Remember Me escrita por Miaka


Capítulo 19
Perverso


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, peço perdão pela demora em atualizar. Eu estava de férias e meu notebook está com um probleminha de acentuação e eu sou muito preguiçosa para ligar meu desktop. hahaha! Eu estou atrasada para responder as reviews, mas todas já foram lidas e vou respondendo junto com as novas como costumo fazer, okay? ♥ Espero que curtam o capítulo! ^^



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Sem a menor cerimônia, Sinbad esgarçou a camisa de linho branco que seu conselheiro vestia. Os botões foram saltando, de cima a baixo e expondo o peito de Ja’far.

O rei permanecia com olhos cerrados, o que o impediu de ver as marcas arroxeadas que maculavam a alvura, depositando beijos por toda a curva daquele pescoço, degustando a maciez de sua pele. Ah, como sentia falta de Ja’far! Três meses afastado dele, perguntava-se como conseguira suportar.

Ja’far, por sua vez, só podia sentir asco ao ser envolvido por aqueles braços, acariciado por aquelas mãos que iam naufragando em seus cabelos a partir de sua nuca. Sentia arrepios e um desejo, fruto meramente da reação natural de seu corpo, que tentava repugnar de todas as formas aquele homem.

Permanecia lutando para se afastar. As mãos espalmadas nos ombros do rei de Sindria tentavam empurrá-lo, mas Ja’far era ridiculamente mais fraco. Sabia que era uma luta perdida, mas não admitiria aquilo. Não podia ser de outro que não fosse Kouen.

— Me… Me sol...

As súplicas de Ja’far foram interrompidas quando seus lábios foram cobertos pelos de Sinbad.

A língua quente do moreno o invadia e ele tentava virar seu rosto na direção oposta, sair dali. Angustiado, ele esmurrava o peito do rei de Sindria. As lágrimas caíam sem parar ao se ver incapaz de reagir, de impedir aquele ato que não tinha seu consentimento. Aquela mão larga adentrou sua calça e capturou o que havia ali.

Não tinha saída. Acabou cerrando os dentes na língua de Sinbad, o que o fez se afastar.

Os olhos dourados piscavam confusos enquanto ele colheu com a ponta do indicador o filete de sangue que escorria de sua boca.

Foi quando encontrou o par de esmeraldas arregalado. O pavor estampado no rosto pálido.

Um Ja’far completamente em choque se levantou, aproveitando aquela deixa, mas seu braço foi segurado por Sinbad, que o puxou de volta para a cama.

— ME DEIXA! - vociferou Ja’far. - Como… como pode fazer isso?!

— Eu estou fazendo isso para seu bem, Ja’far.

Ele podia sentir as mãos que seguravam agora seus pulsos apertando cada vez mais, como se Sinbad estivesse disposto a usar até mesmo de força bruta para mantê-lo ali.

— Eu vou te ajuda…

— CALA A BOCA! - Ja’far vociferou, tentando se libertar.

— Não fale mais nada, apenas me deixe fazer…

— Eu imploro! Me solta! - ele chorava.

Sinbad piscou, um tanto quanto assustado com a forma que fora chamado por Ja’far. Aquela última afirmação ecoando em seus ouvidos. Mas não podia recuar. Precisava fazer aquilo pelo próprio bem de seu próprio conselheiro. Para que Ja’far se livrasse daquela angústia e se lembrasse de como se amavam. Sabia que no fundo ele não havia perdido suas lembranças, mas que algo às estavam bloqueando. Porém estava obstinado: nem que usasse a força bruta conseguiria fazer com que Ja’far se lembrasse dele.

— Me desculpa, Ja’far, mas eu tenho que fazer isso!

Era o certo, não era? - Sinbad questionava a si mesmo ao empurrá-lo para a cama.

Ja’far caiu de costas entre aqueles lençóis e sentiu as pernas daquele homem travando sua cintura. Não havia como sair dali agora. Os olhos verdes cresceram com o pânico de se ver preso à mercê da vontade daquele por quem nutria tanto… nojo. Agora tinha certeza da veracidade das palavras de Kouen. Sinbad, realmente, era um homem asqueroso.

