Fantasmagoria escrita por Rafael


Capítulo 1
Mágoa


Notas iniciais do capítulo

Por favor, se verem muitos erros no texto, me avisem. Obrigado



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— Então... -  Começou sem jeito o filho -  Como é estar morto?
— É frio - Respondeu o pai, bom, o que sobrara dele
— E você ainda guarda mágoas?
— Suas? Não, isso é coisa dos vivos
— Entendo.

Naquela manhã cinza e enevoada, Edgar Bilfort pensava em muitas coisa: Em como poderia melhorar a produção de milho da fazenda, o que ele deveria fazer à respeito de seu filho que se mostrava cada vez mais rebelde, em como ele gostaria que sua mulher ficasse de boca fechada ao invés de reclamar no ouvido dele sobre como Edgar a irritava só de respirar. Ele pensava em muitas coisas, mas com certeza não pensava em ver o pai ou em se sentia falta dele. Quão surpreso foi rever o velho esta manhã no celeiro. Isso se deve principalmente ao fato do senhor Thomas Bilfort estar morto há dez anos.

— É errado eu perguntar como vai a vida, certo?
— É, é muito errado - 
Respondeu o senhor Thomas, puxando de suas vestes negras um cachimbo sujo e com varias marcas de uso - Mas o trabalho vai bem, se quiser saber - como por mágica o cachimbo se acendeu e a caveira que agora era Thomas Bilforte tragou gentilmente - ser A Morte tem suas vantagens, sabe?
— É mesmo?
— Sim. - 
E o silencio se manteve novamente. Algo constrangedor e tenso, onde ambos estão sem jeito.

No inicio Edgar duvidou. Achou que fosse alguma pegadinha das crianças da fazenda vizinha ou que talvez alguém quisesse assusta-lo para que perdesse a moral, mas aquele esqueleto de mantos pretos e foice com aquele óculos redondo e avantajado só poderia ser seu pai, tinha os mesmo trejeitos de fala, o mesmo vicio no fumo e Edgar apostava que se tivesse músculos e pele estaria com aquela expressão que misturava serenidade e sonolência ao mesmo tempo.

— Então... porque esta aqui?
— Eu sou A Morte, Edgar. Por que você acha que estou aqui?
— Então você ainda guarda mágoas
— Não meu filho, eu não guardo mágoas por você ter martelado minha cabeça até que ela virasse um purê. Não se preocupe sobre isso.
— Então se não sou eu, quem?
— Tia Rose
— Sério? Finalmente a velha vai empacotar?
— Respeito, Edgar -
Disse o senhor Thomas sem emoção alguma na sua voz. - Ela ainda é sua tia.
— Você sempre dizia que o melhor que ela podia fazer era morrer - 
Rosemary Bilfort era a irmã mais velha de Thomas e consequente tia de Edgar. Sempre fora uma pessoa ruim, fazendo o possível para atazanar a vida da família, fosse quando pregava suas peças quando criança, roubando de casa quando jovem ou sendo insuportável agora quando velha
— Eu sei o que dizia, mas ela ainda é sua tia
— Era
— É. Eu ainda não fui no quarto dela
— Bom, esta esperando o que então?! Vá de uma vez e leve aquela coisa com você
— Sempre apressado não é, garoto
— Não sou um garoto, já tenho trinta e dois
— É verdade, você tinha vinte e dois quando pegou naquele martelo e me acertou na nunca enquanto eu ordenhava as vacas
— Isso me pareceu mágoa
— Impressão sua

O Senhor Thomas Bilfort morreu no dia dezenove de fevereiro de mil novecentos e quarenta e sete. Edgar contou vinte marteladas na cabeça do pai, mas sabe que na verdade foram muitas mais. O Senhor Thomas foi enterrado no final do bosque próximo a fazenda Bilfort. Edgar enterrou o pai o mais fundo que conseguiu, sem lápide ou belas palavras, e contou a sua tia que ele havia sido pisoteado pelas vacas. Tia Rose, não se importando se era verdade ou não, engoliu a história.

