Mohana escrita por Urania


Capítulo 1
Os olhos da bruxa




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Era uma vez uma menina chamada Mohana. Não poderia dizer-se que era exatamente bonita nem feia: era ao mesmo tempo agradável ao olhar e perturbadora aos sentidos.
      Mas havia algo em seus olhos brilhantes que encantava ao olhá-la. Ninguém saberia exatamente descrever o que era aquilo que havia nos olhos dela, mas que havia algo, ninguém poderia negar.
      No entanto, era impossível para qualquer um encara-la por mais do que um instante apenas, apesar do mistério que havia em seus olhos. Até mesmo sua mãe, que após nove meses estava mais que enlouquecida diante da perspectiva de observar pela primeira vez o rostinho de sua amada filha, não conseguiu esse feito.
      Enquanto crescia, Mohana não entendia a razão de pessoas não conseguirem ver seus olhos diretamente. O que haveria de errado com eles? Será que ela era tão feia que ninguém conseguia olhar para a sua cara?
      As crianças do parquinho em que brincava se dividiam entre a repulsão e a admiração por ela. Admiração a distância, mas ainda assim, admiração. As mais velhas apostavam quem seria capaz de olhar nos olhos daquela garotinha magrela e esquisita, que ao mesmo tempo incitava o medo e o fascínio.
      Chegou um dia em que a menina teve que ir a escola. Seus professores, colegas de classe e alunos a evitavam.
      E foi nesse período que surgiu um apelido.
      A bruxa.
      De bruxa tinha muito jeito mesmo. Com os cabelos mais escuros que a noite sempre frizzados, a magreza que chegava a ser esquelética, doentia, um nariz levemente adunco, boca fina e rígida, sempre comprimida em uma linha, que ninguém sabia se estava era em sorriso ou careta.
      Mas de bruxa faltava a personalidade. Ao contrário do que uns achavam, não era má e nem gostava de dissecar bichinhos. Na verdade, ela preferia passar o dia sossegada ao lado de uma cachoeira a passar a noite enfurnada em uma caverna arquitetando planos malignos.
      E Mohana, a bruxa, foi crescendo e tornando-se ainda mais peculiar. De bruxa já não tinha mais nada, só os olhos, que ninguém ainda conseguia encarar e causavam um arrepio na espinha. Contudo, metade do povo dizia que o arrepio era de aflição, a outra que era de magnitude.
      Todos queriam desvendar o mistério que havia por trás das orbes daquela garota tão estranha, tão singela, tão duvidosa.
      Mas ninguém sabia.
      As íris que não podiam ser encaradas enxergavam tudo aquilo que ninguém mais conseguia ver.

 


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Notas finais do capítulo

Fiquei seriamente tentada a dar aviso de heterossexualidade e colocar um t*p nas notas iniciais, assim, só pra chocar mesmo. Mas depois decidi que ia ser muto pesado.
Espero que tenham gostado e deixem um review pra deixar meu coração feliz ♥



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