A mãe de Will estava exultante. Faltavam ainda duas semanas para o baile, mas tudo o que ela podia pensar era o fato de o seu menino ir. Alyssa amava seu caçula com fervor e, desde o começo do ano letivo ela estava falando com o filho sobre o grande evento, pronta para arrastá-lo pelos cabelos se necessário.

“É um evento que só acontece uma vez na vida!”, dizia ela para Will até cansar. O garoto, é claro, continuava negando. “O baile é uma convenção social organizada para mostrar a todos que os padrões de inteligência têm menos importância que os padrões de beleza e popularidade” respondia, todas as vezes, para a mãe.

Não é como se ele não quisesse ir à festa. Mas ir para ver as pessoas impopulares serem ainda mais humilhadas do que o normal não era sua definição de diversão. Mas, então, os encrenqueiros da sala vieram até ele e deram ultimato: “chame Hannah para o baile ou faremos da sua vida um inferno até o último segundo de aula”.

Claro que “fazer da vida dele um inferno” incluía puxar sua cueca, apresentá-lo intimamente a todos os sanitários da escola, mais as provocações em sala de aula e tudo o que eles conseguissem pensar. Apesar de não conseguirem nem solucionar uma equação de segundo grau, eles conseguiam ser terrivelmente criativos com as pegadinhas contra os outros alunos. Eram como gênios do mal.

Então Will foi à casa de Hannah – que obviamente era a garota mais bonita da escola – e pediu para que ela fosse com ele ao baile. E, bem, contrariando todas as expectativas ela disse sim. Claro que tanto ele quanto o grupo de malfeitores acharam que ela estava brincando, ainda mais quando ela pediu para tomar um sorvete com ele no dia seguinte. Aquilo tudo era loucura. Will estava esperando que as câmeras aparecessem e todos começassem a rir, mostrando que ele estava em um daqueles programas de pegadinhas da TV durante todo o caminho até a sorveteria onde iam se encontrar.

Dessa vez tinha ido a pé, esperando que o exercício o ajudasse a ficar mais calmo. O que não deu certo, obviamente. Quando chegou ao local estava suado e com calor, mas com certeza não calmo.

Hannah, ao contrário, parecia bem cômoda sentada em uma das mesas, a expressão serena enquanto o aguardava. Assim que Will entrou no pequeno estabelecimento ela lhe lançou aquele sorriso que transbordava pelos olhos e que o deixava meio chocado. Por que ela estava sorrindo para ele daquele jeito? Não conseguia entender!

— Boa tarde – ele cumprimentou em um sussurro enquanto se sentava de frente para ela.

— Oi Will! – Ela disse animadamente, estendendo seu milk-shake de morango para ele. – Quer um pouco?

— Não, obrigado. – Respondeu, tentando limpar as mãos suadas discretamente na calça. – Vou pedir o meu – comentou enquanto lentava-se sem dar chance para que ela respondesse, indo até o balcão.

Em poucos minutos estava de volta com seu sundae de chocolate em mãos. Sentou-se novamente na frente dela e a olhou, em expectativa. Quando será que ela iria admitir que só dissera sim por pena ou para sua própria diversão?

— Fiquei sabendo que você passou para a faculdade – Hannah comentou, tomando mais um gole de seu milk-shake em seguida.

— Sim –, respondeu Will, franzindo as sobrancelhas. Mas o que era isso?

— O que você vai cursar?

— Vou fazer Direito em Stanford – disse, desconfortável.

Toda vez que ele comentava que ia para Stanford vinham as piadas: geek, nerd, CDF, o queridinho dos professores e tudo o mais, quando na verdade ele sempre quis cursar direito e estudou muito para conseguir fazer isso. Não é como se ele amasse estudar. Era somente um meio para chegar a um fim.

— Isso é bem legal. Você deve ter estudado muito para conseguir passar – Hannah comentou animadamente e sorriu mais uma vez.

— Ouvi falar que você também se inscreveu para Stanford – Will se arriscou a dizer, tentando ser o mais educado possível.

— Ah, sim. Meu sonho sempre foi estudar engenharia genética e biotecnologia. Acabei passando em Stanford também, mas minhas amigas parecem achar que isso é motivo de vergonha – ela deu de ombros, como se não importasse, porém Will pode ver seus olhos brilharem ao falar sobre seu sonho de estudo.

— Hannah, posso fazer uma pergunta? – Resolveu ser direto. Não queria acabar gostando da garota para só depois ser humilhado.

— É claro!

— Por que você disse sim?

— Por que eu diria não? – Ela retorquiu, parecendo genuinamente surpresa.

— Bem, porque eu sou gordo e todo mundo me chama de nerd e... – Ele parou, sem argumentos. Não queria admitir que não se achava digno dela.

— Eu não vejo nada disso.

— Como assim?

— Quando eu te olho só vejo um garoto fofo que carregou a mochila do melhor amigo quando ele quebrou a perna e precisou usar muletas. Eu vejo um cara que, apesar de sempre ser maltratado na escola, nunca foi rude com ninguém. E daí se você é gordinho? Isso não define quem você é. – Hannah falou com entusiasmo, como se estivesse defendendo algo grande, como em um comício dos direitos dos animais. – E sempre que eu tentava falar contigo, você fugia.

— Eu nã... – Mas então Will parou. Era verdade. Ele sempre fugia. Afinal, o que a garota mais linda da escola poderia querer com ele? Agora ele podia notar como estava sendo injusto. Hannah nunca fez nada para ele, a não ser defende-lo quando as coisas ficavam sérias demais.

Se ele sofria bullying por causa de seu peso, será possível que ela o sofria por ser bonita demais? Afinal, Will nunca havia pensado nela como uma intelectual, mas agora, em poucos minutos de conversa pode descobrir que ela gostava de estudar e iria para Stanford!

Talvez ninguém estivesse sendo justo, julgando-a somente pela sua aparência.

— Eu sei. Me desculpe... – Will disse, sorrindo um pouco. – Eu só... – Mas então, que explicação poderia oferecer?

— Eu sei, Will. Relaxa. Todo mundo acha que aqui não tem cérebro – ela brincou, batendo com a ponta do dedo em sua própria testa.

— Nunca havia imaginado que você poderia ser discriminada por ser tão linda – divagou, sem nem ao menos perceber o que estava falando.

— Você me acha linda? – Hannah indagou, um sorriso se estendendo em seu rosto de tal forma que poderia rasga-lo ao meio. Era de se perguntar o porquê ela estava surpresa com o elogio.

— É, b-bem... E-eu... – Will respirou fundo, se acalmando. – Sim. Você é linda demais. – E então sorriu, verdadeiramente dessa vez. E isso fez com que estrelas brilhassem nos olhos de Hannah.

Os dois conversaram até terminarem seus respectivos sorvetes e, então, Will pagou. Os dois, é claro, afinal, seu pai o havia ensinado que não era cavalheiresco deixar uma dama pagar a conta.

Como Hannah também estava a pé, Will acompanhou-a até em casa, deixando-a na porta. Antes de entrar, porém, ela lhe sorriu de novo, daquele jeitinho que o estava tentando a ficar encantado, e beijou-o na bochecha, bem perto da boca. Então ela entrou em casa, correndo, deixando parado à sua porta um Will embasbacado e já meio apaixonado.