— M-Me solta! - as lágrimas caíam pelas laterais do rosto tão pálido.

— Shhh, acalme-se. - o rei sussurrou, tentando transmitir calma.

— Por que… por que está fazendo isso comigo? - Ja’far soluçava, tentando de todas as formas se desvencilhar daquelas mãos, tão grandes, tão mais poderosas que toda a força que havia em seu corpo.

— Porque eu te amo, Ja’far.

O alvo balançou a cabeça negativamente. Não. Era claro que isso não era amor e sim uma espécie de possessão doentia. Se havia tido alguma dúvida sobre o lugar a qual pertencia após ter alguns lapsos se lembrando das pessoas que encontrara naquele país, agora Ja’far estava certo de que aquilo tudo fazia parte, meramente, do período em que passou vítima da trama de Sinbad. Exatamente como Kouen havia dito. Kouen… Ele jamais o violentaria assim.

Enquanto pensava em tantas coisas, ele sentia os lábios do rei de Sindria abocanhando seu pescoço. Mesmo sendo em vão ele tentava afastá-lo com uma mão, a que logo foi capturada e segurada com força contra a cama.

Não havia saída que não fosse um milagre. Que Kouen pudesse chegar ali e arrancá-lo das garras daquele homem. Só podia exprimir seu desespero de uma forma.

— So-Socorro… - apenas uma pessoa poderia salvá-lo. - En… EN!

Como sentia raiva, asco ao ouvir aquele apelo. Seu peito doía ao ver Ja’far chorar, suplicar, mas naquele momento em que o viu clamar por Kouen, Sinbad só pôde sentir raiva e frustração.

Foi num impulso que agarrou os cabelos de Ja’far, puxando-os com força. Seu conselheiro gemeu alto enquanto que a mão livre de Sinbad tratou de forçar suas costas.

Já sem forças, cansado de tanto tentar afastá-lo, cedeu e caiu de bruços na cama, mais uma vez. Não houve tempo para reagir quando as calças, do mesmo fino algodão da blusa escancarada, foram puxadas pelo rei.

Ele corou, os olhos verdes arregalados a encararem a cabeceira daquela cama. Unhas a cravarem naqueles travesseiros quando Sinbad puxou sua cintura, forçando-o a se ajoelhar.

“Não! Não!” - ele repetia mentalmente. Era um pesadelo? Tinha que ser.

Ja’far não esboçava nenhuma reação sequer, paralisado ao sentir o corpo de Sinbad se encaixar sobre suas nádegas. O membro rígido daquele homem se atritava na cavidade que havia entre elas.. “Por favor, não!” suplicava.

— NÃO!!!

O reflexo imediato foi se afastar, por mais que suas forças tivessem esvaído. Sinbad segurou sua cintura com mais firmeza. Ele tinha certeza de que, se consumasse aquele ato, Ja’far se lembraria de tudo. Se lembraria de seu amor, das noites de prazer que desfrutaram. Tudo ficaria bem, não? Por mais doloroso que fosse.

— NÃO!!!!! POR FAVOR, NÃO! NÃO! EU IMPLORO!

Não havia resposta, Sinbad permanecia a cumprir o que havia tomado como uma missão.

— NÃO!!

Mais um grito, o suficiente para que as portas duplas dos aposentos reais fossem escancaradas. Eram os generais, completamente aflitos, guiados por aqueles gritos e súplicas que eles sabiam bem que vinham de seu amigo. Porém, assim que Hinahoho e Masrur, os primeiros a entrarem, cruzaram a porta, ao se depararem com aquela cena, o fanalis pôs seu braço à frente dos demais para que não prosseguissem.

Felizmente, ainda vestido por aquele roupão, o rei estava apresentável. Bem diferente de Ja’far, completamente exposto sobre aquela cama, em uma posição deveras desconfortável. Com apenas a metade superior coberta por aquela blusa arrebentada, seu corpo nu de bruços naquela cama surpreendeu quem chegava.

Indignação e revolta refletiam nos olhos do robusto homem que marchou até aquela cama, arrancando dali seu rei, aquele maldito homem que ousara cometer tamanha perversidade com Ja’far.

— SEU MISERÁVEL!

