Be mine escrita por Babe


Capítulo 11
Capítulo 11




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5 de Janeiro
2:00 pm

(Ana's POV)

Nossa ida para os Estados Unidos está marcada pro dia vinte. Eu e meus irmãos já começamos a preparar tudo. Meu pai disse que conseguiu arranjar um apartamento lá pra alugar no nome do Josh, então vamos poder morar todos juntos. Eu estou cada vez mais ansiosa.

– Filha, achei isso aqui no meio de umas coisas velhas. Achei que você pudesse gostar. - minha mãe disse deixando um papel em cima da mesa da cozinha, onde eu almoçava sozinha, e subiu as escadas.
Peguei o papel e vi que era uma foto. Uma foto um pouco amassada e empoeirada. Limpei com a manga comprida da blusa que usava e vi de quem se tratava. Eu e Sara no colo de um Papai Noel de shopping. Eu olhava para ele um pouco assustada enquanto Sara sorria abertamente. Éramos bem pequenas. Percebi que havia algo escrito no verso. Virei a foto para poder ler.
"Sarita e Aninha visitando a casa do Papai Noel". Aquela caligrafia era certamente da senhora P. e junto dela havia uma data. Fiz umas contas e vi que tínhamos quatro anos. Eu com certeza levaria aquela foto pros EUA.

