Be mine escrita por Babe


Capítulo 24
Capítulo 24




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690768/chapter/24

Sábado
09:00 am

Acordei com a minha barriga roncando. Abri os olhos devagar e olhei ao redor. Eu estava tão cansada na noite anterior que dormi sem jantar.
Apesar de ainda estar com um pouco de sono, decidi levantar e aproveitar o dia. Abandonei minha cama e fiz o que tinha que fazer no banheiro. Quando fui abrir a porta do quarto, ouvi uma risada vindo da sala. Duas vozes conversavam animadas, uma masculina e a outra feminina. Presumi que fossem Josh e Jade, mas prestei mais atenção e não reconheci a feminina. Abri a porta devagar, para que não me ouvissem, e saí do quarto do mesmo jeito. Fui caminhando devagar pelo corredor até chegar perto da sala de estar e fiquei ali ouvindo a conversa.
— Sei não... - a garota disse.
— Ah, para com isso. Vai dar tudo certo. - meu irmão respondeu.
— Mas e as suas irmãs?
— A gente dá um jeito.

Os dois começaram a falar mais baixo e não pude entender o que falavam, mas ouvi risadinhas e beijos, então saí de lá rápido para o quarto de Jade. Abri a porta bem devagar e entrei. O quarto estava vazio. Fui até o banheiro e ela também não estava lá. Mas é claro! Mais um final de semana com a Jessie. Saí do quarto de minha irmã e voltei para o meu, mas antes ouvi uma parte da conversa.

— Josh, eu devia ir... - a garota disse manhosa - Daqui a pouco a sua irmã acorda.
— A Ana só acorda depois das onze. Não se preocupa. Temos uma hora.

E então mais barulho de beijos.
Deitei na minha cama e pude senti-la vibrar. Procurei ao redor até achar meu celular e abrir a mensagem.

"Bom dia, menina do sotaque adorável. Almoça comigo hoje? J."

Sorri ao ler a mensagem. Menina do sotaque adorável. Não vou mentir, adorei isso.

"Pode ser :) Que horas?"

"Meio dia tá bom?"

"Tá ótimo. Onde nos encontramos?"

"Não, não. Eu vou te buscar."

Respondi a mensagem com um sorriso no rosto e levantei-me num salto para me arrumar.
Os encontros com Jayden estavam se tornando cada vez mais frequentes e confesso que, talvez, mas só talvez mesmo, eu esteja começando a ter uma quedinha por ele. Nada demais. O problema é que ele não tentou mais nada desde o nosso primeiro encontro. Talvez tenha perdido o interesse em mim. E essa ideia não me agrada.

Assim que fiquei pronta, decidi sair do quarto de uma vez e assustar quem quer que estivesse lá fora. Assim o fiz, mas infelizmente só Josh estava lá.

— Bom dia! - falei alto ao vê-lo concentrado no celular com um sorriso de orelha a orelha. Meu irmão pulou no sofá.
— Caralho, Ana! - ele me olhou irritado - Vai dar susto na mãe!
— Estudos afirmam que só se assusta quem está fazendo algo errado. - olhei instigante para ele.
— Estudos afirmam que você devia calar a boca. - ele revirou os olhos e voltou a mexer no celular.
Continuei parada olhando para ele até que fui à cozinha beber água.
— Cadê a Jade? - perguntei alto o suficiente para que ele me ouvisse no outro cômodo.
— Na casa do pai da Jessie. Você sabe.
— Quando ela foi?
— Sério, Ana? Ontem né.
— Nossa. Eu jurava ter escutado a voz dela conversando aí com você. - falei e esperei a resposta dele. Meu irmão hesitou por poucos segundos até responder.
— Impressão sua. Eu estava sozinho. - a voz dele parecia calma.
— Sério? Ouvi vocês preocupados se eu ia acordar. - falei voltando para a sala e encontrei meu irmão um pouco nervoso no sofá - Mas não se preocupa. Eu já estava acordada.
— Acho que você sonhou, maninha. - ele disse sem olhar para mim, mas o vi engolir em seco.
— Josh. - o fiz olhar para mim - A verdade.
Ele ficou me olhando pensativo e eu o olhei estimulante.
— Você sonhou, Ana. - ele repetiu e voltou pro celular - Eu estava sozinho.
Suspirei e voltei para a cozinha. Se ele não quer conversar, tudo bem.