Ele ainda puxava Sinbad para fora da cama quando um único soco, certeiro em seu rosto, foi capaz de fazer aquele que era bem mais baixo ser lançado para a parede oposta daquele quarto. As costas do rei de Sindria se chocaram violentamente contra aquela cômoda de mogno.

— S-Sinbad!

Drakon rompeu a segurança de Masrur e, assustado e ciente do que acontecia, foi até o desorientado Sinbad. O inchaço e a vermelhidão em seu rosto não demoraram a aparecer enquanto se levantava, balançando a cabeça na tentativa de retomar o foco.

— Como foi capaz de fazer isso!? O que pensa que está fazendo?!

Hinahoho vociferava, completamente transtornado.

Masrur se preparou para fechar aquela porta, mas os demais o impediram.

— Masrur, o que está acontecendo? - uma preocupada Yamuraiha perguntava. - Por que não nos deixam entrar?

O fanalis nada respondeu, apenas suspirando. Esperava não ter de intervir no que viria a acontecer dentro dos aposentos de seu rei.

— Deixe que vejam quem é o nosso rei de verdade, Masrur! - Hinahoho exclamou.

Sem saber o que fazer, mas cumprindo ordens do mais velho, o ruivo liberou a passagem daqueles que decidiram se manter ali mesmo ao perceberem o que havia acontecido.

— Ja’far-san! - Pisti exclamou. - O que aconte...

Sharrkan rapidamente balançou a cabeça negativamente para a loirinha. Ela cobriu os lábios com as mãos. Nenhum ali era inocente o suficiente para não compreender o que havia acontecido, por mais surreal que parecesse.

— P-Por que estão aqui? - Sinbad se reerguia com a ajuda de Drakon. A dor que sentia fazia parecer que os ossos de seu rosto tinham saído do lugar. - E por que me bateu, Hina?

— Você devia agradecer por eu ter controlado minha força! Era para você estar morto se eu o batesse com a raiva que estou sentindo!

— Não se meta entre o Ja’far e eu! Eu estava tentando fazê-lo se lembrar de nós!

Sinbad exclamou, falando como se tudo aquilo soasse bastante simples e não houvesse nada de errado em suas atitudes, o que indignou ainda mais o homem de Immuchak.

— Com violência?! Você tem noção do que estava fazendo?! Ouvimos os gritos de Ja’far!

— Se não se envolvessem, ele logo ia lembrar! Eu tenho cert…

— OLHE BEM PARA O ESTADO DO JA’FAR! - Hinahoho o interrompeu aos gritos.

O par dourado encontrou seu conselheiro, ainda de bruços sobre aquela cama. Os olhos verdes estavam arregalados, sem foco algum, enquanto seu corpo tremia, completamente apavorado.

Foi quando Sinbad percebeu que algo estava muito errado. Sentiu seu coração apertar ao ver as lágrimas caírem sobre aqueles lençois, a saliva escorrer pelos lábios entreabertos que ainda suplicavam em murmúrios.

— Não… Não…

— Ja’far…

Ele deu um passo à frente para ir de encontro ao seu conselheiro, mas Hinahoho, rígido, o segurou firmemente pelo braço.

— Nem mais um passo, Sinbad.

— Tsc, o que está fazendo?! - ele estava indignado. - Temos que ajudar o Ja’far!

— Qualquer um menos você! Ele está assim por sua culpa! - Hinahoho elucidava o óbvio. - Não vai se aproximar dele mais! O que fez foi monstruoso!

— Eu só queria fazer com que ele se lembrasse de mim, do que passamos junt…

— ESTUPRANDO ELE? - Hinahoho foi direto ao impedí-lo de prosseguir.

Foi impossível, ao ouvir a verdade nua e crua, encarar seus generais. A decepção estampada no rosto de cada um de seus amigos que o acompanhavam por tantos anos, sempre tão devotos e que o amavam tanto. Sinbad abaixou a cabeça, o rubor do constrangimento superando o que vinha a ser a sequela do soco que havia recebido.

— N-Não foi bem isso que…

— Minha esposa não criou esse garoto para ser violentado assim. - ele apontava Ja’far para depois apontar seu rei. - E também não terminou de criar você para se tornar um moleque estuprador!

