Be mine escrita por Babe


Capítulo 3
Capítulo 3




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(Ana's POV)

Depois daquele café da manhã em família, Josh chamou meu pai para conversar sobre a UCLA. Além de Jade e eu, ninguém sabia que ele tinha feito a inscrição. Confesso que fiquei apreensiva com a reação do meu pai, já que meu irmão sempre conversa com ele antes de tomar qualquer decisão. Para minha surpresa, meu pai ficou muito feliz. Ele disse que Josh havia sido muito sensato em ter feito inscrição em mais de uma universidade. Fiquei aliviada. Josh me perguntou se eu achava uma boa ideia conversar logo com meu pai sobre a nossa ida pros EUA junto com ele. Achei melhor não. Afinal, nós três ainda temos muito que conversar antes de decidir se queremos mesmo ir.

Primeira segunda-feira de dezembro, o ano acabando. Acabei de completar dezesseis anos e meu primeiro ano do ensino médio foi muito bom. Estou ansiosa pra saber se cursarei o segundo ano aqui no Brasil ou lá nos EUA. Minha família morou em Houston, Texas, quando eu tinha um ou dois anos de vida. Vivemos lá por dois anos. Tempo suficiente para Jade nascer lá. Não lembro de absolutamente nada e Josh mais ou menos. Ele tinha seis anos quando fomos embora. Visitamos o Texas várias vezes já que meus pais têm amigos lá, mas nunca fui para Los Angeles e também não sei por que Josh escolheu essa cidade.