12:00 pm

"Estou aqui."

Li a mensagem de Jayden e senti um frio na barriga. Peguei minha bolsa no quarto e me despedi de Josh.

— Ei, ei, ei! - ele disse quando eu já estava chegando na porta - Aonde você vai?
— Almoçar. - respondi impaciente e destranquei a porta.
— Onde? Com quem? Que horas você volta?
— Não importa. Não te interessa. Não sei. - respondi as três perguntas e saí do apartamento.
— Te quero em casa no máximo às seis! - ele gritou do sofá e eu fechei a porta. Se ele não quer me contar a respeito da garota, eu não vou contar a respeito de Jayden.

Desci o elevador ainda sentindo um frio na barriga. Eu não sabia onde iríamos almoçar, mas optei por um vestido de alças colado no busto e um pouco mais soltinho depois da cintura, que cobria até a metade das coxas, uma jaqueta jeans curta e um all star branco. O dia estava ensolarado, mas ventilado. Eu certamente sentiria frio sem algo cobrindo meus ombros.
Ao passar pela portaria, já avistei o ix35 preto de Jayden na rua. Andei até o portão um pouco nervosa e o vi saindo do carro.
— Bom dia. - ele disse com um sorriso fofo e abrindo a porta do carro para mim.
— Bom dia. - respondi animada e entrei no carro. Ele deu a volta e se sentou ao meu lado.
— Espero que goste de surpresas. - ele disse abrindo o porta-luvas e tirou de lá uma venda. Olhei para ela um pouco hesitante - Não se preocupa, eu não vou te assassinar ou te manter num cantinho escuro por vinte anos. É só uma surpresa.
Me dei por vencida e cobri meus olhos com a venda.
Nós conversamos pouco durante o caminho. Por mais que eu perguntasse, ele se recusava a dizer aonde estava me levando. Não preciso dizer que meu frio na barriga havia aumentado consideravelmente.

— Chegamos. - ele disse ao parar o carro e eu levantei a mão para tirar a venda - Não, não. Espera. - ele disse rápido e segurou minha mão. Senti meu rosto esquentar ao toque dele.
Ele saiu do carro e abriu a porta para mim, ainda sem me deixar ver aonde estávamos.
— Vem. - ele disse segurando minha mão e me ajudando a sair do carro. Como eu não estava vendo aonde estava pisando, acabei tropeçando no que parecia ser a sarjeta, mas Jayden rapidamente segurou em minha cintura e me puxou para mais perto de si, me dando apoio. Senti a respiração dele bem perto do meu rosto e, por um momento, pensei que ele me beijaria ali mesmo. Mas não.
— Cuidado. - ele disse baixinho - Vem.
De mãos dadas para que eu não tropeçasse de novo, nós andamos alguns metros pela calçada até pararmos onde, supostamente, estava a minha surpresa.
— Preparada? - ele perguntou e eu assenti levemente, não tão preparada assim. Senti sua aproximação e ele retirou a venda, me permitindo ver o ambiente. Abri os olhos, mas os fechei rapidamente, devido à forte claridade do dia. Fui abrindo novamente, mas devagar, para me acostumar com a luz. Assim que consegui enxergar aonde estava, uma felicidade enorme tomou conta de mim e eu abri o sorriso mais sincero desde que cheguei em Los Angeles. Olhei para Jayden e vi que ele sorria junto comigo, mas seu sorriso era de alívio, certamente por eu ter gostado da surpresa.
— E então? O que achou? - ele perguntou ainda sorrindo.
— Eu... Eu não poderia ter gostado mais. - respondi do mesmo jeito.
Olhei mais uma vez para a placa com o nome do restaurante. "Botequim brasileiro", em português.
— Jayden, eu... - tentei falar, mas vi a bandeira do Brasil na porta do restaurante e quando dei por mim, meus olhos já estavam marejados de saudade - Eu amei.
— Vamos entrar. Acho que você vai gostar mais do lado de dentro. - ele disse tímido e eu obedeci.
Assim que coloquei os pés dentro daquele lugar, senti como se estivesse no Rio de Janeiro. Aquilo ali era tão semelhante às cachaçarias brasileiras que eu fiquei realmente surpresa. Jayden segurou minha mão de novo e me puxou para a mesa mais afastada do lugar.
— Como você descobriu esse lugar? - foi tudo que consegui perguntar, apesar de toda a emoção.
— Eu... eu já tinha ouvido falar daqui. Minha prima veio aqui há um tempo e ela disse que a comida é muito boa. Quando eu te conheci e soube que você é brasileira, eu fui atrás de descobrir o endereço porque eu tinha que te trazer aqui. - ele disse mais tímido que antes - Fiquei esperando o momento certo e... bem, aqui estamos.
Sorri derretida para ele.
— Espera. - falei depois de me recompor - Você disse prima?
Ele assentiu.
— Diana? - arrisquei.
— Não. - ele respondeu intrigado - Como é que você sabe que eu tenho uma prima Diana?
— Diana que namora o Oliver e que cursa Direito na UCLA? - perguntei para confirmar.
— Ana, - ele me olhou assustado - como é que você sabe disso?
Não aguentei e ri um pouco.
— Tenho meus contatos. - pisquei para ele, que continuou com os olhos arregalados - Meu irmão estuda com ela. - respondi para tranquilizá-lo - Ela me falou de você.
— Sério? Você conhece ela? - ele perguntou surpreso.
— Conheci ela antes de conhecer você e o pessoal da escola. - respondi.
— Interessante. - ele disse pensativo - Acho melhor a gente pedir logo. Olha como tá ficando cheio.

