Mamãe estava um pouco estranha hoje de manhã, mas eu nem perguntei nada para não chateá-la, mesmo que fosse sem querer. Porém, sentia que eu iria descobrir agora, pois ela estava chegando.

- Seu pai foi transferido para Diamond City. Então, eu... Queria perguntar se concorda em nos mudarmos. – a mãe estava receosa de que eu pudesse dizer não. Porém, eu estava tranqüila.

- Aceito, mamãe. Sem problemas. – sorri para ela.

Estou sentada no sofá de minha casa dando uma olhada na revista nova que eu comprei enquanto meus pais estão terminando de colocar nossos pertences no carro. E definitivamente eu não deveria ter aceitado tão facilmente em nos mudarmos. Afinal, iremos morar em um lugar aonde mal conhecemos as pessoas ou até mesmo a cidade. E a casa? Será que ainda está em boas condições? Hum, casa não. Mansão. Pior ainda. Somente em falar essa palavra já me passa a impressão de ser velha e antiga. Mas papai tem que trabalhar não é? Sustentar a família, e acho até que pode ser legal. Conhecer novas pessoas, fazer novas amizades. Vida nova. Tudo bem, eu nunca irei esquecer as pessoas que eu conheci aqui, mas começar de novo... Acho que pelo menos uma vez na vida temos que fazer isso. Mudar. É importante para o nosso... Aprendizado, digamos assim.

Nada de interessante nessa revista que estou lendo. Bom, vou me apresentar. Chamo-me Melisse Reichert, tenho 16 anos e meus maiores defeitos é ser curiosa e insistente. Porém, minha maior qualidade é ser calma, eu acho. Não sei dizer, afinal, eu sempre arrumo uma desculpa para falar mal de mim mesma. É... Eu sou assim.

Estiquei minhas pernas e as coloquei em cima da mesa que mamãe ainda não havia colocado no caminhão de mudança que estava parado atrás do nosso carro, e peguei o primeiro livro que eu encontrei, só para fingir que estava lendo. Mas estava uma droga, então fiquei emburrada e com os braços cruzados vendo meus pais levando as coisas para o carro e o caminhão de mudanças sem ajudá-los. Não estava com a menor vontade, sinceramente.

Oh! Olha quem estava chegando! Meus amigos vieram se despedir. Ainda bem que lembraram que eu ia embora hoje. Thamiris, Ellina & Dan vinham correndo em direção à minha casa. Estava com muita preguiça de me levantar, então esperei eles entrarem.

- Melisse! – Dan gritou ao aproximar-se da porta. Thami e Ellie foram atrás. Os três me abraçaram e finalmente eu chorei. Iria morrer de saudades. Mesmo porque, nunca mais voltaria, e eu estava pressentindo isso.

- Sentiremos saudades! – Ellie disse para mim, enquanto eu ainda deixava minhas lágrimas escorrerem livremente pelo meu rosto.

Se temos um gosto em comum, é por assombrações. Gostávamos de ficar a noite vendo filmes de terror, mais especificamente de vampiros, demônios e espíritos. Mas eu acredito que sejam apenas lendas. É claro que não existe. Pelo menos eu acredito que não. E espero que eu esteja certa. Vampiros são seres mortos que gostam de beber aquele líquido vermelho conhecido popularmente como “sangue”. Ai! Imaginei isso agora, que horror! Mas bom... Isso não voltará a acontecer, não é? Afinal, estou indo embora...

- Voltará para nos ver, né? – indagou Thamiris.

- Eu... eu não sei, porque... – tentei me explicar, mas minha amiga interrompeu-me.

- Ah, voltará, sim! – ela sorriu, me dando mais um abraço. Eu pude, enfim, me sentir ‘alguém’.

Nossa, meus pais estavam bastante atarefados, hein? Estavam demorando a tirar tudo desta casa, mas no fundo isso era bom, afinal, quanto mais tempo eu conseguisse passar aqui, seria melhor para mim.

Eu e meus amigos continuamos conversando, tentando transparecer a tristeza no fundo de nossos rostos juvenis. Relembramos diversas aventuras, como na vez que fomos ao cinema e sem querer eu – a mais desastrada, para variar – derrubei uma garrafa de dois litros de coca-cola no chão. O segurança me olhou com uma cara de bravo, mas depois, riu conosco. Foi engraçado. Ou “tenso”, como dizem por aí. Eu não entendo muito de gírias. E nem sou muito fã da língua portuguesa. Mas adoro histórias, lendas, e mexer com o sobrenatural, mas aposto que isso não existe por aqui!

Já imaginou se o lugar para aonde estou indo tem algo a ver com essas coisas místicas? Bom, não será tão divertido como seria se eles estivessem junto comigo...

- Ah, Melisse! Não fique triste, amiga!

É... Meus dois irmãos acabaram de chegar pra atrapalhar minha conversa, mas tudo bem, eu ainda amo eles. Meus irmãos...

- Oi maninha! – disse Marck, e Marco sorriu. – Não vai ajudar nossos pais?

- Não. – respondi friamente. – Deixe-me passar meus últimos minutos ao lado de meus amigos, tá bom? – ele assentiu. E os dois saíram para ajudá-los.

Bom, creio que a hora do adeus esteja chegando, faz um tempinho que não vejo meus pais e meus irmãos subindo e descendo com sacolas para colocar no carro.

Ai olhe-os ali! Chegou a hora da despedida. Meus olhos já estavam lacrimejando, e eu estava lutando contra minhas lágrimas, mas eu não conseguia.

- Vamos, filha? – indagou mamãe.

Eu assenti.

- A-Adeus... – disse, cabisbaixa aos meus amigos. Os abracei fortemente e corri em direção ao carro, para não me torturar ainda mais.

Eu iria, enfim, começar uma vida nova.