Salva pelo inimigo escrita por Jéssica Amaral
Théo se aproxima e abre a maleta. Tinha um bom número de notas ali, agora basta saber se é a quantia certa.
— Preciso ver se está certo.
— Fique à vontade – Frank responde de braços cruzados.
Enquanto Théo conta o dinheiro, os três ficam me encarando. Devem estar planejando minha tortura! Por que fui confiar que ele não conseguiria o dinheiro? Por que me deixei levar pelas palavras de Théo? Agora vou sofrer muito por tudo isso... Estou quase pedindo desculpa e implorando para que não me machuquem muito.
— Isso aqui não chega nem perto da quantia Frank – ele já contou? Mas não passou nem cinco minutos!
— Pelo que você fez com a gente, acho que merecemos um desconto.
— É claro que sim, mas o desconto que você está dando aqui é absurdamente alto Frank. Não posso aceitar isso.
— Só que você foi desonesto com a gente meu caro, tem que dar um desconto bastante generoso.
— Generosidade e caridade são bem diferentes Frank – diz debochado e Frank dá um passo à frente.
— Frank! – Mark repreende e ele para. – Quanto tem ai Théo?
— Cinquenta mil – Mark olha Frank e balança a cabeça em negação.
— Quero conversar com os dois por um momento.
— Como quiser.
Os três saem da sala me encarando. Estava tão nervosa que minhas mãos estavam geladas e eu suava frio. Ele não conseguiu o dinheiro! Não conseguiu!
— Quero que faça uma coisa... – Théo cochicha.
— O que?
— Vai embora agora.
— Pra onde? – pergunto apavorada.
— Qualquer lugar Sofia, só saia dessa casa agora!
Fico em silêncio olhando ele, estava me sentindo extremamente nervosa. Por que quer que eu vá embora? O que será que está acontecendo? Ou vai acontecer...
— Por quê?
— Eles estão irados com o que aconteceu e podem te machucar. Agora vai logo! – me empurra levemente para a porta.
— Mas e você?
— Eu dou um jeito.
— O que isso quer dizer? – ele abre a porta e vai me levando para a varanda da casa. Tanto tempo que não piso aqui...
— Quer dizer vai embora e não volte aqui nunca mais.
Engulo em seco. Théo olha pra trás.
— Vai! – me empurra. Desço as escadas correndo e passo pelo meio do mato. Alguns batiam em meu rosto e braços me arranhando. O portão está com cadeado. Droga! Não tem jeito.
Escalo o portão e pulo ele. Tive um pouco de dificuldade, pois não é um portão baixo, mas consegui passar. Olhei a porta da frente da casa e Théo a fechou. Saí correndo pela rua como nunca corri em minha vida. Minhas pernas queimavam e minha respiração estava totalmente irregular. Tentava controlar para não ficar com falta de ar, mas estava com tanto medo que não consegui. Assim que vi a casa dos Johnson senti um certo alivio. Mas eu não estava segura. Tinha que sair da cidade e se possível do país! Só que como eu faria isso? Não tenho nada a não ser a roupa do corpo! Essa não foi uma boa ideia...
Paro de correr e fico parada no meio da rua. Não posso fugir assim. Se eles já descobriram tudo e estão furiosos, podem fazer algo com Théo. Que jeito ele vai dar? São três contra um! E isso não é justo. Também não é justo porque ele não tinha que se meter nisso. A culpa de tudo que aconteceu foi minha. Tanto em virar escrava, como o que está acontecendo agora. Se não fosse por mim, ele não teria mentido e não estaria “dando um jeito” em nada agora! Sei que ele se meteu nisso porque quis, não pedi nada. Mas me sinto culpada por isso agora. Droga! Talvez eu volte e faça um novo acordo... Peço para deixarem ele em paz e que fico com eles até enjoarem de mim ou ficar velha. Não sei se estou raciocinando direito agora, mas me parece o certo a ser feito.
Voltei para casa correndo, mas não no mesmo ritmo, até porque estava cansada. Assim que me aproximei do portão de entrada levei um grande susto e me escondi atrás de umas árvores. Tinha quatro pessoas em frente ao portão. Não sei o que estão fazendo ali, mas tinha certeza de que não eram humanos.
Brancos feito a neve e muito bonitos. Um deles me lembra muito Théo, mas parece ser mais velho que ele. Também tinha uma mulher de cabelos vermelhos, aparentava uns trinta e cinco anos, mas sei que não é só isso... É mais ou menos a mesma coisa que os meus sanguessugas. O homem ao lado dela tem o cabelo loiro e é bastante alto. Ao lado da mulher tinha uma garota. Aparenta ter minha idade, tem cabelo escuro e comprido.
O que eu faço agora?
Se for lá eles me matam! Mas e Théo lá dentro? Acho que vou ter que entrar pelos fundos, mas isso é quase impossível. Os muros são muito altos.