— Hinahoho-san…

Drakon estava chocado. Aquilo estava indo longe demais, porém ele não podia discordar de uma vírgula dita por seu amigo. Era simplesmente impossível acreditar que seu rei, alguém que sempre fora tão íntegro e uma pessoa tão incrível havia cometido algo daquele nível.

— Rurumu adotou o Ja’far como um filho. Eu jamais vou permitir que o machuque. Se quiser me mande embora, mas eu vou levar o Ja’far comigo.

— Hina…

Sinbad estava sem palavras. Ao mesmo tempo em que extremamente decepcionado consigo mesmo ao ouvir tudo o que lhe era dito, não aguentava ver Ja’far daquele jeito, completamente em choque. Como fôra capaz de tamanha atrocidade e, pior ainda pensar que se não fosse o esclarecimento de seu próprio amigo, continuaria acreditando estar certo tomando aquela atitude desumana.

— Eu… Eu quero me desculpar com o Ja’far…

— Não agora. Eu vou tirá-lo daqui, já que estamos nos seus aposentos… “rei”.

Era nítido o tom de deboche e até mesmo asco que a voz de Hinahoho carregava ao identificar o posto do moreno.

Sinbad se via de mãos atadas ao ver seu amigo se aproximar daquela cama e se agachar ali. A culpa o corroía.

— Oe, Ja’far! - ele sussurrou. - Venha, vamos te tirar daqui.

Mas assim que aquele enorme homem tentou tocar no conselheiro de Sindria, imediatamente foi repelido por um assustado Ja’far.

— NÃO! - exclamando, Ja’far se sentou, arrastando-se por aquela cama. - Não, não… - ele balançava a cabeça, levando as mãos até os fios esbranquiçados e os puxando.

— Não vamos te fazer mal, Ja’far. - Hinahoho insistiu.Não me toquem… Não… me… toquem… Eu… eu quero o En… - ele murmurava.

Era demais para Sinbad. Não aguentava ver Ja’far naquele estado. E estava assim por sua culpa, como Hinahoho havia deixado claro.

Mordia os lábios angustiado assistindo às tentativas de seu amigo em tirar seu amado dali. Estava tão preocupado com Ja’far que nem viu Sinbad se aproximar daquela cama.

— J-Ja’far, eu errei! - ele gaguejou. Me desculpa!

Com um rápido movimento, Sinbad tentou abraçá-lo, mas assim que o fez, o alvo o estapeou.

— SAIA DAQUI, SEU MONSTRO! - Ja’far vociferou.

Sinbad se recolheu no mesmo instante, incapaz de tocar aquele que lhe encarava com o mais puro ódio. As esmeraldas centelhavam vermelho. Será que Ja’far o odiava agora? O que tinha feito?

Vendo-se incapaz de fazer qualquer coisa para remediar seu terrível erro, Sinbad deu meia-volta e marchou para fora de seus aposentos. Drakon pensou em ir atrás de seu rei, mas a prioridade agora era tentarem ajudar Ja’far.

Nenhum dos outros generais pensou em acompanhar Sinbad. De fato até mesmo evitaram encará-lo para poupá-lo. Seu rei havia cometido um erro terrível e a vergonha e a desonra seriam demais se ele percebesse o quanto o desprezavam naquele momento.

— Eu… eu não acredito que a majestade fez isso… - Sharrkan ponderou, engolindo a seco.

— Ele está desesperado. - Yamuraiha completou.

— Nada justifica a atitude dele! - Hinahoho se manteve inflexível. - Ja’far, por favor, queremos o seu bem. - ele se voltou ao rapaz que permanecia a se abraçar, temendo que se aproximassem mais.

— Saiam daqui! Afastem-se! - ele exclamava entre lágrimas. - Ou me deixem ir embora! Por favor, me deixem ir embora!

Ja’far cobriu o rosto com as mãos enquanto chorava copiosamente. Era impossível não se comover ao vê-lo sofrendo tanto, ainda mais sem ao menos reconhecê-lo.

Ele se sentia só, desolado, e agora vítima de um abuso horripilante. Desejava matar Sinbad, mas mais do que aquilo, Ja’far desejava era estar ao lado de Kouen.  

