A Lenda da Abominação - Livro Um: Amizade escrita por Ren Kintasu


Capítulo 2
Capítulo 1: O Pequeno Deserto




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“Vai ser como dar um passeio”, eles disseram. “É pequeno aquele deserto, você vai atravessá-lo rapidinho sem problemas”, eles disseram.

Yan já caminhava há mais de um dia naquele maldito deserto. Ele tinha de admitir, o deserto era ridiculamente menor que o deserto de Si Wong, não era nada mais que um ponto no mapa que você veria através de uma lupa. Mas “menor” não queria dizer necessariamente “pequeno”. Ou menos quente. Ele estava derretendo.

Os dobradores de areia daquele maldito lugar podiam rolar nas dunas à vontade, mas nem todo mundo era obrigado a adaptar-se ao clima horrível de desertos. Novamente, no entanto, ele agradeceu por não ser os dobradores de areia de Si Wong. Os do deserto no qual Yan “passeava” eram bem menos cretinos. Foram até bem cordeais e prestativos, e as moedas de Yan nunca chegaram a sumir dos bolsos. Mas o senso de distância deles era péssimo.

Yan tinha de admitir, porém, que parte da culpa era dele. Se não tivesse gastado metade de suas moedas de prata naquele maldito vaso falso da era do avatar Roku, poderia pagar o transporte através do deserto. Ele jurou para si mesmo que ia achar aquele vendedor mentiroso e enfiar-lhe o vaso (quebrado, óbvio) goela abaixo. E claro, yuans não eram aceitos no deserto. O maldito lugar se encontrava entre dois pontos turísticos perto de cidades superpopulosas, mas as pessoas do deserto ainda eram da “velha guarda”. Ele fora avisado que a “modernidade” podia não ter sido muito bem instalada em vários lugares do Reino da Terra, mas aquilo já era ridículo. “Adapte-se ou morra”, já dizia um sábio que encontrara em Omashu. Ironicamente, ele morrera, mas isso não vinha ao caso.

Tendo esses pensamentos agradáveis, Yan, distraído, acabou tropeçando, e rolou duna abaixo pelo caminho que subira. Com o rosto na areia, ele xingou todo santo ser, objeto ou pensamento que tivesse alguma relação com areia, sabendo que apenas espíritos seriam capazes de ouvi-lo. Lentamente, tirou o rosto enterrado e espirrou toda areia que estava na boca e nas narinas. Graças a Gyatso ele fechara os olhos. Bateu a areia das roupas e olhou para o céu, cansado. Um dia sem nuvens, lindo. Só podia ser piada. No único lugar que ele amaria uma chuva, o céu ria dele. Assim que chegasse na cidade, ia olhar em seus livros qual maldito espírito era associado ao clima. Iria infernizá-lo.

Ainda irritado, pegou sua mochila provavelmente cheia de areia, que caíra não muito longe, e voltou a subir a duna. Desta vez prestando bastante atenção.

A duna era enorme, e ele já estava exausto antes de chegar na metade. Pelo menos poderia ter uma noção de horizonte ao chegar ao topo, pois aquela parecia a maior duna em quilômetros.

No entanto, ele não esperava ver aquilo.

Do topo da duna, ele conseguia ver a cidade que tanto ansiava. Não estava longe, e aquela era a última duna, dali até a cidade era um terreno plano com pequenos montes de areia. Aquilo seria um passeio, comparado ao deserto que acabara de atravessar.

“Espera... se aquela é a cidade, então...”, pensou Yan, e olhou para o Leste. Sim, lá estava.

O Templo do Avatar.

Uma grande construção feita de vários materiais, que brilhava ao longe. Além do brilho natural, do alto da única torre no centro do templo, um farol emitia diversas luzes sobre o mar amarelado ao seu redor. Era uma visão linda. O ponto turístico mais visitado do mundo. Do lado de um maldito deserto.

O alívio foi tanto que Yan deitou e deixou-se escorregar duna abaixo. Quase beijou o solo mais firme e robusto que encontrou ao pé da duna. Encostou-se, sem se importar com a areia, e riu. Iria dar uma rápida abastecida na cidade e depois correria ao templo. Era como se tivesse esquecido de todo cansaço e calor que sentia.

Então a sede bateu. Pegou o cantil e bebeu as gotas que sobravam. Ainda estava sedento, mas a cidade estava logo ali. Ele ainda ria, mas por dentro percebia que a desidratação era pior do que gostaria de admitir. Ele realmente fora despreparado.