Chamamos a garçonete, que era americana, e fizemos o pedido. Jayden fez questão de contar a ela minha nacionalidade, então assim que ela foi embora com nossos pedidos anotados, um senhor apareceu sorridente na nossa mesa.
— Boa tarde. - ele disse em português para mim e eu sorri.
— Boa tarde. - respondi simpática.
— Me desculpe a intromissão, mas eu gosto de vir cumprimentar meus clientes brasileiros pessoalmente. - ele disse educadamente - Meu nome é Sérgio, sou o dono desse pedacinho do Brasil e será um prazer enorme servi-la aqui, querida.
— Pode ter certeza que o prazer é meu em estar aqui, senhor. - sorri mais ainda.
— Me chame de Sérgio, por favor. - ele riu um pouco e eu assenti - O que você faz aqui em Los Angeles, meu anjo?
— Eu vim estudar com os meus irmãos. Uma espécie de intercâmbio estendido.
— E há quanto tempo você está aqui?
— Vai fazer dois meses. - respondi e percebi que Jayden nos observava atento, apesar de não entender o que falávamos.
— Bom, espero que mate um pouco da saudade do nosso país com os nossos pratos típicos. - ele sorriu paternamente e eu lembrei instantaneamente do meu pai, com quem eu não falo há um tempinho - Aproveitem. - ele disse em inglês sorrindo para Jayden e saiu.
— É tão lindo ver você falando seu idioma. - ele disse baixinho - É como ver a versão mais original de você mesma. Eu gostei.
Meu coração bateu mais rápido depois de ouvir aquilo e as borboletas que dormiam no meu estômago decidiram dar uma festa. Sorri em resposta ao que ele disse e nós começamos a conversar sobre nosso assunto favorito. O Brasil. Por algum motivo que eu não sei, Jayden adorava me ouvir falar a respeito do Brasil. Eu respondia todas as dúvidas que ele tinha sobre qualquer coisa envolvendo meu país. E não vou negar que adorava explicar sobre isso para ele. Mas a curiosidade falou mais alto e eu tive que perguntar.
— Por que você gosta tanto de conversar sobre o Brasil?
Ele foi pego de surpresa com a minha pergunta e ficou sem resposta por alguns segundos.
— Hm, ér... Não é bem que eu goste de falar sobre o Brasil. - ele começou - É que eu sei que você sente falta e pensei que quanto mais você falasse sobre sua casa, menos longe ela pareceria estar.
Olhei admirada para ele.
— Eu morei em cidades diferentes quando criança e sei o quanto a nossa cidade natal faz falta. Mas ainda era a América. Imagino como é ficar longe do Brasil. - ele disse - Longe dos costumes, longe das pessoas, longe da família... longe de casa. Não é fácil.
— Não... Não é fácil. - concordei e meus olhos involuntariamente marejaram de novo, mas dessa vez ele percebeu.
— Ah, Ana. Eu não... Eu não queria que você ficasse triste. - ele disse preocupado - Me desculpa.
— Não, Jayden. Eu não tô triste. Eu só sinto saudade mesmo e eu fiquei sensível depois dessa surpresa. Só isso.
— Com licença. - a garçonete disse colocando nossos pratos na mesa - Bom apetite.
— Obrigada. - respondi e ela foi atender outra mesa.