—-----xxxxxxx------

Koumei não podia acreditar no que via.

Seu irmão entre alguns criados aos fundos de uma das saídas do palácio. Bebendo do vinho mais barato que lhe serviam, Kouen parecia bastante à vontade, chegando a gargalhar com aqueles que o segundo príncipe considerava uma ralé.

Era demais para aguentar, mas como interviria depois daquela situação?

Kouen havia deixado claro que sentia nojo do que o mais jovem sentia e até mesmo seria capaz de mandar lhe punir após descobrir que o mesmo tramara o envenenamento de Ja’far. Não havia trocado uma palavra com ele desde então, mas talvez, sob o efeito da bebida, o primeiro príncipe não se lembrasse daqueles… detalhes.

— Meu irmão e rei! - ele ousou se aproximar.

Mas foi o suficiente para que Kouen franzisse a fronte e o encarasse com desagrado.

— O que faz aqui?! - ele foi direto.

— Eu que pergunto isso. Não ia preparar sua viagem para Sindria?

Se não podia derrotá-lo, enfim, teria outra solução que não se juntar a ele? Se o apoiasse ao invés de repudiá-lo, quem sabe, Kouen o veria com outros olhos ou ao menos como antes. Sentia-se péssimo após tamanha rejeição.

— Está tudo bem preparado e… - ele se apoiou nos ombros do irmão. - estou comemorando com meus amigos!

— Amigos?!

Aquela afirmação seria importante para questionar se seu irmão estava sob o efeito do àlcool, mas o hálito do mais velho condenava que ele havia passado de seu limite.

— Sim! - os olhos escarlate brilhavam. - E depois que levarmos Ja’far, Koumei… Sinbad nunca mais, ouviu bem? Nunca mais vai poder levá-lo de volta porque vamos DESTRUIR SINDRIA!

Sentado em seu escritório, o rei de Sindria apoiava o rosto com as mãos. Soltando um longo suspiro ele colhia uma, duas lágrimas. Droga! Por que mais que quisesse, não conseguia parar de chorar ao se lembrar de seu terrivel erro, de como deixara Ja’far, de tudo aquilo que estava acontecendo. Por que o destino havia sido tão cruel com eles?

Abriu uma das gavetas da escrivaninha e chegou a tocar numa das diversas garrafas que deixava guardadas ali. Beber para esquecer era o melhor, não?

Não, Ja’far odiava que bebesse, ainda mais quando fazia aquilo com o intuito de se embebedar. Mas ele não reclamaria, tampouco se importaria, afinal, aquele não era o seu Ja’far.

Tirou dali a garrafa e o abridor, mas assim que o fez a porta se abriu, revelando Masrur.

Sinbad piscou. Desviando o olhar e imediatamente ruborizando, ele deixava evidente o quanto estava envergonhado. Certamente o fanalis estava extremamente decepcionado com suas atitudes recentes.

— Tem certeza de que vai se afundar na bebida, agora?

Aquela voz, a qual era tão rara de se ouvir, lhe questionou.

O rei, imediatamente, guardou a bebida de volta, voltando a suspirar.

— Sei que não devo me envolver, mas… não acha que a melhor solução é tentar conversar com o Ja’far-san?

Mais um suspiro quando Sinbad ouviu a porta bater e o encarou.

— Masrur, você… sabe muito bem o que aconteceu e… o que eu tentei fazer, ou fiz… Tsc, eu só queria… não ter feito aquilo! Lembro e penso que, como Ja’far disse, sou um monstro… Ele nunca mais vai me ver da mesma forma. - foi quando Sinbad se tocou. - Você o viu?! Como ele está?! - ele perguntou, ansioso por respostas.

— Ele ainda está trancado no quarto. Não deixa que ninguém se aproxime. - Masrur respondeu.

— Tsc, eu estraguei tudo… - lamentou o moreno, esmurrando a mesa.

— Pipirika-san quer saber sobre o Maharagan dessa noite. - ele trocou de assunto.

— O festival era para comemorarmos o retorno de Ja’far e agora… não temos mais nada para comemorar…

— Digo a ela que está cancelado?

— Por favor.

