Réquiem escrita por Paty Ninde


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Minha cabeçaé meio insana? SIM!
Esta fic surgiu num lampejo. Numa tarde fria e bastante propícia para se escrever tragédias. Eu amo tragédias.

* Not About Angels da Cantora Birdy é uma ótima sugestão de música enquanto lê.*



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Ninguém escuta a marcha fúnebre, quando o violinista encosta o maxilar bem desenhado na queixeira do instrumento feito de abeto rosso,  madeira de fibras muito duras e escuras, resistentes e elásticas. A acústica do instrumento elevada.

Todos choram e evitam olhar o caixão, lamentando a mocidade perdida.

Tão jovem.

Eu escuto a marcha fúnebre. O réquiem dos vivos. O lamento dos que ficaram.

Os cristais de gelo envolvem minhas mãos esbranquiçadas e ressequidas. Assopro entre elas, mas o ar que sai dos meus lábios nunca será tão quente como o dele. As partículas de gás carbônico que a boca áspera e fina expelia tornavam meu corpo, alma, espírito, e o que mais meu corpo possuísse, como brasa.

Ele somente fazia isso para que eu não ficasse resmungando de frio. Pelo menos era o a voz arrastada e enojada sempre dizia.

Entre os poucos presentes, reparo duas garotas. Uma delas provavelmente fosse sua namorada.  Astoria Greengrass, a outra devia ser amiga, ou parente próxima, a julgar pela forma que consolava com cuidado a jovem que chorava copiosamente em cima da caixa negra.

A capa ainda esconde meu rosto, protegendo-o da ventania violenta, e me lembro de que ele não gostava do frio, porque era uma “Merda” ter que utilizar feitiços de calefação nas casas; as roupas com resquícios de neve ficavam escorregadias quando em contato com o calor, e as meias ensopadas. Eu sorri, e ele continuou jogando as pedrinhas no lago.

Seus pais já partiram, mas eu continuo sentada, a neve umedecendo as fibras do tecido da minha melhor calça. Astoria também partiu, arrastando os pés com pesar. Conto quantos cristais de gelo estão presos entre as folhas das árvores.

xx

O violinista continua a deslizar o arco sobre as cordas.

Eu escuto a voz cansada, o riso forçado que vem da garganta, e produz um som engraçado. Ele riu diante da sugestão de lutar do lado que com certeza venceria.

Jamais seria um amigo.

Apenas um toque em meus cabelos e um abraço desesperado, ofegante. Um beijo casto nos lábios, como um presságio de nossas desgraças e uma lágrima solitária alagando a íris prateada.

 O cheiro de madeira fresca o acompanhou enquanto ele caminhava em direção ao castelo. Respirei fundo, até que meus ouvidos se tampassem, e minha alma sugasse o perfume que emanava dele.

xx

Aproximo-me do corpo, um véu cobre a peça de mármore que é o corpo adormecido dentro do caixão. Os olhos fechados escondendo sua mais bela característica: o olhar de soslaio, de cima a baixo, com um brilho misterioso e translúcido.

Respiro fundo e perfume ainda está lá. Abeto. Madeira maciça.

Ninguém mais está aqui. Então me permito chorar. Um lamento por tudo aquilo que ele poderia ter se tornado, um arrependimento por não ter conseguido salva-lo.

O réquiem dos vivos. A marcha fúnebre das almas arrependidas. Os acordes da culpa que nunca me abandonará.

How unfair it's just our luck

Found something real

That's out of touch

But if you'd search the whole wide world

Would you dare to let it go?

Quão injusto é o nosso acaso

Encontramos algo tão verdadeiro

Que está fora de alcance

Mas se você encontrasse nesse vasto mundo

Você teria coragem de deixá-lo ir?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler :)
E se chegou até aqui, não custa nada comentar.Que tal?



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