— Bom dia, turma! - disse meu professor de história - Última segunda-feira letiva, o que vocês acham disso?
A turma vibrou.
— Espero que ele seja nosso professor ano que vem. - Sara disse baixo para que somente eu ouvisse.
— Bem, sei que muitos aqui foram meus alunos desde a sexta série. Né, Rebeca? Mas, infelizmente, eu só dou aula até o primeiro ano do médio. A partir do segundo é outro professor e vocês sabem.
Uns alunos protestaram, mas o professor continuou.
— Já que a nossa última aula é na sexta-feira, coincidindo com o último dia de aula também, estou pensando em fazermos uma festa de despedida. O que vocês acham?
Não me animei muito já que não curto festas, mas Sara sim.
Os alunos começaram a conversar, organizar as coisas e eu me isolei no meu canto com meus fones de ouvido. O dia se seguiu assim, com tempos de aula livres e muita bagunça. Percebi que a semana ia ser toda assim, inútil. Seria melhor ficar em casa.
— Vai lá pra casa hoje? - Sara perguntou ao sairmos da sala quando as aulas do dia terminaram.
— Não, não. Vou pra casa. Tô cansada. - falei enquanto caminhávamos pelo corredor - Jade acha que já tá na hora de eu falar do Dani pra mamãe.
— E você?
— Não sei. Minha mãe é meio... incompreensiva comigo. É capaz de ela ficar com raiva e não me deixar sair de casa nunca mais.
— Não seja dramática. Tenho certeza de que ela nem vai se importar.
— Não sei o que é pior. - assim que terminei de falar, ouvi uma pessoa me chamar.
— Falando no diabo... - Sara disse
— Vocês estavam falando de mim? - Dani perguntou me abraçando de lado.
— Eu disse diabo, não Daniel. Mas se a carapuça serve... - ela disse.
— Vai pra casa, Sara. A mamãe tá te esperando. - Daniel disse empurrando a irmã de leve.
— Tá me expulsando, é? Não se esqueça que sou eu que te cubro quando a Ana vai lá pra casa dormir contigo.
Limpei a garganta em protesto.
— Bem, mas eu já estava indo pra casa mesmo. Tchau pra vocês. - ela disse empurrando o irmão para poder me abraçar e foi embora.
— Enfim a sós. - ele disse e me deu um beijo calmo, o que não era comum. Ouvimos uns "arranjem um quarto", "Vai Daniel", "É isso aí" e outras frases.
— Não estamos tão a sós assim. - falei ao partir o beijo - Tem uns alunos aqui.
— Eu não me importo. - ele disse me puxando para outro beijo.
— Mas eu sim. - desviei o rosto - Vamos sair daqui.
Falei e começamos a andar para fora da escola. Daniel segurou minha mão e me levou em direção ao estacionamento.
— Por que viemos pra cá? - perguntei confusa.
— Porque eu queria te mostrar isso. - ele disse parando em frente a uma Tucson preta.
Fiquei parada olhando para o carro sem entender. Até que...
— Pera, é seu? - perguntei me aproximando do carro.
— Sim, meu pai me deu. Dezoito anos, baby. - ele disse tirando a chave do bolso e destrancando o carro - Entra aí.
Abri a porta do passageiro e entrei. Que carro. Incrível.
— Pra onde vamos? - perguntei colocando o cinto, enquanto ele fazia o mesmo.
— Pra onde você quiser. Que tal a gente ir na Fênix?
— Oi? - falei assustada sem perceber.
— Calma, é brincadeira. - ele disse ligando o carro - Vamos no shopping? Pegar um cinema?
— Hum, pode ser. - falei pegando meu celular e mandando uma mensagem para Josh, avisando que chegaria mais tarde em casa.
Fomos para o shopping, assistimos um filme, namoramos, lanchamos. Foi uma tarde agradável. Depois de tudo, Daniel me deixou em casa. Estavam todos lá, menos minha mãe.
— Uau, de quem era aquele carro que o Daniel tava dirigindo? - Josh perguntou
— Dele mesmo. O pai deu pra ele.
— Interessante. Né, pai? - Josh disse olhando pro nosso pai que apenas assentiu sorrindo divertido.
— Muito, muito interessante. - ele disse e começou a rir - Seu cara de pau.
— O que eu fiz? - Josh disse e começou a rir, eu também o fiz, sem entender exatamente o por quê.
Saí de lá levando Jade junto e nos tranquei em meu quarto.
— Preciso conversar contigo. - falei enquanto pegava umas roupas para me trocar - Eu tô achando que o Daniel quer... você sabe.
— Quer transar? Bem, eu sempre soube. - ela disse - Você acha mesmo que meninos de dezoito anos querem só andar de mãos dadas no parque?
— Não, eu sei que não. Mas é que ele nunca demonstrou explicitamente.
— O que ele fez?
— Ele tem lançado umas indiretas.
— Tipo? Ah, mas se é indireta, não é explicitamente.
— Hoje ele disse "brincando" que nós podíamos ir na Fênix se eu quisesse.
— Fênix? Uau. Lá é caro. Tipo muito caro. Acho que é o motel mais caro da cidade.
— Pois é. Sei disso, mas eu não me importo que seja o motel mais caro do planeta inteiro, eu só não sei se tô pronta, sei lá.
— Você ama ele?
Hesitei antes de falar, mas Jade não me deu tempo.
— Você não ama! Meu Deus! Sete meses já é tempo suficiente pra amar, Ana. Como assim? Vocês nunca disseram um "eu te amo"?
— Ele disse uma vez.
— E o que você fez? Mentiu? - ela perguntou abismada.
— Não. Eu só sorri e o beijei. - respondi envergonhada.
— Ele nunca mais disse?
— Não.
— Qual é a de vocês? Estão brincando de namorar? Pensei que vocês se gostassem.
— Eu gosto dele! Eu sou apaixonada por ele. Muito apaixonada. Completamente apaixonada. Só acho que amor é uma palavra muito forte.
— Nem sei o que dizer. - ela disse deitando em minha cama.
— E eu não sei o que fazer. Já que tem 50% de chance de nós nos mudarmos pros Estados Unidos...