Masrur apenas assentiu enquanto observava a expressão cansada de seu rei. Era nítido que Sinbad estava esgotado e transtornado com tudo aquilo. Primeiro o sequestro, a amnésia e agora toda aquela repulsa que lhe era oferecida. Se pensasse friamente, aquele erro terrível que cometera seria justificável. Não, nada justificava agir com aquela violência e ainda mais com seu tesouro mais precioso. O rei de Sindria se sentia mais distante do que quando Ja’far estava em Kou.

— Descanse.

Foi tudo o que o fanalis disse antes de deixar o escritório.

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As notícias corriam rápidas demais pelo palácio. Os gritos de Ja’far e o que sucedera ali não era mais segredo a ninguém. Muitos dos servos estavam chocados e não conseguiam acreditar no ocorrido.

Com o cancelamento do festival que estava programado para aquela noite, o qual comemoraria o retorno de Ja’far além do incidente daquela tarde, os corredores do imponente castelo estavam vazios.

Caía uma forte tempestade, o que não era atípico em uma região tropical como aquela ilha que era castigada por altas temperaturas.

O único som que lhe fazia companhia era dos trovões e o incessante deságue da chuva.

Passara o dia todo ali, sentado naquela cama, temendo pelo momento em que aquele homem pudesse reaparecer, afinal, estava nos aposentos do rei. Mas ninguém, exceto a criada que fora levar seu jantar, apareceu ali depois que aquelas pessoas saíram após muita insistência. Pareciam tão preocupados com ele, até mesmo ignorando seu rei. Era tudo parte do teatrinho que Sinbad havia planejado para que acreditasse em suas artimanhas, Ja’far tinha certeza.

Tomando um pouco de coragem, ele se levantou. Os pés de calços o conduziram até uma das amplas janelas daquele quarto. O mar revolto que cercava aquela ilha demonstrava o quão longe estava dele.

— En… Você vem me buscar, não é?

Sentiu o corpo se arrepiar com a forte ventania que adentrava o lugar.

Envolvendo-se com os próprios braços ele se afastou dali.

E se fugisse? Se pudesse pegar um navio para qualquer lugar e de lá chegar em Kou? Qualquer lugar que fosse, que o deixasse distante de Sinbad…

Ele mordia o lábio inferior enquanto andava de um lado para o outro, ponderando como poderia fazer aquilo. Um estrondoso trovão cruzou os céus e iluminou aquele quarto de uma forma bem mais eficaz do que os fracos candelabros, cujas chamas dançavam sem parar devido à intensa ventania.

Foi quando o par esverdeado encontrou sobre a cabeceira daquela cama aquele artefato mágico. O mesmo que viu em Kou e por onde Sinbad conseguiu chamá-lo. Era uma espécie de comunicador, não? - ele questionava a si mesmo enquanto, rapidamente, tomou o ítem mágico em mãos. Um sorriso que misturava alívio e felicidade cruzou seu rosto quando apertou aquele botão.

Ouviu uma, duas, três, inúmeras vezes o toque chamando. Mas ninguém o respondeu. Precisava tentar de todas as formas.

— En! - ele sussurrou de início, atento à porta do quarto. Não podia ser pego. - En, está me ouvindo? Sou eu, Ja’far. - a voz tremia, cedendo à emoção de, quem sabe, estar podendo falar com seu grande amor. - En, me tira daqui, por favor! - ele soluçava. - Quero que mate o Sinbad e me leve de volta!


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Notas finais do capítulo

Quando eu comecei essa fic, eu ficava em um intenso impasse quanto à cena inicial dessa capítulo. Tentei ambientar da melhor maneira, mas, de fato, Sin fez algo terrível e que prejudicou AINDA MAIS a situação conturbada que ele está vivenciando com Ja'far. Creio que se ele estivesse são, essa violência seria muito mais dolorosa por ir contra todos os sentimentos e respeito que o Ja'far tem pelo Sin! Porém ele já está colhendo o que plantou e Ja'far arranjou uma forma de falar com o Kouen? Bem, não percam os próximos capítulos que a partir da semana que vem já voltam a ser postados toda semana! ^^ Um beijão e lembrando que elogios, críticas, sugestões, tomates são sempre bem-vindos! ♥



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