I'm sorry for not telling you before escrita por Mares on Mars


Capítulo 1
Unique


Notas iniciais do capítulo

Uma dica da autora: pra ajudar na atmosfera sombria, tentem escutar a música Seven Devils da banda Florence and the Machine. Espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/690549/chapter/1

— Black Eagle para ... – Narcisa chamou com a voz trêmula, e suspirou em desespero – Black Eagle para quem estiver na escuta – disse reprimindo um soluço e se esforçou a continuar – O Raio fugiu no dragão. Repetindo, o Raio fugiu no dragão – informou e fechou os olhos com força, apertando o rádio em sua mão com força – Ele conseguiu – anunciou e novamente suspirou. Com cuidado, desligou o aparelho que usara pra transmitir a informação e o devolveu a seu esconderijo, nas tábuas soltas sob a cômoda em um dos quartos abandonados da mansão. Já estava acostumada a fazer isso.

Após o retorno de Lord Voldemort, há pouco mais de dois anos, Lucio havia voltado a servir seu mestre como antes, e ela recebera uma rápida visita de Alvo Dumbledore. ”Você tem uma escolha Narcisa”, ele dissera com o mesmo tom que usara há muitos anos, quando tivera a mesma conversa com ela, em situação semelhante. ”Como eu posso traí-lo dessa forma novamente?”, ela perguntara desesperada, com os olhos cheios de lágrimas que ela insistia em reprimir na maioria das situações. ”Um dia Narcisa, tudo o que você fizer será recompensado, e você será livre de todo mal que essa guerra lhe causará”, ele respondera sabiamente, e ela chorou copiosamente por vários minutos, antes de secar as lágrimas e respirar fundo, reconstruindo sua imagem já conhecida de dama de ferro. Os minutos que se seguiram foram preenchidos por explicações de como as coisas funcionariam, quais seriam as funções da mulher e como ela se comunicaria. Ele entregara um simples rádio, equipamento de fabricação trouxa, coberto por um poderoso feitiço que impediria qualquer outra pessoa senão ela de localizá-lo, dera-lhe um codinome e um pergaminho cheio de outros codinomes e significados, e na mesma pressa que havia surgido, fora embora, deixando-a com um fardo, uma missão que mudaria os rumos da guerra. Ela fizera isso antes, durante a primeira ascensão do Lorde das Trevas: usara sua posição como esposa de um comensal da morte para passar informações para a Ordem, e assim, evitara sérios ataques a poderosos bruxos. Claro que haviam restrições. Ela não poderia evitar todos os ataques, não poderia passar todas as informações, senão logo levantaria suspeitas e seria sujeitada a uma sessão de interrogatório com o próprio Lord Voldemort. Durante seus anos como informante, vira muitos de seus amigos, de ambos os lados, serem mortos ou presos devido a suas informações, e sofrera em silêncio, reprimindo a mágoa, a dor e o choro, substituindo-os por sorrisos carinhosos na direção de seu marido.

 Seu trabalho tivera fim quando soube que esperava um filho, e ela agradeceu de joelhos no chão frio de seu quarto, pedindo aos deuses pelo fim de todo aquele caos. Dumbledore a visitara no dia em que Draco Malfoy nascera. Lucio estava comemorando o nascimento de seu primogênito com seus amigos comensais quando o velho aparecera no quarto em que a mulher descansava com o filho nos braços. ”É um lindo bebê Narcisa”, ele elogiara com seu tom bondoso, e pela primeira vez em muito tempo, sorrira de verdade, totalmente exausta após tantas horas em trabalho de parto, porém orgulhosa de seu mais precioso feito. “Ele estará na mesma turma que o filho dos Potter, dos Longbottom e do mais jovem dos Weasley em Hogwarts”, comentou e sentou-se em uma cadeira próxima a imensa cama de dossel. “É uma pena que ele nunca saberá como corajosa é a mãe”, divagou com melancolia e ela encolheu-se na cama. “Eu terminei meu trabalho Dumbledore, salvei mais vidas com as minhas informações do que você com o seu pragmatismo, e agora peço que saia, nós não temos mais assuntos a tratar”, respondeu com rispidez e o velho respirou pesadamente. “Espero que saiba que essa guerra não durará por muito mais tempo, e que sem você, talvez nossas forças sejam vencidas”, ele dissera com o peso do mundo em seus ombros, e durante os segundos que tivera para responder, Narcisa escondera-se atrás de todo seu egoísmo. “Eu não me importo mais com quem vencerá essa guerra, desde que ela acabe. Já foi derramado muito sangue por essa causa”, respondera por fim, e o mais velho olhou-a uma última vez, desejando-a sorte com o bebê, antes de desaparecer com um movimento de sua mão. Nunca mais, ela pensara, agarrando-se a seu filho como se ele fosse seu colete salva vidas no meio do oceano, e mais uma vez, impedira-se de chorar.