Os quatro abrem o portão e entram no quintal da casa. Me aproximo lentamente depois que eles passam pelo mato. Paro em frente ao portão e a menina vira para trás. Arregalo os olhos. Vou morrer! Como pude esquecer que eles sentem cheiro? Ela parece ficar confusa ao me ver. Logo cutuca a mulher e aponta na minha direção. A ruiva me olha curiosa e começa a se aproximar.
Sinto que meu sangue some do corpo. Estou tão assustada que não consigo mover um músculo se quer. Enquanto a mulher se aproxima de mim, o cara e o garoto me olham e ficam da varanda esperando junto com a menina. Devem esperar ela me levar até eles e dividir o sangue!
— Olá – dou um pulo ao ouvir a mulher já ao meu lado. Ela chegou tão rápido!
— Oi – respondo baixo.
— Você é a Sofia? – fico em silêncio uns segundos.
— Como sabe?
— Théo falou sobre você.
— Quem é você? – ela sorri.
— Sou a mãe dele.
— Oh!
— Sabe onde ele está?
— Bem, se ainda estiver inteiro, está dentro da casa.
— Se ainda estiver inteiro?
— Eles estão furiosos...
— Théo pediu para que você fugisse?
— Sim.
— Então o que faz aqui?
— Eu não posso deixar eles machucarem ele...
— Por que não? – pergunta surpresa.
— Porque quem se meteu aqui fui eu.
— E o que pretendia fazer?
— Negociar com eles. E eu não pretendia, eu pretendo— ela sorri. Seus dentes são bem brancos e muito alinhados. Tem um sorriso lindo. Seus olhos são verdes.
— Entendo. Vamos entrar juntos então.
— Por que acha que confio em você? – cruzo os braços e ela dá uma risadinha.
— Tudo bem, nós vamos na frente.
Não respondo. Ela se afasta e volta até os outros, fala algo com eles e todos me olham. Depois eles dão as costas e entram na casa.
Que droga está acontecendo aqui?
Espero um pouco e então entro na casa. Vou até a sala de estar e está tudo revirado, mas ninguém no cômodo. A cozinha está do mesmo jeito. Subo as escadas e escuto vozes no quarto que era o de Théo. Vou até lá lentamente. Minhas pernas tremiam tanto que pensei que não ia conseguir andar. Sigo até o quarto e quando chego paro na porta. Todos param de falar e me olham. Olho na direção de Théo e ele está amarrado com correntes de ferro sentado em uma cadeira. Ele me olha com os olhos arregalados.
— Vejam só se não é o pacote que seu filho queria trocar pelo dinheiro... – Frank fala debochado. O homem loiro me olha. Desvio o olhar dele. Não tenho nada com isso se o filho dele resolveu trocar dois milhões em algo como eu...
— Soltem ele agora! – ordena o vampiro loiro. Os três trocam olhares e Eduardo tira Théo das correntes. Consigo ver fósforos em cima da mesa ao lado dele e um galão com algo que deve ser querosene.
Céus! Eles iam matar ele!
— O que iam fazer com meu filho? – a ruiva pergunta amarga.
— Não íamos fazer nada... – responde Mark.
— E quanto a essas coisas mortais? – é a vez do homem perguntar.
— Só estávamos assustando ele. Queríamos que nos contasse onde estava Sofia, mas ela já apareceu – diz me olhando.
— Ótimo! Onde está meu dinheiro? Não quero ficar mais nem um minuto perto de vocês três – fala sombrio.
— Não temos a quantia toda senhor, mas temos uma história interessante para contar.
— Théo já me contou tudo – diz me olhando. Olho Théo e ele me encarava com o rosto sério.
— Então sabia que ele queria trocar seu dinheiro por ela? – aponta pra mim.
— Sim.
— E achou isso bom?
— Théo sabe o que faz. Eu confio nele, por isso mandei até aqui para cobrar a dívida.
— Então levaria isso ao invés do dinheiro? – pergunta Frank.
— Por que não? Vocês não têm o dinheiro e o que tem de valor aqui é ela.
Fica um grande silêncio no quarto. Todos me encaravam agora. Ser encarada por alguns vampiros é uma coisa, mas ser encarada por oito vampiros é cem por cento intimidador...
— Vai levá-la? – Eduardo pergunta. O homem olha Théo e ele acena com a cabeça.
— Vou.
Os três olham o chão e apertam os punhos com força. Eles estão brabos... Mas parecem se segurar na presença desse vampiro.
— Então a dívida está paga?
— Claro. É uma troca.
— Tudo bem.
— Vamos embora. E quando forem pedir dinheiro emprestado, tratem de pagar o combinado direito! E não pense que esqueci o que queriam fazer com meu filho! – diz ameaçador.
É tão estranho ver esses três submissos assim. O homem loiro se aproxima de mim e eu fico em silêncio olhando ele. Tem os olhos azul claro. É um dos vampiros mais bonitos que eu já vi!
— Vamos senhorita.
— Pra onde? – ele sorri.
— Théo... – chama e faz um movimento com a cabeça. Théo se aproxima e segura meu braço. Olho o rosto dele e estava sério. Sem falar nada deixo que ele me conduza seja lá para onde.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!