, sabendo perfeitamente que, embora o chiste de Takelot, sua voz era a de quem sabe que não tem qualquer condições de lutar com alguém do mesmo nível de Fênix, como era o caso de seu novo oponente.

O cosmo de fogo da Benu lançou uma esfera gigante na direção de Andrômeda que, usando rapidamente sua defesa circular, criou um redemoinho de vento tão potente com a corrente ao redor dele que o fogo dissipou-se ao tocar na barreira.

Shun intocado.

 

*********************************

 

A luta prosseguia feroz.

Geki defendia a saída e o homem buscava de todas as maneiras passar por ele. Ir atrás de Atena, da mesma forma como haviam feito todos os outros Guerreiros de Ouro daquela ordem; de modo que, mais importante do que a invasão dos Cavaleiros de Bronze, era a possibilidade de uma deusa como Atena chegar até o mais fundo daquela pirâmide. Fossem apenas Geki e os demais, talvez o posicionamento deles fosse outro, mas Atena decididamente os colocara em um estado de desespero curioso. Mais do que proteger suas câmaras, eles precisavam impedir Atena de prosseguir.

O Cavaleiro de Urso, com sua enorme força, socou o chão diversas vezes para criar uma espécie de terreno absolutamente irregular e pedregoso para dificultar as investidas do gigante que, por conta de sua estatura, usava-se bastante das investidas terrenas. Geki o fez mudar de estratégia ao tornar o chão um monturo de ruína de pedra irregular, portanto o grande guerreiro precisava buscar mais o ar, o que o tornava vulnerável.

Preparado para uma nova investida em Geki, o cosmo do gigante apareceu ao redor de seu corpo; suas pernas arquearam, prontas para lançá-lo contra o seu oponente, quando algo pareceu estalar em sua mente e o tirou completamente de si: ele olhou por sobre o ombro e girou no eixo, virando-se completamente para a entrada de sua câmara, de costas para Geki. Esqueceu completamente que o Urso existia. Não, que tudo mais existia.

Da entrada, vinham entrando à passos largos Ichi, Nachi e Ban.

Não houve sequer dúvida no homem: ele saltou furioso na direção dos três que, num primeiro momento, chegaram a pensar em atacar para ajudar Geki, apenas para verem-se na necessidade de se defender. O gigante urrou e seu grito soou altíssimo pela primeira vez:

— Devorador de Alma!

Sua voz, que o Urso não havia escutado até então, era gutural, primeva, quase como se jamais houvesse de fato refinado as cordas vocais para um diálogo comum, sua boca apenas servia para aquilo que parecia um conjuro de demônios. Sua mira era certeira e evidente: Ichi.

O cavaleiro de Hidra foi imediatamente paralisado pela força do gigante que o atingiu à distância; aproximando-se dele, o gigante levantou um dos braços acima da cabeça, de onde um rasgo na realidade pareceu materializar-se em uma cisão escura, lentamente sugando o funil de energia que formou-se ao redor de Ichi. Tudo se apagou quando a energia branca do guerreiro de Atena foi completamente sugada e seu corpo caiu inerte na terra, desacordado. Desprotegido, o gigante viu-se surpreendido por três técnicas certeiras:

— Uivo Mortal!

— Chama Flamejante do Leão Menor!

— Punho do Urso!

O vento cortante do Lobo uniu-se às chamas inacreditáveis de Ban e calcinaram o corpo do guerreiro pela frente, levantando uma grande pira de fogo em seu corpo gigante; pelas costas, ele foi varado por um potentíssimo raio branco de energia que explodiu do braço de Geki. O raio do Urso, inclusive, varreu a pira de fogo e revelou novamente a armadura de ouro muito avariada e o rosto cheio de dor do gigante, agora sem o elmo reptiliano.

Ele respirava com extrema dificuldade.

Lentamente colocou-se novamente em posição de ataque e Ban e Nachi reagiram para contra-atacar, quando a um sinal de Geki eles pararam. Não havia necessidade.

Porque então o gigante pareceu atacado por dentro, perdeu completamente seu fôlego e cuspiu muito sangue no chão. Caiu de joelho e então rolou para o lado, morto. Sua armadura de ouro deixou seu corpo, algo que não havia acontecido com nenhum dos outros guerreiros, e formou, com as partes quebradas, a enorme figura de um crocodilo misturado a outros mamíferos. O totem abrasou e sumiu completamente dali, deixando apenas o corpo negro e gigantesco do homem vestindo apenas roupas mínimas de um escravo egípcio.

Ban e Nachi olharam para Geki sem compreenderem direito.

— No norte, os homens usam uma armadilha semelhante para matar alguns ursos. Ele não sentiu a força do meu punho, mas seu corpo explodiu por dentro como uma armadilha. — comentou ele.

— Punho de Urso? — comentou Nachi.

— O quê?

— Como nunca nos disse isso antes? — adicionou Ban.

— Ué, eu também tenho meus segredos. — aliviou ele.

— Precisamos trabalhar nesse nome. — disse Ban.

— Como assim, não está bom? — retrucou o grandalhão, com uma cara desagradada.

Nesse momento, abandonado atrás, Ichi acordou como se houvesse sido salvo de um afogamento, tamanho seu desespero; ficaram todos ao redor dele, como se lembrassem que o amigo estava longe dali.

— Não me deixe voltar! — berrava ele ,repetidamente. — Não, não me deixa voltar!

— Calma, Ichi! Somos nós!

— Ahh, Geki!

— Calma! — Nachi imobilizou Ichi, que se debatia.