Quando terminei minha refeição, Jade brotou na cozinha.
– Ana, o Daniel me mandou uma mensagem dizendo que tá vindo aqui conversar contigo. - ela disse me mostrando o celular.
– Pra você? - perguntei enquanto pegava o celular e lia a mensagem. É claro, meu celular havia descarregado e eu esqueci de pôr para carregar - O que será que ele quer?
– Não sei, mas acho que você devia aproveitar esse embalo e falar logo pra ele que você vai se mudar com a gente. - ela disse séria.
– Mas eu nem sei como falar. Preciso me preparar antes.
– Que tal "oi amor, tudo bem? Então, vou morar com os meus irmãos em outro país por aproximadamente dois anos. Não se preocupa, quando eu voltar, a gente se acerta."?
Permiti-me rir um pouco.
– Eu queria que as coisas fossem simples assim. - falei suspirando.
Ficamos ali conversando mais um pouco enquanto eu lavava a louça e arrumava a cozinha. Temos condições de contratar uma empregada, mas meus pais falam que é um absurdo pagar uma pessoa para fazer o que os três filhos deles têm a obrigação de fazer gratuitamente e sem reclamar. Eu não acho tão ruim.
– Ei, eu recebi um e-mail da Jessie. - ela disse animada - Ela disse que os pais se separaram e que o pai dela vai se mudar para L.A também. Isso significa que vou poder me encontrar com ela algumas vezes durante esse tempo.
– Que ótimo!
Ouvimos a campainha e eu parei o que estava fazendo.
– Deixa que eu abro. - Jade disse saindo da cozinha.
Fiquei apreensiva. Já havia passado da hora de contar pro Dani. Não adiantava mais esperar. Ouvi os dois tendo uma conversa breve.
– Oi. - ele disse sério ao entrar na cozinha.
– Oi, amor. - respondi simpática, por mais que tivesse estranhado seu comportamento - Cadê a Jade?
– Ela subiu. Falei a ela que precisava conversar com você a sós.
– Tudo bem. - falei nervosa e fiz sinal para que fôssemos para a sala de estar.
Sentamos no sofá e então ele começou a mostrar por que estava tão sério.
– Ana, por que você não me contou que vai se mudar?
– Oi? - eu havia escutado e entendido bem, só queria ter mais tempo para pensar numa resposta adequada. Por que eu não havia contado?
– Você vai pros Estados Unidos com seus irmãos. Por que não me contou? - agora havia mágoa na sua voz.
– Eu tive medo. - respondi sincera e ele me olhou confuso - Tive medo da sua reação. Eu não sabia como contar. A Sara tinha acabado de... você sabe.
Ele suspirou e encarou o chão.
– Quando é que você vai? - ele perguntou voltando seu olhar pra mim.
– Dia vinte. Como você soube?
– Sua mãe comentou com a minha sobre o quanto vocês estão ansiosos pra ir. Minha mãe veio me fazer a mesma pergunta que eu acabei de fazer. Imagina só a surpresa dela ao saber que eu não fazia ideia do que ela tava falando.
Dessa vez quem suspirou fui eu.
– Me desculpa, Dani. Você tem razão, eu devia ter dito antes. - falei quase chorando ao ver que ele estava magoado de verdade.
– Não precisa pedir desculpa. Eu não estou... chateado. Só queria que você confiasse em mim.
– Eu confio. - respondi rápido demais. Ele me olhou com dúvida e pronto pra rebater, mas pareceu desistir de contestar.
– Seu irmão não, pelo visto né. Mas não era de se esperar. Nunca nos demos bem.
– Como assim?
– Lá na praia, alguns dias atrás, eu perguntei sobre o Enem e ele mentiu.
– Ele não mentiu! - defendi meu irmão na hora e ligeiramente irritada - A UCLA é particular, de certa forma. Ele só não aprofundou o assunto porque sabia onde poderíamos chegar e também sabia que eu não queria conversar sobre isso com você lá.
– Ana, eu te amo. Eu jamais brigaria com você ou coisa do tipo. Eu sei agora como isso deve ser importante pra você. Eu só não queria ter sido o último a saber, ainda mais por meio de terceiros.
– Eu sei, Dani, eu sei. Me desculpa. - falei um tanto aliviada por ele estar levando numa boa até agora - Eu também amo você.
– Eu só não posso dizer que tô feliz com essa notícia. Você vai ficar lá por quanto tempo?
– Por uns dois anos. É claro que eu venho passar as férias e feriados aqui, então você ainda vai ter que me aguentar por um tempinho. - falei tentando descontrair um pouco, mas sem sucesso.
– Ana... Precisamos conversar sobre isso. - ele disse sério e eu senti aonde estávamos chegando. Senti um frio na barriga - Dois anos é muito tempo. Eu não sei se vamos conseguir.
– O que você tá dizendo? - perguntei mais para confirmar, eu entendi muito bem.
– Eu tô terminando com você.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, assimilando o que aquela frase significava. Daniel percebeu que eu não ia falar nada.
– Ana, eu...
– Você não quer nem tentar? - interrompi sua fala sendo um pouco rude.
– São dois...
– Você disse que me ama. - falei já sentindo as lágrimas se formarem e o interrompendo de novo - Nós estamos juntos desde que eu nasci e você vem me dizer que dois anos é muito tempo?
– Ei, nós estamos namorando há sete meses apenas.
– Oito. - corrigi-o magoada, me levantando - Hoje é dia cinco, Daniel. E você entendeu muito bem o que eu quis dizer.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa, as lágrimas já começaram a rolar.
– Você disse que me ama desde o seu aniversário de dezesseis anos. Isso já faz dois anos. Você ficou todo esse tempo nutrindo um sentimento sem eu ter demonstrado algum nenhuma vez. Como agora você não quer nem tentar? - falei entre soluços.
– Ana, por favor não chora. - ele disse se levantando e tentando se aproximar. Dei um passo pra trás.
– Eu vou chorar sim. Vou chorar sim porque você acabou de partir meu coração. Eu não valho a pena esperar dois anos? Você já esperou esse tempo antes. - falei sentindo meu coração apertar cada vez mais.
– Foi diferente. - ele disse um pouco irritado, mas sem elevar o tom de voz - Foi involuntário. Eu não queria, eu tentava te esquecer. Minha mãe vivia falando como era lindo que os filhos dela e da melhor amiga eram como irmãos. Como era lindo que nós éramos uma grande família. - ele disse imitando o jeito de falar da senhora P. - A Sara também adorava dizer que você era irmã dela. Eu não queria gostar de você. Eu sentia que era errado. Era estranho. Eu não gostava de me sentir assim. Eu ficava com algumas garotas da escola na tentativa de te esquecer. Eu achava que tinha conseguido até que... Você aparecia. Você ia lá em casa por causa da Sara. Às vezes dormia lá. Falava um bom dia por educação e não percebia como aquilo me dava uma felicidade instantânea. Foi diferente, Ana. Você tava sempre por perto.
Olhei para ele meio maravilhada com aquilo que ele tinha acabado de dizer. Eu causei tudo isso nele?
– Eu vou continuar por perto. - falei baixo entre alguns soluços - Só não tanto quanto antes. Eu também não quero ficar tão longe.
Ele tentou outra aproximação e dessa vez não me afastei. Deixei que ele chegasse perto porque queria o mesmo que ele: um abraço.
Não aguentei mais e soltei naquele abraço todo o choro que estava segurando. Ele me segurou mais forte.