Não importa o quanto minha atitude foi clichê, mas eu não pude deixar de pedir um prato de feijoada. Eu estava com muita saudade disso. Jayden disse que nunca havia provado, então decidiu pedir o mesmo. Eu pedi um suco de graviola para acompanhar e ele pediu de cupuaçu para experimentar.
— Ana, isso aqui tá com uma cara ótima. - ele disse olhando a mesa.
— Que saudade. - eu disse namorando o prato. Sem mais demora, peguei meu garfo e o enchi de feijão com arroz, farofa, couve e calabresa. Ao sentir aquele gosto tão familiar, me senti mais nostálgica que o próprio Castanhari.
— Ana, - Jayden disse ao provar - é muito bom.
— Não te disse?
— O suco é muito bom também. Nossa, tem tanta coisa nesse cardápio que eu quero provar. Precisamos voltar aqui.
— Combinado. - sorri abertamente e ele também, depois seu sorriso desapareceu conforme ele falava.
— Eu nunca conheci alguém como você antes, Ana. - ele disse um tanto mais sério.
— Alguém como eu? - perguntei surpresa.
— É. Alguém tão inteligente, divertida e bondosa. - ele explicou - Além de muito bonita.
Fiquei olhando para ele sem reação.
— Sei que é meio brega e clichê da minha parte, mas eu realmente te acho uma pessoa incrível. Desde aquela festa... Eu não consigo parar de pensar nas coisas sobre o que conversamos e, claro, em você. Nós estávamos bêbados, mas eu lembro muito bem do que você me falou. Seu sonho em ser psiquiatra, sua relação com sua mãe, seu ex-namorado e... sua amiga Sara. Você falou tanta coisa, Ana. Você me mostrou muito da sua personalidade tão única e especial naquele dia. E você estava bêbada! Assim que eu acordei no dia seguinte, eu senti uma necessidade absurda em estar com você de novo. Eu me senti tão bem conversando com você e eu... Eu odeio o fato de você não lembrar de nada disso. Mas sabe o que é mais legal nisso tudo? - ele disse e tudo que consegui fazer foi negar com a cabeça, ainda um pouco atordoada com as coisas que ele estava dizendo a meu respeito - Você sóbria é ainda mais interessante. Eu... Eu gosto muito de você, Ana. Só queria que você soubesse disso.
— Com licença. - a garçonete disse depositando um pequeno prato com uma fatia de pudim de leite à minha frente e outro igual à frente de Jayden - Sobremesa.
— Ér... Nós não pedimos sobremesa. - disse a ela assim que consegui raciocinar.
— Cortesia do senhor Sérgio. - ela sorriu para mim - Com licença. - retirou-se, deixando-nos sozinhos novamente.
— Bom, - ele disse pegando a pequena colher ao lado do prato - não se pode negar uma cortesia com essa cara. Esse pudim deve estar muito bom.
— Jayden. - o chamei assim que ele colocou um pouco do pudim na boca - Obrigada. - consegui falar e ele me olhou confuso - Por tudo. Esse almoço, as últimas idas ao Joey's, as conversas compreensivas... tudo. Você me entende como ninguém. Eu também acho uma pena não lembrar da festa, mas apesar disso, eu também te considero uma pessoa muito especial e também gosto muito de você. É muito bom ter sua amizade.