— Eu estive lá, lá no, no… como que chama? O que o Shiryu vivia indo? Erm… Tokusatsu, Horozoaka, Yakusa… — falava ele sem parar.

— Yomotsu! — exclamou Ban.

— Isso! Não me deixem voltar, por favor! Aquele lugar é horrível!

Geki deu-lhe um safanão no rosto, para muita reclamação de Ichi, que finalmente pareceu voltar ao normal.

— Foco, Ichi!

E o Urso ainda pegou-o pelo braço e jogou-o à frente dele para saírem logo daquela câmara, lembrando a todos de suas missões. Chamou aos demais que, ainda muito machucados, seguiram Geki adiante.

— O próximo gigante que aparecer, vocês decidam entre vocês quem vai lutar.

E rindo, seguiram para a sexta Câmara.

 

*********************************

 

Takelot voava pelo campo de batalha perseguindo Shun, que usava sua corrente nas pilastras para flutuar pela galeria e escapar das investidas aladas da ave egípcia. A mão da corrente triangular mirou perfeitamente em uma pilastra caída para içá-lo para longe da explosão de fogo que veio lambendo sua sombra; levantou-se um paredão de fogo, que Takelot venceu passando sobre ele com suas asas e fazendo o fogo apagar-se por completo

Mas assim que rompeu seu próprio fogo, a ave de Benu viu-se presa por uma armadilha da corrente circular de Shun. Uma trama perfeita escondida nos tons da tarde, que revelou-se uma armadilha apenas quando Benu bateu contra a trama da Corrente de Andrômeda. Shun saltou por cima de Takelot preso e, ao aterrissar, puxou a corrente, apertando a armadilha completamente.

— Quanto mais lutar contra a corrente, mais forte ela irá lhe prender. Desista. — anunciou ele.

Inútil, pois Takelot debatia-se no chão, envolto nas correntes como uma ave enjaulada, absolutamente incapaz de aceitar aquela armadilha.

— Nunca!

Shun ponderou e sua feição transformou-se em profunda tristeza.

— É uma promessa maldita. — comentou ele. — Eu chorei a morte de meu irmão duas vezes e por duas vezes ele voltou do mundo dos mortos.

— O quê?! — deixou escapar Takelot, preso pela corrente de Shun. — Não é possível. Você não quer dizer que ele é…

Imortal. A palavra ficou no ar sem ser dita. Ikki, a ave imortal, estava deitado no chão observando e ouvindo aquela conversa. Takelot respondeu ao silêncio com um grunhido e Shun continuou.

— Portanto, sua promessa é uma promessa que jamais poderá ser cumprida. — finalizou Shun. Takelot riu e, por um momento, deixou de debater-se no chão.

— Eu adoraria saber disso antes de ter feito essa promessa.

A duras custas, ele colocou-se de pé novamente sem que Shun fizesse nada para mantê-lo deitado; completamente envolto pelas Correntes, Takelot movimentou-se de modo que as elas soassem com um clangor ao redor dele.

— Eu achei que os Cavaleiros de Atena não usassem armas. — acusou ele.

— Ele o faz por misericórdia. — respondeu Ikki, já de pé.

Shun surpreendeu-se com o irmão e a Benu ganhou uma expressão assombrada.

— Não queira saber… a força do punho do meu irmão.

— Ah, Ikki…

— Shun… — disse Ikki, olhando para seu irmão. — Shun, eu lhe peço… deixe-me terminar essa luta. Esse homem fez uma promessa maldita e não vai parar enquanto não conseguir ou morrer tentando.

Takelot confirmou apenas com seu olhar.

— Eu não quero que você tenha que terminar essa luta dessa maneira, Shun. Deixe que ele ao menos tenha a chance de me matar.

— Mas Ikki…

— Eu sei, Shun.

Os irmãos olharam-se longamente. Ikki estava muito ferido, tanto quanto Takelot. Shun pesou no ar o que poderia significar aquela luta prosseguir e, olhando fundo nos olhos de seu amado irmão, ele aliviou a corrente e retirou a armadilha do corpo de Benu; fechou os olhos e Ikki falou:

— Shun, eu…

— Eu sei Ikki. — sorriu Shun para ele e se afastou, deixando os dois frente a frente.

Ikki de Fênix e Takelot de Benu olharam-se sem trocar uma palavra, uma vez que o acordo entre os dois estava claro e evidente. O cosmo ígneo de Fênix subiu aos céus desenhando uma enorme Ave Imortal no firmamento, enquanto a energia alva do Stm Dourado de Benu levantou-se desenhando uma garça real contra o céu natural.

Os dois pularam e, no ar, chocaram-se entre punhos. Aterrissando um de cada lado, Takelot viu sua armadura explodir em vários pontos até que ele mesmo caiu, vencido. Ikki caiu de joelhos.

Shun chorou olhando o exército egípcio que se movimentava.

 

*********************************

 

Quando entraram os quatro Cavaleiros de Bronze na Sexta Câmara da Pirâmide de Anúbis não encontraram ela absolutamente vazia, embora jogada em um silêncio tenebroso. O que viram estendido no chão era um corpo que os deixara assombrados.

Era um Guerreiro de Ouro varado muitas vezes no corpo. Morto.

Atena havia lutado.

A ideia daquilo os deixara tão chocados que foram tomados por um silêncio que durou vários segundos, todos completamente com dificuldade de conceber aquela ideia.

Apavorados, voltaram a correr adiante com mais rapidez ainda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo Capítulo: Capítulo 8 — Os Corpos Espalhados no Chão



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Saint Seiya: O Vazio do Submundo / Parte 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.