(Jade's POV)

– Não acredito que você ainda joga isso com essa idade. Vai estudar. - falei empurrando Josh, que jogava algum jogo de tiro no videogame. Estávamos no quarto dele. Vim pra cá pra deixar Ana e Daniel sozinhos.
– Minha filha, já estudei bastante. Estudei tanto que já me formei no ensino médio e fui aprovado no vestibular americano. Ah e ainda vou fazer Direito. - ele disse dando língua, depois de ter morrido no jogo.
Revirei os olhos. Ele riu e voltou a jogar.
– A Ana e o Daniel tão demorando nessa conversa né? - falei deitando na cama dele.
– Que conversa? O Daniel tá aqui? - ele perguntou sem tirar os olhos da tela.
– Sim, ué. Te falei quando entrei aqui.
– Ah, foi mal. Não prestei atenção.
– Novidade. - falei revirando os olhos de novo - Pois é. Será que eles estão conversando sobre a nossa mudança?
– Isso ou a morte da Sara. São os dois assuntos mais frequentes nessa casa. Já tô até enjoado.
– Credo, Josh. Completamente normal o fato de... - então a porta do quarto foi aberta com força e Ana entrou no quarto com os olhos vermelhos.
– Me dá um pouco desse teu baseado aí. - Josh disse divertido e, felizmente, Ana riu um pouco.
– O que houve? Vocês conversaram? - perguntei me sentando e dando espaço para que ela sentasse conosco na cama.
– Sim. - ela disse fungando - Ele terminou comigo.
Olhei para Josh, que olhava Ana apreensivo.
– Ele terminou contigo? Como assim? - falei me aproximando dela - Como foi que você contou pra ele?
– Eu não contei. Ele soube pela mãe dele porque a dona Helena não consegue ficar calada e tem a necessidade de contar pra amiga tudo que acontece nessa casa. - ela disse irritada.
– Ei, não culpa a mamãe. Ela não tinha a obrigação de guardar segredo. Quem tava enrolando pra contar pro Daniel era você. - falei um pouco irritada também. Entendo que a mamãe pisa na bola com a Ana, mas nem tudo de ruim que acontece é culpa dela.
– Ah, sei disso... - ela disse triste e então se levantou.
– Mas e então? O que houve? Vocês brigaram? - perguntei enquanto ela andava pelo quarto bagunçado do Josh.
– Não. Foi um término... amigável. Só que eu não queria terminar né. - ela disse olhando o jogo que Josh ainda jogava - Eu queria tentar.
– Ele é um babaca. - Josh disse no mesmo tom de voz de quem diz "eu avisei". Ana bufou.
– Ana, você sabe que eu gosto do Daniel, mas isso aí foi uma atitude meio babaca mesmo. - falei tentando não transparecer que na verdade estava com raiva dele.
– Eu sei. Mas isso não importa mais. - ela disse sentando novamente - Ele terminou comigo e disse que podemos ser amigos.
Aproveitei que ela estava de costas e revirei os olhos mais uma vez em menos de meia hora. Se existisse um campeonato de quem revira mais os olhos, eu seria campeã mundial.
– Amigos? - Josh disse e logo deu uma risada sarcástica - Tá brincando comigo.
– É... queria estar. - ela suspirou. Um silêncio desconfortável se instalou no quarto. Depois percebi que era desconfortável só pra mim. Josh estava concentrado no jogo e Ana em sua própria mente.
– E então? - falei estimulando Ana a continuar o relato.
Ela ficou olhando para mim por um momento e então baixou a cabeça.
– Acabou. É isso. Acho que vou realmente começar uma vida nova nesse novo ano. Acabei de romper de vez com os Pascarelli. Perdi a Sara e agora o Daniel.
– Nossa... essa doeu. - falei sincera. Os (irmãos) Pascarelli eram praticamente da família. Nós fazíamos tudo juntos. Era incrível como, mesmo o Daniel e o Josh não se gostando, podíamos sair sem problemas.
– Imagina em mim. - ela disse com um tom de voz cansado - Essa transição de ano foi difícil, olha.
– Ei, quando chegarmos lá, você vai ver que nem foi tão ruim terminar com o Daniel. Lá tem cada gato. - falei descontraída.
