Saint Seiya: O Vazio do Submundo / Parte 2 escrita por Masei


Capítulo 10
A Profecia e o Prólogo




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Kebechet novamente desconta sua ira em cima de Nachi, enquanto Anput pisa na cabeça de Geki. As duas choram e as lágrimas parecem ser de alguém que goza de muito prazer com aquela surra, embora não consiga disfarçar uma profunda vergonha de prosseguir com aquilo. Kebechet cai para o lado atordoada de dor e confusão; Anput só para quando do Portão do Inferno uma nova presença se espalha de maneira nefasta pela Câmara, trazendo consigo não somente sua aura, mas também o choque entre Anúbis e Atena.

Shun e Ikki observam o exército egípcio marchar para a pirâmide a fim de levar adiante quaisquer que forem suas ordens. O contingente é enorme e Shun está apreensivo sobre o que precisará fazer; mas sua atenção é tragada imediatamente quando pressentem o enorme cosmo de Atena prestes a entrar em conflito. Ambos viram-se imediatamente na direção da pirâmide.

Assim como Shiryu e Hyoga, de longe no Santuário, estão apreensivos ao lado de Shaina. Todos olham na direção do Egito e Hyoga busca o olhar aprovador daquela que é, no momento, a Mestre do Santuário. Ela lhe responde negativamente e Hyoga não consegue esconder sua frustração ao quebrar em partes uma pilastra próxima.

June está, como sempre, vigiando os irmãos. Percebendo claramente a dona daquele enorme cosmo, ela procura qualquer reação no semblante de Seiya, mas não encontra uma nódoa de preocupação; absolutamente nada, absolutamente vazio. Nem mesmo a sua amada deusa o retira do eterno estado de torpor. Até mesmo Seika parece apreensiva.

Assim como todos os homens e mulheres do planeta sentiriam-se apreensivos sem saber exatamente o motivo.

Anput apressa-se até a filha e toma-a nos braços para que sinta, ao menos, o conforto da mãe. O desespero instantâneo da Rainha faz com que Jabu levante o tronco e observe pelo Portão do Inferno duas figuras medindo força: sua deusa Atena e uma outra figura, Anúbis. Mas o que o assombra é perceber claramente como uma terceira figura pouco vai se materializando entre eles, justamente o responsável por vazar para o Mundo dos Vivos os humores do Inferno que, até então, encontrava-se calado.

 

**************************************

 

E na Giudeca foi exatamente o que se seguiu.

O teto da construção pintou-se de um infinito cosmo. E dele, iluminado por luzes impossíveis, desceu uma nova figura divina interrompendo a batalha terrível que estava prestes a explodir entre aqueles dois deuses de cosmos em riste. Uma figura absolutamente branca, pois brancas eram suas vestes dos pés à cabeça; um gorjal de mil cores indefinidas ornavam seu peitoral e um grande atef se levantava na cabeça adornado de duas penas muito grandes e azuladas. O rosto de olhos fechados era limpo e moreno. Os olhos pesadamente delineados na altura da têmpora.

Anúbis foi o primeiro a esconder o cosmo, seguido logo de Atena. Kanon foi quem pôde ver todos esses detalhes quando lhe foi permitido olhar os deuses novamente. A voz de Anúbis soou embargada.

— Osíris.

Osíris. O deus do além-vida, do submundo, dos mortos, da transição, da ressurreição e da regeneração.

Osíris. O deus mais cultuado de sua ordem.

Osíris.

Descido de um enorme tecido de cosmo, aquela figura delicadamente pousa seus pés um degrau acima de onde Anúbis encarava Atena.

— Anúbis.

Sua voz pareceu vir de cada átomo da Giudeca. Profunda e presente. Nítida.

— Anúbis, essa não é a nossa luta. Esse não é o nosso momento. — disse ele de todos os lugares.

Mas em Anúbis havia uma tensão gerada tão somente por uma profunda confusão, uma inconcebível confusão. Mesmo o peso das palavras do deus Osíris não foram suficientes para amainar o fogo urgente do que lhe queimava o pensamento:

— O que você… — e foi então que Anúbis percebeu o grave erro que havia cometido. Virou-se furioso para Kanon, adivinhando o que se passava. — Como ousa?!

E do seu cetro Ankh uma gigantesca energia distorcida romperia cada átomo do Kanon mortal, não fosse o báculo de Nike que Atena usou para defendê-lo da morte certa. Da obliteração eterna.

— Anúbis! — alertou a voz de Osíris com mais força.

— Não vê que está nos enganando? Ele o trouxe de volta quando não deveria! — acusou Anúbis a Kanon novamente.

— Anúbis, essa não é nossa luta. — limitava-se a falar Osíris.

— Ele o enganou, Osíris! Este homem… enganou a um deus! — bradou Anúbis, possesso.

E outra esfera teria acabado com a existência de Kanon, não fosse Atena novamente.

— Anúbis. — dizia calmamente o deus Osíris.

— Como pode, Osíris?! Um grego enganando a um egípcio! Ele precisa pagar por esse pecado!

— E ele irá. — anunciou Osíris.

Anúbis finalmente olhou para Osíris, e naqueles olhos perdeu-se na imensidão do infinito. Havia uma cumplicidade entre ambos que, por muitas vezes, palavras não eram nem necessárias; Anúbis sabia que o diálogo era apenas necessário quando ele, e não Osíris, não suportava-se dentro de sua própria eternidade. Como era o caso breve em que se encontrava.