Isso fora há muito tempo, e todo o mal que ela temia havia se tornado realidade. O Lorde das Trevas ressurgira, levando dela seu marido e seu filho, obrigando-os a fazer as mais odiosas coisas. Dumbledore estava morto, a Ordem desmantelada, e toda sua esperança de paz jazia n’O Eleito. O Raio. Harry Potter, que acabara de invadir o cofre de sua irmã em Gringotts, levando consigo o enorme dragão branco e a taça de Helga Hufflepuff. A penúltima horcrux.

— Narcisa – uma voz masculina a chamou, e ela imediatamente levantou os olhos para encarar seu interlocutor. Severo Snape estava parado na porta do cômodo abandonado, encarando-a com curiosidade. Parecia atípico, e quase inacreditável para o homem, que Narcisa Malfoy estivesse encolhida no chão de um quarto abandonado na grande mansão dos Malfoy.

— Severo – ela respondeu com firmeza, forçando-se a ficar de pé.

— Eu ouvi você falando – ele declarou lentamente, com os olhos arregalados – O Raio fugiu no dragão. Ele conseguiu— repetiu as exatas palavras que ela usara, e a mulher estremeceu diante do fim de seu disfarce.

— Severo, eu posso explicar – pediu rapidamente, seu tom de voz saindo mais desesperado do que ela desejava.

— Harry Potter escapou de Gringotts? – perguntou com uma clara expressão de triunfo em seu semblante e os dois se olharam incrédulos – Você estava passando informações para Ordem – não era uma pergunta, e sim uma afirmação que ele nunca imaginara fazer.

— Assim como você – ela constatou e perguntou-se mentalmente como fora estúpida por nunca ter considerado a possibilidade de não ser a única.

— Malfoy sabe? – interrogou, aproximando-se da mulher, com preocupação em seus olhos.

— Não – respondeu imediatamente – Ele nunca pode saber. Severo, você nunca pode contar para ele – implorou desesperadamente, jogando as mãos contra os braços do homem.

— Ele nunca saberá Narcisa, eu prometo – garantiu com um tom muito mais suave do que ela jamais ouvira do homem e ela assentiu, com os olhos muito verdes ardendo com o rápido acúmulo de lágrimas. Nesse momento, ele segurou-a pelos ombros, dando uma leve sacudida, como se para tirá-la de um transe, e disse suas próximas palavras lentamente: – Você precisa mandar mais uma mensagem para a Ordem, Harry Potter foi visto em Hogsmead há poucos minutos – declarou com gravidade e ela engasgou com a própria respiração – Tudo acaba essa noite Narcisa. Você precisa enviar essa mensagem para a Ordem e ir embora daqui.

— Eu não posso ir ... Lucio e Draco – argumentou entre rápidas respirações, suas lágrimas escorrendo indiscretamente por seu rosto imaculado.

— Se eles não quiserem ir, você precisa ir – rebateu, segurando-a com força pelos ombros e olhando-a diretamente nos olhos – Salve-se Narcisa – ele pediu e decidiu usar de sua última cartada para convencê-la: – Salve-se, pela Lílian – insistiu e ela soluçou na menção do nome da mulher morta. Da mulher que um dia fora sua amiga em Hogwarts, e que morrera com um único objetivo.

— E quanto a você Severo? – perguntou com a voz trêmula e sem pensar, envolveu-o em um abraço, esquecendo-se por um momento de quem ele era nesse exato momento e nos últimos anos, lembrando-se somente de que um dia ele fora somente seu amigo, o tímido, extremamente talentoso e carinhoso Severo Snape, aquele que morrera no dia em que perdera o amor de sua vida. Ele segurou-a com força, como se ela fosse o último pedaço de esperança no meio de toda aquele caos.

— Eu já cumpri minha missão, e sei que ao fim dessa noite eu estarei morto – respondeu com o rosto pressionado contra o cabelo loiro da mulher e ela fungou em seu peito – Mas não você – disse por fim e afastou-a – Faça o que eu disse Narcisa, e viva o resto da sua vida em paz – pediu e deu um aperto na mão da mulher, antes de afastar-se em direção a porta.

— Você ainda a ama, Severo? – perguntou, após reunir toda sua coragem para dizer em voz alta.

— Você ama o Lucio? – ele rebateu com uma pergunta, e ela entendeu, dando-lhe um sorriso triste em resposta, antes que ele desaparece na soleira da porta. Ele amava Lílian, e estava pronto para fazer o último dos sacrifícios em sua memória, ele iria até o fim do mundo. Ela amava Lucio, e por ele, não poderia seguir o conselho de Severo. Ela não evitaria o campo de batalha. Por ele, ela não fugiria. Ela lutaria até o fim. Ela lutaria até o fim pelo homem se apaixonara há 20 anos, e que ainda pulsava dentro do corpo já ferido e abatido de seu marido. Por ele, ela daria seu último suspiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Reviews são sempre bem vindos, e eu ficarei muito feliz de saber o que vocês pensam.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I'm sorry for not telling you before" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.