Ao ouvir a última frase, Jayden me deu um sorriso fraco e continuou comendo sua sobremesa. Eu fiz o mesmo e um silêncio incômodo se instaurou sobre nós.

Depois da sobremesa, Jayden disse que era melhor eu ir para casa. Eu não o contrariei e nós seguimos o caminho inteiro trocando somente algumas palavras superficiais. Não pude deixar de notar que ele parecia triste e, apesar de ser provável, eu me perguntava se era por conta do que eu havia dito. Mas eu não tinha certeza do que ele queria dizer com tudo aquilo e eu não consegui pensar em mais nada para responder.

Ele estacionou o carro na frente do prédio e desligou-o. Fiquei imóvel sem saber o que fazer. Eu queria consertar aquilo, mas não sabia como.
— Bom, está entregue. Acho melhor você ir antes que seu irmão fique preocupado. - ele riu fraco e eu o acompanhei sem jeito.
— É verdade. - concordei devagar - Ei, acho que seria legal se a gente marcasse um dia pra ir lá todo mundo. Meu irmão, sua prima e os amigos deles. Acho que você iria gostar deles.
— Sim. Sairíamos como amigos. Todos juntos. - ele disse ainda com o sorriso fraco no rosto e eu concordei mais sem jeito ainda.
— Ér... então, até segunda. - tentei sorrir e ele balançou a cabeça afirmativamente.
— Até. - ele disse e eu, instintiva e demoradamente, beijei seu rosto, antes de sair do carro e entrar no saguão do prédio.

Domingo
03:00 pm

— Nossa, Ana. Que sinistro. - foi tudo que Analu disse assim que terminei de contar toda a história da bomba e da polícia - E você acha que foi esse Scott?
— Não sei, Lu. Vou deixar esse trabalho de bater cabeça com a polícia. O que me intriga foi algo que Jayden disse há algum tempo. - comentei - A bomba foi colocada no armário do melhor treinador, bem na época em que os treinos estavam intensos. Isso é suspeito, não acha?
— Sim. - ela concordou séria - E o novo treinador, como ele é?
— Pois é, Analu. Aí é que está. - falei cada vez mais séria - O novo treinador não tá fazendo muito pelo time. O Jayden me disse muita coisa, na verdade. Eu preciso pensar a respeito.
— Tudo bem. - ela disse calma - Mas tome cuidado, viu? Te conheço muito bem e sei que você não hesitaria em se meter nessa investigação.
— Não vou fazer nada que prejudique a minha permanência nesse país, Analu. Não se preocupe. - tentei tranquilizá-la - Mas me diga, o que você queria me contar?
— Ah sim. - ela ficou mais séria - Depois de meses, eles finalmente acharam o cara que... assaltou a Sara. Eles prenderam ele, Ana.
Senti um alívio enorme ao ouvir aquilo. Foi como se um peso enorme finalmente tivesse sido retirado das minhas costas.
— Graças a Deus, Lu.
— Tem mais uma coisa. - ela disse ainda séria - O Daniel foi na delegacia e bateu no cara. Bateu mesmo. Muito. Deu uma senhora surra.
Fiquei surpresa por alguns segundos, mas logo lembrei que ele havia dito ao pai que faria mesmo isso.
— E então ele também foi preso. - ela completou e eu olhei para ela realmente surpresa dessa vez - Mas sabe como é... Pagou a fiança e saiu de lá rapidinho.
— Cassete, Analu.
— Pois é. Tem mais uma coisinha, mas não sei se eu deveria te contar. - ela comentou e eu revirei os olhos impaciente.
— Agora que já falou, conta.
— Tá bom. - ela deu de ombros - Ele tá namorando a Bia.
— Hm, e aí?
— E aí nada. É isso. - ela disse indignada - Cadê os palavrões e xingamentos?
— Lu, eu não me importo. - declarei indiferente - Eu tô feliz aqui e espero que ele esteja feliz aí. É simples.
— Uau. Gostei. Então tá bom. Agora me deixa ir que eu preciso fazer umas coisinhas. Se der, mais tarde eu ligo.
— Tudo bem. Até depois.
— Tchauzinho. - ela jogou beijos e desligou.

Manhã de segunda-feira

— Ana! - ouvi Jade me chamar no corredor e me virei.
— Oi, maninha. Não te vejo desde sexta. Como foi lá na Jessie? - perguntei depois de dar um abraço rápido nela.
— Foi legal. É o seguinte: - ela disse ofegante, provavelmente havia corrido para me alcançar - eu descobri uma coisa. E acho que vai te chocar.
— O quê?
— O Daniel tá namorando a Bia!
— Ah... - olhei para ela sem emoção e com preguiça do assunto - Eu já sabia.
— Por que você não me contou?
— Eu soube ontem.
— Hm. - ela me olhou desconfiada - Tá, olha, te vejo no almoço. Preciso ir pra minha sala.
— Ok. Até depois. - joguei um beijo e nos separamos.