— Você vai terminar com ele se nós formos?
— Não sei, acho que sim. - falei sincera - Nosso relacionamento já não é dos melhores aqui, perto um do outro, imagina em outro país.
— Como foi que vocês começaram a namorar mesmo? - ela perguntou
— Coisa da Sara. Eu disse que achava ele bonitinho e aí pronto. Ela enfiou na cabeça a ideia de virarmos cunhadas e não tirou mais até se concretizar. A gente acabou ficando na festa de aniversário dela. Depois... as coisas foram acontecendo e ele pediu oficialmente. Foi assim.
— Que broxante. - ela disse se levantando - Sempre admirei vocês dois e em cinco minutos você acabou com tudo.
Mudamos de assunto e depois nos juntamos ao nosso pai e Josh no andar de baixo.
Estávamos assistindo algum jogo de futebol quando minha mãe chegou. Acho que ela saiu com as amigas ou coisa do tipo.
— Olá, família! Que coisa linda vê-los todos juntos. Estão com fome?
— Sim! Eu estou! - Josh disse desesperado o que a fez rir.
— Vou preparar alguma coisa. Vocês querem, meninas?
— Não, obrigada, mãe. - respondi sem tirar os olhos da televisão.
— Eu comi ainda agora, mas obrigada. - Jade disse
— Ok, senhoritas. E você, amor?
— Não, obrigado. Eu comi com a Jade. E com o Josh.
— Estou em fase de crescimento. Preciso me alimentar. - ele se justificou.
Minha mãe apenas riu e foi para a cozinha. Ela não me odeia, sei disso. Ela só não me trata como trata a Jade. Ela sai com a Jade pra fazer compras, se preocupa com a situação dela na escola, fica toda orgulhosa com as coisas dela. Comigo não é bem assim.
Não estou com ciúmes. Só não entendo por que ela me trata diferente.
Minha mãe terminou de preparar o que estava preparando e Josh foi buscar para comer na sala.
Continuamos a assistir o tal jogo e depois meu pai resolveu ir para o quarto, onde minha mãe já estava. Ficamos sozinhos na sala, então aproveitamos para conversar sobre a mudança.
— Então... - Josh começou - Vocês querem ir mesmo?
— Sim. Eu quero. Muito. Demais. - Jade disse meio desesperada
— Eu não sei. Por mim, eu iria. Mas tem muita coisa em jogo. Nossos pais, a burocracia, ah. - falei aflita
— Ana, eu já disse que a burocracia é fácil de resolver. E os nossos pais... bem, não é como se nós fôssemos ficar lá pra sempre. Quando você fizer dezoito, vocês voltam. Dois anos é o suficiente. Não acham?
— Sim. - falei
— Dois anos? Só? Por que eu não posso ficar até os meus dezoito? Até lá você termina a faculdade, Josh. - Jade insistiu
— Você vai ficar por conta própria se ficar lá quando a Ana voltar. - Josh advertiu
— Melhor você voltar comigo, Jade. - falei apreensiva - Você não gosta de ficar sozinha em casa nem por uma hora.
— Gente, até lá eu vou estar com dezesseis. Relaxem.
— Na verdade, isso não importa agora. Daqui a dois anos a gente vê isso. - Josh afirmou - O que nós precisamos ver é a logística. Onde vocês vão morar? Porque eu vou morar na cidade universitária, dentro da UCLA.
— Mas se o papai alugar um apartamento pra gente, você mora lá? - Jade perguntou
— Não sei, pode ser.
Continuamos decidindo os detalhes para enfim conversar com nosso pai. Nós sabíamos que teríamos que ter tudo planejado antes de conversar com ele. Planejamos tudo. Onde moraríamos, onde estudaríamos, como nos manteríamos. Tudo. Depois de ter tudo planejado, resolvemos conversar com nosso pai assim que o resultado da UCLA sair.
— Quando sai mesmo? - perguntei
— O quê?
— O resultado.
— Amanhã de manhã. Amanhã mesmo saberemos se eu vou ou não e poderemos conversar com o papai. - ele disse confiante
— Você acha que vai passar? - Jade perguntou
— Acredito que sim. Pelo menos a prova não tava tão difícil quanto a de Harvard. O problema é que tem um número limitado de vagas e se quatro pessoas tirarem um ponto a mais que eu, já é o suficiente para eu não passar.
— Ai meu Deus. - falei - Quantas vagas são?
— Pra estrangeiros? São vinte.
— Vinte?! - Jade exclamou boquiaberta
— Sim, é um bom número. - ele disse - Harvard eram cinco. Eles priorizam os americanos, o que não está errado.
— Vinte é um bom número? Você tá confiante mesmo. - falei
— É tão difícil assim entrar na faculdade? - Jade disse desanimada
— Aqui no Brasil não. - falei - É só prestar o vestibular.
— Mas o que o Josh fez não foi uma espécie de vestibular? - ela perguntou
— Sim, mas aqui no Brasil não são vinte vagas. São oitenta, cem, duzentas, dependendo do curso que você quer fazer. Quando a mamãe fez medicina, eram oitenta vagas. Quando o papai fez direito, eram oitenta também. Mas depende muito. - tentei tranquilizá-la
— Oitenta é muito pouco. - ela disse frustrada - Vou ser gari.
— Antes você precisa terminar o ensino médio. - Josh disse
— Ferrou. Vou ser mendiga.
— Jade, não é tão difícil assim. - falei
— Não é difícil pra vocês que são super dotados. - ela disse revirando os olhos
Eu e Josh nos entreolhamos e quando eu estava pronta para responder, a campainha tocou.
— Deixa que eu atendo. - Jade disse se levantando e indo em direção à porta.
— Daniel? - ela disse ao abrir e me levantei para ver o que ele queria.
— Ana? Cadê a Ana? - ele perguntou entrando sem cumprimentar Jade - Ana!
— Daniel? O que foi? - perguntei ao vê-lo tão transtornado.
— A Sara tá aqui?
— Não, por quê?
— Ela sumiu.


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