Foi quando percebeu outro forasteiro, também encostado na duna, poucos metros a sua esquerda. Ele usava um manto do deserto para proteger-se do sol (uma ideia que lhe escapara da mente e ele se arrependera terrivelmente. Iria ficar “bronzeado” por dias) e bebia calmamente a água de seu cantil. O cantil parecia cheio. Yan não conseguiu evitar molhar os lábios. Ou tentar, nem saliva tinha mais.

O forasteiro reparou nele. O sedento virou o rosto, envergonhado. Começou a tentar levantar-se, quando um cantil aterrissou ao seu lado. Assustado, olhou para o forasteiro. Ele apenas o encarava. Yan tomou aquilo como um “vai em frente”, pegou o cantil e começou a beber. Ele só parou quando a última gota caiu. Santo Gyatso, ele estava com muita sede.

Um pouco revigorado, ele se levantou e foi até o forasteiro.

— Desculpe-me pela sede, esvaziei seu cantil — disse Yan, legitimamente culpado. Fora irresponsável, aquele forasteiro poderia estar tão sedento quanto ele. No entanto, esse deu uma leve risada e descobriu a cabeça do manto. Ali, via-se um jovem, pouco mais novo que Yan, com um rosto rígido, mas bem arranjado, e cabelos negros desarrumados e cheios.

— Tudo bem ­— respondeu, pegando o cantil e amarrando-o na cintura. — Você precisava mais que eu. Além do mais, a cidade está logo ali. — Então, levantou-se, tirou o manto e bateu a areia para fora. Yan fez o mesmo.

— Ainda assim, obrigado. A travessia desse deserto foi um inferno. E tudo por causa de um maldito vaso... — interrompeu-se Yan, percebendo que começara a falar demais novamente. Ele precisava aprender a se controlar. O forasteiro estava com a sobrancelha levantada. — De qualquer jeito, obrigado... É... — Percebendo que o forasteiro não pretendia compartilhar o nome, ele tomou a iniciativa. — Meu nome é Yan, Yan Li Bai. — O forasteiro olhou pra ele.

E então a terra tremeu e formou ondas, e ambos foram atirados longe.

No ponto de impacto, havia um homem enorme, facilmente superando 2 metros, ajoelhado, com um dos punhos no chão. Em seus pulsos, brilhavam algemas de platina. O sol brilhava na sua cabeça sem cabelos, e os músculos estavam tensionados. Ele se ergueu e soltou um grande grunhido bestial.

Yan e o Forasteiro já estavam em pé, em posição de batalha.

O Gigante partiu para cima deles. O Forasteiro pisou no chão, e um grande pilar de terra saiu do chão e acertou o queixo do grande homem. O pilar partiu-se, parecendo apenas deixar o Gigante um pouco tonto; esse ainda respondeu dobrando um muro de terra enorme que correu em direção ao dois. Assustado, Yan saiu do raio de impacto, mas o Forasteiro, passada a surpresa, com um movimento rígido do corpo e dos braços, separou o muro em dois, os pedaços passando inofensivamente de cada um de seus lados. Respondendo imediatamente, dobrou a terra e afundou o Gigante. O mesmo, com pura força bruta, desenterrou-se, mas uma rocha já tinha sido lançada contra seu rosto. Ele caiu no chão, parecendo apenas irritado, indiferente ao sangue que escorria do nariz. Quando ele socou o chão, uma onda de terra do tamanho de sua ira formou-se, quebrando a defesa do Forasteiro.

Foi quando Yan atacou.

Chegou a meio metro de distância sem o Gigante perceber, e explodiu uma ventania em seu rosto, o jogando para trás. Então um grande bloco de terra saiu do chão e atingiu Yan ainda no ar. Dobrou o ar para equilibrar-se, mas ainda assim caiu no chão, pela força do impacto. O Gigante já preparava um bloco para acertá-lo quando a terra em seus pés deslizou, fazendo-o escorregar, e então uma rocha de tamanho considerável atingiu-o em cheio, vindo da direção do Forasteiro. Aproveitando a chance, Yan começou a dobrar o ar ao redor dele, e começou a levitar o Gigante, tirando o seu contato com o solo. Ele se debatia, dificultando, até outra rocha acertá-lo. Foi quando ele se debateu mais.

Um grande jato de água voou e envolveu o grande homem no meio do ar, e então se solidificou. Assustado, Yan deixou o Gigante cair, e o gelo espatifou-se. Novamente água voou e congelou-o antes que ele se levantasse. Yan e o Forasteiro olharam na direção que viera a água, e de lá vinha um homem franzino e muito magro, em um pequeno trote.

— Muito Bem! Muito obrigado a vocês! Vocês não sabem o quanto fizeram! Impediram uma catástrofe! — berrava o homenzinho, cansado. — O Avatar lhes agradece!


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