— Vamos nos retirar, Anúbis. — pediu Osíris.

— Atena não tem qualquer direito sobre o Submundo. Nós temos! — retorquiu Anúbis.

— Você tem razão. — concordou a voz pacificadora de Osíris. — Atena não tem direito sobre esse Mundo, mas Perséfone tem. E é ela quem deve cuidar do Submundo.

Anúbis protesta com um aceno bravio, mas Osíris continua:

— Anúbis. A eternidade nos espera. As ações de Atena têm levantado dúvidas mesmo entre os seus. Tenhamos paciência, Anúbis!

— É injusto. É injusto para os que vivem sob o jugo deles! — acusa Anúbis.

— É verdade. Mas há dúvidas já sobre Atena. Se atacarmos a Deusa aqui e agora, se atacarmos Perséfone aqui e agora, então a ira dos Deuses do Olimpo cairá sobre nós, quando agora ela está toda virada para sua filha mais querida.

Kanon sente um calafrio enorme congelar-lhe o corpo por completo. É uma profecia maldita. E a voz de Osíris ainda complementa de forma profunda:

— Deixa que eles se destruam entre si e em breve teremos nossa chance.

Atena não pode evitar um desconforto imenso com aquela profecia.

— Osíris! — clama ela. — Está tramando contra o Olimpo, está tramando contra meu Pai. Ele jamais deixaria isso acontecer!

— Não, Atena. — retorna a voz de Osíris, quase desculpando-se. — Estou apenas observando. Você é quem está tramando contra o Olimpo.

Atena finalmente se cala. Osíris celebra:

— Veja, Anúbis. O silêncio de Atena. — seu braço segurando um enorme chicote coral aponta na direção de Atena. — Temos a eternidade à nossa frente. Paciência, pois a eternidade é a própria existência de um deus como você, Anúbis.

E então o cosmo de Osíris conjura um jogo de luzes tão maravilhoso quanto impossível no mais profundo dos Infernos em que estavam. Anúbis compreendeu dentro de sua esfera divina, como se comungasse dos mesmos preceitos que aquela figura magnânima, tal qual ele, que o silêncio de Atena e a imensidão eterna de Anúbis eram sinais claros do seu lugar.

A partir de então, se num momento Atena ou Kanon podiam distinguir claramente a diferença entre ambos, como se fossem figuras opostas no quadro visual, no piscar de olhos seguinte eles não mais podiam ver quem era quem; e, portanto, somente a altivez de Osíris restou naquele Submundo.

— Atena. — começou ele, profundamente. — A eternidade é um presente do qual você não dispõe mais. Seu destino há de se cumprir e será cumprido por aqueles que mais a amam.

De costas para ela, pois seu rosto tornou-se obscurecido ao virar-se, ele finalizou:

— Muito em breve você receberá uma visita, e essa visita mudará tudo. Seus defensores, seus guerreiros serão julgados não pela pena de Ammat, mas pelo crivo de seus irmãos.

E assim como veio, ascendeu a figura onírica de Osíris, para sumir completamente do Submundo.

 

**********************************

 

Jabu ajudou aos outros a se levantarem da enorme surra que haviam levado de Anput e sua filha Kebechet, que agora choravam num canto juntas o vazio que aquela guerra criara em seus peitos.

Não era necessário ver pelo Portão que ainda abria-se ao fundo da Câmara, bastava sentir para saber que tanto Anúbis como a nefasta presença de Osíris haviam voltado ao sono etéreo de sempre. Portanto, suas razões de existirem enquanto seguidores de Anúbis estava por encerrada naquele momento; a elas restava apenas o enorme pesar por todos que morreram.

Os cinco Cavaleiros de Bronze levantaram-se e, apoiando-se uns aos outros, seguiram pela saída. Jabu ainda tentou alcançar o olhar marejado de Kebechet sobre os ombros, mas não encontrou.

Lentamente passaram por todas as câmaras, observando como em um passeio fúnebre todos os corpos mortos por seus punhos: o misterioso Dario, de quem Jabu tirou a vida por misericórdia; o gigantesco Amenhotep, que era o receptáculo de Ammat e que morreu na armadilha de Geki; Faraó, um antigo espectro de Hades que subestimou o peso do coração de Ichi; Ramsés, o homem justo que Jabu teve o desprazer de vencer quando não queria; e finalmente Berenice, que sofreu com as chamas terríveis de Ban e queimou para sempre.

Assomaram na claridade do dia para encontrarem-se com Shun e Ikki, ainda lutando, pois o exército mesha que Anúbis deixou órfão levantava-se para invadir a pirâmide a modo de, pelo menos, vingar a morte daqueles que se foram. Shun criara uma grande nebulosa com sua corrente e implorava para que não avançassem, pois seriam eletrocutados. Em vão, as pessoas entravam na nebulosa e levavam choques leves, portanto logo que o efeito passava, elas tentavam de novo.

Finalmente, pois a corrente de Shun guardava somente a entrada pela grande rampa, um contingente de pessoas já subia o muro da galeria para caírem na arena em que jazia o corpo morto de Takelot.

Mais sangue ainda se derramaria.


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Notas finais do capítulo

Próximo Capítulo: Atena



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