Subi as escadas para o terceiro andar já pensando na desculpa que daria à Lily para não ir ao treino de terça-feira na casa da Maya. Ela andava muito estranha comigo e eu queria que voltasse ao normal antes de ir lá e levar patadas na frente das meninas.
Ao chegar no terceiro andar e caminhar pelo corredor, vi Jayden parado na porta da sua sala de aula conversando com Ryan. Sorri instanteamente, até lembrar de sábado e meu sorriso sumir. Fiquei olhando os dois enquanto andava até a porta da minha sala, e então ele me viu. Sorri para ele, mas ele, que antes ria, ficou sério. Disse alguma coisa a Ryan e entrou na sala. Entrei na minha sala de aula, onde Daisy e Kasper conversavam baixo e alguns poucos alunos, que também estavam ali, faziam o mesmo.
— Bom dia. - Daisy disse sorrindo.
— Bom dia. - respondi desanimada.
— Credo, leva essa negatividade pra lá. - Kasper disse sério.
— Desculpa, não dormi bem. - disse a primeira coisa que veio à mente e os dois pareceram acreditar.
— Então, como eu ia dizendo, ela apenas disse que iria aproveitar a supervisão para intensificar os estudos pros testes finais. Achei uma ótima ideia. - Daisy disse satisfeita.
— E é mesmo. - Kasper suspirou aliviado.
O sinal tocou e nós sentamos nos nossos lugares. Os primeiros tempos de aula passaram muito rápido. Meus pensamentos não saíam de um lugar, ou melhor, pessoa: Jayden. Por que ele me ignorou na entrada? Não tem nada a ver com sábado, ele deve estar chateado com outra coisa. O problema definitivamente não sou eu. Ou sim?

— Ana! - Daisy disse alto e eu olhei para ela assustada. Só então percebi que a sala estaria vazia, se não fosse por mim, Daisy, Kasper e o professor que guardava seu material.
— Cadê todo mundo? - perguntei já me levantando.
— Almoçando provavelmente. Fiquei te chamando, mas você estava vidrada no seu caderno em branco. O que deu em você? - ela disse com o cenho franzido.
— Já bateu? - ignorei completamente a pergunta dela e olhei para Kasper, que balançou a cabeça afirmativamente - Então vamos.

Descemos as escadas em silêncio. Quer dizer, eu estava em silêncio enquanto os dois conversavam entre si. Eu não estava com fome, então fui direto para a nossa mesa e eles foram para a cantina. Involuntariamente, passei meus olhos por todo o refeitório até encontrar quem eu queria. Jayden estava na mesa dos atletas, que ficava mais para o fundo do refeitório, conversando com seus amigos e ria abertamente de algum deles. Ryan não estava entre eles e logo tratei de procurá-lo. Previsivelmente, ele estava na fila com Ben. Voltei minha atenção para Jayden e ele simplesmente parecia ignorar minha existência. Nós trocávamos olhares e sorrisos cúmplices todos os dias! Isso quando ele não sentava na minha mesa. Por que ele continuava me ignorando? Ele sabia que eu estava olhando para ele. O que eu disse no sábado foi tão ruim assim? Querer a amizade dele era algo tão inaceitável? Supondo que ele goste de mim, me ignorar depois de eu dizer que só quero amizade é tão imaturo. Não consigo acreditar que seja isso. Ele deve estar chateado com outra coisa. É claro. Mas... O que ele quis dizer com tudo aquilo? Me levar àquele restaurante tão especial e falar todas aquelas coisas incríveis sobre mim... Ele disse que gosta de mim, mas... como é esse gostar?
— Caralho, Ana! - Ben disse ao meu lado e eu olhei assustada para ele.
— Ela tá assim desde a entrada. - Daisy disse intrigada - Disse que não dormiu bem.
— É... eu, eu só tô com sono. - expliquei, ou melhor, menti - Você falou comigo?
— Perguntei se não vai almoçar. - ele disse.
— Não estou com fome. - dei de ombros e olhei para o espaço vazio à minha frente. Todos estavam com suas bandejas e concentrados na comida e nos amigos, mas eu só conseguia pensar em uma coisa, que tinha nome e sobrenome: Jayden McKee.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Be mine" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.