Você sabe que a culpa foi sua - Edgar resolveu tocar no assunto
— Você que parece estar arrependido
— Não estou
— Claro, estourar a cabeça de seu pobre pai como uma abóbora é algo comum.
— Você mereceu
— Talvez tenha mesmo - E deu uma longa tragada no cachimbo - Então, quando vai fazer?
— Fazer o que?
— Matar sua esposa
— Por que acha que vou matar minha esposa?
— Porque você vai
— Por que eu iria?
— Porque é você, Edgar. E porque ela é um saco repleto de bosta.
— É. Ela é mesmo
— Então você realmente vai fazer?
— Não. Sim. Não sei. Estou pensando
— Bom, você já matou alguém uma vez. Seu próprio pai. Matar alguém que não tem relação alguma de sangue deve ser mais fácil
— Mágoa
— Talvez seja

Thomas Bilfort não fui um dos melhores pais ou marido. Achava que a cinta era muito leve para as correções, então preferia pedaços de couro curtido, cadeiras da mesa de jantar, pedaços de pau e o famigerado martelo. Não foram poucas, quando nenhum desses estavam próximos, Thomas usava de seus próprio punhos fechados para ensinar lições ao filho e boas maneiras a esposa. As vezes também achava que ambos eram bons para descontar a raiva de uma safra ruim ou o fim da garrafa de aguardente. Thomas era especialista em criar castigos criativos quando seu filho levantava um pouco mais tarde ou quando achava alguma mancha em suas camisas para ir a igreja que sua esposa não conseguiu remover, porque sangue é difícil de remover lavando à mão. Talvez Thomas tenha merecido.

— Bom, acho que tenho que ir - Disse Thomas, A Morte
— Certo
— Certo 
— A agente vai se ver de novo?
— Você sabe que sim
— É, eu sei
— Bom, foi um prazer te ver meu filho
— É foi bom te ver também pai - Edgar Bilforte viu a morte caminhar lentamente a  sua casa. Assistiu quando ele abriu a porte e esperou que sua esposa gritasse ao armasse algum escândalo, mas nada aconteceu. Ele ficou olhando para o casebre esperando ver a morte retirar o corpo da Tia Rose, mas isso não aconteceu. Vai saber lá que diabos a Morte podia fazer. 

Edgar continuou de onde havia parado. Pegou o balde e o banquinho. Amarrou Violeta, a vaca que dava mais leite, mesmo sendo uma novilha, ao tronco e se posicionou para ordenha-la. Aquela situação toda fora muito estranha e talvez tenha deixado algum significado junto a Edgar, talvez aquilo fosse um sinal. Um sinal para ele mudar o jeito que tratava seu filho e sua mulher, um sinal para ser um homem melhor, um marido melhor, um pai melhor. Só talvez

Bom, Edgar nunca descobriria. Enquanto pensava e ordenhava, um forte dor lhe tomou a cabeça e o fez tombar, quase inconsciente. Sua visão turva conseguiu enxergar seu filho, William Bilfort, com um martelo na mão, respirando ofegante e com fúria no rosto. o Senhor Thomas estava atrás do garoto com o que parecia ser um saco arrastado do lado. É ele realmente viu seu pai mais um vez e ele realmente buscou a titia.

William Bilfort havia tomado essa decisão pela manhã e precisou de um tempo para ter a coragem necessária para isso. Thomas Bilfort sabia que iria buscar o filho quando encontrou com ele no celeiro, mas queria ver o rapaz com a cabeça intacta ainda. Rosemery Bilfort estava dormindo quando a morte veio. Abigail Sun Bilfort, esposa de Edgar, estava dormindo por causa de vários comprimidos, talvez por causa disso fosse receber uma visitinha do sogro mais tarde. Edgar Bilforte recebeu vários golpes depois do primeiro, não tendo tempo para gritar ou emitir qualquer som, só teve tempo de ouvir a voz de seu pai.
— É uma merda, não é? 


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler! De sua opinião sobre este conto, sou todo ouvidos.



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