Ana sorriu por educação, mas vi que ela sabia que não seria tão ruim assim.
– Ainda prefiro a Ana com um gringo diferente a cada semana do que com o Daniel. - Josh disse mais para si mesmo do que para nós.
– Por que, afinal? - perguntei - Por que você não gosta dele?
– Ele é um babaca. Sempre foi. Ele era o galanteador da minha sala de aula. Pegava qualquer garota que quisesse com um piscar de olhos. E ele ficava com elas por ficar. Nunca gostou de nenhuma delas. Eu ouvia ele se gabando pros amigos. Quando soube do namoro de vocês, fiquei preocupado, sabe? Pensei que você seria mais uma. - ele disse ao parar o jogo e olhar para Ana - Mas então achei que estava enganado. Eu via como ele te fazia bem e vice-versa. Você foi a primeira namorada séria dele. A primeira que, aparentemente, ele amou. Agora... Não tenho tanta certeza. Na primeira dificuldade, ele pulou fora.
Ana olhou para baixo.
– Tem certeza que é só isso? - perguntei duvidosa.
– Sim, por quê? - ele voltou sua atenção ao jogo.
– Até parece que você se importa com o jeito que outros garotos tratam as garotas.
– Eu tenho duas irmãs. Trato as garotas da maneira que gostaria que vocês fossem tratadas e não gosto de ver babacas fazendo o contrário. - ele disse indiferente, ainda prestando atenção no jogo.
– Não compro essa. - falei decidida e Ana me encarou - Por que você não gosta dele, Josh?
Josh parou o jogo e me olhou. Pensou um pouco antes de falar.
– Porque-ele-ficou-com-a-garota-que-eu-gostava. - ele disse rápido e voltou pro jogo.
– O quê?
Josh suspirou e parou o jogo de novo.
– Ele ficou com a garota que eu gostava.
– Quando? Como?
– Tínhamos quinze anos. Ele a chamou pra sair sabendo que eu gostava dela. Foi isso. - ele disse e voltou a jogar - Ela era da nossa sala.
Olhei para Ana e ela para mim. Josh nunca havia falado sobre seus sentimentos com a gente antes. Quer dizer, pelo menos não comigo.
– Tem certeza que ele sabia? - perguntei tentando manter o assunto.
– Absoluta. Ele nem reparava nela. Um dia, acabei falando que a achava bonita. Ele foi lá e a chamou pra sair. Eles saíram e ficaram. Depois, ele simplesmente voltou ao normal. Voltou a ignorar a existência dela. Um babaca. Fez isso com muitas, até. Vocês nem imaginam.
– Caramba, que coisa mais...
– Por que você não me disse antes? - Ana enfim se pronunciou, me interrompendo.
– Você não tinha nada a ver com ele na época. Por que eu falaria?
– Não precisava falar quando aconteceu. Podia ter falado quando começamos a namorar. Poderia ter sido tudo diferente.
– Eu não iria me meter no namoro de vocês. E outra: como eu disse antes, ele parecia te amar de verdade e vocês estavam felizes.
Ana pareceu decepcionada.
– Não fazia ideia de que ele era um galinha. - ela disse visivelmente triste.
– Agora o término não parece tão ruim, não é? - falei brincando, tentando mais uma vez amenizar o clima.
– Jade, fica calada que é o melhor que tu faz. - Josh disse no mesmo tom de brincadeira.
Ouvimos batidas na porta e nos assustamos. Estávamos sozinhos em casa. Ou não?
– Meninos, sou eu. - ouvimos a voz do nosso pai e nos tranquilizamos.
– Pode entrar. - Josh respondeu e meu pai abriu a porta.
– Pensei que vocês só fossem chegar de noite. - falei confusa.
– Tivemos uns probleminhas. Queria aproveitar esse tempo pra acertar umas coisas com vocês. - ele disse se sentando ao lado de Ana. Percebi que ela tentava esconder o rosto, baixando a cabeça e virando para o outro lado. Acho que ela não queria que nosso pai percebesse que ela estivera chorando.
– Sobre o quê? - perguntei chamando a atenção dele para mim.
– A mudança de vocês.
Então começamos a organizar os últimos detalhes que faltavam.

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